Filmadora em punho, decidimos filmar os arredores do pequeno sítio onde residíamos, Ã época.
Focalizávamos tudo que contivesse alguma poesia instantànea e imprevisível. Aliás, o roteiro era esse, pura poesia do imprevisível...
No filme as imagens do vento movendo as ramagens, os gansos percorrendo a lagoa, os pássaros em revoada, sucediam-se como um matemático
arabesco. Parecia haver um plano sutil a dirigi-las...
Resolvemos editar a fita. Escolhemos a Paixão Segundo São Mateus de Bach como trilha sonora.
Nem de longe poderíamos imaginar qual seria o resultado. Todas as imagens harmoniosamente ajustaram-se ao ritmo daquela soberba e
sublime obra musical.
A sucessão dos quadros obedecia ao tempo, Ã intensidade e ao andamento da música.
O som e as imagens conjugavam-se, completavam-se, integravam-se, como se o tempo e o espaço houvessem aberto portais, permitindo que aqueles
idílicos instantes fossem revelados...
Bruno Ropf |