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Contos-->UM ANJO ACORDOU-ME ESTA NOITE -- 17/03/2007 - 18:52 (Hull de la Fuente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





Um anjo acordou-me esta noite


No meio da noite, inexplicavelmente Ivonide desperta. Há um silêncio absoluto no quarto.

Seus olhos acostumam-se a escuridão e então ela pressente que não está só.

Havia uma presença apenas sentida, sim! Uma doce presença que fez com que ela experimentasse muita paz. Elevando seus pensamentos ao Criador, imediatamente, como num filme, imagens começaram desfilar em sua mente.

Viu-se aos treze anos de idade, a caminho da escola, de uniforme e cadernos na mochila. Naquele momento não pensava nas matérias que deveria estudar. No seu pequeno coração só havia lugar para o sentimento que acabara de descobrir: o amor.

Ela seguia o caminho e se perguntava: como uma menina inexperiente, cujo corpo ainda está em formação, pode viver tamanha revolução de sentimentos? O que se passava no seu interior? Seria correto criança apaixonar-se? Como saber o que é correto ou incorreto? Seria verdadeiramente amor ou apenas a descoberta da sexualidade?

Sim, agora ela via seu corpo em formação externa, pois internamente sentia seu coração já formado, enorme, carregado de amor. Ela experimentava a mais linda sensação que jamais sentira. O seu amado era tudo o que queria pra toda vida. Nada teria sentido, se ele não pudesse ser seu.

O filme continuava e nele a sua ingenuidade era evidente. A menina que se casava e se dava ao amor do homem amado, que nele depositava todos os seus sonhos e esperança. A esperança de juntos construírem um mundo, uma vida. O sonho de ser para sempre feliz ao lado dele. Viu seu pai triste, por que não concordava com seu casamento prematuro. Embora não tivesse sido criada ao lado do pai, ela sentiu um forte remorso, pois poucos dias depois de seu casamento ele morreu.

E chegaram os filhos. Com eles também veio a descoberta de que o sonho é realmente sonho. A dura realidade não poupou a menina. Como foi possível uma mulher-criança ter parido e cuidado de duas outras crianças? O Senhor Deus estava ali. Ele viu cada uma de suas lágrimas, as lágrimas de uma mãe de apenas quatorze anos. Ele deu-lhe forças, amparou-a, deu-lhe confiança e discernimento materno.

A menina-mãe que não teve adolescência, cresceu junto com os filhos. Cada dia foi um duro aprendizado. A escola interrompida no passado, foi “recuperada” na vivência diária, dentro da própria casa.

O filme mostrou-lhe os quatorze anos de muita luta até os dias atuais. No escuro do quarto Ivonide se pergunta: “onde estão os meus sonhos? E o amor?” “Viverei de novo todas as emoções que esse sentimento proporciona? Ainda sentirei aqueles choquinhos tão deliciosos que o simples encostar de ombros proporcionam?” “Viverei a mesma doce expectativa dos encontros marcados?”

– Ah! Minha jovem filha! – responde a voz do anjo – Siga o seu coração, vá até onde ele lhe levar. Os seus sonhos estão guardados no fundo deste seu coração. Eles poderão ser resgatados lá no distante mundo da esperança. Você precisará, contudo, de parceria, de cumplicidade. O seu amor lhe ajudará com o muito amor que tem pra dar. Com ele ao seu lado você viverá tudo o que imaginou pra sua vida, tudo o que foi negado a você nesse seu período de crescimento.

O amor é mágico, é elástico. Ele aumenta ou diminui na proporção em que se percebe que se é correspondida, que se é valorizada como mulher e companheira.

A sua alma romântica aguarda o momento desse resgate de sonhos não vividos. E com o amor, ou com a força por ele transmitida, você viajará novamente pelas nuvens, como o fez tantas vezes, aos treze anos de idade. Com certeza em cada uma das nuvens por onde passar, o amor estará a sua espera e a envolverá, cada vez, de modo diferente.

O filme parou de rodar nesse ponto. Foi linda a visita do anjo. O Senhor Deus o mandou para tranqüilizá-la, para dizer-lhe que Ele está no comando da sua vida.

Ivanide entendeu o sonho e no silêncio da noite balbuciou: “Obrigada por isto, Senhor!”

Depois, cobrindo-se com os lençóis, agradeceu ainda: “AMOR, Obrigada por fazer parte da minha vida, você foi, é e será sempre bem-vindo.”




Observação:

Este texto é uma homenagem à querida colega de trabalho e leitora fiel, IVANIDE. É assim mesmo seu nome, sem o “L”. Tentei falar aqui do que entendi sobre sua vida. Tentei realçar sua difícil maternidade prematura, e, a perda dos sonhos. A Iva é uma dessas pessoas que a gente sente que não veio ao mundo por acaso. Ela tem uma missão. Além disso, é extremamente romântica; isto por si só justifica esta homenagem.


(Hull de La Fuente)

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