CACIMBA
Antonio Luiz Macêdo
Ouvi, certa vez, uma definição de cacimba dada por um garoto, que me fez rir e me trouxe certo espanto. Dizia ele na sua linguagem peculiar: “Cacimba é um cano bem grossão, que encontra água no fundo do chão, pra gente tirar ela quando tá bem limpinha”.
O meu espanto não foi tanto a descoberta daquele menino, mas um outro fato que poucas vezes refletimos.
Com uma roldana fixada num pedaço de madeira resistente e horizontal, apoiado em duas forquilhas, o balde e a corda completam os artefatos necessários. Alguém que tenha um pouco de habilidade e força começa a “puxar água”. Água para beber; cozinhar os alimentos; lavar a roupa de casa; tomar banho; dar de beber aos animais; lavar a louça; regar a horta; limpar os criatórios... O dia inteiro nesta luta: cacimba, corda, balde, água. Litros e mais litros, e mais litros. E a cacimba não seca. Quanto mais você retira água, mais abundantemente a água brota do fundo da terra, do veio da rocha.
Tudo isso me faz lembrar o Amor de Deus. Quanto mais ele nos dá amor, mais amor ele tem para nos dar. Ele é o próprio Amor. Quanto mais extrairmos do seu coração “a água da vida”, ele que também é a Rocha, fará brotar de maneira fecunda a água vivificante.
Desejaria reencontrar aquela criança. Leria para ela esta página. Com toda a certeza, ao final da leitura, ela exclamaria na sua espontaneidade: “Deus é um cacimbão de amor!”
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