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Contos-->Rapunzel Não É Mais Aquela. Nem O Príncipe -- 24/12/2006 - 06:22 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:130951919395176900
Ping-pong, ping-pong, ping-pong. Na área de recreação do prédio, algumas garotas e garotos continuam a jogar. A bolinha bate nas raquetes e por vezes fica na rede ou é jogada fora da mesa do lado adversário. Ponto para o Julinho. Ligia reclama:

-Agora é minha vez. -E substitui o Mandrake no outro lado da mesa. O jogo recomeça: pingue-pongue, pingue-pongue, pingue-pongue.

No pátio ao ar livre, meninas e meninos deslizam seus patins no piso de cimento. Dentro da sala alguns jogam RPG, tentando parecer calmos.

Ritinha Trocaletras e um grupo de alunos da mesma série do "Colégio Adriana Prieto", estão fazendo um trabalho sobre a leitura de um conto popular de nome Rapunzel. Hermano olha para ela com ares de pouca amizade, fala cheio de razão:

-A mãe dela...

-Mãe não, madrasta. Corrige Regininha Surfistinha.

... Trancou ela na torre porque ela soltava pum. Daí o nome Rapunzel.

Ritinha Trocaletras, indignada:

-Toldo murndo zolta pum, não é moltivo para tlancar alguém numa tolre de calstelo.

Hermano não se dá por vencido:

-Ela devia soltar pun fedido. A bruxa não gostava. Ninguém gosta.

-Mãe madrasta. Já disse. Mãe madrasta. Pronto! Corrige Regininha.

-Mãe, madrasta, bruxa. É tudo a mesma coisa.

Mandrake aproximando-se da turma pergunta:

-Começaram ou estão terminando? O que vocês escreveram sobre a maluca do cabelão que jogou as tranças enormes praquele bundão do príncipe engravidar ela?

-Ah, você está de palgode, por que lhamou o namolrado dela de bulndão-Está com invelja proque volcê nunca terve namolrada.

-Eu odeio garotas. Elas sempre acham que sabem tudo. Mandrake está bravo.

-O que você escreveu aí? Pergunta Hermano para Ritinha que está fazendo as anotações para o trabalho de classe.

-Eu não vou escrever essa coisa de bundão, a professora não vai gostar. Fala sério ou leva zero.

-Ela tilra treu nolme do tralbalho.

-Ela não vai saber. Comenta Hermano. Ninguém vai me dedurar. É isso.

-Tu foi suouspenso nesse semeltre. Duas suspensções e não aceiltam tua maltrílcula no prólximo ano.

-Eu sempre vou odiar garotas. Sempre. Soltem pun ou não, tenham cabelão trançado ou sejam raspadas como o Ronaldinho.

-Não força, cara, trabalho de escola é coisa séria. Regininha impõe moral.

-A professora disse que precisa de ser nos conformes de como a gente fala. Hermano defende Mandrake e lembra que tem de sair para ir na lan house da 2ª sobreloja do prédio:

-Tem game novo. O cara tem de ser muito fera para chegar no 15° nível. Deve de acertar pelo menos uns duzentos e cinqüenta malas com tiros na testa. Não é pra iniciante.

-Muito fera, mano. Confirma Hermano, eu consegui ir até o sexto nível. E só joguei uma vez. Ontem. Acertei o estômago, o fígado, o coração, abri um buraco na cabeça deles. Os ossos perfurados, o sangue jorrando, muito maneiro, brother. Hoje vou me concentrar mais e chegar até o oitavo nível.

-Não é da nossa tribo, bang. Ferrar com eles.

-É tudo vagal, vamos detonar esses caras. É a lei.

Fazendo gestos com as mãos, imitando a torcida quando o time deles faz um gol, os garotos terminam a saudação batendo-se com as mãos direitas fechadas.

Regininha Surfistinha volta a falar:

-Você leu a história da Rapunzel, cara. Temos de entregar a interpretação amanhã. Mandrake volta-se para ela:

-O que você escrever pra mim tá bom. Ela era uma tremenda vagabunda. Jogava as tranças da torre para o mala subir até o quarto dela na torre.

-Muita sacanagem, mano. Eu vou dizer o quê? Até ganhou uma barriga enorme. Gêmeos!

-A professora não vai querer saber o que eu acho da popozuda com duas mães, filha de duas bruxas. Os pais a venderam por uns rabanetes. Que filhos da puta!

-Uma bruxa, mano. Não é fácil! Então não sabiam o que era uma bruxa? Elas parem os filhos pra viver a bruxaria do mundo. A coisa não mudou nada hoje. Completou Mandrake:

-A bruxaria da nossa geração é a fixação na violência. Eles nos ensinam apenas a agredir uns aos outros. Todo tempo. Eu sou gamado em violência. Nos jogos, na tv, no cinema, na Internet, nos quadrinhos.

