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cronicas-->ESTE OLHAR DIFERENTE... -- 17/10/2004 - 21:55 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTE OLHAR DIFERENTE...
Por: Edson Campolina


Este olhar é diferente de todos que já me percorreram. Percebo logo que é inofensivo. Mas não como aqueles olhares infantis, nus, arregalados de curiosidade, que me vasculham, mas não compreendem linhas nem entrelinhas. Sei que um dia em suas maturidades voltarão a mim. Já este olhar tem uma profundidade que denuncia uma vida maior que a minha. Não aparenta surpresa, parece já me conhecer, pois tampouco tenta decifrar-me.


Este olhar é diferente de todos que já me percorreram. Não me olha com desconfiança. Tem no fundo uma làmpada de orgulho por mim acesa. Ao contrário de quem me observa apenas por fora e, sequer, dá-se o trabalho de ouvir o que tenho a lhe dizer. Volta-se aos demais repetindo suas caretas de desdém, aversão e até mesmo pré-conceito, despreocupado da denúncia exposta por seus olhos ligeiros.


Este olhar é diferente de todos que já me percorreram. Não me olha como proprietário, senhorio ou feitor. Vejo em suas pupilas um retrato de família. Olha-me como um companheiro de venturas. Bem diferente dos que me manuseiam automaticamente como um mero objeto. Para alguns até existo como decoração, um número a mais... Nunca sentirão o que tenho a lhes mostrar. Deles nunca serei companhia em qualquer viagem, tarde chuvosa, noite de insónia ou momentos de ócio. Estarei sempre onde me querem, cumprindo esta mínima parte cabida a mim.


Este olhar é diferente de todos que já me percorreram. Vejo a tranquilidade da sabedoria neste espelho redondo. Tem um brilho de felicidade lá. Diferente de alguns olhares que me percorrem com uma certa tristeza. Sinto em seus olhares uma película de ignorància ofuscante impedindo que vejam meus interiores. Mas nutrem um respeito e carinho que não percebo em nenhum outro olhar. Humildes, cuidam de mim nutrindo a esperança de num dia qualquer me colocarem no colo e fazerem-me realizado, realizando-os.


Este olhar é diferente de todos que já me percorreram. Sinto noites e dias em seu tato quando me acaricia. Percebo que uma vivência muito íntima denuncia-se na sinceridade de suas pupilas. Outros olhares até adquirem esta sinceridade e carinho no decorrer da convivência comigo. Mas nunca lhes creditarei a mesma intimidade. Pois este olhar diferente está sempre às voltas comigo. Não me esquece. Está sempre a cumprimentar-me onde quer que eu esteja.


Este olhar é diferente de todos que já me percorreram. Nutro a certeza de que este olhar sempre será diferente até mesmo dos que ainda não me deram atenção, dos que ainda sequer conhecem minha existência, dos que nem sabem que repouso em suas estantes. Dos que visitam minhas bibliotecas e não têm motivos para me selecionarem. Dos que nunca me viram em uma livraria. Pois este olhar diferente, orgulhoso de mim, conhecedor de minhas entrelinhas, só pode mesmo ser de meu escritor. E quando este olhar se for, outros, em maior ou menor quantidade, viajarão pelas estradas abertas em minhas páginas até o fim da epopéia da criação deste olhar diferente. Sentirei sua falta!


Com seus olhares mais distantes, impacientes ou mais atentos, poderão conhecer um pouco deste olhar diferente. Pois este olhar deixou impresso em meus interiores não só o que se passou detrás de suas retinas, imprimiu um recado a todos os outros olhares que me percorrem. Um recado da sua vida. Por vários dias este olhar diferente, de meu escritor, pensou em todos estes olhares, desejando-os e aspirando este contato. Foram nos dias em que me escreveu. Dias de sua valorosa vida que foram dedicados a você, que me olha e me descobre.


Só posso retribuí-lo perpetuando-me nas memórias detrás destes olhos, na estante de uma biblioteca comunitária, num arquivo virtual talvez, ou mesmo decorando uma prateleira empoeirada de um sebo, mas nunca esquecerei o olhar diferente que me percorre o escritor destas linhas. Pois o criador é perpétuo, mesmo com seu desconhecimento, leitor.

Fim
17/10/2004

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