As casas vazias e abandonadas
Deixam ressoar, em seus sombrios silêncios,
O som de infinitas palavras,
Que nelas restaram aprisionadas,
Algemadas às suas paredes,
Seus assoalhos, velhos caibros dos telhados.
As casas vazias e abandonadas
Nada nos contam, que se possa ouvir,
Com os precários ouvidos do corpo,
Mas sim na profundidade de nossas almas,
Momentaneamente dotadas de asas,
Sem medo de dentro do corpo sair.
E são tantas as coisas ouvidas:
Suspiros de amor e gozo,
Gritos de dor e agonia,
Saborosas conversas domingueiras
Ao redor da antiga mesa carcomida,
Que bem antes ali existira.
E, até mesmo, quem poderia supor,
O duro e frio rancor
Da moça que dormiu chateada,
Por ter brigado com o namorado,
Depois da primeira noite de amor.
Assim, são essas casas, inutilmente, fechadas,
Com seus muros que mais nada protegem,
Suas janelas despedaçadas ao vento,
Mas que ocultam ao mundo seu passado incerto,
Histórias, hoje, pelo éter dispersas,
Como se jamais acontecidas,
Se não fossem os bêbados tomá-las por moradas,
Levantando escuros véus
E revelando-lhes os segredos,
Apenas a eles e aos loucos desvendados.
- por JL Santos, início em 2006 e finalizado hoje, 07/05/2008 – |