Por onde começar a ser feliz? Perguntei-me isto muitas vezes, enquanto deitava ao lado da minha solidão.
Solidão esta, imposta pela minha vontade, quando com prazer entrego-me ao mundo das minhas reflexões. Nestes raros momentos, onde dou folga aos meus censores internos e me permito o deleite de pensar nas alvas folhas que me acolhem. Nenhuma idéia é riscada pela crítica...minhas letras vão sendo abraçadas pelos tantos braços da imaginação e da inventividade.
Essa, é de certo uma das minhas formas de ser feliz.. Viajo na liberdade de dizer de mim e das pessoas que amorosamente vão despertando minhas palavras, recheando-as de emoção.
Ser feliz é de certo o maior desafio da alma humana, mas é também nossa vocação natural.
Por onde ir? Que caminhos percorrer? Que estratégias usar?
Há tempos constato que em nossas buscas deixamos à margem o interesse por nós mesmos. Aprendemos erroneamente que seríamos egoístas, se nos cuidássemos ou se nos amássemos. Fomos doutrinados, e neste aspecto, as religiões foram algozes, que deveríamos estar sempre atentos ao outro e fazê-lo feliz. Especializamo-mos em ver as necessidades dos que nos cercam com lentes microscópicas, enquanto renegávamos nossos sonhos a miopia dos nossos olhos.
Assim, fomos perdendo a cumplicidade com nossos desejos. Tornamo-nos alheios aos nossos reais anseios, ao passo que corríamos no intuito de querer fazer o outro feliz. Penso que continuamos a habitar um corpo, cuja alma ainda desconhecemos.
Não podemos pensar em felicidade, quando nos distanciamos da leitura do nosso eu. Sermos amigos de nós próprios, relacionando-nos de forma transparente com nossas vontades é pressuposto básico para encontrarmos esse caminho, onde o coração em regozijo, é a atração principal.
Sermos leais com nossos propósitos nos credencia a sermos fiéis com os que nos relacionamos. Sermos verdadeiros em nossas emoções, nos habilita a inundar o outro com nossa sinceridade. Cuidar-nos amorosamente é passaporte para também promover e solidificar a felicidade do outro.
Não deixemos o sono adormecer-nos em buscas que estão dentro de nós, e não em continentes distantes, aquém ou além das nossas possibilidades. A vida é uma conjunção de aprendizagens, e mesmo nas experiências doloridas existem elementos que, se sabiamente aproveitados, conduzem-nos na construção da nossa felicidade. Aproveitemos de todos os recursos que o mundo abundantemente nos oferece. Não sejamos escassos ou económicos em nossos olhares. Aproveitemos das tempestades e calmarias, dos dias cinzentos e coloridos, do sol e da chuva, das lágrimas e dos sorrisos. A forma como elaboramos esses elementos em nossas vidas é que faz a diferença. Somos nós a dimensionarmos o peso ou a leveza das nossas dificuldades e delas extrair a seiva que pode nos energizar em nossas lutas. Lamuriarmo-nos ou creditarmos ao mundo ou aos outros à responsabilidade por nossa felicidade, qualquer um pode e sabe fazer. Não caíamos nessa armadilha, porque ela já não faz nenhum sentido e só satisfaz aos nossos sabotadores internos.
Não esqueçamos de lições básicas para sermos felizes: amemo-nos, cuidemo-nos e conheçamo-nos. Invistamos em passeios sem pressa pelos nossos desejos, porque está é a maneira mais concreta de sermos felizes e de contribuirmos para a felicidade de outras pessoas.