Prezado Jorge. Desculpe-me a intromissão. Mas não posso ficar calado quando o assunto, além de público, é de interesse de todos. Li seu artigo “Eleições Fraudadas” e refleti, atentamente, sobre suas argumentações. Não posso concordar com elas. E digo porque. Primeiramente, quando o Leonel Brizola levantou essa problemática, ainda estávamos no início dessa experiência tecnológica das urnas eletrônicas. E o Brizola tinha lá suas razões. Não se pode, de fato, garantir a total segurança deste processo. Isto não existe. Sempre que interesses estiverem em jogo, e o homem no centro do processo, haverá sempre a possibilidade de burla. Ademais, não existe nenhum sistema de informações ou processamento de dados totalmente isentos de erros ou falhas. Tanto de ordem técnica, como humana.
Haja vista que o Brizola estava tão certo em suas colocações que o TSE acatou a idéia da impressão do voto, como mais um instrumento auxiliar no controle da votação. No início, essa possibilidade não existia.
E os exemplos não param por aí. Não podemos esquecer do painel de votação do Senado, até então um processo exemplar de lisura e total segurança. Não demorou para que a população ficasse sabendo da sua fragilidade. Senadores foram obrigados a renunciar ante a possibilidade de serem pegos com a mão na botija.
Agora, falando mais diretamente em relação aos seus argumentos. As insinuações de que o “pessoal da esquerda”, quando os resultados lhe são favoráveis, defende a lisura do processo como um todo, não se sustenta diante da evidência dos fatos. Não é bem assim.
Acontece que a possibilidade de fraude existe, realmente. Mas ela se dá com observância de certas variáveis. A vulnerabilidade do processo tem um risco calculado. Ela pode acontecer, principalmente, quando os resultados apontam para uma disputa apertada, voto-a-voto.
Nesses casos, é possível dar uma “ajudazinha” a este ou aquele candidato, posto que ter-se-á de mexer pouco nos resultados. E a população, a rigor, já está preparada para qualquer resultado. A favor ou contra seu candidato. E ninguém ficará tão desconfiado.
Mas, ao contrário, quando há evidente favoritismo de um dos candidatos, com margem elevada de diferença de votos em relação ao seu adversário, como foi o caso do Lula em relação ao Serra, a possibilidade de fraude é quase nula. Não porque lhe falte condições “técnicas” para processá-la. Mas porque, na lógica dos fraudadores, nesse caso o procedimento irá despertar muita desconfiança. Desconfiança porque envolve um grande número de dados que, não poderão ser invertidos sem despertar a desconfiança e o clamor da população.
O exemplo de Brasília é perfeito. A diferença entre o candidato do PT e do PMDB era mínima. Alternavam-se as posições durante o processo de apuração. E, ao final, o vencedor registrou pouco menos de 1% de votos a mais que seu adversário.
E os jornais apontaram urnas que foram encontradas em lugares suspeitos. Boatos de pessoas que foram votar e que encontraram assinaturas no seu lugar de direito. E coisas parecidas. Nada, até agora, ficou provado. Mas as suspeitas persistem. Numa eleição tudo é possível. Basta que se vislumbre um risco menor. E isto vale para o “pessoal da esquerda” e o “pessoal da direita”. Não é questão de lado. A questão é de cultura. De caráter. E, também, da fragilidade da tecnologia e das condições favoráveis para aplicar a fraude.