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Poesias-->Coletânea de poesias - Márcio Filgueiras de Amorim -- 06/11/2007 - 10:17 (Márcio Filgueiras de Amorim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Solidão



São ilusões o tempo e o espaço.

Como também é ilusão a solidão.

Te sintas envolvido em um abraço.

De amor energia primordial universal.



Adormeças e leves pleno o sentimento,

Que do céu viestes e para ele voltarás.

Viaje entre os astros respires lentamente.

Aproveites teu sono e a alma alimentes.



Na infância ensaies teus primeiros passos.

Acolhido na família que te ampara.

Conserves a sensação boa, afetuosa,

Da mão que te ergue após as quedas.



Na juventude te toca o certo e o errado.

Te surpreende a injustiça deste mundo.

Tudo aqui pálida sombra d’outro mundo,

Mantenhas, entretanto a tua busca de justiça.



Que a maturidade te traga a sabedoria.

Percebas então que a solidão é ilusão.

Teus irmãos são desde os astros às estrelas.

Tua casa é o sonho e o cosmo é o teu chão.



As Cinzas de Baldur



Ao mitológico mundo nórdico me transporto.

Meu Loki interno eternamente a enganar.

Um engodo, viscum inconsciente, sempre encontra.

Meu lado, homem cego, atira a flecha e mata.



Baldur meu lado inocente, belo e luminoso.

Memória da idéia original da perfeição.

Rompido o equilíbrio balança-se Igdrasil.

Perdido no mundo, o brilho, a beleza e o encanto.



Desço com Frigga e adentro o mundo de Hell.

Suplico arrependido pela volta de Baldur.

Mas dual e confuso meu lado Loki não chora.

Sou cúmplice, culpado confesso, da imperfeição.



Participo do funeral de Baldur, conduzo seu cadáver.

Seu navio, transformado em pira fúnebre, vaga no mar.

Por sorte nossa o vento amigo espalha suas cinzas.

Partículas delas permanecem em cada coisa e em ti





Poesia



O poema soprado em seu ouvido pela musa,

Adormece quando escrito, resta, no papel.

Renasce, volta à vida, somente se é dito.

Esperamos, ah esperamos, que bem dito.



O poema qual encontro amoroso inesquecível,

Só se completa no êxtase que produz no outro.

Se o sensual que une os corpos é tão belo

Como descrever a união, fugaz, do anímico?



Fazer poesia exige fecundar-se do tema.

Engravidar-se e gestar palavras e versos.

Parir literalmente com prazer e dor a obra.

Assumir ao final seu filho seja belo ou feio.



Essencial ao poema mostrar-se ao alheio.

O que é análogo a despir-se em público.

Se vence o pudor e censura o poeta interno,

Vence o banal e o ordinário, morre o belo.



Feliz Aniversário!



Que a vida te permita

Um tanto bom de gozo.

Pois o prazer aquece

O coração e a alma!



Que a vida te forneça

O suficiente de luta,

Para te fortalecer

Como a aço da espada.



Que a vida te brinde

Com a beleza de Vênus,

Marte na força e caráter,

E a sabedoria de Saturno.



Que Júpiter te direcione,

Mercúrio te permita fluir.

A Lua te de o acolhimento

E o Sol te lembre a Deus.





Branca de Neve



Uma branca de neve mais completa,

Integradas a bruxa e até a madrasta

Somos entretecidos de luz e sombra

Renegar um lado só nos torna cegos.



Branca de Neve penetra a floresta

Densa, tenebrosa e inconsciente,

Onde se acerca de anões/gnomos,

Forças primordiais que nos habitam.



Oscilar entre simpatia e antipatia.

Odiar a bruxa e a madrasta rainha,

Amar a bela e pura Branca de Neve

Dualidade que se há de ultrapassar.



Príncipe e princesa são somente um

Como madrasta, bruxa e a Branca.

Perde-se o homem em tantas facetas

Esquecido está de sua unicidade





Ai de Mim



Se a intenção da carícia é contida.

E o suspiro esboçado é abafado.

Se o afago não se admite.

Ai de mim!



Se os sonhos em comum, tantos

Terão que ser vividos em pedaços.

Se cada vida é solitária.

Ai de mim!



Se meu pranto não rega tua face.

Se meu riso não encontra eco.

Se não colhes flores para mim.

Ai de mim!



Mas aspiro o ar que respiras.

Sobre teus passos seguem também os meus.

Tu és livre e aprisionar-te não posso.

Ai de mim!





Remédio



Retornar a pureza primordial perdida,

Sanadora de todas as feridas d’alma,

Restaurando do corpo: matéria e energia.

Ter remédio é a esperança que nos resta.



Ouvir o vento sussurrando na floresta ou apaixonar-se,

Aquecer-se com a areia morna sob a pele nua de seus pés,

Contemplar estrelas ou embevecer-se com o nascer do sol.

Seu remédio é único, inexplicável e merecidamente seu.



Droga, medicamento, poção ou beberagem até pode ser.

Ou mesmo algo como um toque físico ou da palavra exata.

A emoção causada pelo ser amado, a arte ou a natureza.

Tens remédio quando tocada pelo espírito a alma canta.



Escuridão e plena luz, caos e ordem, doença e saúde.

Só visualizamos nuances por acordo entre a luz e a sombra.

Transcender amarras, caminhar mesmo quando quer parar.

Ser remédio, ao falar, cantar ou afagar, pode-se intencionar.





Surtar...



Surtar...

Todos deveríamos surtar!

Pelo menos uma vez por dia.



Louco...

Por certo o mundo seria mais louco!

Mas é saudável um certo tanto de loucura.



Coragem...

Tomar contato com suas pulsões,

Abandonar por instantes o esperado.



Possível...

Ir e voltar somente poucos afortunados,

Conservam as chaves dos portais.



Arte...

É uma dessas raras chaves,

Que permitem o mergulhar no inconsciente.



O artista...

Esse louco sagrado que adentra seus infernos,

Reparte seus tesouros, mantendo os outros sãos.





Alimento da Alma



Qual o alimento da alma?

Néctar e ambrosia, do Olimpo?

Em que fonte buscar a vitalidade?

Onde jorra a imaginação vital?



A alma se alimenta de imagens e emoções.

De sentimentos, arte e beleza se nutre.

Desânimo é literalmente morte da alma.

Árida, quando o onírico não é alimentado.



Risco corre-se sempre, vivem-se dilemas.

Sem o artístico e criativo fenece a alma.

Deixada sem controle é a pura histeria

A meta é alimentar e conduzir ao caminho.



Pedagogia da alma, algo impensado?

Para além da religião sem negar o mistério.

Neófitos a adentrarem escolas de mistério,

De volta ao caminho, o eterno caminho.





Viajante



Sementes brilhantes e vermelhas de Pau Brasil.

Perdidas na areia da praia sob um pinheiro.

Como é louca esta vida e cheia de surpresas.

De caos e pouca ordem é feito o universo.



Rodando como um pião sobre um planetinho.

Orbitando ao redor de um entre vários sóis.

Iludidos de estarmos parados e ainda mais

No controle, da vida que é puro movimento.



Fluir é o conceito mágico, deixar-se alegre ir.

Pelo turbilhão do destino da vida e da energia.

Como o pintor que inspirado segue a intuição.

Ou da folha que se deixa carregar pelo rio.



O sábio é não resistir, seguir o destino e curso.

Apreciar a viagem, percebendo o fel e o mel.

Mergulhar fundo do prazer até a melancolia.

Sem perder a visão do todo e do feliz viajante.





Liberdade



Liberdade. A última quimera?

A vida inteira ansiar por esta ilusão?

Caminhar, sem tributos e sem destino,

Sem sapatos em desconhecidos caminhos.



Liberdade. A falsa liberdade.

Lutar por ela é somente engano.

Descobrir-se cada vez mais prisioneiro.

De rede de engano criada a cada instante.



Liberdade verdadeira? Somente ao dela abdicar!

Render-se por inteiro ao turbilhão da vida.

Abandonar-se à sucessão de caos e ordem.

Entrar semiconsciente no fluxo do universo.



Paradoxo, inimaginável, paradoxo.

Só se atingir vislumbre de liberdade

Ao se compreender a meta, liberdade, impossível.

Aceito o que, limitar-se-ia, o não termos limites.





O Espelho



Refletir, sem querer, toldar a imagem.

Abdicar mesmo, da própria imagem.

Viver plenamente o fenômeno da luz.

Sem procurar, para si, reter qualquer luz.



Tornar-se, ao outro, essencial.

Ajudar a forjar o ego alheio.

Abster-se de ser para que o outro seja.

Não ser e ser de forma ambivalente.



Quanto de essência e quanto de reflexo.

Conservamos cada qual no âmago?

O que seríamos se outra a influência?

Se espelhadas outras vidas e valores?



Possível a decisão do que espelhar?

Como espelho da Rainha no conto?

Poderíamos escolher o onde e o como?

Fadados estamos a refletir o que nos coube?





o Universo de Meus Sonhos



Fecho meus olhos como portais que se cerrem.

Adentro meu interno, universo de meus sonhos.

Você só entra se voluntariamente lhe dou as senhas.

Ou escava fragmentos perdidos em minhas poesias.



Aqui, toda loucura, bravata ou sonho é possível e real.

Não existe censura, esta é a única e maior regra.

Podem-se escalar montanhas ou mergulhar em rios

Terra das possibilidades convidando a explorá-la.



Fonte de vitalidade e criatividade como Iggdrasil.

Busco e acho aqui magia, acolhimento e sabedoria.

Mas o maior tesouro que encontro é a imaginação,

Mágico tapete, lâmpada de gênio e varinha de condão.



Aprender a entrar e sair, dizer as palavras mágicas,

Decifrar a esfinge, resistir a aqui sempre permanecer,

Aprender que o segredo do herói é descer ao inferno,

Enfrentar perigos, compreender e retornar para dizer.





Ir à Índia



Para Sandra



Ir à Índia,

Entoar mantras,

Dançar.



Fugir do banal,

Adentrar o extraordinário

Surreal.



Todos têm um sonho,

De rara beleza,

Ou maluco.



Guardado no embornal,

De quimeras,

De talvez.



Dar-se a chance de realizar,

Sair da dimensão do “se”,

Ir a Índia.



Tornar real,

O somente possível

E dançar.



O Brinde



Escolher a garrafa certa,

Servir o vinho...



Rodando a taça entre os dedos.

Perceber a cor de sangue, ideal.

Deliciar-se com o divino “bouquet”.

Inebriar-se com o perfeito sabor.



Faltava envolver a audição,

Assim surgiu o brindar -Tim, Tim.





Neófito



A chuva fina, o tempo frio e cinza,

Choro no interno e contemplo a praia.

O mar avança, doce, me lambe os pés.

Solitário, cismo, com meus fantasmas.



Claro e escuro, luz e sombra.

Repasso a minha luz e escuridão.

Afasto cabelos molhados frios e úmidos.

Aqueço-me, internamente, ao pensar em ti.



A aventura e o risco enorme de ser homem!

Andar como malabarista em um fio de arame.

Operário da existência, triste poeta do cotidiano.

Sobreviver na dureza do dia sem perder a poesia.



Chuva, que com a água conduz vida a terra.

Purifique-me! Acorde-me! E traga-me a vida!

Ritual solitário em templo simbólico e invisível.

Neófito, que sou e me apresento todo dia à vida.







Um Grão de Areia



Um grão de areia esconde um universo.

Como nosso universo para outros olhos.

Tanta empáfia acabaria se soubéssemos.

Todo o tempo a dimensão que temos.



Por outro lado a dimensão que ganha

Um gesto amigo, terno ou solidário.

O admirar o belo, a arte ou a natureza.

O êxtase do místico diante do divino.



Ambivalente, ambíguo o homem digladia-se.

Diante de dilemas e polariza-se: horror e glória

Com o Potencial de alcançar o céu, na terra.

Corre o enorme risco de só vivenciar o inferno.



Evoluir, crescer, perceber, ganhar consciência,

Caminhos possíveis, meta e destino humano,

Quantas vezes reluta: teimoso, obstinado e renitente,



Ter livre arbítrio é ao mesmo tempo glória e danação

Permanecendo, por tanto, nos mesmos velhos erros.

Possibilidade de quedas ou de longa e bela caminhada.

Mas lembrar que a espiral que galáxias e caracóis molda;

Nos move, ao voltarmos, para sempre um ponto acima.







Fazer Poesia



Faço poesia no esforço de me situar no mundo.

Procurando entender o absurdo da existência.

Refletindo, digerindo, expelindo o que resta.

Escatológico, portanto, mesmo assim poesia.



Fazer parte de uma certa espécie

Que produz a mais divina arte,

Mas mata na passagem do ano novo,

Pelo prazer de matar o semelhante.



Encanto-me com a praia, a água e o mar.

Adolescentes e crianças jogando peteca.

Cachorros que na praia não deviam estar.

O sol, a areia, conchas, a água e a maresia.



Ser homem, receber qual presente, ao nascer;

Terrível “carma”, sina ou inevitável herança:

Horror e glória inexoráveis e simultâneos,

Para o bem e para o mau, longo caminho.





O Mar



Preciso do mar de quando em quando,

Para nadar, mergulhar ou só contemplar.

Como o retorno do filho pródigo, a casa.

Sinto mesmo como um eterno regressar.



Mar que me aquieta e apascenta a alma,

Remete-me a reflexão e ao inconsciente,

Enquanto contemplo ondas que se quebram

Abro as portas de um mar secreto e interno.



Dias há em que colho chuva e tempestades;

Noutros bonança com sol e amena brisa.

Existem dias piores, da mais pura calmaria;

Até que o bom vento me dê velocidade.



Estar montanhês é ser sólido e recolhido;

Viver pleno o lado melancólico e fleumático.

Estar praiano é banhar-se de sol e cor,

Vivenciar o melhor do colérico e do sanguíneo.





O Guerreiro, o Visionário, o Curador e o Mestre



Lembre-se de semear!

A verdadeira luta do guerreiro é para plantar

Sementes que vão germinar em fértil solo.

O guerreiro não quer destruir, mas lutar,

Por tudo que acredita e intenciona.



Lembre-se de plantar!

O visionário planta mesmo que não vá colher.

Sabe que outros colherão e isto lhe basta.

Plantar é confiar no futuro é ter visão.

Acreditar na visão e nela se projetar.



Lembre-se de cuidar!

O curador cuida de quem dele se aproxima.

Neste processo se reabastece e cresce.

Atento que até a palavra pode ser remédio.

E que um remédio busca retornar a perfeição.



Lembre-se de cultivar!

O mestre cultiva o de melhor no interno.

Busca a sabedoria e o senso do justo tanto.

O indicar o caminho e o deixar trilhar.

Todo caminho busca para casa retornar.





As Quaresmeiras



Quero que meus amigos plantem

Quaresmeiras em suas calçadas

Que se extasiem com suas floradas

De rosadas flores símbolos do amor

Ou roxas que a tudo transmutem.



Que estes amigos delas cuidem,

Regando, abraçando as árvores.

Conversem com elas como amigos,

Palavras não se acabam entre estes,

Retribuam com flores, Quaresmeiras.



Quando estiverem tristes, meus amigos,

Abram as janelas para a beleza entrar.

Depressivos não há então como ficar

Diante de flores que pintam um quadro

Sua forma de comunicar, uma vez mudas.



Queridos amigos existe tesouro maior?

Que ter a frente ornada com flores?

E mesmo quando tombarem, fenecerem,

O trabalho de varrê-las será prazeroso,

Sentir-se como um deus a varrer estrelas.







Liberdade



Liberdade, a que palavra enganadora,

Que nos tenta com intrincados dilemas.

Quanto mais a buscamos e lutamos por ela,

Mais enredados e aprisionados nós estamos.



Só se atinge, de fato, a liberdade verdadeira,

Quando se aceita o fardo de todas as amarras

Mantido o sorriso pleno iluminando a face

E o coração transbordando de serena alegria.



Rir de si mesmo e da vida tragicômica

Rompe elos das cadeias que nos prendem.

Soltos estamos se assim nos sentimos,

O que importa é o que no interno impera.



Pode o homem passar na prisão a vida inteira

Sem que grade alguma importante o impeça.

Pois privado de andar pode agora ainda voar

Com as asas do pensamento, da emoção e da alma.







O Poema



Meu desejo é que cada e todo poema sejam,

Belos como a espelhar o divino ou a natureza.

Conciso como só a profunda reflexão enseja.

Preciso, com palavras encaixadas como jóias.



Mas que toda a perfeição não esconda

A emoção que subterrânea à estrutura.

Pois palavras vazias ainda que sonoras

Enganam os ouvidos, mas nunca à alma.



Poemas verdadeiros são como Ambrósia,

Ou o néctar, alimentos dignos dos deuses.

Nutrindo aquilo que de mais sutil nós temos.



Alimentada à alma, ainda que faminto o corpo.

Rico está o homem, mesmo que maltrapilho.

Livre para alçar vôo, mesmo que prisioneiro.









O Samurai



Ser guerreiro é lutar antes de tudo consigo próprio

Buscar vencer verdadeiramente a própria sombra.

Almejar a perfeição, meta sabidamente impossível,

Mas diante da luz do sol não se há de acender vela.



Aprender com os animais, vegetais e a vida.

Estar atento diante desta bela e enorme escola,

Cujo ano escolar inicia-se com o nascimento

E só de fato se gradua ao exalar o último suspiro.



Ter a força de estar plácido e sereno

Ter a coragem de desejar e buscar a paz.

Pois a maior batalha que se enfrenta

É o vencer a si mesmo, seu maior inimigo.



Afiar a espada, objetiva é se tornar preciso.

O golpe muitas vezes repetido disciplina o ego.

Estar pronto para a luta torna esta supérflua.

Permitindo a contemplação do belo e a poesia.









O que me Move?



Quando faço algo,

O que me move?

Busco o aplauso?



Quando amo alguém,

De fato a vejo?

Ou só projeto?



Realidade ou fantasia?

Em que dimensão vivemos?

Vivemos a vida?

Ou a sonhamos no cotidiano?



O ser amado,

É amado pelo que me suscita?

Por ele mesmo? Ou

Pela fantasia que me desperta?







O Poeta e o Louco



Passar sobre um arco de hera

Entrar em um bosque encantado

Mergulhar na dimensão poética

Mítica, arquetípica e simbólica.



