Mas tinha sido ela a empreender o feito de Ulisses, embora no exílio bordasse tapetes que ele jamais veria. Penélope. Tecia sem desmanchar os fios, a menos quando errava no desenho, em contínuo exercício de dar formas à forma, distraindo-se do cansaço dos dias. Fora ele a ficar à espera de uma volta que não aconteceria e por que a decisão se confirmasse, aos poucos foram cessando as cartas e e-mails, cada vez mais escassos os telefonemas, até que nada mais havia a dizer que consertasse o silêncio que entre eles se interpôs. O mundo exigira dela que fosse mais longe, mais longe, e à distância permanecesse à luta com os dragões que se multiplicavam. Dera ouvidos a sereias e serpentes. Dera ouvidos a loucos e toda sorte de encantadores. E perdera-se no mundo labirinto de Creta, sem outra que não a linha enovelada sobre o colo. Teseu, aguardava o encontro com o Minotauro, que sobrevivera em solidão.
Luiza Helena |