Carnaval de 2000...
A parede frontal da casinha é cor de abóbora. Às paredes laterais não foi aplicado reboco. Portanto, têm a cor dos tijolos expostos.
A porta da frente é verde. Nas janelas, de esquadrias também verdes, vidros extremamente limpos, translúcidos, permitem imaginar a limpeza e o asseio existente no interior da simpática casinha.
Há um casal sentado na soleira da porta. Pergunto se alguém sabe seus nomes. Seu João e Dona Maria, me informam. Ela, sentada no degrau mais alto, no lado em que uma banda da porta está aberta. Ele, sentado ao lado dela, mas no degrau debaixo.
Estão apreciando o movimento em sua rua É domingo de carnaval. Rapazes e moças passam pra cima e pra baixo, alegres, brincalhões, Ã s vezes exagerando devido, talvez, a excesso de bebidas ou de outras substàncias quaisquer.
De vez em quando o casal troca algumas palavras. Na maior parte do tempo estão silenciosos, apenas pensando.
Minha curiosidade se aguça. Em que será que estão pensando?
Fico a imaginar que estão, silenciosamente, recordando velhos carnavais. Carnavais inocentes, cujo objetivo era apenas diversão, entretenimento e congraçamento com o próximo. Carnavais sem a libertinagem, a violência e o desrespeito inerentes aos de hoje.
Uma garoa começa a cair. O casalzinho se levanta. Dona Maria entra primeiro. Seu João pega a almofadinha que usou para amaciar o degrau, e entra em seguida.
A curiosidade não pára: como será a vida íntima daqueles bons velhinhos? Ah, deve ser repleta de amor, de compreensão, de respeito. Certamente, eles não se deixaram contaminar pelos defeitos, pelas mazelas que se alastram em nossa sociedade.
No mínimo, estão se olhando com aquele olhar manso dos puros de coração, pois tive a impressão de que algo entrou junto com eles por aquela porta que se fechou à s suas costas: e só podia ser a felicidade!
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