- Posso ir na sua casa hoje?
- Claro!
- Você não vai sair?
- Não.
- Eu to com saudades.
- Então vem!
- Eu preciso te contar uma coisa.
- Que coisa?
- Ai eu conto.
- Você tem segredos?
- Não, tenho túmulos.
- Você não tem segredo nenhum pra contar pra mim?
- Segredos são dos outros.
- Eu vou deitar.
- Não, fica aqui. Hoje eu não to afim.
- Você vai ficar com raiva?
- Não, só vou pegar um negócio no quarto.
- Eu posso te contar um segredo?
- Pode.
- Eu to com medo.
- Medo de quê?
- De ti contar.
- Então, num conta.
- Eu vou contar, e se você não gostar.
- Como que eu não vou gostar se não sei o que é?
- Eu já fui garota de programa.
- E daí!
- Alguém já te contou.
- Não, eu sabia.
- Sabia como?
- Sabia.
- Não gosto de lembrar disso.
- Então não lembra.
- Eu sofri muito.
- Eu imagino.
- Eu precisava, tinha uma filha de três anos.
- Fiz um programa na estrada, depois chorei muito.
- Que segredo triste.
- Você ficou triste?
- Não, fiquei pequeno.
- Você vai mudar comigo?
- Porque eu deveria mudar? Eu não devo nada a ninguém!
- Mas, se alguém comentar com você.
- Eu não permito que ninguém me conte nada, que eu não queira.
- Detesto conversa fiada, acho um perigo!
- É você é na sua.
- E você é muito bonita.
- Você acha?
- Acho, e acho que você esta gostando de mim.
- Eu sempre gostei de você.
- Mas, agora é diferente.
- Por quê?
- Você me chamou de meu amor, e isto é um perigo.
- Você não gosta de mim?
- Eu sou apaixonado por você.
- Você vai viajar no carnaval?
- Não sei, estava com vontade de te levar para uma montanha.
- Uma montanha!
- Eu sou meio egoísta.
- De barraca?
- Não, para um castelo.
- Um castelo!
- Um castelo com chocolate quente.
Autor: Marco Túlio de Souza
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