Parei no farol. O vidro do carro estava parcialmente aberto do meu lado. Ela veio até mim. Era uma menininha bonitinha, mas maltratada. Olhou-me com cara de piedade e me ofereceu balas de goma. Como eu não tenho o hábito de comprar nada no farol, recusei.
Ela insistiu:
- Só cinquenta centavos, tio.
- Eu não tenho.
- O senhor não tem cinquenta centavos? - perguntou-me com os olhos arregalados.
- Não - respondi com firmeza.
Eu não queria continuar a conversa, mas a garota prosseguiu:
- Então eu deixo por quarenta.
- Também não tenho.
- vinte então - seguia ela com a pechincha.
- Não tenho, já disse.
Ela me olhou com um misto de raiva e pena e, arremessando as balas com força para dentro do meu carro, gritou:
- Fica com esse troço de graça, então!
Eu me espantei com a atitude dela, mas o farol abriu e eu segui viagem com o amargo sabor daquelas balas.