"Que a estrada levante-se para encontrar você,
Que o vento esteja sempre em suas costas,
Que o sol brilhe cálido em seu rosto,
Que a chuva caia suave em seus campos;
E até que nos encontremos novamente,
Que Deus guarde você na palma da Sua mão."
Prece irlandesa
Para falar da vida existem dois caminhos, em poucas e raras palavras ou em várias e muitas palavras.
Em poucas e raras palavras em verdade vos digo que a vida nos permite escolher o próprio destino desde que as escolhas sejam bem feitas e de acordo com nosso coração e que lágrimas um dia se transformam em sorrisos e esses mesmos sorrisos um dia serão cobertos novamente de lágrimas e é preciso estar pronto para isso sem esquecer que não basta estar preparado para matar dragões gigantes é preciso também estar atento às pequenas formigas que podem nos devorar.
Para falar de vida também é preciso falar de sonhos e de coisas afins e é quando nascemos é que nascem juntos todos esses sonhos, todos nós temos uma origem, um começo, um princípio, um ventre que nos gerou.
Minha mãe nasceu numa casa bem simples, porém feliz que tinha uma placa bem acima da porta de entrada com os seguintes dizeres:
“Direção de um sonho”
Foi nessa mesma casa que meus avós e os avós deles nasceram, minha mãe nasceu de parto normal sem anestesia feito pela única parteira que existia na ilha, assim como nasceram todos antes dela.
Bem atrás dessa mesma casa estão enterrados todos meus ancestrais e um pouco mais pra cima estão as terras que alimentaram todos eles com as plantações que um dia lá existiram, minha avó dizia que do seio daquela terra é que vinha o alimento que abençoava nossa família.
Meus avós e ancestrais acreditavam que os sonhos estão naquilo em que acreditamos e o nosso coração está onde vivemos, por isso suas terras eram as fontes de suas vidas e a direção de seus sonhos.
Foi nessa mesma casa que meus avós morreram e infelizmente não puderam ser enterrados na mesma terra que seus ancestrais estavam enterrados, minha mãe viveu muito anos sob aquele teto e durante algum tempo também “dirigiu” aquele sonho até se casar com meu pai e mudar para o continente.
Eu nasci um ano depois do casamento e ainda vi meus avós habitarem aquela casa, todo vez que eu a visitava e depois ia embora sentia que um pedaço meu ficava lá, aprendia com isso que as coisas materiais devem ser valorizadas não só pelo quanto elas valem, mas sim pelo o que elas representam assim como as pessoas não devem ser valorizadas só pelo que fizeram pela gente, mas por tudo aquilo que a gente sabe em nosso coração que elas seriam capazes de fazer por nós quando mais iremos precisar.
Hoje eu “dirijo” meu sonho com as próprias mãos e de vez em quando ainda perco um pouco de vista quem eu sou, mas basta dar um pulo naquela casa que encontro o que estava faltando em mim, suas paredes ainda estão de pé graças à força eterna dos sonhos daqueles que um dia habitaram aquela simples morada, se eu ficar bem em silencio ainda é possível ouvir suas vozes e se olhar com olhos bem abertos ainda dá para ver as pessoas andando pelos cômodos, hoje a casa está vazia, mas cheia de saudades.
Eu penso que todos nós usamos máscaras para nos proteger do mundo e assim evitar um pouco a dor, mas isso provoca um vazio, penso que ás vezes esse vazio que sentimos na alma da gente tem haver com as mentiras que contamos para si mesmos tentando acreditar que tá tudo certo, mas que esse vazio se não tomarmos cuidado um dia nos engole com casca e tudo.
Hoje meus sonhos têm a direção do meu coração e não mais a direção dos ventos que me levavam para onde eles queriam, a direção dos meus sonhos apontam para caminhos que eu ainda não conheço, mas terei que percorrer e não importa quantos anos viver sei que meus sonhos me levaram aos destinos que eu mereço.
