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Contos-->Lágrimas azúis -- 06/04/2007 - 18:49 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lágrimas azuis

Uma vez por ano o Juca, meu pai, desaparecia da Vila de Água Doce. Creio que ele ficava com o saco cheio de nós, os seus oito filhos, e dava-se um sumiço. Aproveitava qualquer briguinha banal com a minha mãe, aborrecia-se de brincadeirinha e sumia de casa por vários dias. Nos períodos em que ele ficava ausente, vagava livre leve e solto por lugares novos e distantes. Por lá era um homem absolutamente livre, sentia-se livre como um passarinho.
Certo dia, quando retornou de uma destas misteriosas viagens, contou-nos que estivera em Brasília, tinha ido conhecer a nova capital do Brasil, que estava sendo construída por Juscelino. Virou uma espécie de herói na Vila de Água Doce. De outra feita, esteve no Rio de Janeiro e se assustou com a pobreza das favelas. Descobrira que os moradores da Vila de Água Doce eram felizes e não sabiam. Era sempre assim. Todos os anos a história se repetia. Depois de uns quinze dias de ausência, um pouco mais, um pouco menos, o Juca voltava para casa. Ao retornar, não dava satisfação a ninguém, nem dizia o que fizera. Queria apenas demonstrar que era um homem independente. Dona Francisca, minha mãe, já tinha se acostumado com aquelas fugas anuais do Juca. Nós, os filhos, até gostávamos quando ele sumia.
Durante as suas ausências, tocava-se regularmente o bar. A vida corria normal. Ninguém mais se afligia com suas escapadas. Da última vez, quando já se passara uma semana que ele tinha desaparecido, de repente chegou pelo ônibus um envelope pardo. Minha mãe reconheceu a letra do marido fujão e ficou apreensiva. Pegou a carta e foi ler no quarto. Alguns minutos depois, voltou sorrindo e nos mostrou o que lera. Tratava-se de uma mensagem do Juca. A carta viera de São Paulo, que, para nós, era um lugar tão distante e misterioso como a lua. Na folha branca viam-se três grandes bolas azuis, irregulares, feitas com caneta esferográfica e mais embaixo havia uma legenda, feita com a letra espaçosa, super conhecida, do Juca, explicando tudo: "Essas três manchas azuis foram lágrimas de saudade que eu derramei”.
Ninguém acreditou, claro! Eu, porém, que tinha apenas nove anos, fiquei impressionado com aquela imagem poética. Pensei que as lágrimas do Juca, meu pai, ficavam azuis porque ele estava longe de casa, por causa da saudade que sentia de nós. Hoje eu diria: truco!
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