Para longe, muito longe, algures onde o paradoxo da inteligência se dilui...
Presumo que o meu silêncio tenha som,
silêncio que não é pergunta nem resposta,
tal como entre ciprestes esguios
a memória emana e repousa tranquíla...
Abdiquei das intimidades sempre reveladas
e já não suporto os encavernamentos da vida
ainda que a céu aberto meu corpo andasse
com a alma de rastos, triste, enclausurada...
Não me sinto bem a rir sem vontade,
não me apraz chorar em público a fingir,
não quero sentir-me algemado e agrilhetado
entre o decurso das palavras e dos gestos...
Almejo o ser das crianças, dos cães, dos gatos,
dos pássaros subtis que voam e revoam
levando meus olhos para o meio das folhas
onde os répteis ascendem e descendem...
O desejo de não-ser e de não-estar
suaviza-me os sentimentos à flor da pele,
invade-me de unguentos fraternos,
ermitão à vista de alguém ou de ninguém...
Entretanto, bato-te palmas, muitas palmas,
palmas de mãos limpas e braços abertos,
coloridos confetis do meu coração
para que mais e sempre tenhas esperança.
Dezembro - TdG |