Romper com a realidade dura

Experiência esquizofrênica do surto

Jornada do herói que desce ao inferno

E retorna com novo paradigma.



Ousar a ruptura e a ida

Amparado pelas asas da arte

Exige coragem e entrega

Mas dá significado a vida.



O segredo desta rica aventura

O que diferencia o poeta e o louco

É manter intacto o portal e a ponte

Que permite ir e retornar desta fonte.





A Criança e Maya



Olho-te a face sorridente, bela criança,

Vontade tenho de revelar-te certas verdades.

Falar de Maya, a ilusão, que a nós tudo vela,

Quanto essência mais verdadeira e mais “real”.



Bela criança, tu não entendes, mas quem entende?

Maya que transforma o transcendental em manifesto.

Que do verdadeiro mundo: o divino, o espiritual,

Nos faz esquecer para nos reter neste plano mundano.



Gentil criança enquanto sorris de forma encantadora.

Penso em dizer-te de Maya a nos emaranhar em uma teia

Onde projetamos fantasiosos desejos e aversões.

Tecendo vamos, dia a dia, nossa sutil prisão, a ilusão.



Feliz criança despreocupada, só ocupada em diversão.

Maya é desvelada pela Arte, pela poesia que acorda

A alma, com a linguagem da beleza a decifrar charadas.

Pelo Rito dotado de significado ou pela profunda meditação.



Querida criança, me vejo em ti, assim como a todos.

Cegos que estamos, iludidos de nossa boa visão.

Enredados por Maya, que cria esse mundo ilusório,

Que nos torna a todos atores, repletos de paixão.







Com o Peito Aberto



Almejo ser um nobre Florentino,

Me sinto Sancho Pança da Calábria.

Que distância entre intenção e prática.



Quão duro é olhar-se no espelho

E ver todos os defeitos d’alma.

Falhas, sombras, imperfeições tamanhas.



Almejar a perfeição e a glória,

Viver aos tropeções e tombos.

Triste e dolorosa sina humana.



Mas fechar os olhos e renegar a sombra,

Idealizando a perfeição e a luz,

Correr o risco de não viver o próprio drama.



Só resta ao homem o árduo caminho

Da longa e dura viagem ao interno,

Com o peito aberto para o que encontrar.







Senhor das Próprias Trevas



Quero ser o senhor de minhas próprias trevas.

Conhecer as sombras abissais que existem em mim.

Mergulhar nos mais recônditos segredos de minha alma.

Harmonizar, como em uma têmpera, o claro e o escuro



Procurar percorrer a estrada que leva a plena luz,

Com a sabedoria de perceber o tanto que suporto.

Tê-la por guia a indicar a estrada e o rumo certo,

Sem negar a sombra que mostra detalhes e nuances.



Fazer a própria e interna fusão de luz e escuridão,

Admitida a sombra incorporado seus arquétipos.

Missão sábia e difícil, jornada de nossa vida,

Olhar o mau nos olhos, sem medo, com respeito.



Pela consciência tornar-se de criatura em criador.

Iluminar-se pelo bom, pelo belo e pelo verdadeiro.

Colorir a vida com alegria, matizando sombra e luz.

Crescer cada qual no seu próprio e individual caminho.







O Tempo



Cronos, o tempo, monstro voraz que nos devora a todos.

Engolistes tantos dos meus seres queridos, pela vida a fora.

Vivos na memória, como se no presente, ficaram para trás

Perdidos, sabe Deus, em que remota esquina do passado.



Metis, onde estás? Esquecida hoje, deusa da prudência.

Com sua poção emética que permitiu outrora a Zeus

Fazer com que o pai Cronos lhe devolvesse os irmãos.

Não almejo do Olimpo o trono mas somente amigos.



Amigos queridos, que o tempo se encarregou de afastar.

Conservados na memória e no peito com muito afeto.

Estando mesmo pronto a abrir os braços para envolve-los.

Se puder fazer, Cronos cruel, me devolvê-los quiçá um dia.



Vive o homem entre as dimensões do espaço e do tempo.

Com a ilusão ressecante e enganadora de um finito tempo.

Esquecido de que sua morada é a mais plena eternidade.

Morador do divino, passageiro da luz, buscando a si mesmo.







A Solidão



Houve um tempo em que me sentia inserido no universo.

Fazia parte da floresta, do rio, do barranco e até do céu.

Irmão de cada um, filho e neto de cada pai, mãe e avô.

Sentia-me aquecido pelo sol e protegido à noite pela lua.



Cresci e me distanciei, criei meu espaço interno, fiquei só.

Perdi a comunhão primeva, a unicidade inequívoca, o um.

Sou múltiplo! Sou confuso! Sou ambíguo! Sou complexo!

Percebo o mundo com distância, filtro, raciocino, analiso.



Perdido estou longe de casa, entre estranhos, sem família.

Desprotegido, sem abrigo, nu e faminto de afeto e amor.

Que dor intensa sofre todo homem, que cresce e se aparta

da fonte, da essência, do princípio e não sabe mais voltar.



A nostalgia do paraíso perdido, a certeza de também ser parte.

Voltar a ser a nascente, a cascata, o rio, o mar e a chuva.

Uno com a terra, a água, o ar e o fogo. Transitar pelos

sete planetas. Brincar com o zodíaco e ir além até Deus.







A Foto



Belo gesto congelado,

Retirado da linha do tempo.

Breve captura do efêmero,

Aprisionamento da ação.



Sorriso fixado, a emoção.

Jogo de luz e de sombras.

Prisão no papel da essência.

D´alma perceber a intenção.



Lembranças, memória sutil.

Frágil esforço de reter a alegria.

A guarda do instante, do outro.

Mesmo que se vá, o outro.



Fugir ao destino humano,

Ao final fenecer fatalmente.

Resta permanecer pelos genes,

Ou com a arte como instrumento.

















O Ter e O Ser



Dentre todos os dilemas humanos,

Entidade ambígua por excelência,

A difícil escolha entre o ter ou ser,

Talvez seja o mais antigo dilema.



O ter é estar plenamente encarnado,

Tornar–se o senhor deste mundo,

Na pedra construir seu castelo,

O caminho do externo trilhar.



O ser é voltar-se para a essência,

Esquecer do invólucro e superfície,

Trabalhar o conteúdo e a intenção,

O Santo Graal buscar no coração.



O perigo dos falsos dilemas,

É o brilho da ilusão ofuscar,

Perder a noção do justo tanto,

Cabe ao homem no dia de hoje

Sem o mundo negar buscar o sutil.











A Tristeza e O Poeta



Seria a melancolia necessária para a boa poesia?

A tristeza teria o pendor de primeiro a alma tocar?

O que dizer da alegria, do medo, desespero ou o que for?

Teria a poesia o poder de tirar do banal do comum?



Fazer poesia é como dar a luz, “partejar” um filho.

Do sentimento que brota trabalhar a forma final.

Dar o ritmo, a métrica ideal, a concisão precisa.

Podar, desbastar, refletir, sentir, são os instrumentos.



Só sentimento toca sentimento e a alma.

Um mundo cotidiano duro amargo e frio,

Necessita de encanto, beleza e enlevo.

Contraponto obrigatório para não virar pedra.



Vive o poeta com os pés firmes na terra,

O coração oscila entre as estrelas, o sol e a lua,

A mente está imersa nas nuvens, no cosmo.

Senhor de dois mundos, redime o homem.







Um Êxtase Místico



Transportado pelo universo,

Percebendo o único verso.

Montado no pensamento,

Qual Pégasus sem forma.



Encontrar o absoluto mau,

E somente olhar nos olhos.

Encontrar o absoluto bem,

E intencionar fundir-se a ele.



Capturar o início do início,

Ser testemunha do tempo.

Percorrer num átimo o espaço

Viajante privilegiado do tempo.



Percorrer o íntimo, a essência

O caminho mais árduo que há.

O verdadeiro universo que importa,

Que me cabe, com bravura criar.





Do Encontro entre O Céu e O Mar



O mar abissal, profundo,

Que qual monstro tudo engole,

Escuro, denso, incognoscível,

Inconsciente, escondido, ameaçador.



O céu diáfano e iluminado,

Cede nos a luz espiritual,

Claro, suave e transparente,

Consciente, espiritual a atingir.



Oscila o homem entre extremo e outro.

Como viajando em um barco no mar bravio.

Jogado ao céu logo parece submergir no mar.



Somente com o corajoso mergulhar no inconsciente.

Trazendo os tesouros submersos à luz.

Ascende-se aos céus sentindo-se completo.







O Barco na Praia



Um barco encalhado na praia

Um pescador queimado de sol

Retira do casco mariscos agarrados

Libertando a estrutura dos excessos.



Navegar tem grandes riscos

Não ir ao mar, riscos maiores.

Mais que a fome, o não ousar.

Mata a sede de aventura no homem.



O que é a vida do homem além de uma viagem.

Do porto onde nasce a outro onde lhe espera a morte.

Mais que seu carrasco, grande libertador.



Nesta viagem retira-se o excesso.

Reforça-se à vontade e o caráter.

E se aprende a beleza de viver ou navegar.







A Alma e o Mar



Tenho dias de alma mansa

Como um mar feito p’ra criança.

Com água morna, ondas serenas.

Com céu azul e brisa plena.



Tenho dias de tempestade n’alma.

Como só vi nos filmes de cinema.

Raios, relâmpagos e trovões.

Muito escuro, chuva e clarões.



Que Deus me livre de dês-ânimo.

Prefiro encarar erros e acertos.

Perder e retornar ao rumo.



Desejo estar sempre com a alma inteira.

Em tudo, em cada ato ou gesto.

Tanto na tempestade quanto na bonança.







Solidariedade



Certas mãos semeiam,

Outras vão colher.

Iniciar o sonho,

Que outros vão viver.



Abençoar o ar,

Para outros respirar.

Cuidar bem da água,

Que outros vão beber.



Fertilizar a terra,

Que outros vão plantar.

Sovar bem a massa,

Distribuir bom pão.



Ressoar o bronze,

Para outros acordar,

Amar pequenas coisas

E ensinar a amar.







A Vida



Longa ou breve a vida.

Como uma peça de teatro em um ato.

Drama ou comédia escolha do destino.



Pobres ou poderosos nos encontramos

Vivendo papeis, envolvidos por enredos.

Perdida a noção imanente do palco.



Ilusão ou realidade, o que é uma ou outra?

Quando fala a essência, quando o personagem?

Enreda-se! Enovela-se! Ata-se!



Libertar-se deste drama evitamos.

Choramos mesmo se alguém se liberta.

Atores, olhos vedados, representamos.







A Música das Esferas...



Praia salpicada de estrelas do mar.

Areia lambida por ondas sucessivas.

Refletido o céu coalhado de estrelas

Cenário banhado pelo prateado luar.



O ruído das ondas que se quebram

Contra o silêncio do estrelado céu

Serão surdos meus pobres ouvidos

Para a sublime música das esferas?



Só percebo o que já conheço,

Triste sina ignorante que sou,

Consolo-me com a música do mar?



“Só sei que nada sei”

Mais que abandonar a vaidade vã

A consciência de maiores horizontes.







A Meta



Ambicionar o píncaro,

A marcha encetar.

Jovem caminhada,

Tanto a aprender.



Avista-se a meta,

Afã de encontrar.

Sem perceber ficou-se adulto

Durante o caminhar.



Atingida a meta

Ficou o vazio.

A maturidade incita,

Os valores trocar.



Inicia nova marcha,

Silenciosa e calma.

Perseguir nova meta

Encerrada no interno.







O Afeto



O afago

Da mão que se sente amiga.

O pranto recolhido

Pelo ombro que se percebe terno.

A escuta

Por ouvidos interessados no enredo.

O olhar

Que plena admiração irradia.

O abraço

Que irrestritamente acolhe.



Totalmente indescritível

Posto sentimento.

Essencial a vida

Como o ar e o alimento.

Sentimento de mão dupla

Que a alma nutre.

Mais que do afeto falar

Cabe trocar.

Restaurando a unicidade

Da comunhão fraterna.







Encanta-me...



Encanta-me...

O vermelho dourado de um Por do Sol.

Momento mágico de cósmica inserção.



Encanta-me...

Fechar os olhos e mergulhar na música.

Êxtase interno, alimento da alma.



Encanta-me...

Sentar-me a observar montanhas.

Estar uno, rompida a ilusão de separação.



Encanta-me...

Observar o solitário vôo de uma ave.

Tornar-me ave, perceber a vista, a altura e o vento.



Encanta-me...

Fugir por instantes à rotina que aprisiona.

Transcender ao banal e alimentar a essência.







A Natureza



Deus derramado no mundo.

Beleza, esparramada em tudo.

São as cores, a água e as plantas.

Borboletas qual flores despertas.



Um planeta que vive e respira.

Nossa casa, aldeia e mundo.

Nos abriga, alimenta e vivifica.

Nos fornece o sustento e a harmonia.



Só nos cabe cuidar, conservar.

Utilizar só o que precisar.

Dividir, compartir e doar.

Sem egoísmo nada há de faltar.



Decifrar o que a natureza nos diz.

“Hieróglifos de Deus” ela fala.

Só precisa abrir os sentidos.

Permitir ao coração escutar.



Sermos uno com ela e com o todo.

Com as pedras e com as plantas,

Com os bichos e até com os humanos.

Nem maior, nem menor, só conscientes.





O Rio e Eu



Basta ao rio correr para o mar.

Murmurando desculpas ao bater nas pedras.

Rindo baixinho por cócegas que lhe faz o mato.

Arejando-se nas quedas d’água.



Por que razão não me basta viver?

Que insensatez a minha de almejar mais que existir?

O não saber para que mar eu vou.

Não ter consciência de meu curso até lá.



Quero atingir a sabedoria de um rio manso.

Destes que por séculos esculpem a pedra.

Escavando o seu leito lentamente.



Com a serena confiança da natureza.

Sabedores que sua missão é fluir.

Divertindo-se em vivificar a tudo que tocar.







Apadrinhar...



Pater et mater

Pai e mãe

Padrinho e Madrinha



Para que, tal personagem, servirá?

Fazer cafuné, cosquinhas até,

Dar colo, canto e acalanto.



Rir das artes, incentivar a arte,

Puxar as orelhas quando precisar,

Mas muito mais abraçar e beijar.



Indicar o caminho, incentivar,

Acolher no choro oferecer o ombro,

Provocar o riso, rir junto um tanto.



Pater et mater

Pai e mãe

Padrinho e Madrinha









Batizar



Eu te batizo em nome da terra!

Que traz os mistérios do corpo.

Cujos caminhos passas a percorrer.

Onde sobre a grama podes deitar e descansar.

Sobre ela edificarás tua casa e serás feliz.



Eu te batizo em nome da água!

Que traz os mistérios sagrados da vida.

Neles deves mergulhar, basta viver e aprender.

Que ela sacie tua sede do belo, bom e verdadeiro.

Que ela te regenere e cure quando precisar.



Eu te batizo em nome do ar!

Que traz os mistérios da alma.

Abre as possibilidades da emoção.

O que tempera e dá sabor à vida.

Permite o movimento e o amar.



Eu te batizo em nome do fogo!

Que traz os mistérios do Eu.

Que no comando precisa estar.

Que lentamente possa o impuro queimar.

Que no fogo espiritual possa te forjar.



Batizado nos quatro elementos.

Um nome é preciso te dar.

Que seja um nome de anjo e de mestre.

Que o nome te inspire a vida.

Gabriel passas agora a te chamar.







Que Virtudes Te Desejar?



Jovem como te presentear?

Invocando o simbólico e arquetípico?

Como numa reunião do Olimpo.

Que valores e forças desejo chamar?



Desejo te imaginação!

Que ela tua vida possa iluminar.

Trazer a arte, alcançar a ciência.

Asas ela pode te dar.



Desejo-te carisma!

Encantar as mulheres,

Fazer amigos, aos outros chegar.

Mas no devido tempo para dentro se voltar.



Desejo-te persistência!

O segredo das metas alcançar.

O justo tanto de dureza

Sem esquecer de flexibilizar.



Desejo-te um bom coração!

Alegre, feliz e bondoso.

Qualidades que para fora se achar

Dentro primeiro precisam se alojar.



Riqueza, fortuna e brilho.

Nem preciso te desejar

Pois se o interior for rico

O externo conquistarás.





A Nostalgia do Mar...



O inconsciente, nosso mar interno,

Turvo, profundo, repleto de segredos,

Com ocultos tesouros a serem revelados,

Com monstros marinhos a nos devorar.

Ah! A nostalgia do mar.



Lembro me de um mar de lágrimas

Banhando, como praia, à face querida.

Estranho mar manso sem ondas,

Com paradoxais cascatas a cair.

Ah! A nostalgia do mar.



Recordo-me de um mar de emoções,

Pressentido por gestos e um olhar,

Contido como que por diques,

Quase a ponto de romper e jorrar.

Ah! A nostalgia do mar.



O deserto seco, concentrado e árido,

Fase de se fazer, construir e moldar,

Necessita um dia de se subtilizar,

Unir-se ao todo, como em um mar.

Ah! A nostalgia do mar.



O eterno sonho da montanha

É de um dia perder sua dureza

Solta e com leveza fluir

Até se dissolver no mar.







Cobrir de Flores os Caminhos...



Escolhestes

cobrir de flores os caminhos dos que amas.

Cansastes tanto

despendendo neste mister tanto esforço.

Esquecestes

que o rio flui ao mar serenamente.

Desabrochar

podem as flores sem ruído algum.



Descanses

does apenas sorrisos aos que lhe são caro.

Ser

é tudo que precisas para encantar.

Encantar

é tua sina nesta vida inteira.

Aceites

aspergir amor e harmonia ao teu redor.



Aspirar

Ao bom, ao belo e ao justo.

Respirar

arte, filosofia e poesia.

Dançar

sagrando e sacramentando o diário.

Escapar

do banal e atingir o extraordinário.



Agradecer

A ti é o que me cabe agora.

Iluminar

Aos que te cercam, gostas.

Viver

Na terra como que no céu.

Iluminar

Qual celeste anjo que aqui caiu.



































Filho



Retiraria de bom grado o sofrimento.

Faria reto e macio teu caminho.

Te protegeria do mau tempo.

Te pouparia de dissabores e dores.



Mas uma boa espada se forja

No calor do fogo em brasa

Com fortes e ritmadas batidas.

