INSÔNIA
O passado é o esqueleto
Guardado no armário
Do meu corpo
Coberto de pele e pelos bobos
Porque assusta as criancinhas
E ao dono
Do passado no corpo enfiado.
O vento açoita
Enquanto o sono não vem
Tormenta elétrica, química
Neurônios, impulsos, enzimas
Pensamentos, sentimentos,
No turbilhão se batendo
Misturando-se
Numa rala sopa fria
Sem sabor, sem odor
Ácida e corrosiva.
O cão roedor de ossos
Vai remoendo o esqueleto
Que de outro modo
Estaria sepultado
No velho corpo cansado.
O esqueleto, o cão e o dono
Estranhíssima trindade
Atendem pelo mesmo nome
Do escriba ainda acordado.
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