ENTARDECER
Por: Vera LINDEN
Final do dia, o céu nublado, a avenida quase sem
os seus pedestres, somente carros apressados.
Os meteorologistas anunciaram chuva,temperaturas
baixas e ventos.Não se equivocaram desta vez.
O clima não os ludibriou.A moça sensata não
esqueceu a sombrinha. A chuva estraga o alisamento do cabelo, bem caro por sinal. A vaidade é cara.Capa de chuva, gabardine verde da
cor de seus faiscantes olhos.As botas combinando
com a bolsa, pretas e elegantes.Uma secretária de
diretoria tem o dever de ter uma aparência bela,
agradável.Ela caminha pela avenida molhada, pingos leves e finos correm pelo asfalto.Um táxi
seria providencial...talvez, uma carona?
Respondendo a seus pensamentos, lá está ele e seu
automóvel zerinho, importado.Ele estaciona e gentil se oferece para levá-la, salvá-la do mau
tempo.Há requinte em tudo, nos bancos de couro,
no aroma de sândalus, no brilho impecável dos cromados.Os assuntos variam do "meu carro importado", ao "meu apartamento", e assim dúzias
de "meus" e "minhas".Ela pede para descer uns cem
metros antes de seu edifício, alega uma ida à farmácia,etc.Só quer sair daquele carro, que parece tornar o dia mais frio, enregelante...não
quer fazer parte daquela lista de propriedades
dele.Caminhar pela avenida, ao entardecer faz muito bem...com ela mesma, com seus pensamentos,
seus planos, seus projetos.O frio clareia e direciona melhor as idéias. |