Espero de ti a melhor têmpera.



Exposto de peito aberto estás a vida.

Sem medo, com garra, aberto e pleno.

Correndo o risco de toda a beleza dela.

E a alguns respingos de mau tempo.



Mantenha a coragem não te escondas.

“Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Mesmo sem ser preciso, viva,

Pois por certo a vida é bela.



































































Ritmo e Compasso



O que me passa a música?

A harmonia de todos estes sons.

O ritmo perpassado pela emoção do músico.

Me transporto para um mundo ideal.



O meu e o teu ritmo combinam?

Se danço tango por que danças samba?

Que descompasso, meu Deus que confusão.

Não desafines agora pois já não é ensaio.



Odeio esta música mecânica.

Compassada onde deveria ter ritmo.

Onde colocar toda a emoção?

Sem emoção para que música?



Baile comigo outra e outra vez.

Deslizemos sobre o gramado

À luz prateada desta lua

No ritmo imaginário do coração.



































































Tocar Tambor



Um homem sério constrói tambor?

Largar a rotina para construir um tambor.

Esticar o couro e com o tento costurá-lo.

Colocar ao sol com cuidado para secar.



Um tambor modifica um homem sério?

O ritmo contagia, inebria e entusiasma.

O ritmo do coração assume o controle.

O ritmo faz flexível o que endureceu.



Construir a baqueta, qual a intenção?

Buscar no mato o galho para a baqueta.

Envolver com fumo e sálvia e pano.

Amarrar, enfeitar, dar a intenção.



Tudo flui e tem ritmo no universo.

Busco reencontrar o ritmo que perdi.

Nos caminhos e descaminhos da vida

Fiquei sério, fiquei triste, envelheci.



































































No Mar...



Preciso, urgentemente, encontrar o mar.

Mergulhar abraçado pela água e o sal.

Limpar toda mágoa, tristeza e desencanto.

Renovar a tessitura de minha alma.

Como lavadeiras que o pano alvejam

Engomam, passam e o deixam tal qual novo.



Preciso, urgentemente, caminhar para o mar.

Deitar na branca e infinda areia de uma praia

Com o corpo semi nu entregue e exposto ao sol.

Como queima ritualística de emoções menores

Relembrando a sacerdotal queima de incenso

Elevando do altar de sacrifício só a fragrância.



Preciso, urgentemente, descansar no mar...

Despir a roupa e aceitar de ócio me vestir.

Simplesmente me livrar do excesso.

De compromissos, deveres e obrigações,

Retornar a ser leve, solto e disponível,

Pleno e permeado pela vida como é o mar.



Preciso, urgentemente, aprender com o mar...

Me deixar de novo impregnar pelo encanto.

Como meninos que livres correm pela praia.

Com gritos e risos no jogo com uma bola.

Voltar a bela e simples alegria da infância.

Reaprender o fluir da vida que o mar ensina.



















































O Vazio



Um vaso pleno só recebe se...

Aceitar perder de si um pouco.

Acolhe na verdade, o justo tanto,

Que perde, abdica, doa ou cede.



Sentir-se por dentro esvaziado...

Profundo e doloroso sentimento.

Sobrevivendo porém a tal tormento

Possível encontrar-se, súbito, saciado.



Na eterna fuga humana do sofrer...

Esquecido da perpétua alternância

Sentir-se pleno ou esvaziar-se

São meras etapas de um drama.



A sofrida e inevitável etapa melancólica

Dolorido aprofundar-se na existência

Alterna-se com felicidade momentânea

Doce e breve interlúdio de prazer.



Aprendo mais, afinal, com qual etapa?

Com a dor intensa do vazio da alma?

Com os curtos lampejos de intenso gozo?

Cego pela proximidade, extrema, do palco

Abdico de julgar e me entrego ao drama.























































A Meta



Ambicionar o píncaro,

A marcha encetar.

Jovem caminhada,

Tanto a aprender.



Avista-se a meta,

Afã de encontrar.

Sem perceber ficou-se adulto

Durante o caminhar.



Atingida a meta

Ficou o vazio.

A maturidade incita,

Os valores trocar.



Inicia nova marcha,

Silenciosa e calma.

Perseguir nova meta

Encerrada no interno.



































































Entre Dois Mundos



Vislumbrar o mundo,

Degustar a vida,

Inebriar-se com fragrâncias,

Ouvir toda a música.



Viver tem a ver com sentir.

Tatear o mundo,

Prazer, desprazer.



Perceber o mundo exterior,

Etapa primeira para

Só após o interno descobrir.

















































































Adolescência



Brinca de "gente grande"

Parte do tempo.

Reincide em ser criança

Logo adiante.



Um corpo que se estica

Meio gigante.

Uma alma que se expande

e não se cabe.



Uma pulsão para amar

Sem saber como.

Um sentir-se estranho

Sem saber porque.



Questionar a tudo

meio para conferir.

Um revoltar-se contra

meio por princípios.



Um romper com os heróis

com enorme dor.

Mas na verdade buscando

algum modelo.



Um grande projeto

a meio do caminho.

Olhos semi-cerrados

começando a abrir.















































Milagres Singelos e Cotidianos



Ando a procura de milagres singelos,

Não os quero ou peço grandiosos.

Desejo ver sorrisos de uma criança

face um brinquedo, ainda que tosco.



O milagre da vida, de uma sementinha

Seca, tocada pela água, súbito renascer.

Flores multicolores, confundirem-se

Com borboletas, flores da terra libertas?



Milagres experimento diuturnamente

Ao vivenciar um simples pôr-do-sol.

O canto dos pássaros, a beleza da relva,

O infinito azul do céu, e o negror da noite.



Milagre para mim é a simples alternância

Das estações do ano, ou do dia e da noite.

O amor da amada, o abraço do amigo,

E o lar para regressar no final da labuta.



Agradeço a Deus, a natureza, a vida

E não me canso nunca de agradecer

Pelos milagres que temperam e colorem

O cotidiano, basta da alma abrir os olhos.

























































Buscando Deus ...



Buscando Deus entrou o homem na igreja.

Ajoelhado, suplicou sua divina presença.

Um raio de sol, súbito, lhe atingiu o olhar.

Magoado saiu por Deus não lhe enxergar.



Buscando Deus pôs-se o homem a orar.

Em altos brados e com choro convulso.

Não escutou o sutil canto de um sabiá.

Desesperançado ficou do divino escutar.



Buscando Deus com cada vez menos fé.

Não tinha tempo para o perfume das flores.

Sua única ambição era ao espiritual aspirar.



Buscando Deus sem se apascentar.

O divino derramado na natureza,

Não se permitia com enlevo tocar.



Buscar Deus é a maior ou a única missão.

Mas com humildade e coração sossegado,

Para fora ou no interno o divino saborear.































































A Tua Espera ...



O milagre da vida,

Sutil toque do espírito

Animando a matéria.

Eis que te esperamos.



Quem está vindo?

Como tu serás?

Queremos conhecê-lo.

Eis que já te amamos.



Pequeno e lindo ser,

Velha e bela alma,

Presente de Deus.



Na espera de tua presença,

Preparamos teu berço, mas

No coração, já te recebemos.







































































Adeus Amiga



Acenando,

Sussurro um adeus,

Em sua partida.



Que boa morte,

Serena e lúcida,

Dever cumprido.



Viva, permanece,

Em minha memória,

Querida amiga.



Tantas lutas,

Energia serena,

Quanta bravura.



Em outros planos,

Vele por todas

As suas verdades.



Olhe em frente,

Siga com fé,

Mergulhe na luz.



Que sua vida plena

Corajosa e integra,

Nos inspire sempre.



















































Estradas Internas



Na eterna busca da essência,

Uma encruzilhada de estradas,

A difícil escolha faz parte

Do começar a trilhar.



Entrar no labirinto da mente,

Desenrolar o novelo dos dramas,

Caminho ao encontro de psique

Buscando apaziguar-te por inteiro.



O pleno encontro com a amada,

Possibilidade de restauração,

Na confiança absoluta e plena

de que a última missão é o amor.



Desenvolver a difícil maestria

Dedicar-se a ensinar o caminho

Estender a mão, incentivar,

Nele podes a sabedoria alcançar.



Das feridas dos outros cuidar,

Ajudar a lidar com teus dramas,

Diziam os deuses: Cura-te a ti mesmo,

Forma serena de os apreender.



Não te afobes demasiado,

apascentes o teu coração,

Teu drama haverás de viver,

Escolhido qualquer seja o caminho.



Cuides apenas de não te perder,

Nas armadilhas da mente, labirinto,

O intelecto é no início instrumento

Mas tão facilmente te aprisiona.



Pedra bruta que somos,

Lapidada tantas faces revela,

Permitindo mostrar nossos dramas

Como página do divino plano.



























Velhice e Consciência



Vida e consciência são na verdade antípodas.

Paga-se tributo a vida para que a consciência cresça.

Nada mais consciente que a velhice lúcida.

Nada mais vital que o nascituro quase inconsciente.



A Astrologia antiga fala da força de Saturno.

A morte, figura, capuz e foice da carta de Taro.

Corrente que do plano espiritual traz até o corpóreo.

Mas no final, do corpo, liberta com a morte.



Bela imagem do envelhecer como instrumento.

Que do excesso de vida, a cada um, liberta.

Permitindo a abertura do homem ao espiritual.



Que tolo aquele que permanece na ilusão,

Lutando para se manter em eterna juventude.

Sábio é seguir do rio o curso vivenciando o passeio.







































































Intuio o Perfil



Olho as estrelas,

Tento entendê-las.

Não vejo a mim,

Faltam-me espelhos.



Busco encontrar-me,

Onde estou?

Sou este corpo?

Cogito ergo sum?



Cada passante,

É um reflexo,

Sou mais o outro,

Do que eu mesmo.



Cada defeito,

Que eu desprezo,

Cada beleza,

Que ambiciono.



Vazios,Carências,

Lacunas percebidas.

Não vejo a face,

Intuio o perfil.

























































A Vaidosa Terra



A Terra, vaidosa, amanheceu um dia.

Sentindo-se, imaginem, muito suja.

Lixo, pasmem, na praia e nos rios.

O ar, que horror, a fazia tossir.



Nem um maremoto limpou suas praias.

Ciclones e furacões não lhe limparam o ar.

Suas lágrimas criaram inundações.

A falta delas em outros lugares, desertos.



Esteve, saibam, para desistir.

O verde, percebam, começou a sumir.

Mas deu-lhe sono, e adormeceu ...



Acordou com crianças cantando.

Pássaros amando, peixes felizes, como só eles são.

Ganhamos mais uma chance acreditem, uma mais.







































































Absurdamente Solitário



Vago perdido,

Nesta multidão,

Absurdamente solitário

Dentro e fora de mim.



Me acho no mundo,

Cruel dilema,

Perder-me ao interno?

Encontrar-me no externo?



A quem procuro?

Vagando assim?

Opto? Escolho?

Abro ou fecho o olhar?













































































Olhos Abertos no Escuro



Abro os olhos,

Me percebo aqui,

Um distante planeta,

Uma galáxia qualquer.



Quem sou?

Porque aqui?

Qual a razão?

Uma missão?



Olhos abertos no escuro!

Razão ou intuição?

Qual a chave

Para a compreensão?



Só nos resta no escuro viver!

Intuindo razões no coração.

Alçar os olhos para a luz do sol.

Caminhar como se, razões, tivesse.



































































Os Sentidos



Quantos serão os sentidos?

Serão 12, serão cinco?

Visão, audição, olfação,

Gustação e palpação?

E o sexto sentido, a intuição?



Para que desenvolvemos os sentidos?

Para o prazer ou o se relacionar?

Até onde trazem o prazer?

Onde, exatamente, começa a dor?

E para que serve o se relacionar?



A perfeição estática do cristal,

Ganha a vida, misteriosamente, no vegetal,

Movimento e emoção no animal,

Aperfeiçoamento de alma no homem.

Sentidos são as janelas da alma!



Extasiado com um pôr-do-sol

Fascinado por uma melodia

Ou embriagado por carícias.

A emoção me projeta no mundo

Através das janelas de minh`alma.



Abandono ou não o banal

Percebo com a alma ...

Ou deixo passar...

A chave para tudo

É a simples emoção!



A visão maravilhoso portal

Permite o êxtase ou a decepção

O olho expansão do cérebro

Direcionado ao externo

Fonte do extraordinário ou do banal!



A audição chance gloriosa

De captar a essência do vento,

Da Música, da natureza,

Selecionamos o melhor para ouvir?

Ou o que penetra é uma cacofonia?



O olfato, o aspirar a fragrância.

Aspirar a essência do externo.

Captar de tudo o que exala!

Definir, do que exala, a qualidade.

Separar o que é bom do ruim!



Gustação, perceber o sabor

Discernir o salgado e o doce

Amargo, azedo e picante na vida

Mesma raiz tem sabor e saber

Como saber sem saborear?



Palpação, tatear, tocar, estender

Fazer da pele, mais que barreira,

Instrumento de romper a distância

Supremo sentido de percepção

Do mundo e do outro também!



Temperamentos tem a ver

Com tempero e com tempera

O que da o colorido a cada um!

Não se deve ser insípido!

Vós sois o sal da terra!



Sentidos e sutis sensações

Passo primeiro da percepção,

Portais físicos para transcender.

Corpo no caminho da alma.

Alma acessando ao espiritual.









































































A Gratidão





Agradeço, especialmente, pela vida.

Oportunidade impar de evoluir.

Aos meus pais e antepassados,

Longa cadeia de transmissão genética,

E ao sublime plano divino,

Doadores a mim de corpo e espírito.



Agradeço, profundamente, por andar

Me colocar ereto diante da vida.

Possibilidade, ainda que trôpega,

De locomover, de conhecer o mundo,

Subir montanhas e descer aos vales,

Caminhar ao interior ou até o mar.



Agradeço, do coração, por falar,

Me colocar, comunicar, trocar,

Participar, me relacionar

A fala para mim é fundamental,

Transforma criatura em criador.

Oportunidade e responsabilidade.



Agradeço, penhorado, por enxergar.

Me encantar com uma borboleta,

Um pássaro, um peixe ou uma flor.

Ao observar o nascer e o por do sol.

Diferenciar na natureza os matizes

De verde, de um Arco Íris ou Girassol.



Agradeço, emocionado, por ouvir.

A música do vento e da água,

Dos grilos, dos pássaro e do mar

O canto dos homens felizes

Os seus instrumentos a tocar

E até pelo silêncio após.



Agradeço encantado pelo paladar

A percepção do que tudo tempera.

Do doce, salgado e do amargo,

Do azedo e picante na vida.

Mesma raiz tem saber e sabor.

Me traz tanto prazer e percepção.



Agradeço comovido pelo olfato,

Perfumes, cheiros, nuances,

O mundo mais pobre seria

Sem a riqueza de fragrâncias

Das flores, pessoas e animais.

Ah! Minha memória de cheiros.



Agradeço, então, muito pelo tato.

De pele com pele e do mato,

Com o pelo do cão e do gato,

Do sentir a pena do pássaro,

Com o áspero da casca da árvore,

Do tato, com tato e o contato.



Agradeço ainda pelo amor.

Todas as oportunidades de amar.

Desculpo-me pelas que desperdicei.

O sublime e árduo aprendizado.

Acredito , no fundo, nossa missão,

De tudo transmutar pelo amor.



Agradeço por sentir gratidão,

Que enobrece e traz merecimento.

Restabelece o fluxo do universo.

Reflexão que implícito traz aceitação.

Aproxima de Deus e do interno.

E com a natureza comunhão.















































































As Virtudes



Criou Deus as virtudes,

Para a Terra as enviou,

Pediu que estivessem com os homens,

Mas não lhes revelou os nomes.



A primeira encontrou um pescador,

retornava para casa e dizia:

Pesquei o reflexo do sol no rio!

Descobriu que seu nome era verdade.



A segunda encontrou um caçador,

Que em um coelho desistiu de atirar,

Que bom, hoje uma vida salvei!

Descobriu que seu nome era piedade.



A terceira encontrou um vendedor,

Que surpreso disse ao comprador:

Não leve, não tem qualidade!

Descobriu que seu nome era honestidade.



A quarta encontrou um menino, que

Retirou da lancheira uma fruta,

Mas a um menino faminto a doou.

Descobriu que seu nome era bondade.



A quinta encontrou um pobre homem,

Com tão pouco para a ceia do natal,

Mesa enfeitada e completa partilha.

Descobriu que seu nome era esperança.



A última, pela terra, perdida andava

Finalmente mãe e filha encontrou,

Noite a dentro cantava e embalava.

Descobriu que seu nome era amor.





































A Meu Pai



Teus cabelos brancos,

teu sorriso franco,

me revelam tanto,

o tanto, que vivestes.



Tua vida que me é cara,

testemunho vivo,

de tudo que fostes,

pai amado e amigo.



Herdarei de ti,

muito mais que posses,

tesouro infável,

teu exemplo honrado.



Tua vida simples,

um dia após o outro,

com coragem plena,

me sirva de exemplo.



Estejas sereno,

tua missão cumpristes,

aos que te cercaram

ensinastes o amor.

























































Abençoado Seja ...



Abençoado seja aquele que tem fome de alimentos.

Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.

Os alimentos são, da terra, presentes ao corpo.

A possibilidade de se alimentar é direito universal.

A responsabilidade pelo alimento é individual e de toda a humanidade.

A solidariedade e o compartilhar impediriam a fome .



Abençoado seja aquele que tem sede de água pura.

Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.

A água é a fonte universal da vida no planeta.

A possibilidade de saciar a sede é um direito universal

A responsabilidade pela água pura é individual e de toda a humanidade.

A solidariedade e o zelo com a água do planeta impediriam a sede.



Abençoado seja aquele que tem ânsia de ar puro para respirar.

Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.

O ar é um presente do céu ao seu pulmão.

O respirar ar puro é um direito universal.

A responsabilidade pelo ar puro é individual e de toda a humanidade.

A solidariedade e o não poluir garantiriam a qualidade do ar.



Abençoado seja aquele que tem fome de amor.

Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.

O amor é o fogo do coração.

Amar é um direito universal.

A responsabilidade pelo amor é individual e de toda a humanidade.

A solidariedade e a fraternidade impediriam a falta de amor.



















































A Morada do Ser



Submerso em um mar de banalidades,

Perdido na rotina ordinária,

Segue absolutamente cego o homem,

Iludido de tudo estar vendo.



