Alta madrugada.
Os restos da chuva forte, derradeiros pingos convocavam o coro dos sapos.
Oi! Oi,oi! Oi,oi,oi! e Oi! Ooooi! Cumprimentavam-se coaxando e a conversa
interminável prosseguia. Eu, sem poder participar do batráquio diálogo, fiquei por um momento diante de incómoda interrogação: afinal do que falavam ?
Não havia qualquer ruído humano, nem um suspiro, nem um grito, nem sons vindos de algum aparelho de TV.
Apenas os maravilhosos sapos...
Ao que tudo indica tinham muito a tratar e o faziam monossilabicamente, oi, ois, oi e mais ois...
Tentar entender o que se passava era, para mim, naturalmente impossível.
Não posso dizer o mesmo quanto à assembléia coaxante.
De súbito, uma interrupção!
Começavam logo após com maior intensidade: ooooooiiiiii! OOOIII! Oi! ooooooi! Oi!
Daí em diante julguei que falavam sobre o término da chuva, que a chuva era a sua razão de ser. Maravilhosa, benfazeja para os sapos e suas
famílias.
Parecia que iam propor uma estrepitosa homenagem à água celeste, pois seguiram-se animados Oi e Oi, Oi e Oi, Oi, Oi e Oi, Oi, Oi, Oi!
É o que parecia: estavam votando uma moção de apreço à chuva!
Mesmo que nada disso estivesse acontecendo, como era sublime aquele coro!
Sublime melodia, sublimes os acordes e quão simples os estribilhos.
O refrão não poderia ser mais simples: Oi! Minimalista, articulado.
Som que nenhum instrumento construído por mãos humanas poderia reproduzir.
Constatei, por instantes, a verdade da frase de Pascal: "o homem é um caniço pensante ".
Parafrase-ei-a, em homenagem aos interlocutores do pós-chuva: "os sapos são cantores líricos coaxantes " !...
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