Adeus tem gosto de chuva. Chuva fecunda e adocicada, lágrima escancarada.
Adeus é obra inacabada, ponto sem nó. Rua sem saída, lágrima escorrida.
Adeus é a garganta seca e apertada, a alma corroída, peito ofegante...
Existe também o adeus elegante, aquele que não ofende só insinua, polido...
E existe o adeus baixaria, com muito grito e ruído!
Adeus triste é aquele que não foi dado, que ficou mudo, preso, arregalado.
Vai saindo aos poucos, feito pássaro engaiolado. Tem também o adeus leão, que foge rápido, assustado. E tem o adeus pedrada, que vem sem aviso, doído. Quando a gente vê já está moído, consumido.
Tem gente que dá adeus com delicadeza. Isso já é uma proeza. Somente almas nobres são dignas de tal realeza. Conheço um adeus eterno feito selo estampado. Gruda na alma e fica colado. Não tem lenço importado e nem consolo que dê jeito!
É o adeus na alma eternizado. Ele não chega a tirar a calma, mas não se vai assim de sopetão. É feito visita repentina, se bobear faz serão!
Tenho um adeus especial. Foi um abraço final. Em um templo religioso. Emocionado e silencioso. Guardado e sacramentado nessa alma cuidadosa. Foi o adeus sem rima e sem prosa. Adeus quadrado que até hoje desce gelado nessa garganta cor azul-prata que afugenta a saudade fazendo serenata...
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