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Contos-->Holograma -- 29/03/2007 - 14:28 (Janete Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há muitos anos planejava ir àquele passado em pessoa. E foi. Os vestígios de sua família ainda se faziam presentes através das três grandes casas coloniais, cuja distância simétrica punham-nas em posição estratégica na região, o que hoje é um enorme distrito do antigo povoado que cedo se fez cidade.

O cheiro de passado entorpecia seus sentidos, guiando-a até uma dessas casas, a que ficava em posição central. Sabia que a aparência externa pouco, com alguma consistência, poderia lembrar do que viu e viveu na adolescência (quando os mais belos sonhos eram naturalmente o futuro projetado), mas sabia também que o interior um pouco mais poderia lhe trazer do que esperava encontrar ali.

Boa tarde, moça! Boa tarde, senhora! _ As saudações iniciais pareceram meio formais, mas, no decorrer, os protocolos foram se quebrando e ela se sentia novamente em casa, onde só Iolanda ainda permanecia. Esta praticamente não envelhecera, aliás, parecia bem mais nova que ela, lembrando muito seu espectro da juventude; admirou-se de encontrar Lacraia ainda viva, latindo com a mesma felicidade de quando corriam pelos arredores, ela apanhando frutas frescas nos pomares vizinhos, depois de colher algumas na propriedade dos pais. Naqueles instantes a razão lhe escapara e ela só quis ser feliz de novo, no passado.

Tomou a sopa típica que a família apreciava, depois Iolanda lhe ofereceu um pedaço de bolo de macaxeira com café passado na hora. Comeu satisfeita. Quis descer ao quintal, mas Iolanda não permitiu. Insistiu para ao menos olhá-lo e Iolanda deixou, fixando-lhe um olhar pesado e triste. O quintal era então um precipício, um precipício profundo e cujo fim não se podia divisar. Estranhou, antes havia chão, não esperava tamanha mudança, mudança geológica para a qual não via explicação nem aproximada.

A noite ainda não se instalara, mas já se ouviam suas silenciosas passadas, prenunciando-a sutilmente. Iolanda lembrou que ela deveria retornar ao lugar de onde veio. Hesitou, queria ficar mais um pouco, passar a noite ali, dormir e acordar naquele aconchego outra vez. Iolanda lembrou-lhe dos compromissos, abraçou-a prolongado, beijou-lhe os lábios e acompanhou-a até a porta.

Do outro lado, vidro e aço permitiram-na olhar Iolanda ainda, frente a frente, então com maior nitidez. Iolanda agora voltava a parecer-se com ela em tudo, na corpulência, nos gestos, nos trejeitos, no olhar perdido e inconformado, nas mudanças fisionômicas, na paixão ardente, profunda e massacrante, pelo passado que não se pode enterrar.


Janete Santos
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