"Tambor está velho de gritar
ó velho deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente
dos trópicos."
José Craveirinha
Maria de Nazaré
e Maria d`Angola
marcaram encontro
no mesmo altar.
Amém! Axé!
Saravá!
Uma é judia,
a outra é negra.
Mas comem e bebem
na mesma cuia.
Amém! Axé!
Saravá! Aleluia!
Tantos calvários,
ai tantas cruzes.
Quantos Jesuses
neste meu país.
Quantos Palmares,
quantos Zumbis.
E lá vem o padre,
com seu filá
e sua estola cheia de cores,
anunciar a Boa Nova
ao som marcado
dos três tambores.
E lá vem o babá de orixá
com suas contas
e água-de-cheiro,
convidar Cristo
e mais seus amigos
para uma festa lá no terreiro.
Toca sino,
bate tambor.
Toca sino,
bate tambor.
Tambor d`Angola,
sino de Belém.
Salve Maria, salve Mariama
e Dandara também.
É fé, é graça.
É pão, é vinho.
É angu, é cachaça.
Amém! Axé!
Todas as raças
numa só raça.
_________
(*) Poema lido por um padre católico, de origem africana, durante uma missa inculturada na Igreja Nossa Senhora Achiropita, em São Paulo. |