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cronicas-->Parece que foi ontem -- 12/10/2004 - 03:22 (Mastrô Figueyra de Athayde) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Feriadão prolongado. Para quem não foi viajar, o lance foi tentar aproveitar o tempo da melhor maneira possível. No meu caso, fui limpar o quarto. Encarei uma pilha de caixas com documentos, anotações e uma série de bugigangas que não me servem para mais nada. Ao começar a limpeza, encontrei alguns papéis que fizeram relembrar situações do passado. A nostalgia tomou conta do meu quarto. Muitos dos papéis fiz questão de nem ver o que era, haja vista que, se dependesse da minha vontade, não jogaria nada fora.
Durante a minha "arrumação" um documento me chamou atenção. Era um ticket de entrada de um jogo de futebol, que por ventura, completou dez anos neste 12 de outubro. Como sou amante do futebol, comecei a ler o ticket. Mesmo o papel estando mal tratado, em função da péssima conservação e pela ação do tempo, tive a certeza que se tratava do jogo que mais marcou a minha vida. Digo isso, não em função da vitória do meu time do coração, mas em virtude de toda uma situação que envolveu aquela partida.
Era o dia 12 de outubro de 1994, Dia de Nossa Senhora da Aparecida. Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas. Guarani e Corinthians disputavam a liderança isolada, em seu grupo, pelo Campeonato Brasileiro. Ingredientes perfeitos que antecediam uma grande partida. Garoto que eu era, com 16 anos, vivia a minha primeira experiência em um campo de futebol. Para ir ao "Brincão", combinei a ida com outros dois amigos, além do meu pai, é claro: Fernandinho e Rogério.
Com as camisas do Bugrão, partimos para Campinas de Kombi, ano 87. Ao entrar na Avenida Moraes Salles, constatamos que a partida não seria como uma outra qualquer. Nas calçadas, uma verdadeira mancha negra descia em direção ao estádio. Era a nação corintiana, que prometia "invadir" a casa bugrina. Impressionados com a quantidade de pessoas, seguimos até a entrada destinada aos torcedores do Guarani. Antes, uma outra batalha: conseguir estacionar a "Kombão". Tivemos que deixar o veículo a umas dez quadras do estádio, mas tudo bem, era um local confiável.
Ao chegar na Avenida Guarani, entrada do tobogã, reparamos que não era apenas a torcida do Corinthians que estava preparada para invadir o estádio. Os bugrinos, com bateria e bandeiras, acertavam os detalhes da sua invasão. Estádio lotado, para mim, mais um bom motivo para comemorar. A dificuldade para comprar o bilhete era algo esperado, mas não tirou a nossa empolgação.
Faltando apenas 20 minutos para começar a partida, estávamos na fila de entrada. Ao passar a catraca, corremos em direção as escadarias de acesso do tobogã. Ao visualizar o campo pela primeira vez, dei de frente com uma verdadeira multidão. O estádio estava completamente tomado pelas duas torcidas. Uma festa e tanto, um momento que se imortalizou na minha retina.
Ao chegar na arquibancada, encontramos um local bacana para assistir a partida. O juiz apitou e a bola começou a rolar. Do lado do Corinthians, Marcelinho Carioca, Casagrande, e o goleiro Ronaldo polarizavam as atenções. No Guarani, sensação do campeonato, as estrelas eram os atacantes Luizão e Amoroso. A partida começou tensa e equilibrada. No melhor momento do primeiro tempo, para o Corinthians, falta na entrada da área. O "Pé de Anjo" ajeitou a pelota e colocou lá, na gaveta. A explosão da torcida do Corinthians, mesmo sendo desastroso para a minha equipe, chegou a emocionar.
Com o Timão em vantagem no placar, eis que explode o momento mais triste da partida. Quando ninguém imaginava confronto entre torcidas, a briga acontece. Membros da torcida do Corinthians são deslocados irresponsavelmente pela Polícia Militar ao tobogã. Mesmo com a segurança, a briga é inevitável. No corre-corre das torcidas, bem nas escadarias de acesso das arquibancadas, um torcedor corintiano caiu, sendo pisoteado pela sua própria torcida. Socorrido, Franceschini não resistiu aos ferimentos e morreu.
Nessa altura, a partida de futebol ficou em segundo plano. As cenas de de violência, que explodiu a menos de dez metros de onde estávamos, refletiu em todos no estádio. Durante o pànico que se formou no tobogã, na tentativa de se afastar do tumulto, meu pai chegou a perder os óculos, além de ferir a perna ao tentar subir os grandes degraus de concreto. Passado o susto, tentamos voltar as atenções ao jogo. Com o coração na garganta e com medo de uma nova briga, vimos a virada do Guarani com gols do zagueiro Cláudio, de falta, e do craque Amoroso. O Guarani venceu, comemoramos timidamente e tivemos a certeza: o futebol perdeu mais uma vez.
Passados dez anos daquele fatídico dia, no Brasil, ainda é comum presenciar briga entre torcidas, assim como mortes relacionadas ao esporte número um do brasileiro. O futebol, para as torcidas, que deveria ser lazer, se transformou em uma ferramenta de guerra. Episódios como esse só afastam os verdadeiros torcedores e as famílias dos estádios. Passado esse episódio triste, nunca mais voltei com o meu pai ao estádio e acredito que esse dia está longe de acontecer.
Peguei o ticket e guardei na carteira. Sei que quando quiser relembrar esse episódio é só voltar a pegá-lo. Muitas vezes nessa vida, temos a obrigação de relembrar o passado, para que possamos aprender no futuro. Que o episódio do Brinco de Ouro sirva de lição. Bom, acho que viajei muito no passado, é melhor voltar para a limpeza do quarto, afinal, quarta-feira é dia de voltar ao trabalho.
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