Esquecido totalmente de sua essência,

Acreditando-se densa matéria

Esquecido ser espírito que toca a lama,

E que mais importa o espírito que a lama.



A morada do ser é o extraordinário,

Diz-nos Heráclito há quantos séculos,

Dormimos, sonhando acordados estarmos,

Desperdiçando nosso tempo com tolices.



Importa perceber que a vida é pequeno ato,

De um teatro maior, universal e eterno,

Que somos figurantes no grande drama humano,

Com missão individual de procurar a síntese.



Vivenciar nossos dramas pessoais,

Aprender a colocar o coração na vida,

Abrir se a emoção, ao sensível a ao encantamento,

Utilizar-se do intelecto para integrar tudo.



Perceber a mensagem simbólica e secreta,

Que nos contam mitos, contos, fábulas e ritos,

Estar em sintonia com a arte e a poesia,

Sutilizar o que está pétreo, rígido e inflexível.



Amar, perdoar e não julgar,

Perceber a imensa grandeza de nossa pequeneza,

Um grão de areia importa ao universo,

Se ousarmos viver, na essência, com inteireza.





































Um Elogio faz Milagres



Um elogio faz milagres.

Massageia o ego.

Eleva o astral.

Expande a alma.



A vida é sempre, de escolhas, feita

Preferir mostrar assim do outro

e o nosso próprio melhor lado.

É escolher revelar a face bela.



Temos no interno, em potência,

O herói, o criminoso e o banal.

Sabedoria é retirar depressa,

O de melhor que estiver a nossa espera.



Como o escultor que da bruta pedra,

Diz retirar somente as sobras

Revelando a estátua que já lá estava.

É a opção de ver o feio ou o belo.



































































O Ritual do Natal



Só tem sentido, o rito,

pelo simbólico, pela intenção.

A senda que se trilha no externo

Representa o interno caminho.



O caminho que importa,

Verdadeiramente trilhar,

Pretende do escuro

À plena luz nos levar.



O ser pai compreende

Amoroso indicar do caminho

Trilhar junto no início, Iluminar

E incentivar prosseguir.



A lição do Natal, retirar

De um singelo menino

pobremente nascendo

Relembrar de para Deus retornar





OBS: Poema escrito para início de um ritual de Natal. Uma vela acesa no centro de uma espiral labirinto feita com folhas. Cada pai percorria o caminho até o centro com seu filho. Acendia uma vela, na central, a mesma estava encaixada numa maçã, a guisa de castiçal. Ia colocando no trajeto, iluminando tudo. Bonito, não?























































O Milagre de Gerar uma Vida



Nove maravilhosos meses se passaram

Acompanhados, cá de fora, com emoção.

Avós decoraram seu quarto

Presente amoroso na expectativa da chegada,

Ameaças de interrupção, sangramento,

Repouso materno, preocupação,

Sua energia e vitalidade venceram.

Gravidez a termo, acaba tudo bem.

Sua mãe imagina, louro, olhos azuis,

Premonição? Intuição?

Começam as contrações.

Caminhamos pelo bairro até a hora.

Pelas mãos do tio e da tia

Nasces chorando, mas sei que feliz.

Um bebê lindo, prêmio de Deus,

Nos apaixonamos por você.

Cresces e como cresces.

Com um ano tamanho de quatro.

Independente, carinhoso,

Carismático, alegre você é!

Falante, comunicativo,

Embora fale pouco de ti.

Muito grande se sente mais velho.

Tenho que enfrentá-lo, impor limites.

Se soubesse como sei hoje

Quão bom serias, relevaria.

Na ansiedade de te querer bom

Quantas vezes fui severo.

Não me arrependo muito

O resultado final foi excelente.

Acredito que mais por sua qualidade

Que pelo meu esforço.

Mas releves, filho, não tenhas mágoas.

Tudo que fiz ou não fiz foi com amor.

Aos oito anos conquistas competir no exterior.

E me comunica: eu vou viu!

Ser pai não se aprende em curso

Nem tem manual explicativo.

Tentei, corajosamente fazê-lo.

Errei, acertei, por certo ambos.

Meu grande consolo é ver-te hoje

Firme a caminhar na vida.

Fazes faculdade, serás médico.

Livre de vícios, saudável.

Todos gostam de ti.

Meu prêmio merecido ou não

É ver que estás vencendo.

Perdoe me filho, minhas falhas

Soube agora que te fiz falta no futebol.

Como todo pai tentei te dar o mundo.

Não sei se foi bom ou não

Agora é mais com você,

Do que comigo.

Preparei tuas bases, a fundação,

Erigir o castelo, agora, é tua missão.









































































































Confessas Sofrer por Amor



Vejo teus olhos marejados,

De límpidas lagrimas cravejados.

Percebo um coração sangrando,

Ferido por tuas próprias lembranças.



Existe dor maior

Que a consciência

Plena e irrefutável

De não ter amado?



Nunca ter amado

Seria melhor ou pior

Que a terrível dor

De amar e perder?



Sentir tem o mesma

Raiz que sabor.

Como sentir sem

Nunca experimentar?



Há época de semear

E a de colher!

Colhe-se ora sorrisos

Ora imensa dor!



Mais triste no entanto

É quando por medo,

Para evitar sofrer

Se esquece de viver.



Portanto minha amiga

Seques as lágrimas

Ou chore sossegada

Mas plantes o amor.





































Reflexões sobre o Céu e o Inferno



Platão, o filósofo, já nos dizia

Que no nosso plano, plano terreno

Todas as coisas são pálidas cópias

Do plano das idéias, plano espiritual.



Copiamos para nosso cotidiano

Até mesmo o inferno e o paraíso

Que recriamos aqui para nossas vidas

E pior, alguns, vivem no limbo.



Esquecemos de termos livre arbítrio

Do direito e do dever de ser feliz

Que sofrer, correção de rota, indica.



Perdemos a noção de nossa missão.

Expressar nosso potencial integralmente

Individualizar-se nossa maior meta.







































































Microcosmo no Macrocosmo





Toda busca maior visa

contactar a própria essência.

Caminhada diuturna e tentativa

de encontro com a identidade.

Vencer traumas, bloqueio

de um mais pleno desenvolver.

Morte e vida, Tanatos e Eros,

são processos e não um momento.

A morta nos liberta, gradualmente,

do tanto necessário, de vida

para cristalizar consciência.

A grande luta não deve ser

vencer as rugas, mas garantir

que sua companheira

seja a sabedoria.

Onde encontrar as respostas?

No passado, presente ou no futuro?

Dentro ou fora de mim?

Enganadores divisões conceituais,

não existe interno e externo,

passado, presente e futuro,

tudo que de fato existe é a viagem,

longa viagem de todos os seres,

em busca de aprender a ver a luz,

todo o mais é ilusão passageira.

Microcosmo no macrocosmo,

o todo está em cada um,

como este está, no todo, contido.

Somos um todo indivisível,

não se separa Psique do Soma,

sob pena de se extinguir a vida.

Colocar em harmonia, apascentar

o visceral e metabólico querer,

temperado com um rítmico sentir,

em sintonia com um pensar cristalino.

Privilegiar uma das instâncias

é abdicar da integralidade.

Afastar a ansiedade, pois

uma vez iniciada a caminhada,

o autoconhecimento é conseqüência

inevitável no decorrer do processo.

Podendo ter parte da viagem

trilhada meditando no interno,

parte no mundo, bastando

colocar-se como pequeno lume

iluminando ainda que pouquinho

no seu trabalho, no lazer,

onde moras e junto da amada.

Que paradigma devo usar,

para decifrar meus mistérios?

Decifra-me ou te devoro,

diz-me a esfinge interna.

Buscar referências simbólicas nas

tragédias gregas ou nos mitos?

Devorar a filosofia, o legado de

pensamentos que o passado deixou?

Utilizar-me da psicologia,

da psicanálise ou da poesia?

Trabalhar com os instrumentos

da arte, da técnica ou da ciência?

Usar a inteligência, a intuição,

a sensibilidade ou o querer?

A melhor forma é não ter forma

vivenciar e aprender no viver.

Estar inteiro, feliz e pleno.

Interagir com o universo,

de forma prazerosa e produtiva.

Evoluir, crescer, melhorar.

Acrescentar minha própria gota,

pequena gota de consciência,

ao mar de consciência cósmica.

A última missão de cada homem

É o mais plenamente se individualizar.

Lembrar-se da simbólica

e antiga imagem do cocheiro

controlando cavalos e carruagem.

Fortalecer e colocar seu Eu

no inteiro comando de sua vida.

A descoberta deste Eu pode ser

Numa viagem interna ao passado,

atuando com consciência no mundo,

ou projetando seus sonhos no futuro.

Há que se sair dos impasses.

Não se há de temer a vida.

Utilizar-se dos embates

como chance de se fortalecer.

Lembrar que modelar o Eu

É tarefa de toda uma vida.





































A Vida nos Ensina



A vida nos ensina

inexoravelmente.

Mestra severa

e exigente.

Alguns aprendem

felizes.

Outros choram

repletos de dor.

Mas a vida nos ensina

seja como for.

Mais sábio seria

procurar entender as lições.

Compreender as mensagens

dessa sábia senhora.

Que com leis,

imutáveis,

Embora nos pareçam

indecifráveis,

Segue seu curso

sem se desviar,

Só pretendendo

nos fazer crescer.

A vida nos ensina

em duras ou suaves lições.

Mas queiramos ou não

iremos aprender.





















































O Terapeuta



Despir o corpo e enxergar a alma.

Buscar as causas para cada evento.

Entender as últimas razões .

Ler nas linhas e nas entre-linhas.

Encontrar esperança para quem as perdeu.

Dar acolhimento para quem não o tem.

Abrir os caminhos para quem precisa caminhar.

Alternar o uso da inteligência e da intuição.

Usar a sensibilidade sem se enganar.

Ter a doçura firme quando precisar.

Ser verdadeiro mesmo sem chocar.

Ter um coração amoroso sem estar piegas.

Estar integral, visceral, no processo.

Vibrar na freqüência sem se contaminar.

Ser fraterno, mas ficar em seu lugar.

Servir de lanterna se está escuro.

Sem muito pretensioso ficar.

Estar ciente dos limites sem se acovardar.

Buscar a luz para ter o que dar.



































































Desta vida levarei ...



Desta vida levarei ...

A lembrança de todo o amor,

Que tive, que dei,

Será que amei tudo que pude?



Desta vida levarei ...

A lembrança das vivências,

Viagens, passeios, onde mergulhei,

Será que mergulhei tudo que pude?



Desta vida levarei ...

Toda a emoção que pude ter,

Quadros, música, dança.

Será que me emocionei tudo que pude?



Desta vida levarei ...

Meu amor ao planeta, a ecologia,

As árvores que plantei, o que semeei.

Será que semeei tudo que pude?



Desta vida levarei ...

A consciência que desenvolvi,

O valorizar na justa medida cada coisa.

Será que me conscientizei tudo que pude?



Desta vida levarei ...

A poesia, o enlevo a harmonia que conquistei,

Sempre que consegui frear a correria para lugar nenhum

Será que tive toda a poesia que podia ter?















































A Essência da Vida



Seria esta a nossa verdadeira busca?

Da qual andamos esquecidos?

A que nos prende na eternidade?

Aprender a depurar do joio, o trigo?

Abandonar o supérfluo e o vazio?

E entender a essência desta vida?



Onde encontraríamos a essência?

Na guarda transitória de bens materiais?

Iludidos da posse momentânea

do que verdadeiramente nunca nos pertenceu?

Ou indo, ambiciosos, um pouco mais além,

Buscando sutis tesouros intangíveis?



Nos orgulhamos de nossas mentes,

Instrumentos enganadores e imperfeitos.

O importante seria o que concluímos

Ou o processo que nos levou ao resultado.

Estaria a essência no que acreditamos?

Ou seriam verdades passageiras?



Estaria a essência escondida,

Nas experiências vividas pelo coração?

No amor sentido pelo amante? Pelo filho?

Ou que cresce e extravasa por todo o planeta?

O mais nobre é o que vivemos? Pensamos?

Ou o que percebemos pelos sentimentos?



Cada um tem, rica, sua história de vida.

Cada qual tem seu drama pessoal.

O perigo é pouca ou demasiada paixão pela vida,

Nublar todo nosso entendimento.

Ideal seria, como se em um teatro pudéssemos

Afastarmos-nos, observar e do drama reter a essência.



Seriam filosofia e ciência somente

Instrumentos para afinar nossa percepção,

Sendo a sensibilidade adquirida com a arte

Ou pelo encantamento com a natureza,

Aliadas a devoção ao de mais sacro,

Da viagem de volta, pré-requisitos?



Jogados à vida com os olhos vendados,

Fascinados com o jogo e esquecidos,

Que nos cabe resgatar, cotidianamente,

Grandes as pequenas missões neste planeta.

Devemos assumir o livre arbítrio e decidir

O que largar e o que é imprescindível levar.









A Busca do Bom, do Belo e Verdadeiro



Explica-se a busca do belo pelo homem,

Seja na arte, na natureza ou na companheira?

Que mistérios encontram-se por detraz?

Programados por quem estamos todos?



Na companheira procura-se juventude e beleza.

Garantia dos melhores gens diz a ciência.

Alma gêmea dizem os românticos.

Por que não existem almas gêmeas feias?



Seria a procura do belo,

Reflexo nostálgico da lembrança,

De um vago e remoto paraíso?



Implantado nos corações por mão divina,

como última esperança de retorno ao pai,

A busca do bom, do belo e verdadeiro.







































































A Bailarina, entre o Peso e o Enlevo



Graça, leveza e encanto,

Bolhas nas pontas dos pés.

Plie, jete, pas-de-deux,

Dores até não poder.

Gestos delicados, precisos,

Ensaiar, repetir, ensaiar.

Harmonia e um belo conjunto,

Fruto de se superar.

Ter na arte a meta a alcançar,

Condição humana transcender.

Ter nos cisnes e sílfides o olhar,

Para todo o peso sublimar.

Quanto mais delicada se mostrar,

Mais determinação e força há de ter.

Emocionar com a força do gesto,

Amparado por toda uma técnica.

Com o corpo tão pouco vestido,

Ou trajado somente de sonhos.

Belo exemplo para todos nós,

Tanta arte e enlevo em um ser.



........................................................

Esta é minha homenagem

Para Cristina, 12 anos,

Que treinou meses

Para dançar do "Quebra Nozes":

"A Valsa das Flores"

"A Dança das Espanholas"

"Flocos de Neve".

Além de nos encantar,

Por certo muito aprendeu

Sobre a arte e a técnica,

A força de vontade e a persistência,

O vencer os limites do corpo,

O material e o espiritual e

sobre a essência da vida.

































Soneto ao Palhaço Involuntário



Guardamos todos no íntimo

O desespero do ridículo um dia

Envergonhados palhaços involuntários

Surpresos pela imperiosa vida.



Sentimento de cara inchada,

Rotundo nariz vermelho,

De ser alvo da chacota,

Uma completa exposição.



O que nos salva, verdadeiramente,

É a consciência do ridículo desta vida,

Rir-se dela deve ser a meta.



Pompa, pose e circunstância

Endurecem, aprisionam, fossilizam,

Contra tudo a única arma é o riso.







































































Tributo à Música



Guardamos todos no íntimo

O desespero do ridículo um dia

Envergonhados palhaços involuntários

Surpresos pela imperiosa vida.



Sentimento de cara inchada,

Rotundo nariz vermelho,

De ser alvo da chacota,

Uma completa exposição.



O que nos salva, verdadeiramente,

É a consciência do ridículo desta vida,

Rir-se dela deve ser a meta.



Pompa, pose e circunstância

Endurecem, aprisionam, fossilizam,

Contra tudo a única arma é o riso.







































































Pequena Chama



Somos sobre a Terra

Pequena porção

De consciência individualizada.

Em potência,

Podendo abarcar a essência

Do pensamento da época.



Somos pequenas chamas,

Irradiando calor e luz.

Calor que aquece ou queima.

Luz que ilumina ou cega.



Livre arbítrio,

Sempre o livre arbítrio

A intenção,

Que faz toda a diferença.



Consciência ou inconsciência.

Ação ou omissão.

O que tenho entrego?

O que sei compartilho?



Sou força de luz ou treva?

Caminho só?

Mas pelo menos caminho?





















































Paradigmas



Conceitos nos movem.

Conceitos levam a guerra.

Quais são nossos referenciais?

Que paradigmas temos



Na Irlanda

e aqui

Irmãos se matam em nome

do mesmo Deus.



Divisão por diferentes

enfoques sobre religião?

Quanta pretensão,

sentir-se dono da verdade.



Que saudável é

o exercício da dúvida.

Escutar a verdade alheia

no mínimo com respeito.



A absoluta certeza

Num mundo mutante

Verdade ou

Prepotência?

























































O Lado Escuro



Perscrutei às trevas,

Tangenciei o mau,

Vivenciei que é real.



Força arquetípica,

Densa e primordial

No cosmos universal.



Ponto cristalizado

Rebeldia primeva

Um não pleno fluir

No divino amor.



Não a escuridão,

Contraponto da luz,

Pequena treva terrena

Que um raio ilumina.



Mas algo abissal

Profundo e total,

Silencioso, a espreita,

Uma porta para o caos.



Em doce engodo

Vivemos, esquecidos

Do cosmos primordial.



Um véu nos tolda a visão

De uma realidade

De luz e treva total.



Pequeno microcosmo

inserido no macro,

Me vi perguntando

Se me contaminara.



Percebi que temos

Com o bem e o mau

Sintonia interna

Possibilidade total.



Um certo mal estar

O vivenciar que o homem

Comunga visceralmente

com o bem e o mau.

Consolo tardio,



Uma voz me dizia,

Se tivesses entrado

Em trevas tão densas

Perdido estarias

Neste buraco negro



A vida é magia,

Alimentar, amar,

Com a fala criar

Tanto encanto.



Um sorriso é magia,

O cantar pleno encanto,

Uma história abre dimensões!

Fantásticas? Reais?



Senhor de dois mundos,

Pode o homem alcançar,

Denso, pesado, e físico,

No espiritual pairar?



Que se permita lembrar,

Que uma chispa de luz,

Doação de divino amor,



Está pronta no interno

Para as trevas afastar,

E ao pai nos fazer retornar.



No eterno combate

Entre o bem e o mau

Não dá para ficar alheio

Nele somos guerreiros.



Vislumbrar luz e trevas,

Relembrar, é uma arma

Que nos mostra, qual lado,

Desde o início escolhemos.



Por piegas, que possa parecer,

Nossa única missão é amor irradiar,

E de frente, até o mau,

Poder firme nos olhos fitar.

































A Essência



Se só levamos daqui a essência,

Por que acumulamos terrenos tesouros ?

Se só levamos daqui a essência,

Por que Fazemos inimigos ?

Se só levamos daqui a essência,

Por que desperdiçamos tanto tempo ?



Nossa única missão é aprender,

vivenciando, experimentando,

Errando e acertando,

Caindo e levantando.



Se pudéssemos lembrar da essência,

Nossa única porção persistente,

Andaríamos, correríamos na senda,

Velozmente a caminho da luz.



Aprender com a arte e a beleza,

O amor, a amizade, a esperança,

A perseverança, a paz, a confiança,

Ver na natureza o reflexo de Deus,

Nesta terrena escola, em suma,

a missão é aprender sobre a essência.



























































A Batalha entre O Caos e A Ordem



Somos imagem espelhar

De um universo em caos

A procura da divina ordem.



Todas as nossas forças,

Potencialidade,

Emergem do caos inicial.



Somente ao iluminar

As caóticas trevas

Começamos a jornada.



Nos sentimos sós,

Desconectados da fonte,

Esquecidos do berço.



Nosso caminho interno

Na essência é somente,

A batalha entre o caos e a ordem.



O que esquecemos

É que espiritualmente filhos da luz

A ela inexoravelmente voltaremos.



Que nossas trevas

Físicas, Terrenas,

São somente um estágio.



Que nossa única missão

É não negando as trevas

Acender nossa luz interna.











































O Universo Conspira a seu Favor



Todas as suas aspirações,

Se são lícitas e justas,

Se ao outro não agridem,

Se você as merece receber,

São suas por direito

Bastando ao universo pedir.



Lembre-se de pedir,

Somente formulando seu pedido,

Sem ferir seu livre-arbítrio,

Pode a ajuda vir.



Peça ajuda aos anjos,

Peça ajuda ao cósmico,

Peça ajuda aos iluminados,

Peça ajuda sempre que precisar.



Qual universo primevo,

Somos pequeno caos,

A procura de ordenar.



No divino caminho,

Cada pequena luz interna,

É uma vela a iluminar a senda.



“E o universo

conspira

a seu favor”.

















































Pequeno Poema Triste para uma Princesa Hindu



Nas brumas do tempo eu vi,

uma princesa hindu,

em seu sari vermelho,

tendo na testa um rubi.



Pequena, negros cabelos,

tez morena acobreada,

gestos delicados,

levemente sensuais.



Em relance, sua vida, pressenti,

educada para agradar,

ao consorte seduzir,

missão de vida.



Brilho no olhar,

expressão viva,

caminha a flutuar,

leve como a brisa.



Sua mente arguta

domina as artes,

filosofia, astrologia,

e o aos outros compreender.



Dança delicada,

cada dedo tem seu movimento,

com intenção,

e com sentido expresso.



Seu drama primeiro,

por transcender seu limite,

todos se consternaram,

com o brilho de sua mente.



Encontrado seu destinado príncipe,

surpreendentemente o amou,

correspondida foi

ardentemente amada.



Coube ao destino cruel,

em breve ceifar,

de seu amado,

a vida querida.



Inflamada do príncipe

a nobre pira

pretendendo segui-lo

nela a princesa se atira.



Levada por Maia,

a ilusão infinda,

de que pelo amor dois seres possam

compartilhar um só destino.



Pecado cometido,

se encontram pelo tempo,

sempre um pouco antes

ou após o momento certo.

































































































Seios da terra



Uma bela colina

arredondada.

Coberta da suave penugem

da grama.



Volume que ressalta

contra azul celeste.

Denso confronto

com o diáfano.



Me recorda Salomão

real sabedoria

que compara colinas

aos seios da amada.



De repente percebo

feridas rasgando

os seios / colinas

de alto a baixo.



Divina perfeição

lesada

pela humana

insensatez.



Comunhão perdida

com Natura Deusa

explora-se a terra

à exaustão.



Cumpre resgatar

mistérios esquecidos.

Abrir da alma os olhos

captar a essência.



Perceber em colinas

a beleza de seios.

Pressentir na mãe terra

o toque do divino.



























A Poética do Lixo



Há estética

na discussão

do lixo?



Terreno baldio

invadido

por lixo.



Margem de rio

depósito

de lixo.



Que dramas

encerra

o lixo?



Águas correm

de dejetos cobertas,

lixo.



Ondas espocam na praia,

de suja espuma cobertas,

que lixo !



É lícito,

demorar o olhar poético,

sobre o lixo?



















































Planeta Lixo II



Ecos de remoto passado,

segredos revelados,

pelo que se encontra, soterrado,

Restos de um viver,

de um se organizar.

Do lixo.



Restos de uma fogueira,

familiar acampamento,

abrigo da caverna.

Desvenda uma época.

Mistérios revelados.

Pelo lixo.



Pontas de lança,

facas de pedra,

fragmento de carvão,

facas cinzeladas,

jóias raras.

Seu lixo.



Da Grécia clássica,

uma Vênus de Milo,

cânone da beleza.

Mármore belíssimo,

perdida cabeça e braços.

Seu lixo.



Cada civilização

tem o lixo que merece !

Vênus de Milo?

Latas de cerveja?

Raras jóias?

Ah ! O lixo.



Qual nosso legado?

O que deixaremos?

Será belo?

Será útil?

Encanta ou repugna?

Nosso lixo



Formigas não poluem,

mantém seu mundo limpo,

há milênios.

Existem em equilíbrio.

Permanecem,

até pelo seu lixo.



Humanos ...

Que desperdício !

Que descartável !

Que consumismo!

Coberto o planeta,

por lixo.







































































Planeta Lixo



Lixo...

É o que me sobra ?

É o meu detrito ?

É reciclável ?

Para alguém tem serventia ?

O que é lixo ?



Soterra-se o planeta,

em camadas intermináveis e irresponsáveis.

Do meu, do teu

não o do outro

mas o nosso lixo.



Lixo tóxico,

atômico,

doméstico,

hospitalar,

urbano,

lixo ...



O Planeta

é nossa casa.

Sem ele

onde estamos,

O que somos ?

E o lixo ?



Ratos,

Animais para nós “repugnantes”

fazem um trabalho

de limpeza

mantendo limpos

nossos esgotos.



O homem em sua soberba

produz montanhas

de lixo.

Sem se sensibilizar,

educar,

repensar.



Que nobre ser !

Que ápice da criação!

Sobreviveremos a nosso

egoísmo?

Descaso?

E a nosso lixo?



Reciclar é preciso!

Repensar, urge !

Vivenciar nosso velho planeta,

sentindo-o nossa casa !

Com certeza

“Geia” agradece!



Águas limpas,

nas fontes, cascatas,

rios e o mar.

Sem lata, papéis,

espuma de sabão,

Barris de lixo radioativo.



A terra pronta

para cumprir seu papel

de grande útero da vida.

Sem que montanhas

de irresponsáveis detrito

cobrindo-a a impeça.



Mais consciência

de que o meu lixo,

costuma ser o alimento,

a vestimenta,

o mobiliário

ou a morte de um irmão.



Lixo...

É o que me sobra?

É o meu detrito?

É reciclável?

Para alguém tem serventia?

O que é lixo?



















































Planeta Água



A água

desperta

na semente,

qual pequena

pedra adormecida,

a vida !



Do planeta

suas artérias, veias,

capilares,

são seus rios,

riachos, ribeirões,

rasgados na terra.



Também no interno

fonte essencial

de saúde e de vida.

Nosso corpo

quase todo de água

formado.



A água purificada

em seu eterno

ciclo,

no que toca

dissolve, desperta,

vivifica.



Circula,

evapora, condensa-se,

forma nuvens, chuva,

infiltra-se, lençóis,

Exterioriza-se, cascatas,

córregos e lagos.



A Água tudo doa,

refresca,

limpa,

aplaca a sede,

fornece alimento,

transporta.



E hoje ?

margens nuas,

leitos assoreados,

água

de dejetos industriais,

contaminada.



Morre o planeta?

De leucemia?

Se suas águas

são seu sangue ...

Até quando

agüentará?



O homem e o planeta

são cúmplices,

irmãos e amantes.

Doente o planeta,

uno com ele,

doente estamos.



Algo distante

de mim, de ti?

Por certo não!

Responsáveis,

pelo planeta,

somos todos!



O sabão

que nos limpa

a pele e a roupa

cobre de espuma

rios, cachoeiras, e chega ao mar,

matando peixes e demais vida.



Perdida a inocência,

da vida natural,

paradisíaca,

de forma premente, só nos resta

a partir da consciência,

restabelecer o equilíbrio perdido.

















































Num tempo circular



Se estivéssemos num tempo circular ...

Se só o que existisse fosse de fato

Um eterno construir do presente.

Se passado e futuro não fossem realidade

Mas se tornassem dele conseqüência.

Se isto ousássemos descortinar.

Potencialidade quase absoluta.

Se pudéssemos escrever nossa história.

Se seguir plácidos pela direita

Ou virar afoitos pela esquerda,

Fizesse toda a diferença.

Se pudéssemos mudar inteiramente

O curso do fio de nossa história.

Se nos puséssemos a guerrilhar

Nos tornaríamos guerreiros?

Se nos puséssemos a fazer versos,

Nos tornaríamos poetas?

Se nos puséssemos a amar,

Nos tornaríamos amantes?

Se nada fizéssemos, seria o mais terrível,

Nos tornaríamos inertes?

Se pelo menos aprendêssemos,

Que já que temos que viver,

Que possamos viver plenamente.

Se estivéssemos num tempo circular ...























































A Vida



A vida é movimento,

da água que corre,

do vento que tudo balança,

da planta que cresce,

do menino que brinca.



A vida é luz e calor,

do solar raio,

que beija a folha,

e num milagre

cria o orgânico,

na fotossíntese.



A vida é ação,

desde a menor célula,

até o maior animal.

Processos complexos,

um devora o outro.

Vida na ação.



A vida é pura emoção.

Do sorriso da criança,

passando pelo feio lixo,

do corpo estirado no chão,

à visão de um beija-flor.

O que nos salva é a emoção.



A vida é amor.

Força mágica,

misteriosa e secreta,

Que atrai e une,

fertiliza e cria.

Provoca sofrimento e êxtase.



A vida é espiritual.

Sua beleza intrínseca,

seu milagre oculto,

no mais corpóreo,

se vislumbra o divino.



























O Processo



Livre arbítrio,

Escolhas,

Dilemas.

Sigo a direita?

A esquerda?

Em frente?

Recuo?

Paro?

Tantas possibilidades.

Indecisão.

Sofrimento.

Me digladio.

Penso ...

Aos poucos sereno.

Ausculto o coração.

Sinto...

Decido.

Quero ...

Ajo.

Percebo,

Que mais importa,

O processo,

Que a decisão.



























































O Olhar



A diferença que faz,

lançar sobre o mesmo fato,

um diferente olhar.



A chuva que olho irritado

encanta amantes

que correm de mãos dadas.



A diferença que faz,

lançar sobre o mesmo fato,

um diferente olhar.



O alimento que desprezo à mesa,

saciaria a fome,

dos que nada tem.



A diferença que faz,

lançar sobre o mesmo fato,

um diferente olhar.



O sol que tão quente me aborrece,

bronzeia na praia,

felizes corpos, semi nus.



A diferença que faz,

lançar sobre o mesmo fato,

um diferente olhar.



Os que querem se separar,

desconhecem a solidão tamanha,

dos que não tem a quem amar.



A diferença que faz,

lançar sobre o mesmo fato,

um diferente olhar.



Quem cansado reclama do trabalho,

esquece-se dos que lutam,

para ter onde trabalhar.



A diferença que faz,

lançar sobre o mesmo fato,

um diferente olhar.



O anoitecer que da luz me priva,

é o encantado momento,

esperado pelos enamorados.



A diferença que faz,

lançar sobre o mesmo fato,

um diferente olhar.



Viver



A vida corre rápido,

como um filme.

Deixando saudades

do gosto que fica na boca

da pipoca ou jujuba.



A vida nos desvia a atenção.

Alguém importante

fica esquecido

numa esquina qualquer

da memória.



A vida nos absorve,

com coisas tolas.

Como se nos tentasse

para ver se sabemos

o que é essencial.



A vida nos prega peças.

Vivemos, vivemos,

nos sentimos os mesmos

mas não é o que nos dizem

os outros e o espelho.



A vida nos endurece.

Perdemos sem sentir,

o jeito moleque,

a irreverência e o humor,

ficamos aos poucos, respeitáveis.



A vida é tão simples.

Despidos da casca,

brincando nos campos,

banhando nos rios.

Viver é estar com você.



































A Esfinge



Decifra-me ou te devoro!

Escuta o caminhante atônito,

no deserto da vida,

com a esfinge deparando.



Decifra-me ou te devoro!

Repete olhando,

corpo de touro, peito de leão,

asas de águia, rosto humano.



Decifra-me ou te devoro!

Touro, terra, metabólico,

fonte de vida,

alimento da vontade, do querer.



Decifra-me ou te devoro!

Leão, água, coração,

fonte da alma,

alimento do sentir.



Decifra-me ou te devoro!

Águia, ar, percepção,

fonte do racional.

Alimento do pensar.



Decifra-me ou te devoro!

Humano, fogo, consciência.

Fonte do divino.

Alimento do espiritual.



Decifra-me ou te devoro !

Entrevê o caminhante

sua missão terrena

por fugaz momento.



Decifra-me ou te devoro!

A visão do homem

pleno,

nos quatro elementos.



Decifra-me ou te devoro !

Fazer a fusão alquímica,

suprema missão,

da interna transmutação



Decifra-me ou te devoro!

Direcionar para a luz,

regido pelo eu espiritual,

o sentir, o pensar e o querer.







Matrix



Como expressar,

em versos livres,

o sentimento,

que me evoca,

a palavra família.

Útero,

“matrix”,

mãe,

início.

Começo do caminho!

“Pater”.

Pai.

Abraço que embala,

acolhe.

Lambe feridas.

Aponta o caminho!

Um sempre voltar.

Um realimentar.

Reiniciar.

Lugar de aprender,

começar a conjugar

difíceis verbos:

conviver,

confiar,

trocar,

acreditar,

ousar,

viver

e amar.

Sentir-se aceito.

Protegido.

Ser encorajado

aos primeiros passos

e a cada dia

a novos passos.

“Frater”.

Irmão.

Espaço

para experimentar,

do carinho

ao brigar,

como forma

de treinar,

ao que a vida

um dia

mostrará!

Viver

um nunca chegar,

um eterno

caminhar.





Família I



Pai, mãe, irmão e tia,

com casa, cachorro,

peixe, periquito,

esta é a minha família.



Só pai? Só mãe?

Padastro? Madastra?

Meio irmão?

Nem assim, menos família.



O tempo passa.

Modelos mudam.

Nada é mais rígido.

Sobrevive a família.



Importa

é ter um porto seguro,

no final

do dia.



Colo,

carinho,

em momentos de dor,

isto é família.



Posso. Não posso.

Detesto esta parte.

Mas ainda assim ...

Ah! Família!



Irmão,

sujeito de amor

e ódio.

Ah! Família!



Ter amor, apoio,

limites, deveres

e regalias,

Ah! Família!



Nem tudo

são flores,

nem tudo é azul,

na família.



Mais terrível

é não ter para

reclamar.

Ah! Família!







A Cegueira Situacional



Que de cada ponto de vista

Se reconheça uma cegueira implícita!

Pois lançado o olhar em certa direção

Fatalmente para traz deixou se de olhar!



Que enorme diferença faria

Se a tudo pudéssemos alcançar.

O interno e o externo vislumbrar.

Perceber o denso e o sutil.



Mas a única esperança que nos resta

Sabedores de nossa cegueira inata

Iluminar nossa alma com a poesia

Com inspiração e arte suprir toda lacuna













































































Meu Universo



Areias movediças

Que tragam todo o peso

Tudo engolem

Buraco negro

No deserto da vida.



Vejo o mundo

Com os olhos

De meu momento interno

Ora um paraíso tropical,

Ora um árido deserto.



Floresta tropical,

Pressentindo feras

Externas ou internas.

Exuberância de vida,

Prestes a ser engolida,

Gerando nova vida.



Criatura ou criador?

Interfere o que penso

No meu universo,

Interno ou externo?

Dele sou vítima,

Ator ou diretor?



Pântano de vida,

Úmido ventre da terra,

Meio água, meio terra.

Afundo no inconsciente

Ambiente incomodo

Que diuturno me gera.



Sonho o universo?

Ou de seu sonho faço parte?

Entendo-o como sagrado

Ou um universo laico

Como o da ciência?

Muda se o entendo diferente?



























Se puderes ser...



Se puderes vegetais plantar ...

Adubando a terra,

Preparando canteiros,

Lançando sementes,

Sobre covas que abriu

E cuidando de molhar.



Se puderes vegetais colher ...

Pela manhã

Logo que o sol nascer.

Deles obter, teu alimento,

Teu remédio,

Tua fonte de vida.



Se puderes vegetais perceber ...

Verás toda a força que encerram,

Vivendo entre dois mundos,

Combinando o denso mineral,

Que da terra extraem,

Com a luz mais sutil.



Se puderes vegetais amar ...

Com eles comungar

Da intenção de o bruto sutilizar,

Do denso espiritualizar.

Das trevas iluminar.

De vivificar.



Se puderes vegetais utilizar ...

Colhendo, secando,

Produzindo ungüentos,

tinturas e chás.

Todas as mazelas

Poderás tratar.



Se puderes vegetais sentir ...

Qual mágico pé de feijão,

Que crescendo da terra,

O céu quer atingir.

Verás que qual escada

Também para ti será.



Se puderes com os vegetais aprender ...

Como é simples,

harmonioso e belo

O divino plano.

E que só nos cabe

Plena e integralmente ser.









Quando na Vida se Instala o Caos



O melhor momento para se conhecer alguém,

Incluído aí o se auto-conhecer,

É no meio da mais forte tormenta.

Valorizamos o que é fundamental

Quando tudo que está frágil quebra

Jogamos o ouro e seguramos o essencial.



Tudo de ponta cabeça.

Nada onde deveria estar.

Como o estar no meio de um tufão.

O interno e o externo revirados.

Perdidas a paz e a ordem.

Será que algum dia existiram?



Salve a tormenta que me testa a nau!

Salve o caos que a tudo abala!

Salve os que tem coragem para recomeçar!

Salve o eterno recomeço!



Quem não teve seu íntimo revirado

Pelas vagas revoltas do mar da vida

Pode se sentir seguro, mas falsa segurança

Motivada pela cegueira e pela insensatez.



Parece ser mais forte e verdadeiro

O que se constrói com os destroços.

Por mais simples que seja a construção

É fruto legítimo da esperança.



Que se conserve a fé e a confiança!

Que se acredite no rumo a tomar!

Que se salve o amor e a alegria!

Que o resto pode naufragar!







































Temperamentos



Temperamentos ...

Vem de tempero.

O que da gosto, sabor,

condimenta.



Vem de tempera.

O que colore, tinge,

particular combinação de cores.



Os sábios gregos, antigos,

interrogando a humanidade,

encontravam em cada ser

uma particular combinação,

mas sempre predominando,

um de quatro temperamentos:

melancólico, fleugmático,

sangüíneo ou colérico.



Melancólicos ...

Remoendo o próprio fel.

Perdem-se em seu sofrimento.

Densos, profundos, amargos.

Muito do elemento terra.

Eternamente insatisfeitos.

Seu processo de evolução

é desenvolvendo a compaixão,

abdicando do próprio drama,

dedicando-se ao do outro,

alcançarem uma dimensão maior.

Seu caminho do equilíbrio

é apreender do sangüíneo

algo de leve , solto, diáfano.



Fleugmáticos ...

Voltados para o próprio umbigo.

Tanto lhes faz se o rio corre,

se para cima o para baixo.

Muito do elemento água.

Eternamente satisfeitos.

Seu processo de evolução,

uma vez que pouco drama encerram,

é vivenciando o drama alheio,

ampliar sua visão:

do mundo, da vida e da evolução.

Seu caminho do equilíbrio

é imitando o colérico

se colocar em ação.



Sangüíneos ...

Leves, livres, soltos,

carismáticos e sedutores.

Não há quem não os ame.

Muito do elemento ar.

Seu risco é não se aprofundar.

Saindo da superfície,

aprender a mergulhar.

Seu caminho do equilíbrio

é do melancólico absorver

algo de denso e profundo.



Coléricos ...

Permanentemente em ação.

Demasiada reação.

Bateu, levou.

Muito do elemento fogo.

Seu processo de evolução,

envolve o ígneo acalmar.

Apascentar a alma.

Dos cavalos o controle retomar,

para com sabedoria agir.

Seu caminho do equilíbrio

passa por aprender com o fleugmático

a calma, a espera, a paz.



Temperamentos ...

Fornecem as pitadas de tempero,

que da o sabor de cada um.

Fornece a tempera,

que nos colore a personalidade.



Mais fácil conviver

com os temperamentos próximos.

Difícil permanecer

com o oposto complementar.

Monótono ficar somente

com seu próprio temperamento.



Algo mais a aprender,

na longa aventura do homem.

Que saindo da divina casa

perambula pelo universo.

Vivendo, errando,

acertando, aprendendo.

Até o retorno, pleno,

à sua verdadeira morada.

























Se conselhos eu pudesse lhe dar ...



Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Lhe diria que precisa, a leveza, praticar.

Cantar na janela, nadar no rio, caminhar descalça.

Escutar o canto dos pássaros, o barulho da chuva,

O silêncio das manhãs de domingo.

Dançar sozinha ou acompanhada,

No nascer ou por do sol.



Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Eu lhe lembraria viver a vida.

Da forma mais plena e integral.

Experimentar cada pequeno gosto.

Guardar da vida tudo que teve sabor.

Pois a essência do que se viveu

é, tudo, tudo o que se tem para levar.



Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Insistiria em que se dedicasse ao que

verdadeiramente importa.

Voltar-se para cultivar o interno

crendo que lá existe um mui belo jardim.

Lá brincaria, como uma criança

correndo, entre as flores, atrás de borboletas.



Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Lhe falaria de abrir os olhos,

E ver a beleza de um pardal.

Vital e inteiro no sobreviver,

preservando a alegria no seu saltitar.

De achar belo tudo que é vivo

e de até na pedra, vida, encontrar.



Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Lhe diria para não esquecer a alegria.

Diferencial fantástico de uma vida e outra.

Quem a possui tem um dom,

Que não se pode furtar.

Mas que por sorte contagia

E quanto mais se doa mais tem.



Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Lhe mostraria todas as flores perfumadas

para que aspirasse todos os perfumes.

Mas pediria que paciência tivesse

com aquelas que não tem fragrância,

mas ainda assim são tão belas.

E refletisse sobre as que não achasse belas.

Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Lhe levaria a mergulhar em alto mar,

Observar os peixes, lagostas, tudo o que há.

Admirar-lhes o movimento, o fluir.

Procurar deles imitar o espontâneo

no viver, no se mover, no amar,

Em completa entrega ao mar.



Se conselhos eu pudesse lhe dar ...

Pediria que junto aos pássaros voasse,

sentisse a brisa fresca em seu rosto,

Visse do alto a beleza dos campos,

Cobertos de grama e flores.

Aprender a liberdade interna

Única verdadeira e possível de ter.



Se conselhos pudesse eu lhe dar ...

Sussurraria para dar sempre graças.

Em voz alta e plenos pulmões.

Graças pelo que teve e pelo que não teve,

Pelas possibilidades, pelas intenções,

Por todo o belo, o bom e verdadeiro,

E até pelo que ainda não é assim



Se conselhos pudesse eu lhe dar ...

Seria lhe contar que dentro há de achar,

Todos as qualidades que só nos outros vê,

Todos os dons, virtudes e perfeições,

Pois `a imagem do Pai foste formado,

Se ao espelho só cabe refletir ...

A perfeição impõe-se descobrir.



Se conselhos pudesse eu lhe dar ...

Lhe contaria de planos espirituais,

de infinita graça, luz e beleza,

Não para que se apresse lá chegar,

Pois na casa do Pai existe sempre

um lugar preparado `a sua espera.

Mas para que tenha paciência até lá.



Entretanto, conselhos, preciso eu próprio ...

Necessito profundamente parar e refletir

Sobre todos estes e mais, decerto, alguns.

Mais que prescrever receitas

as preciso receber e segui-las.

O esforço de ao outro querer curar, bem sei

É reflexo de como Quiron, a ferida perceber.



























A Alquimia Interna



Da ganga bruta extrair,

O endurecido mineral.

Purificar, cristalizar,

Condensar, materializar.

Individualizar a substância.

No denso, penetrar.



No processo interno,

Auto-conhecimento.

Descobrir onde é denso,

cristalizado, mineral.

O que se tornou pedra?

Quanto na matéria, se penetrou?



Persistir no trabalho alquímico.

Quebrar, moer, triturar.

No almofariz o pistilo a girar,

Processar, processar.

Fragmentar, aumentando a superfície.

O inerte superficializar.



No plano interno,

de forma espelhar.

Trabalhar dificuldades,

imperfeições, amarras.

A tudo quebrar,

e até do defeito a essência alcançar.



Levando ao fogo o cadinho,

O chumbo derreter.

Fazendo com o fogo a fusão.

Mantendo em vista a meta,

de transmutar.

Todo o denso subtilizar.



No fogo do coração,

Fundir toda a dureza,

Labutar, fazer, refazer,

Buscar alcançar.

Elevar o chumbo interno

Ao radioso estágio solar.



Ao combinar substâncias,

As diferenças unir,

Outras formar,

Coagular, solver, volatizar,

Sal, Mercúrio, Enxofre,

Um no outro transformar.



Dentro de nós mesmos,

O mais rico trabalho,

Todo o cristalizado, fluidificar.

Todo o líquido, sublimar.

Todo o volátil, condensar.

Mudar, transformar, transcender.



O que é líquido destilar,

a essência extrair, devagar.

Com extremo cuidado,

avançar, tendo a iluminar

o estreito caminho,

o intuir, e nele acreditar.



Penetrar em seu âmago,

Refinar sentimentos,

Purificar pensamentos,

Fortalecer o correto querer.

Estabelecer metas e com coragem

na interna oficina, labutar.



Ter como última intenção,

Espiritualizar a matéria,

Partindo da terra,

com as forças da água,

do fogo e do ar,

Ao céu almejar.



Fazer o casamento

de Apolo e Dionísio.

Sizygium alquímico.

Sem os sentidos negar,

Em pleno equilíbrio,

O espiritual alcançar.

















































A Matinha Que Não Queria Queimar



Na vertente sul,

da pequena colina,

aquela matinha

sossegada existia.



Convivia com o vento

que soprava manso

lhe trazendo carícias

daquele amor antigo.



Agradecia a chuva

Que lavava as árvores

infiltrava na terra

trazendo tanta vida.



Tinha uma relação

harmônica e cúmplice

com o solo a seus pés,

seguiam bem, juntos.



Abrigando vida:

Pássaros nos galhos,

insetos nas folhas,

fungos no tronco.



Num outro ritmo,

tempo de eternidade,

vivia a matinha

querendo ser floresta.



Tudo era sereno,

pacífico, e verde

naquele mundinho

repleto de vida.



Em volta o homem

fazia queimadas

sem sequer perguntar

se medo sentia.



Fogo, labaredas,

o solo queimado,

a vida fugindo,

quando podia.



O incêndio se alastra,

o fogo pega a mata,

a madeira crepita,

fumaça, fumaça...



Morre tanta vida,

nenhum pesar sentiram,

pelo fungo que havia,

pelo ninho num galho.



Formigas, lagartas,

pequenos roedores.

Que importância tinha

se acabaram com as flores?

































































A Sacerdotisa



Sacerdotisa, vestal,

mulher sagrada, proibida.

Designada a ser canal

entre divino e terreno.

Realiza a dança sagrada,

cuida do templo,

um permanente ritual.

Primeira entre outras

tocada somente pelo Inca.

Mediadora do divino,

mas ser terreno igual.

A paixão lhe toca o peito,

lhe inflama um amor carnal,

proibido eternamente

por regras impostas , brutais.

Definha, pelo impossível.

Dedica-se ao celeste.

Torna-se puma,

transforma-se em águia,

sem poder ser a serpente.

Perde-se ao total.































































A Sombra



Presença subterrânea

sempre a espreita.

Para cada escolha feita

outra possibilidade existe.



Reverso da medalha

nunca assumido.

Este lado escuro

que nos amedronta.



Cruel dilema

vive a humanidade.

Eterno oscilar

entre luz e trevas.



Permanecer em plena luz

ideal espiritual.

Implica negar

corpo e terra.



Mergulhar nas trevas

satisfação terrena.

Implica abdicar

do espiritual.



Vejo o escuro no outro

não percebo que é espelho.

Procuro meu escuro

de mim mesmo ocultar.



Culpa, percepção

de minha própria escuridão.

Que tolda no interno

A luz que quer brilhar.



Supressão da sombra

caminho do sofrimento.

Redenção do asceta

permissão de luz.



Repressão da sombra

para o mundo subterrâneo.

Ressurreição um dia

com forças redobradas.



Tolo, o homem atado ao racional,

perdeu seu universo

mítico, simbólico, sagrado,

Que seu sofrer aplacava.



Possuído por Hybris

empáfia tamanha

Quanto mais absoluto se acha

mais frágil se encontra.



Diuturna batalha

Entre luz e trevas.

Microcosmo no macro

O campo de batalha é o homem.

































































































Visceral



O teu lado bicho

te fornece a força

e a expressão.

Te conecta,

de forma visceral,

com o universo

e a natureza.



Busques do peixe o mergulhar.

Busques do anfíbio o se adaptar.

Busques do réptil o ser e o estar.

Busques da ave o se projetar.

Busques do mamífero o se tornar.



Esqueças o que teu ego

condicionou,

Transcendas tua condição

estática.

Mantenha somente

um respeitoso amor.

Projeta-te, pois que tudo

é vida igual.

Sejas uno com o todo

e com o individual.

























































Tributo à Gaia



Gaia vive,

é orgânica,

pulsa

e sente.



Gaia é una,

respira

com as florestas

e com as algas do mar.



Gaia interage.

Um local degradado

se torna um deserto,

em defesa.



Gaia percebe,

com consciência primeva,

se lhe cuidam,

ou agridem.



Gaia circula,

sua lava interna,

suas águas externas,

seu sangue.



Gaia ama,

o universo,

e seu micro universo,

nela



Gaia convida,

toda vida,

a florescer

e exultar.





































O Fluxo



Desnudar-se do ego.

Atitude serena.

Deixar o interno fluir.

É preciso mergulhar,

se projetar,

e a tudo com a alma tocar.

Com amoroso respeito,

em silêncio e paz.

Cabe aos olhos fechar,

outros olhos abrir,

do coração transbordar,

todo o amor.

E ao dar receber,

sem pedir.

Para mim

só existe de fato,

o presente.

Minha missão é estar

disponível e pleno

no agora e aqui

Para sentir

do vento o frescor,

do sol o calor,

da terra o peso,

do rio o acolhimento,

da árvore o tronco.

Uno com o universo.

Pronto para servir,

quando precisar.

De tudo o mais se desligar,

se devolver ao todo,

disponível a todos.









































O Melhor Instrumento



No início dos tempos,

Quando o universo começava,

Cada sentimento recebeu,

Uma nobre missão.



Coube à alegria

A importante missão

De descobrir a formula

Para as crianças fazer sorrir.



Coube a curiosidade

A essencial função

De, para o mundo,

As crianças despertar.



Coube a verdade

Missão dificílima

De nos corações

infantis, se alojar.



Coube a virtude

A sublime missão

De, as pequenas almas,

Com a ética temperar.



Alegria, curiosidade,

Verdade e ética,

Puseram-se a trabalhar,

Experimentar, tentar.



Descobriram afinal

O maravilhoso segredo

Para crianças desenvolver

O melhor instrumento é o brincar.





































O Solzinho que Virou Pequi



No começo da criação havia

um germezinho de estrela

destinado a criar um belo sol

numa galáxia distante.



Um dia na sua infância, viajando

para, curioso, conhecer o universo

aproximou-se da terra,

e, súbito, apaixonou-se.



Viu terra, areia e pedra.

Viu mato, arbusto e árvore.

Viu peixes, lagartos e pássaros.

Viu criança, homem e mulher.



Rebelou-se, fez pirraça.

Sabem como são na infância.

São todos iguais ...

Sóis e crianças.



Queria! Porque queria!

Queria aqui ficar.

Muito solitário seria

se tornar um sol distante.



Pediu, suplicou,

E a Deus tornou a pedir.

Que transformasse seu destino,

Na terra queria morar.



Rápido, vendo que sol já tinha

Ofereceu-se para em uma árvore

Pequeninos sóis criar...

Assim surgiu o pequi.





































Nosso Abraço



Leve contigo a energia do abraço,

que trocamos ao nos despedirmos.

Um abraço que pretendeu ser terno,

mas cuja força revelou calor.

Guardo na memória,

o súbito e espontâneo abrir de braços.

Além do sorriso que te iluminou a face,

quebrando a tensão que ambos sentíamos.

Parta, filho, para teus primeiros vôos,

com teus olhos, qual águia, abertos ao todo.

Conserves a integridade que te é nata,

revelando tua força de leão e candura de cordeiro.

Não percas tua sensibilidade que revelas,

ao piano, trazendo para cá a música das esferas.

Continues tenaz, como até agora,

detentor do segredo de metas perseguir.

Mantenhas tuas braçadas firmes,

percebas que agora tua água é a vida.

Estou cônscio que partir precisas,

romper com o berço, crescer, florescer, frutificar.

Considero uma honra ter te recebido,

como pai e amigo em nossa casa.

Tua casa, agora, aos 15 anos,

é o mundo, o planeta, toda a terra.

Sou te eternamente grato,

por ter me escolhido como pai.

Tanto aprendi contigo,

mais que te ensinei.

Viestes tão pronto, tão nobre,

ao mesmo tempo singelo e altaneiro.

Sair de casa é teu rito de passagem,

siga e voltes quando sentir que é hora.

Não te esqueças deste abraço,

se porventura te sentires só no mundo.

Nossa única dádiva para ti, concluo,

foi te amar tanto e tão incondicionalmente.

































A Caminho da Luz



Encerrado nas profundas trevas do homem,

existe uma faísca de luz,

doação divina,

que lhe inflama a busca do caminho.



Segundo todos os textos sagrados:

Taoístas, Vedas, Evangelhos, Corão ... ,

no homem se esconde, arquetipicamente,

a imagem de Deus.



Existe um mundo,

da unidade arquetípica não manifestada,

mundo espiritual,

mundo de Deus.



E, um mundo de multiplicidade manifesta

nos seus diferentes níveis de realidade,

mundo denso,

mundo dos homens.



A linguagem dos mitos,

herança de todos os povos,

permite através dos símbolos, syn-bolein,

unir o mundo arquetípico ao manifesto.



Ao contrário, o dia-bolein, separa os dois mundos,

deixando vagando os arquétipos,

privados de sua exata referência e significância,

lançando nas trevas, o homem.



Privado da consciência,

do seu pólo luz,

o homem caminha ,inexoravelmente,

para a morte.



Somente caminhando

para sua veste de luz,

o homem, que na verdade é luz,

atinge a verdadeira vida.



























A Sombra do Véu



Vislumbrar a sombra do véu

que cobre, de Deus, a face.

Êxtase máximo

de uma proposta mística.



Me interrogo se o árduo

caminho para tanto

é projeção externa no cosmo

ou interna no microcosmo.



Missão difícil.

Possível? Impossível?

Talvez seja a única,

reflito ainda.



Voltar para o interno

prescrutar a alma,

decifrar mistérios,

rotas, incógnitas.



No micro universo

vislumbrar o infinito.

Será nossa alma

reflexo da sombra do véu?

























































Arco-Íris



Em todas as mitologias,

o Arco-Íris é caminho e mediação,

entre a terra e o céu.



É uma ponte,

de que se servem, deuses e heróis,

entre outro mundo e o nosso.



O Arco-Íris

nos lembra, na Grécia, a Íris

a mensageira dos deuses.



A Bíblia, faz do Arco-Íris,

o sinal da Aliança,

entre Deus e os homens.



Composto por 7 cores.

E toda cor surge do entrelaçamento,

entre luz e escuridão.



Cada Arco-Íris é único,

Fruto da interação,

da luz, umidade e o teu olhar.



Com a luz às tuas costas,

ele se forma sobre uma nuvem,

a 42 graus, da projeção de tua sombra.



Vermelho sua cor mais quente,

nos liga ao infinito da natureza,

com amor pelas criaturas.



O Laranja nutre,

nosso próprio calor interno,

suas qualidades e falhas.



O Amarelo, solar, nos fortifica interiormente,

com a possibilidade do estar enquanto humano,

inserido em paz no mundo.



Absorvendo o verde do Arco-Íris,

abre-se as portas da admiração,

e compreensão da natureza.



O frio azul,

pacífico estado de alma,

nos projeta ao céu e ao espiritual.



O índigo

nos permite a percepção pura

de desvendar os segredos da escuridão.



O violeta,

nos inspira a recolhimento

e oração.





































































Para Lutar um Bom Combate





Para lutar um bom combate .

Escolhas com cuidado teu dragão.

Percebas bem onde ele está,

Se interno ou externo a ti.



Para lutar um bom combate.

Prepares com esmero tuas armas.

Não esqueças de estar no comando.

Fortaleças teu Eu, primeiro.



Para lutar um bom combate.

Elejas a tua Dulcinéia.

Objeto de teu amor,

Razão de tua luta.



Para lutar um bom combate.

Reflitas o teu papel.

Queres ser Dom Quixote,

Sancho Pança ou a cavalgadura?



Para lutar um bom combate.

Podes encontrar dragões,

ou meros moinhos de vento.

Mais valor tem o lutar, do que com quem.



Para lutar um bom combate.

Não te esqueças que és um cavaleiro.

Sejas nobre, correto.

Mais vale perder a luta que o rumo.



Para lutar um bom combate.

Alimente a tua eterna criança.

Não percas a doçura e o encanto.

A vontade, de na trégua, com o dragão brincar.



Para lutar um bom combate.

Saibas que umas batalhas,

Se vence outras se perde.

O que importa é o que se aprende.



Para lutar um bom combate.

Cuidado com o escuro que te cobre.

Não deixes que a luz te ofusques.

Mais que a luz externa valorizes a interna.



Para lutar um bom combate.

Afies com precisão tua espada.

Captes mais do que a dureza do aço.

Dela o essencial é a agudeza.



Para lutar um bom combate.

Prepares tua lança com carinho.

Absorva de tua arma ,

A precisão de chegar ao justo ponto.



Para lutar um bom combate.

Vencer é absorver do dragão.

Às forças que não tens.

Tornar-te uno com o vencido.











































Ao Parque Estadual do Rio Doce



Às portas do parque pare.

Solicite permissão.

Adentre em silêncio.

Quase em oração.



Sinta, não somente veja.

Contemple, não somente mire.

Aspire, não somente respire.

Quase em sagração.



Perceba a brisa mansa.

Agradeça pelo ar puro.

Sinta do ar o movimento.

Quase em comunhão.



Penetre as águas mansamente.

Extasiado com o belo.

Com ela toque o corpo.

Quase em unção.



Entre na trilha respeitoso.

Percorra a floresta atento.

Sinta a pujança da vida.

Quase em consagração.



Que seus olhos toquem a vida.

Perceba dos macacos os saltos.

Dos pássaros o longo vôo.

Quase em veneração.



Que o conjunto te transforme.

Que a divina obra perceba.

Por traz de cada paisagem.

Quase em divino êxtase.





































Ode ao Parque Estadual do Rio Doce



Abra os olhos da alma

e sinta onde está,

santuário sagrado,

do verde, da água e do ar.



Com silêncio e respeito,

penetrar na floresta,

na verdade deixar-se

por ela penetrar.



Comungar com o todo,

ver no vento e nos pássaros,

em cada bicho

na terra, um irmão.



Caminhar pela trilha,

com a serena intenção

de tudo preservar,

nada deixar, nada levar.



Sendo o grande presente,

interno movimento,

de sendo humilde e pequeno,

em sintonia com o planeta, ficar.



Desnudar-se do ego,

e em paz com o universo,

deixar o interno fluir

e com ele uno ficar.



Do coração transbordar

todo o amor

e ao dar receber

sem pedir.





































Nuances



Me disse a Sabedoria,

que todos os Prazeres,

eram somente, Maia, Ilusão,

devendo ser eliminados.



Ao fazê-lo,

me senti sem sintonia,

embora ainda aprisionado,

no mundo dos homens.



Retomei o caminho, buscando,

ver a luz que me ilumina os passos,

sem negar o escuro, que permeando,

me permite perceber, nuances e meios tons.













































































Ecos Internos



Lançada a pedra,

Sobre a face plácida do lago,

Surgem ondas concêntricas,

Eco do toque original.



Palavras,

Vãs ou não,

Desencadeiam,

Buscas internas.



Será responsabilidade minha?

Do meu interno?

De quem atira a pedra?

Ou da pedra?













































































As Palavras



O universo

pelo verbo foi formado

em todas as mitologias.



O homem,

qual deus inconsciente,

solta a esmo, palavras.



Esquecido

do poder e força que

uma só encerra.



Sê sábio,

pese cada palavra,

antes de lançá-la ao vento.



Ou ainda melhor

pondere ainda mais

e cale-se.



































































Ao Meu amor



Quero um céu, estrelado, iluminado por uma lua intensa.

Quero a música que o mar faz ao se quebrar na praia.

Quero a brisa que nos lambe a face como cachorro manso.

Quero o cenário completado por coqueiros.

Quero o sossego e a paz dos iluminados.

Quero a areia como cama macia e como travesseiro.

Quero teu corpo ao lado, simplesmente, abraçado ao meu.

Quero longos silêncios, que expressem muito.

Quero sentir o cheiro que teu corpo exala, e é tão bom.

Quero beijar teus cabelos, docemente, para que o momento seja eterno.

Quero que gentis vaga-lumes nos sejam companheiros.

Quero que anjos, em segredo, toquem harpa.

Quero que musas inspiradas nos inflamem.

Quero que sereias cantem, embora, sem que estejamos atentos.

Quero que fadas se ocupem de tudo tornar mágico.

Quero que peixinhos do mar nos espiem sorrateiros.

Quero que a noite, amiga, nos cubra com seu manto escuro.

Quero que o sereno nos refresque por inteiro.

Quero confessar meus segredos ao teu ouvido.

Quero embevecido ouvir os teus enredos.

Quero risadas bobas, meio sem sentido, mas acharemos tudo tão profundo.

Quero ter integral cumplicidade.

Quero dizer coisas banais e ser compreendido.

Quero que baste a intenção tamanha.

Quero te dar o universo inteiro.

Quero que sinta que ele não está fora.

Quero que o encontre no âmago de um mero olhar.

Quero abrir meu coração para que a poesia saia.

Quero que assim possamos em sintonia com o cosmos ficar.

Quero que acredite que isto é possível.

Quero abrir meu mundo de sonhos e te chamar para entrar.

Quero simplesmente minha metade cósmica partilhar.

Quero te namorar e te dizer que amo.

Quero ser teu e te fazer feliz.







































Ao Intangível



Na imensa solidão

de saber-se um indivíduo

entre muitos,

a sintonia com um amigo

restaura por frações de tempo

uma antiga memória

de cósmica comunhão

paradisíaca.

Tocando em memórias

guardadas em minha alma,

como que em um baú de tesouros,

imateriais, intangíveis.

Mas verdadeiramente reais.

Onde estão os sentimentos

que ocasionaram:

Os amores

que por ventura tive;

Os lugares mágicos

que marcaram;

As minhas iniciações

conscientes, ou inconscientes,

nos quatro elementos.

Seja nos meus elementos:

a água e o ár.

Seja nos que me inicio agora:

a terra e o fogo.

- Ao me sentir uno com o mar,

rios, lagos, cachoeiras

e com amoroso respeito

neles me fundir

e me reabastecer.

Ao sentir meu amigo,

o vento,

Que tudo movimenta e muda

Fora e dentro de mim.

Ou nos mistérios

da densa terra,

onde com esforço

venço o peso e a inércia.

Em troca ela me desvenda

seus montes, vales, pradarias.

Ah ! nos domínios de Agni !

lembrarei eternamente

do fogo sagrado que acendi,

alimentei

e que me revelou

força, calor e luz.

Amigos são cúmplices

de sonhos, ideais,

espaços de tempo.

Passam a ter memórias,

identidades em comum.

Embora impossível

de dissecar ou explicar,

o que permite uma amizade.

Saiba,

Que tenho em ti,

independente do tempo,

da distância

e alem da própria vida,

um porto seguro,

um fraterno,

amigo.

























































































O Equilíbrio



Não se permite ao homem

o perfeito equilíbrio

estático

de uma escultura

de Rodin ou Degas.



Jogados

sem controle

como uma garrafa

nas ondas

de um mar revolto.



O mais próximo

do equilíbrio viável,

ao homem, almejar

é o equilíbrio instável

do pêndulo de um relógio.



Como a natureza

que sabiamente

alterna

tempestade e bonança

ventos e calmaria



Cabe ao homem

alternar

alegria e tristeza,

trabalho e descanso,

êxtase e sofrimento.



O segredo

do equilíbrio humano

está no saber

manter do barco

o curso.



Desviando das rochas

e da calmaria

com as velas alegremente

abertas

sem perder o rumo.























Credo



Creio no renascer do homem

a cada manhã.

Na possibilidade de, eternamente,

recomeçar.



Creio no livre arbítrio,

que em potência temos.

Permitindo ao homem transcender

o denso, o pesado, suas amarras.



Creio na capacidade humana

de se extasiar diante do belo.

No iluminar da alma, deslumbrada,

pela arte ou pela natureza.



Creio na mudança de rumo

por uma nova percepção.

Ocasionada pelos ecos internos

de uma palavra, uma flor ou por do sol.



Creio que dentro do rude corpo

habita um ser de luz.

Do qual, o que vemos como verdadeiro,

é somente pálida sombra.



Creio que nossa meta

é a verdade, o belo, o luminoso.

Sendo as trevas somente

um, momentâneo, contraponto.



Creio, intrinsecamente,

no homem.

Que embora, disto, esquecido

em sua essência espelha divina luz.





































As Trevas



Nesta existência

predomina em nossa percepção

a ilusão.



Corremos atrás do material,

do efêmero, do fugaz,

esquecidos da essência.



Vivemos dramas pessoais,

atados a uma teia,

de enganos, trevas e sombras.



Escolhas condicionadas,

muito encadeadas por eventos

passados ou futuros.



Vivenciamos muita treva,

muita sombra,

muito pouca luz.



Embora, de certo ponto de vista

as trevas e o mal

sejam reais.



E, na escuridão

possa, por muito tempo,

o homem se perder.



Olhando com mais distância

a jornada humana

seu destino é a divina luz.



Diante da força que encerra

um simples raio ilumina

as trevas.



Bastando ao homem

tornar-se consciente

do seu sol interno.



Para que a treva não mais represente o mal,

mas cumpra seu divino papel

de entretecida, com a luz, libertar a cor.



















Elogio à Loucura



Ensandecido

Desmiolado

Destrambelhado

Desparafusado

Doido

Lelé

Louco

Maluco

Tantã

Tresloucado



O que é a loucura

além

de um olhar diferente

sobre o cotidiano?



Só por isto

Já é louco

o olhar

do poeta.



Um olhar de formiga

veria tanto desperdício

no aparar a grama

para se jogar no lixo.



Um olhar de beija-flor

não entenderia

tanto,

tanto, concreto.



A um olhar de cobra

repugnaria

tanta comida morta,

tanto cachorro-quente.



Um olhar do bicho-preguiça

interrogaria:

Correndo tanto

onde pensam que vão chegar?



A um olhar de peixe ...

Ter-se-ia indignação

com tanta poluição

em rios e mares.



A um olhar den bactéria ...

Tanta soberba!

Acharam que antibióticos

iam nos vencer ?



Um olhar de leão ...

Perplexo!

Caçam e matam,

sem estar com fome?



A um olhar

de homem:

Somos o ápice

da criação!



A um olhar de anjo ...

Mas que trabalho,

insano,

velar por eles.



A um olhar

do planeta Terra ...

Santo Cosmos!

Quando vão aprender?









































































Saúde



Da percepção,

Da visão de um fenômeno,

De sua compreensão,

Depende o enfrentamento,

A ação.



Saúde ...

O que seria saúde?

Então?



Corpo são,

Seria a definição,

Completa e total,

Do estado

Raro e vital?



Físico e psicológico

Em indissolúvel união,

Doendo,

Corpo ou alma,

Um sofrimento total.



Saúde ...

O que seria saúde?

Então?



A doença social,

Miséria,

Ausência de trabalho, habitação,

Paz social,

Menos grave seria?



Se lhe faltam os meios,

os instrumentos,

O mínimo arcabouço social,

Aprisionado pelo momento histórico,

Adoece, fenece, o homem, igual.



Saúde ...

O que seria saúde?

Então?



Multifacetado ...

Qual diamante bruto,

Em lapidação,

Urge ao homem fazer brilhar

cada uma e toda face.



A dimensão física, psicológica,

Mental, profissional, afetiva,

Sexual, social, econômica,

De qual delas abdicar?

E ser completo, realizado, integral?



Saúde ...

O que seria saúde?

Então?



Seria correto

Ver o corpo

Qual máquina

Esquecendo sua ânsia

Pelo espiritual?



O homem pleno vivência,

Com respeito, o meio ambiente,

Evoluindo em harmonia,

Alimentando-se da terra,

E aspirando o céu.



Saúde ...

O que seria saúde?

Então?



Pode

O homem comum,

O cidadão,

Discutir, opinar,

Decidir sua própria saúde?



Autonomia

Livre arbítrio, respeito,

Capacidade de intervir, voz.

Se faltam, perde-se o rumo

Individual e do sistema.



Saúde ...

O que seria saúde?

Então?



Da percepção,

Da visão de um fenômeno,

De sua compreensão,

Depende o enfrentamento,

A ação.

























Enfim o Amor



Os Gregos,

em sua sabedoria,

Tinham não um,

mas três vocábulos,

para designar o amor:

Eros, Filia e Ágape.



Eros, o amor sensual,

sonhar com,

e o entregar-se a alguém,

talvez, a primeira lição,

no longo caminho,

do aprender a amar.



Filia o amor,

como cuidar,

o amor irrestrito da mãe,

Pelo fruto,

de seu ventre,

ou de seu coração.



Ágape,

o amor fraterno,

universal,

cujo maior exemplo

foi o de Cristo,

por todos nós.



O amor,

flor bela e rara,

de difícil cultivo,

que para ser alcançado,

em todo seu esplendor,

tem exigências.



O Amor verdadeiro,

respira liberdade.

Tal como um pássaro,

belo e selvagem,

definha e morre,

se aprisionado



O Amor é doação.

Alimenta a quem doa,

sem exigências.

Refletido em outro coração,

e correspondido,

Glória suprema.



A antítese de Amor

enganam-se as pessoas,

não é o ódio ...

Que as vezes antecede

o Amor.



Mas o não perdão!



O Amor não conhece barreiras,

como tempo ou espaço,

Embora por isto esquecermos,

nos doa, a ausência física,

do ser amado.



É um aprendizado,

longo e difícil,

talvez o maior,

que viemos fazer.

Dói, mas enfim,

é o Amor.













































































Meu Paraíso



Meu paraíso,

Pintado

Com as tintas de Monet,

Tem barulho

De rio correndo manso,

De cachoeira alegre,

De pássaros nas margens,

De Bem-te-vi.

Meu paraíso,

Tem borboletas,

Miríades ...

De todas as cores

E gestos.

Tem flores

De todas as formas,

Perfumes,

Emoções...

No meu paraíso,

escuta-se

Vivaldi,

As quatro estações,

Ou Bach,

O Johan Sebastian.

Tem gramados,

Para sentar no chão,

Encostado

A grossas árvores

E na sombra amena,

Se fartar

De preguiçosamente

Contemplar

O céu,

Estrelas,

A lua,

O sol,

A luz.

No meu paraíso

Cabem todos

Os meus amigos

Os que amo,

Meus mestres,

Meus poucos ídolos,

Meus cachorros,

Peixes,

Periquitos,

Além de todos

Os outros bichos

Que não ouso

Chamar de meus.

Meu paraíso

É repleto

De pedras,

Cascalhos,

Areias,

Terras,

Cristais.

No meu paraíso

Todas as plantas

Vicejam

Tão belas

Com todas as nuances

De marrons e verdes,

E surpreendentes

Explosões de cores

Floridas.

Ao meu paraíso

Se chega

Por uma senda

Estreita

Serpenteando

Por vales,

Planícies,

E montes.

É tão longe,

Tão perto.

Passando por

Um grande portal

Cujas chaves

Lhe dou.

Meu paraíso

Está disponível

Se preciso for

No meu,

No seu,

Interior













































































A Infância



Que a infância seja bela.

Que se ensine a amar.

Que se enriqueça a alma.

Que se conte histórias.

Que se leve a passear.



Que cada floresta esconda um tesouro.

Que cada árvore seja um mundo inteiro.

Que cada cascata provoque êxtase.

Que em um riacho passe um dia inteiro.

Que o brincar seja o aprender.



Que uma bola possa valer a pena.

Que o jogar ensine a se relacionar.

Que se aprenda a ganhar ou perder.

Que a ênfase seja no conviver.

Que se forme adultos que tenham prazer.



Que as crianças possam ser tocadas.

Que o cumprimento seja abraçar, beijar.

Que o colo seja um direito.

Que rir seja cotidiano.

Que não haja dúvidas do gostar.



Que o impor limites seja por amor.

Que os limites sejam claros.

Que de suas razões não se precise duvidar.

Que a autoridade seja branda.

Que o impor seja só o que necessitar.



Que a infância seja harmônica.

Que a paz interna e externa possa acontecer.

Que sendo amado possa os outros amar.

Que se sinta a casa um verdadeiro lar.

Que amando a casa possa o planeta amar.



































