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Contos-->HONÓRIO, FILÓSOFO E POETA -- 02/02/2007 - 23:48 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
HONÓRIO, FILÓSOFO E POETA


Francisco Miguel de Moura*

Alguns anos mais tarde, quando o pai já morava em Santo Antônio, o menino ouviu o palhaço do circo perguntar a outro:
– “O que é que quanto mais se tira, mais cresce e quanto mais se bota mais diminui?”
O outro não soube responder. Nem a platéia tampouco.
- É buraco, seu idiota – responde o perguntador. – Quando se está cavando, mais se tira terra e mais ele cresce; e quando se está entupindo, mais se bota terra, e mais diminui.
Próximo a Santo Antônio, em Jenipapeiro, vivia Honório, trabalhador da terra e com certeza um descendente de Mãe Vitória, fundadora daquele lugar. Ele pensava e pensava sem nem saber que existia aquele palhaço, e resumira em suas ruminações que a vida é um buraco. Pessoa muito popular, quase um personagem por sua específica maneira de dizer, às vezes até gozavam dele. Porém era um filósofo e tanto, uma poeta. O menino conhecia outro buraco, não aquele que encerra uma filosofia de vida.
- Honório, choveu na sua roça? – um dia mestre Miguel perguntou-lhe, no caminho de sua roça na “Serra”.
– Choveu e não choveu.
– Como assim, Honório? Não entendi.
Ele completava:
– Choveu porque caiu uns pinguinhos, mas não chegou a molhar a terra, não dá pra nascer o feijão plantado, e da mandioca nem é bom pensar.
Parando um instante, volta à fala, em seguida:
– Entretanto enramou a mata, os animais e o gado estão comendo melhor. Por alguns dias.
– Mas você está com saúde, parente?
– Sim e não. Não estou acamado, com febre, mas sinto tantas dores depois daquela gripe malvada que está dando no povo...
Era sempre assim que respondia a toda e qualquer indagação: sim e não, foi e não foi, é e não é...
Chico não sabe só por ouvir de terceiros. O menino ouviu, certa vez, o pai conversando com ele, num encontro, no povoado. Não pegou tudo, nem podia, diante do burburinho da feira de domingo, mas lhe ficou um trecho do diálogo. Lembra que o papai indagava:
– Como vai sua vida, Honório?
– Ah, mestre Miguel, vou cavando...
Experiência de um fazedor de cercas, um cavador de buracos, um plantador de mandioca, em palavras que encerram muita sabedoria. Tudo é e não é, ao mesmo tempo. Na verdade, os homens vão cavando o próprio buraco até o fim. Crescem os anos, diminuem os dias.
Muito depois da conversa de Honório foi que o menino fez a ligação com o seu buraco e tomou consciência de ter recebido a primeira lição de filosofia.
A vida é um buraco.

______________________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina, PI. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br



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