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Discursos-->Já Não Tenho Dedos Pra Contar -- 04/11/2002 - 18:56 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já Não Tenho Dedos Pra contar
(por Domingos Oliveira Medeiros)


O que ninguém disse, até agora, sobre as rebeliões ocorridas, nos últimos anos, em várias penitenciárias espalhadas por muitos municípios de São Paulo, e a rigor, pelo resto do país, somados à crescente onde de seqüestros e estupros, de toda ordem, com mortos e feridos, é que a ausência total do poder público, nos três níveis, federal, estaduais e municipais, tem sido a causa principal de todas as disfunções sociais que, infelizmente, grassa neste país.

Basta olhar para as prioridades deste governo que, sob as mais diferentes justificativas, anda de costas para a população, já no final de seu segundo mandato, realizando uma política macroeconômica que, em última análise, prioriza a subordinação da economia brasileira às empresas multinacionais e à subserviência ao capital especulativo, aumentando o endividamento externo, e comprometendo a própria soberania nacional.

Resultado disso tem sido o desmantelamento dos serviços públicos, cujos servidores amargam vários anos de indiferença e de redução de salários, o que reflete na qualidade de serviços essenciais como os de saúde, de educação e, principalmente, de segurança pública que, somados ao desemprego, à inflação, aos juros altos e a onda crescente de escândalos e de corrupção, transformaram os brasileiros numa espécie de estranhos em seus próprios ninhos, transformados, agora, em cárceres privados.

Enquanto isso, na Holanda, aprovaram a eutanásia, fato que provocou sérias discussões, prós e contras, relacionada com a dignidade da pessoa humana. Em excelente artigo publicado no Jornal do Brasil, o teólogo e professor emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Boff, parte do pressuposto de que a morte pertence à vida, e a vida pertence à eternidade, “que é a realização plena das virtualidades da vida”.

Assim, do mesmo modo que somos responsáveis pela nossa vida, somos pela nossa morte. O direito à uma vida digna, portanto, guarda sintonia com o direito à uma morte digna. E esse direito, diz o professor, com muita propriedade, “muitas vezes nos é negado pelo fato de sermos obrigados a ficar atrelados a aparelhos e a medicamentos que nos prolongam a vida no sentido meramente vegetativo”. E numa das conclusões, destaca: “Isso implica que o médico fará tudo para curar o paciente e proporcionar os remédios para aliviar-lhe a dor. Não significa que deva recorrer a tratamentos extraordinários para prolongar a vida ou postergar a morte, sobretudo em situações limite”.

A eutanásia, aqui no Brasil, tem sido uma questão que caminha para o supérfluo, para o mero detalhe, diante da banalidade com que a vida tem sido tratada, seja por condições adversas de ordem econômica, seja pela absoluta falta de segurança a que todos estamos submetidos. Nossa vida é tão desrespeitada que mata-se por um par de chinelos, por um relógio ou um tênis, ou por nada, só para ver o tombo, como dizem alguns marginais, à frente das câmaras de televisão, numa ousadia que não deixa dúvidas quanto ao grau de impunidade e, em alguns casos, de conivência de autoridades.

Invertem-se posições, crenças e valores, passa-se o tempo e nada de concreto é anunciado e realizado.

A pena de morte já foi decretada, há muito tempo. Do mesmo modo que o porte de arma já foi liberado. E a própria justiça está sendo substituída pelos beneficiários deste “novo” ordenamento jurídico, os marginais, os ladrões, os assassinos, que ditam regras, inclusive dentro das penitenciárias, e sentenciam quem deve morrer, quando e de que maneira.

O combate ao terrorismo, iniciado pelos Estados Unidos da América, parece brincadeira diante dos terrorismos que tomam conta do mundo, especialmente aqui no Brasil.

O tráfico de entorpecentes, de armas e de material bélico, efetivados pelos grupos organizados de criminosos, a maioria dos quais acobertados pela conivência de algumas “autoridades”, somados ao desumano e improdutivo sistema econômico-financeiro internacional, parecem que vieram para ficar.

O assassinato de um certo prefeito, em São Paulo, parecia que era a gota de água que faltava para derramar do copo a indignação e o chamamento às responsabilidades de quem de direito precisava apresentar-se. O Presidente da República, Ministros, Deputados e Senadores, entre outros, à época, fizeram coro dizendo que é hora de dar um basta nesta INDIFERENÇA para com a vida de nossos semelhantes. Mas até agora, ao que tudo indica, não há sinais significativos de combate eficaz ao crime. A despeito de sabermos que as eleições costumam fazer milagres.

Afinal de contas, onde pretendemos chegar com tanta omissão e descaso? Temos medo de que, ou de quem? A quem interessa esse estado de coisas? Até quando iremos deixar nosso povo trabalhador na UTI do desengano, aguardando pela terapia dos marginais e esperando pela graça da eutanásia imposta pelos assassinos de plantão?

Conforme diz o nosso teólogo Leonardo : “Uma terapia só tem sentido quando se ordena à reabilitação e à restituição das funções essenciais e vitais e não simplesmente a garantir uma vida vegetativa. Importa deixar morrer, o que não é a mesma coisa que fazer morrer”.

E nem isso nós ainda temos, posto que ninguém se importa com os que nos fazem morrer, todos os dias, em algum lugar, chorando pela morte de um parente ou de um amigo, ou conhecido, ou deixando chorar alguém, quando nós é que morremos. A bem da verdade, o povo brasileiro, a cada dia que passa, de um certo modo, morre um pouco, antes do tempo. Inclusive, de vergonha.

Domingos Oliveira Medeiros
03 de abril de 2002- com correções.
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