A interpretação da ALEGORIA DA CAVERNA passa pelo prisma de uma compreensão dialéti-ca. A TESE é a realidade do interior da caverna (por que não poderia ser o contrário?). Enquanto no seu interior, os homens fazem uma idéia da existência que se limita aos condicionamentos ocasionados por falta de liberdade ou em virtude das limitações de perspectivas. O que vêem e o que sentem, dirigem as suas conclusões finais. No entanto, por se tratar de homens, sempre há quem queira mais e não se acomode. Parte deste a iniciativa de buscar o que pode ser entendido como a ANTÍTESE. Esta encontra-se fora da caverna. Enquanto existe sombra na caverna, fora existe luz. Aquele que sai da caverna pode provar de que substância são as duas realidades. Marcante é entender que estas duas realidades se explicam uma pela outra. E só CHEGA À SÍNTESE QUEM NÃO ABSOLUTIZA a uma delas. É a capacidade de sintetizar que possibilita a volta daquele que um dia deixou a sombra do interior da caverna. O texto sugere a volta motivada pela compaixão. Compaixão esta que não é paternalista, antes é caracteriza-damente pedagógica, já que permanecer nas sombras reflete um estado infantil de reflexão (mesmo que este estado tenha o que ensinar ao homem).
Para o que volta, as sombras são uma realidade tanto quanto a luz. E só se compreende uma quando se conhece a outra. O ensino básico constitui-se no fato da periodicidade e dinamismo que tornam constantes em nós o estado de caverna e o estado de luz. Não há como ficarmos isentos de uma destas realidades. A experiência humana representada naquele que sai e volta é de maturidade, embora não de perfeição absoluta.
Uma relação com esta ALEGORIA pode ser encontrada nas expressões de movimentos ideológi-cos radicais. De passagem, podemos citar as atitudes, pensamentos e ações de grupos religiosos que, intransigentemente, não aceitam e rechaçam manifestações contrárias às suas doutrinas. Partindo do pressuposto de que para toda TESE há uma ANTÍTESE, fica difícil, para os que estão em cavernas doutri-nárias, relacionarem-se com os que buscam a SÍNTESE ou apresentem apenas a ANTÍTESE.
De uma perspectiva mais focalizada em indivíduos, temos exemplos em Sócrates, Jesus, Freud, Nietzsche, Galileu, Espinoza, Giordano Bruno e outros, que se libertaram da caverna das tradi-ções e encontraram outros parâmetros de verificação do conhecimento e da realidade.
O mundo é palco de ambos os momentos: SOMBRA E LUZ. Cabe-nos estrapolar esta dimensão dualista e avançar para uma compreensão global e sintética que nos possibilite conviver com o plura-lismo iluminado das idéias.