Idéia de lugar separado de Deus para onde iriam crianças não batizadas não condiz com a misericórdia divina, segundo comissão de teólogos
EFE e Reuters
A Igreja Católica descartou definitivamente o conceito de limbo - destino das crianças que morriam sem receber o batismo, segundo secular tradição católica -, porque a exclusão de crianças inocentes do Céu não reflete o amor divino e a misericórdia de Deus supera a falta do sacramento nesse caso.
A nova posição doutrinária, revista e corrigida, foi oficializada por documento publicado ontem pela Comissão Teológica Internacional, vinculada à Congregação para a Doutrina da Fé (antigo Santo Ofício). A comissão estudava a questão desde 2004. A publicação do documento - aguardado com muita expectativa - foi autorizada pelo papa Bento XVI.
O limbo - termo derivado do latim limbus, que significa franja ou borda de uma veste - nunca foi considerado dogma da Igreja e não é mencionado no Catecismo. O documento da comissão diz que nem na Bíblia nem na tradição há “resposta explícita” à questão. Já em 1984, quando o cardeal Joseph Ratzinger era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o atual papa afirmava que o limbo era apenas uma “hipótese teológica”.
O documento foi publicado em inglês e estará disponível em outros idiomas em breve, informou um membro da comissão. Ele explicou que a Igreja continua considerando o batismo como caminho para a salvação, mas, nesses casos, a misericórdia de Deus é maior que o pecado.
O documento de 41 páginas afirma que o limbo “reflete uma visão excessivamente restritiva da salvação” e que há “boas razões” para esperar que as crianças que morrem sem batismo sigam para o Céu. “A graça tem prioridade sobre o pecado e a exclusão de crianças inocentes do Céu não parece refletir o amor especial de Cristo pelos pequeninos.”
VÍTIMAS DE ABORTO
O documento se chama A Esperança de Salvação para as Crianças que Morrem sem Batismo. Segundo a comissão, o limbo representava um “problema pastoral urgente”, pois há cada vez mais crianças que nascem de pais não católicos e não são batizados e “outras que não nasceram ao serem vítimas de abortos”.
No século 5º, Santo Agostinho afirmava que as crianças mortas sem batismo iam para o inferno. A partir do século 13, começou a se falar do limbo como o local no qual as crianças não batizadas estariam privadas da visão de Deus, mas não sofreriam, já que não o conheciam. Ele também abrigaria “gente de bem” que havia vivido antes da chegada de Cristo. Na Divina Comédia, foi no limbo que Dante Alighieri alojou “pagãos virtuosos” e filósofos como Platão e Sócrates.
Por séculos os papas não definiram o limbo como doutrina e deixaram a questão em aberto. O ESTADO DE SÃO PAULO
Quatro estações
Limbo - Lugar para onde seriam enviadas as crianças que morrem sem o batismo. Ali, elas nada sofreriam, mas jamais veriam Deus
Céu - Destino final e definitivo dos justos, premiados com a vida eterna. Os eleitos, aqueles que morrem sem pecado grave, segundo a doutrina católica, têm a visão direta de Deus
Inferno - Castigo eterno para os que morrem com faltas graves. O maior tormento dos condenados é a privação da visão de Deus
Purgatório - Estado provisório das almas que se purificam de faltas leves para chegar ao céu. Como não têm pecados graves, não são condenadas ao inferno