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Cronicas-->Via crucis -- 30/11/2004 - 11:22 (Bruno Rezende Palmieri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tião esquilo passava férias na cidadezinha natal. Tinha ficado muitos anos longe, trabalhando em um grande centro urbano. Todo mundo conhecia a fama do Tião, desde os primeiros anos de escola. Fazia coisas que nem mesmo o capeta mais versátil conseguiria fazer.
Certa feita, despejou purgante no quentão da festa junina do bairro vizinho, como desforra pela surra que levou dos meninos do lugar. O purgante era forte, de verdade, fez efeito na hora. Tião acabou com a festa e todos acabaram no banheiro.
O passatempo preferido do Tião era imitar - com perfeição - as vozes dos pais, irmãos, amigos e professores. Além disso, conhecia os apelidos da maioria dos seus concidadãos. Assim, em ocasiões festivas, imitando as vozes de notórios adversários, muitas vezes os fazia brigar, xingando ora um, ora outro, saindo de fininho quando a confusão começava.
Destacava-se na pescaria, vadiagem e deboche. Não gostava de estudar. Sempre colava, mesmo quando fazia prova sozinho, com o professor diante dele.
Ninguém, nem mesmo os inspetores e professores mais espertos, conseguia descobrir o método infalível que usava para colar. Mas, como até os macacos caem dos galhos, uma única vez Tião foi reprovado, teve que repetir o ano. Também, pudera,
precisava da nota máxima e o professor lhe tirou meio ponto da nota, em uma questão propositadamente elaborada para confundir. Na verdade, o professor queria reprová-lo, por conta do papagaio que Tião lhe vendera.
O bicho chamava todos pelo nome, na casa do professor, menos ele. Tião, com paciência e nobreza de alma, gritava para o papagaio, pelo menos três vezes por dia, o apelido do educador.
Era um epíteto bastante zombeteiro, tendo em vista o que denunciava: o homem caminhava feito avestruz.
O louro não se cansava de repetir: avestruz, ó avestruz! Avestruuuuz! Ó avestruz... E não tinha jeito de ensinar o nome do mestre, tal fora o prévio empenho do Tião.
O tempo passou, Tião estava no lugarejo, em férias.
Semana santa, os moradores da cidade encenavam a paixão de Cristo.
Faltou alguém para o papel de soldado romano. Aquele que chicoteava o Nazareno.
Advinhem! Quem se candidatou e conseguiu o papel?
- O Tião, é claro!
O papel de salvador pertencia de longa data ao professor. Isso mesmo. O que reprovara o Tião.
Tião estava feliz como pinto no lixo. Chegara, afinal, a hora.
Começa a encenação.
Tião, a princípio, economizou o vergaste, poupando o velho professor. Esperou até a subida ao calvário, quando colocou em prática seu plano de vingança.
Acontece que havia uma passagem estreita, feita de madeira, levando ao local do martírio.
- Era o momento!
Era só caprichar nas lambadas, enquanto o Messias subia a pinguela inclinada. O coitado estava à mercê do ex educando espírito-de-porco!
Usando seus dotes especiais, para abrilhantar o mau tratamento, Tião vociferava, imitando Pilatos:
diga, diga agora, que tu és o rei dos judeus!
E baixava o chicote com força, sem dó nem piedade.
A assistência aplaudia silenciosa e extática, aquele dedicado realismo cênico.
- Diga, tu és ou não o rei dos judeus? Responde!
- E tome chibatada!...
O infeliz sofreu calado, mas desconfiou, num átimo, da energia do brutal romano.
- Só podia ser o Tião!
Arrastando a pesada cruz pelo aclive da passagem estreita, quando estava prestes a alcançar o lugar do suplício final, pressentiu a lança de Tião, dirigida à parte sul do umbigo. Instintivamente protegeu-se com uma das pernas, desequilibrou-se devido ao peso da cruz, caindo pinguela abaixo.
Levantou a cruz, empurrou-a para o lado, retirou a coroa de espinhos, lançando-a contra o cruel soldado e praguejou: seu peste, excomungado, até no Calvário você me persegue!
Saiu berrando um sem-número de xingamentos, bem mais apropriados a um Barrabás...
Seguiu-se violenta explosão de gargalhadas.
Nunca mais Tião Esquilo foi chamado para participar de qualquer encenação religiosa...
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