Usina de Letras
Usina de Letras
130 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50616)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140801)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Bolivar e Bolivino -- 23/05/2007 - 08:32 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Bolivar e Bolivino

Nosso bar era muito pobre, sequer uma geladeira a querosene tinha. Ainda assim alguns fregueses bem mais pobres do que nós chegavam das roças e pediam fiado. O Juca, meu pai, que era um comerciante inexperiente, concedia crédito a qualquer um. Isto aumentava o movimento do bar mas diminuía o lucro. Eu percebia isso, mas fazer o quê? O Juca era muito teimoso e não me ouvia.
Certo dia, apareceu por lá um par de negros gêmeos, os dois eram parecidíssimos. O povo da Vila de Água Doce dizia que eram “a cara de um e o focinho do outro”. A única diferença que havia entre os dois era um detalhe nos seus nomes. Um deles se chamava Bolivar e o outro Bolivino. Num dia de domingo, de alegre festa religiosa, os dois entraram no bar e ficaram à vontade. Beberam, comeram como nunca, beberam de novo e depois pediram fiado. O Juca, um tolo, abriu nova página de crédito para eles numa antiga caderneta ensebada onde constavam nomes de outros caloteiros contumazes.
A conta foi aberta em nome do Bolivar. Este, que nascera apenas alguns minutos antes do seu irmão, era tido por mais velho e assumiu a responsabilidade pelo pagamento da conta. Em cima da página, bem no topo, o Juca anotou um importante detalhe: "Bolivar é irmão do Bolivino e será o responsável pela conta". O detalhe não teve a menor importância, como se verá.
Por vários meses, e por todos os outros domingos de festa que se seguiram, os gêmeos retornaram ao nosso bar. O Bolivar e o Bolivino vinham sempre juntos. Comiam, bebiam à vontade e depois "penduravam" tudo. Quando a conta tomou vulto e já estava ocupando umas três paginas, sumiram e nunca mais foram vistos. Deles não se tinha mais notícia, sabia-se apenas que moravam num sítio na estrada de Mantena, na direção do Café Ralo. O Juca andou fazendo algumas incursões por lá, em busca do seu suado dinheiro, mas só encontrava em casa o Bolivino.
O Bolivar, o safado que ficara responsável pela conta, esse havia desaparecido, jamais estava em casa. O Bolivino sempre aparecia sorridente, exibindo-se com cara de malandro. O Juca já andava desconfiado de que eles pretendiam dar-lhe o cano e nutria sérias razões para acreditar que estava sendo enganado pelos dois gêmeos de mau caráter. E vejam o azar do meu pai.
Na festa junina de 1954, numa tragédia que se deu próximo à Volta do Jaó, houve uma desavença entre uma turma de roceiros que resultou num um morto. A vítima fatal tinha sido um negro, o qual fora degolado pelos próprios parentes alcoolizados. Ainda hoje o povo da Vila de Água Doce chama o local de "Corta-Goela". Na manhã do dia seguinte, apurou-se que o morto tinha sido um dos gêmeos caloteiros e devedores do Juca.
Meu pai ficou ansioso, bastante interessado no assunto. Torcia para que o morto fosse o Bolivino, pois assim ainda teria alguma chance de receber do sobrevivente Bolívar, o responsável pela conta. Mas, para azar e tristeza do Juca, o morto fora exatamente o titular da conta, o Bolivar. O Juca dançou!


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui