Minha infância e minha
adolescência
Foi entre árvores,
muitas brincadeiras
Pular nos rios lá duma
ribanceira
E aos pais se devia
obediência
Estudávamos física,
ciência.
De manhã cedo saí já
bem fardado
Para escola ia em fila,
agrupado
Cedo da noite logo se
dormia
No sertão, eu pequeno
me sentia
Um rei no paraíso
encantado
Jogava-se peão, também
castelo
E no inverno jogar bila
era moda
Brincadeiras de moças
era roda
Não se tinha sapatos,
só chinelos
Nas ruas não se via
gordos só magrelos.
Futebol no meio da rua
era jogado
Corria-se quando se via
um soldado
À Polícia dava-se
autonomia
No sertão, eu pequeno
me sentia
Um rei no paraíso
encantado
Quando a luz era só de
lamparina
Não sabia nem o que era
geladeira
Os meninos não caiam na
bebedeira
Muito menos cheiravam
cocaína
Não havia craque em
cada esquina
Montava-se jumento e
burro acuados
Mesmo que fosse pra ser
derrubado
O Saci, entretanto, se
temia
No sertão, eu pequeno
me sentia
Um rei no paraíso
encantado
Professor dava aula de
tabuada
Na cartilha palavras
soletrava
Quando errava até se
apanhava
Palmatória era muito
respeitada
Pois não tinha essa tal
lei da palmada
Os meninos não eram tão
mimados
Para as aulas ia-se sempre
fardado
Aprendendo fazer
caligrafia
No sertão, eu pequeno
me sentia
Um rei no paraíso
encantado
MOTE: ISAYEL BATISTA
GLOSA; HENRIQUE CÉSAR
PINHEIRO
FORTALEZA, AGOSTO/2019 |