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Humor-->O Mundo Virtual Existe -- 12/02/2004 - 19:19 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O MUNDO VIRTUAL
(Por Domingos Oliveira Medeiros)

Estamos em dois e mil e quatro. Até parece que foi ontem. Ainda dá pra ver o rastro. Tempos idos e vividos. Sem viagens ao espaço. Tempo sem televisão. Com o rádio, sem imagem. Sem visão. Com telefone fixo. E muita imaginação. Sem prefixo. Sem previsão. Pedindo ajuda à telefonista. E não à lista. Pra fazer a ligação. Interurbano? Demorava quase um ano. A vida em outro ritmo. Com tempo para olhar e sentir. O espaço à sua volta. O vento a desmanchar o cabelo. De quem navega no bonde. Aberto, livre e faceiro. Transporte de passageiro. Lembranças me vêm agora. Lá do Rio de Janeiro. Mas os janeiros passaram. Entramos em fevereiro. Novo milênio. Novas parcerias. Novo convênio. Outras tecnologias.

Chegamos em Marte. Próxima parada. Não se sabe se há marciano. Nem se haverá água. Não se viu qualquer oceano. Para garantir a vida. Naquelas paradas. Há indícios de precipícios. Conforme fotos enviadas. Que foram encomendadas. E foram fotografadas. Pelos nossos irmãos ou irmãs de aço. Robots e sondas de braço.

Cá na terra a coisa prossegue. Celulares particulares. Telefone de bolso. Sem fio, quem diria? Computadores domésticos. Não se trata de fantasia. Pequenos e sedutores. Verdadeiros amores. A comunicação de massa. Encurtando espaços. Diminuindo o tempo. Já não temos mais tempo. Tempo pra nada. Deletamos o nosso sossego.

Estamos calados. Embora estejamos interligados. Conectados com o mundo inteiro. Em silêncio. Comunicação por escrito. Só se ouve o barulho do teclado. Não se sabe quem está do outro lado. Façam suas apostas. Pode ser falso ou verdadeiro. Ou nenhuma das respostas. Se inimigo ou companheiro. Não conheço o seu rosto. Não sinto o seu cheiro. Não sei de sua felicidade. Nem de seu desgosto. Não vejo nada. Tudo suponho. Não há mais amor à primeira vista. Desista.

Difícil passar as emoções. Não se tem certeza de nada. Fala-se de tudo. De forma codificada. Caras e caretas. Todos somos bonequinhos. Sem sexo e sem graça. O sorriso na careta disfarça. Pode ser de alegria. Pode ser ironia. Caras sorridentes e caras tristes. Às vezes as letras tentam substituir a imagem. Sorrisos em erres e esses. Não se sabe como serão as gargalhadas. Ou o simples sorriso. Se têm valor de juízo.

Parecido com a tradução simultânea. Em um seminário estrangeiro. Há riscos de interpretação. Dubiedades e dificuldades. Especificidades. Que não são traduzidas. Pertencem às emoções escondidas. E emoção não se escreve. Sente-se. E flui normalmente. Dentro de padrões de cultura. Pode ser raiva, ira, ódio ou paixão. Pode ser tudo isso, ou não. Como dizer, pelo computador, que eu te amo? Sem correr o risco do engano. Mesmo que use adjetivos. Tudo será igual: o paradoxo do religioso e do profano.

Estamos todos ligados. Com o mundo inteiro. Em questão de minutos. De segundos. O dia inteiro. Somos livres para navegar. À procura de mares nunca dantes navegados. Liberdade quase absoluta. E ao mesmo tempo estamos afogados. Nos oceanos de dúvidas. Mares congelados. Frios. Sem alma e sem vida. Sem tato. Sem visão. E sem cheiro. Sem olfato. Sem impressões. Sem previsões. Neste oceano virtual. Onde tudo é diferente. E, ao mesmo tempo, tudo igual. Pior do que isso: banal.

Estamos ligados na internet. Bilhões de seres virtuais. Todos sozinhos. Falando um de cada vez. Seres normais. Falando com ninguém. E com todos ao mesmo tempo. Até com os nossos vizinhos. Mas não sabemos. E nem afirmar podemos. Estamos, na verdade, e cada vez mais, sozinhos.

12 de fevereiro de 2004

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