-Escreve aí você e a Ritinha que têm simpatia por ela, a popozuda do cabelão. Depois a gente assina em baixo.

-Simplatia coisa nenhulma. Quelro é tilar uma nota broa pra não ter de algüentar os prentelhos dos meus pais me prolibindo de ir um anilvelsário, usar a Intelrnet, ver telesvisão, cortlar minha mesalda. Tô flora!

-Tô fora! Flora é vegetação, plantas. Ritinha calou, mas ficou injuriada com a provocação de Mandrake. O rosto enrubesceu. Ruborizada, ela trincou os dentes, mas ficou calada.

-O boletim tem de ser assinado por eles, cara. Regininha, muito brava, protesta.

-E na lelunião dos pais haja marlhação da prolfessolra se a gente não faz o trablalho como ela quilser.

-E como ela quer, hein? -Tá bom. Escreve aí que os pais venderam a garota para uma bruxa em troca de rabanetes. A bojuda se empanturrou de salada de rabanete.

-A bruxa só fez o papel dela, brother. Trancou a vadia numa torre e subia até ela depois que Rapunzel jogava as tranças. Já viu coisa mais ridícula. Um elevador de cabelos.

-Essa história tá ficando toda pra mim e a Ritinha. Vocês vão ficar fora do trabalho.

-Tá bem. Minha interpretação é a seguinte: Era uma vez uma garota trocada pelos pais por rabanetes. A bruxa trancou ela numa torre, e quando queria falar ou ficar perto dela, mandava ela jogar as tranças do cabelão para poder subir até ela. — Nesse momento Hermano falou que também estava nessa. E continuou a narração:

-Um príncipe que passava por ali e tinha ouvida Rapunzel cantar, ficou maravilhado com sua voz. Viu a bruxa chamar pelo nome dela e ela jogar as tranças. Quando a bruxa desceu e entrou na casa dela, ele apertou o botão do elevador ao chamar pelo nome Rapunzeel! Ô Rapunzel, joga as tranças.

-Ela era virgem cara. Assim mesmo jogou.

-Eu não garanto nada. Hoje, virgem só CD.

-Chegando lá em cima já se sabe o que aconteceu com um casal de tarados. O filho do rei e a rejeitada não queriam saber de mais nada. Era tira-bota, fuque-fuque, toda vez que ele chamava o nome dela. Ela queria ir morar com o bunda-mole do príncipe, mas não podia descer pelos próprios cabelos.

-Poder podia, mano, era só cortar eles e amarrar em algum treco lá na torre. Mas ela era burra como uma loura penosa. E a inteligência do príncipe só estava entre as pernas. Mandrake protestou dizendo que ele também queria contar tudo o que sabia sobre a Rapunzel:

-A estúpida se entregou. Perguntou à bruxa, santa inocência, ela era loura mesmo, por que demorava tanto a subir pelo elevador de cabelos enquanto o príncipe subia num instante.

-A bruxa então fez o papel dela, cortou os cabelos da solta pun, encheu ela de raquetada, e a levou para um local distante no labirinto da floresta. E falou: "Vire-se, filha da mãe ingrata. Agora você vai viver às próprias custas". O Hermano interferiu:

-Quando o cara chegou para o bem-bom, todo armado no tesão, chamando o nome da Rapunzel, a bruxa jogou as tranças dela pra baixo. E o príncipe que já estava todo subido deu de cara com o narigão da bruaca, cheia das acusações. Ela jogou o endurecido do alto da torre e ele caiu de cara nas plantas cheias de espinhos furando os olhos. Mandrake retoma a palavra:

-O príncipe ceguinho ficou vagando pela floresta feito um vagal durante anos. Até que um dia Rapunzel, que tinha engravidado e pariu um casal de gêmeos, se jogou nos braços do pinguelo outra vez, vendo-o circular que nem ônibus suburbano, perto da casa dela. As lágrimas dela caíram nos olhos dele e ele voltou a enxergar. Pegou a família toda e voltaram correndo para o reino do "filhinho de papai", e viveram felizes para sempre. É isso aí.

-Agora põe aí o nome da gente e estamos conversados, impôs Mandrake.

-Vamos pra lan house que o nosso conto de fadas tá cheio de malas esperando para serem detonados.

-Boa botaria, cara. Hoje eu chego ao sétimo nível, de qualquer jeito.

-O game não é fácil. Não chega não, responde Mandrake. Nem que a vaca tussa.

-Por que selrá que esclebelam uma histólia de um casal tão idilota?

-Você está falando de qual casal? Perguntou Regininha.

Enquanto escreviam ouviam o ruído irreverente da bolinha raquetada: pingue-pongue, ping-pong, pingue-pong, pingue. . .
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