Nossas Raízes



Raízes são, dos vegetais, cabelos.

Abandonam a luz, entranham-se na terra.

Buscam o denso, que subtilizam.

Permitindo o milagre da vida.



Nossas raízes, por um lado nos prendem.

Nos amarram a, um como que, delineado destino.

Por outro nos alimentam, nutrem.

Permitindo o extrapolar, risco e possibilidade.



Enraizando-se o vegetal ,

as vezes, na tosca face da pedra.

Outras na mais rica terra.

Que intenção o movimenta?



Na vivência humana menos predeterminação?

A possibilidade de escolha, quanto sofrimento!

Glória e pecado, vício e redenção.

Que intenção nos movimenta?



Perpassa á raiz o propósito,

da missão vegetal,

de vivificar o bruto mineral?

Disto ela tem consciência ?



Nossas sutis raízes herdadas ou vivenciadas,

dentro de um aparente jogo do acaso,

nos permitem a perdição ou a salvação.

Disto temos consciência?



A pequena semente desvenda-se em raiz e folhas.

Milagrosamente apoiando-se em algo tão frágil,

ergue-se na tão frondosa árvore.

Consciência concentrada do grande no pequeno.



Com nossos cabelos / raízes ao vento, soltos, livres,

mas de tão libertos, sem ponto de apoio e eixo.

Luz e escuridão, nosso eterno dilema.

Se escuridão é morte, excesso de luz queima.



























Qualidade de Vida



Preciso de cultura e arte

como preciso do ar para respirar.

A música me alimenta

como o arroz e feijão cotidiano.

Não me basta sobreviver

preciso pensar.

Quero ser, cada vez mais,

ator no meu viver,

menos marionete.

Quero ter paz interna e ao meu redor.

Criar meus filhos livres e felizes,

ver meus netos crescerem,

poder com sabedoria envelhecer.

Preciso de democracia, de opinar.

Que as idéias sejam respeitadas

e o direito a expressá-las questão de fé.

Ter o direito de cultuar meu Deus,

mas defender com unhas e dentes

o direito de quem não quiser crer.

Quero viver em um mundo

em que respeito a natureza seja coisa séria.

Mergulhar em rios de água cristalina

e ao sair ter ar puro para respirar.

Que o verde possa conviver com o urbano

só assim provaremos sermos viáveis.

Que o homem respeite a vida de forma universal

e seja igualmente respeitado.

Que tenha flores e pássaros na minha janela

e que ela possa ficar aberta

para te ver passar.













































O Coração



Espelha o coração

mistérios que os Deuses

não ousam revelar.



Lagrimas furtivas,

dores silenciadas,

males de amor.



Sorrisos amplos,

suspiros velados,

pleno amor.



Idas e vindas,

altos e baixos,

mares que oscilam.



Sentir e sabor,

mesma raiz,

como sentir sem experimentar?



Calar o coração

para não sofrer

esvazia o olhar.



























































Universos Paralelos



Dois seres são

universos paralelos,

que no máximo se tocam,

se tangenciam.



Entender do outro

o interno, a essência.

Exercício possível?

Sonho? Fantasia?



Perceber a mim mesmo

exercício insano,

missão necessária,

jornada de uma vida.



Fitar o outro

que como espelho

desvenda mais que a ele,

a mim mesmo.



































































Cidades Solares ou Noturnas



Cidades solares,

vibrantes de cores,

turbilhão de vozes

passantes, amores.



Cidades noturnas,

Soturnas e sujas,

Tão Lúgubres, que ânsia.

Miséria e violência.



Seria tão bom

Poder separar

A cidade perfeita

Da não tão bem feita.

Poder escolher

Em qual vou morar.



Quimeras, quem dera.

Ambas vivem ao meu lado.

Solares, noturnas,

Amores, violência.

Cidadão, prisioneiro.

De meu lugar primeiro.



































































































Márcio Filgueiras Amorim





























A Arte





A percepção da Arte

incendeia nossos sentidos,

nos ilumina a alma.



A música nos toca

no mais profundo

do ser.



Nos eleva

a dimensões e mundos

inimagináveis.



Pode nos remeter

a um estado idílico

ou a mais pura sensualidade.



Pinturas

com a forma ou a cor

nos aquecem o espírito.



A pintura rupestre

evocação mágica

da caça.



A Arte egípcia

ainda serva

dos deuses.



A Arte grega

momento único

da evolução humana.



A pintura moderna

rompendo com a forma

e libertando a cor.



Leva luz

às nossas

trevas internas.



Ou nos provoca

e instiga a ver

nossa treva e nossa luz.



Esculturas

em que o homem

de criatura passa a criador.



Admirando-as

nos sentimos

maiores.



A dança

onde o corpo

é instrumento.



Transmite noções

de harmonia, leveza

e beleza.



A Arte busca o belo?

A Arte busca a expressão?

A Arte busca a Arte?



A Arte transcende o belo!

A Arte transcende o inteligível!

A Arte transcende o artista!



Forma e cor.

Harmonia e movimento.

Volumes e vazios.



Percepções e intuições.

Impressões e sensações

Êxtases e gozos.



A Arte

essencial a vida,

alimenta o espírito.



“Nem só de pão vive o homem”.







A Arte - I



Se o Trigo e a água ao corpo bastam,

Que oferta, à alma, devemos fazer?

Se o esporte e a luta treinam a força,

Como adestrar o sensível e o anímico?



A alma necessita de embevecer-se,

Como uma cascata ou um por de sol!

A natureza, obra divina, leva ao êxtase!

Do homem, a arte, produz efeito igual!



Esquecido anda o homem de dançar,

Como Davi fez para adorar seu Deus.

A pequena dose necessária de poesia,

Sem a qual a vida perde o brilho e a cor.



Combinar as cores e as formas e encantar

Imitação terrena do ato divino de criar.

Usar o corpo como instrumento e cantar,

O universo, no palco da vida, representar.



















































A Arte Rupestre - II



Mágica cerimônia de invocação da caça

De um homem cujo abrigo é a caverna.

Se tosco parece na distância do tempo,

Sua arte preservada nos desmente.



Carvão e ferrugem que decoram a rocha,

Astros, animais e homens retratados.

Artistas que habitando a rude terra,

Sentem-se espiritualmente rodeados.



Árvores frondosas abrigam espíritos,

Assim como a terra, água, ar e o fogo.

Ter por mãe a terra e por pai o céu,

O mundo invisível nos acolhe e ampara.



A arte que refinando o homem rude

Permite a percepção de si e do universo,

Cumpriu seu papel outrora como agora

Mostra-me a mãe terra e meu pai o céu.



























































A Arte Egípcia - III



Perceba o calor escaldante sobre a pele.

A imagem das pirâmides no horizonte.

A arte eternamente a retratar o belo.

Ambicionando retratar na terra o céu.



O artista que se dedica ao templo

Ou para quem representa Deus na terra.

Importa a grande viagem após a morte

O espiritual evocado em cada instante.



O homem é representado muito rígido

Pouco à vontade ainda está na terra.

A lembrança do divino tudo ofusca

Uma civilização mais santa ou profana?



A queda do plano celeste tão recente

Comunhão com os deuses ainda possível

Lutar contra o caos, desordem e a sombra.

Lembrança da divina luz e da harmonia.































































A Arte Grega - IV



Templo aos deuses ornado e colorido.

O mármore esculpido tudo cobre

O Olimpo e os mitos retratados

Cada história um belo ensinamento.



A pedra dura ganha da seda a leveza.

O atleta com cada músculo retesado.

Prestes a saltar e a correr está a gazela.

A sacerdotisa tem seu gesto eternizado



O artista retrata toda a beleza do corpo

A lembrança do celeste está mais tênue

Descem os deuses em direção ao Olimpo.

Heróis, homens a ascender ao divino.



O homem que assume ser da terra

Abandonando a orientação divina, pensa

Pensar passa a ser a grande arte

O pensamento é a herança que legaram

















































A Arte Moderna - V



Romper os cânones, as regras, humano é.

Cabe sempre as barreiras buscar romper.

A arte se libertou da perfeição da forma.

Até da escravidão do belo se afastou.



Cores mesmo sem a forma tocam a alma.

Pontilhados que ainda impressionam.

Instalação, objetos a esmo, que chocam.

Arte tocando as cordas d’alma.



Vamos dar ao homem o quinhão de pão.

E o que lhe cabe de comédia e drama.

Sem negar, no entanto a arte que redime.

Do tosco a alma com o fogo inflama.



A vida dói ainda mais se consciente.

Reconhecer o sublime êxtase alheio e

A profunda tragédia inerente ao humano.

Só a arte permite transcender o drama.





























































A Arte Pós-Moderna - VI



Rompidos da arte os paradigmas.

Quais os rumos daquela pós-moderna?

Se não mais se retratam os deuses?

Se não mais interessa a natureza?



Se a harmonia e o belo rejeitados

Se a arte agora degradável e repulsiva

Se todos os experimentos foram feitos

Morre a arte por falta de caminhos?



Só resta de comum em toda a arte

O expectador para quem é dirigida

O objetivo da arte é sempre a alma

Tocar o anímico é o êxtase do artista.



Admitindo a paixão entre arte e alma

Restabelecida a possibilidade da arte bela.

Retorna a busca do equilibro e harmonia.

Na arte, como no amor, almas se beijam.



































































A Arte Moderna – VII



Entendo! Não entendo! Que importa?

Sinto! Afeta-me! Bem ou mal!

Liberta a arte de todos os cânones.

Beleza! Harmonia! Natureza! Babel!



Vejo agora o nariz em plena órbita.

Ou o quadro salpicado de pontinhos.

Rabiscos ou arte, eu me confundo.

A cor reinando liberta até da forma.



O homem ousa e pensa e cria.

Aos dogmas busca transcender.

Toda arte reflete a sua época.

O caos humano visto de forma bela.



Inevitável o mergulho no caos criativo.

Antes de construir é necessário destruir.

A arte antecede e vislumbra o futuro.

No meio do caos preserva a essência





























































Guernica - VII



Cada bomba lançada sobre um pueblo.

Bofetada que ressoa na humana face.

Não fique despercebida entre tragédias,

A dor da mãe amparando o filho morto.



Bendita a arte que re-visita a vida

Encanta com o sublime beijo dos amantes

Ou nos condena, estupidez do homem,

Podendo atirar flores ainda atira balas.



A arte imortaliza o amor, ou a dor

Ao conhecê-la obra de arte e digeri-la

Elemento de minha alma ela se torna.

Como o pão se torna parte do meu corpo.



Guernica retrata minha indignação e dor.

Minha alma se recusa a banalizar o terror.

Mesmo distante, até após a morte física.

Agradeço ao artista que minha alma tece.



















































Márcio Filgueiras Amorim





























Quando Chega o Circo



Banda de música que toca à frente

Daquela esdrúxula e longa procissão

Tem anão, mulher barbada, leão,

Engolidor de fogo, palhaço e cão.



Armando a tenda no pasto aberto,

Forma-se logo curiosa, a multidão.

Nada como o exótico para afastar

O tédio, o banal e até o sem tesão.



Agita-se a criançada e os velhos,

Mulher vindo com filhos pela mão,

Fazendeiro, barbeiro, açougueiro,

Encantamento não faz distinção.



Quando começa a tarde o espetáculo

Ninguém respira na hora do trapézio

Gargalham ou choram junto ao palhaço

Alimentam a alma, coitada, desnutrida.























































O Palhaço



Sinto a tristeza de todo palhaço,

Sem sequer me obrigar a fazer rir.

Palhaço que esqueceu a maquiagem,

Desprotegido, expondo a própria face.



Seguindo tosco, desajeitado e torto.

Tropeçando, meio a esmo, pela vida.

A única salvação é me travestir de arte,

Adentrar esta bela e mágica dimensão.



Pintar a cara, avermelhar o nariz.

Vestir roupas largas e disformes.

Atravessar o portal que separa o banal

Do essencial, extraordinário e único.



Rir de mim mesmo, síntese do humano.

Percebido o imperfeito, que o riso purga.

O que deve importar é a transcendência.

Possibilidade da arte ainda que circense.



































































O Bailarino



Tocando o solo, como se o rejeitasse,

Com a ponta dos pés somente e logo

Lançando-se aos ares. Como se as bodas.

Do telúrico com o celeste, do peso livrasse.



Trabalha em torno e sobre a verticalidade,

Como se unido fosse, por sutil fio, ao céu.

A procura de um sol além do teto do teatro

Vislumbre d’alma, ao corpo inconsciente.



Seu mister é um contrair e expandir sem fim

Repetindo a cósmica respiração do universo

Sustentado pelo ritmo, do coração divino.

Busca da beleza, da harmonia e da graça.



Ainda que bailarino de um tosco circo

Armando sua tenda em qualquer aldeia

Tocar a alma de crianças, velhos e comuns

É um sopro divino de esperança e alento.



































































O Engolidor de Fogo



Existem lógicas, umas tão comezinhas

Outras paralelas e tão mais complexas,

Se um trabalho é ínfimo ou grandioso,

Questão de olhar, o engolidor de fogo.



Deitar o hálito flamejante ao espaço

Provoca espanto, riso e esquecimento

Mas cabe ao fogo o papel mais nobre

alquimia antiga dos quatro elementos



Representa o fogo sempre o sagrado,

A chama Crística ou a chispa divina,

O que inflama a alma ou o fogo da vida,

A essência do Eu ou a individualidade.



Quem pode gabar-se, que embora

Da mais absoluta humildade seja,

Instrumento de trabalho de maior

Nobreza, que outra profissão enseja?

































































Gratidão



Grato sou ao “Le Circ de Soleil”.

Grato sou se eles me encantam.

Grato sou a perfeição da arte.

Grato sou a sua transcendência.



Grato sou de existir e ter uma alma.

Grato sou pelo palhaço e pelo riso.

Grato sou à bailarina e a leveza.

Grato sou ao trapezista que me faz voar.



Grato sou pelos que revivem o sonho.

Grato sou pelos que amam e não matam.

Grato sou por existir a arte e o artista.

Grato sou por acreditar na humanidade.



Grato sou pela poesia estar viva.

Grato sou pelo culto a beleza,

Grato sou ao divino que se manifesta.

Grato sou à esperança e a Pandora.



























































A Importância da Pipoca no Circo



Inimaginável circo sem pipoca.

Doação da pré-história americana.

Engorduradas nossas mãos nervosas.

Um fragmento provocando tosse.



Qual é a importância do inútil?

Ou pelo menos do que não é essencial?

Refinamento da sobrevivência superada.

Que cria a possibilidade para a arte.



O circo inteiro com a pipoca inclusa

Faz parte deste inútil que é essencial.

Desta sutileza abrindo mão, retornamos

Ao mais tosco lutar pelo fogo e o pão.



Escrever poemas, prosa ou música.

Teatralizar o drama e a comédia da vida

Pintar e libertar as formas e as cores

Delícias conquistadas dão sabor a vida.











































































































Márcio Filgueiras Amorim

























Nosso Conto de Fadas...



Poema de Entrada



Nos contos o herói é sempre príncipe

Certamente seus pais são: Rei e Rainha

Do reino familiar, onde por certo escolheu

Adentrar nesse universo de tão rico enredo.



Outros contos há em que fadas convidadas

Abençoam, enquanto que a má pragueja.

Evitemos logo esse risco convidando todos

Integrados: a fada e a bruxa nossas e internas.



A jornada do herói tem sempre um desafio

Sua missão como a nossa é a de enfrentá-lo

Mergulhar no escuro, rico e inconsciente

E regressar com as respostas sábias e certas.



Sabedores que a busca essencial do homem

É pelo belo, pelo bom e pelo verdadeiro

E que do rito o que importa é a intenção

Convido-os a doarem dons em forma de poemas.





























































Criança Eu Te Desejo



Poema do Padrinho





Ah! Criança eu te desejo...

Uma vida venturosa, boa e suave

Temperada com o tanto de dificuldade

Necessário para te fortalecer.



Ah! Criança eu te desejo...

A alegria infinita, só possível ao infante.

Que possa perdurar ainda na velhice

Brincando o jogo da vida e achando graça.



Ah! Criança eu te desejo...

Mantenha a paz que vejo em teu rosto agora

Torne-a tua conselheira e amiga.

Mesmo se o mar estiver forte e bravio.



Ah! Criança eu te desejo...

Que Jamais percas a curiosidade!

Pergunte o como, o quando e o por quê?

Leve ao coração para saber se é verdade.



Ah! Criança eu te desejo ainda...

O amor em todas as suas belas formas

Dando, recebendo e compartilhando, Dos pais,

Parentes, amigos, de Deus e da natureza.

















































As Graças



Poema da Madrinha





Que os seres mitológicos acordem

Sonolentos por os termos esquecidos.

Que lancem sobre ti as suas benções

Num plano idílico, belo e imaginário.



Que Hércules te dê a plena força

Mas que optes por jamais usá-la.

Recebas a inteligência de Atenas

Mas não te aprisiones como Dédalo.



Que sejas guerreiro como Áries

Com a flexibilidade de um Hermes.

Que tenhas a fronte erguida de Zeus

Teus assuntos elevados como Apolo



Que apesar de todos os possíveis dons

Ainda te possam oferecer as Graças

O florescer, o brilhar e a alegria d’alma.

Que as musas te inspirem e iluminem.



























































Compartilhando a Aventura



Poema do Pai





Queremos educar-te gentil criança

Com uma postura de aprender contigo.

Faremos juntos, lado a lado, essa caminhada

Ensinando um ao outro o que for possível.



Prometemos procurar ser brandos e compassivos

Sem perda da firmeza, no estrito, justo tanto.

Teremos embates, por certo, algo de choro

Mas creias terás sempre disponível um ombro amigo.



Queremos que cresças forte e rijo qual guerreiro

Sem que percas a sensibilidade do poeta.

Que tuas virtudes sejam muitas e firmes

Temperadas com a fé no maior plano.



Somos gratos por nos ter escolhido como pais

Honrados por compartilhar tua aventura.

Terás em teu lar, sempre acolhimento e afeto

Mas não te prenderemos pois tua casa é o mundo.



























































Lambendo a Cria



Poema da Mãe





Quero que lembres filho amado

Que fostes fruto de pais enamorados

Gestado envolto em amor apaixonado

Desejado, bem vindo e esperado.



Saibas que meus braços estarão abertos

Disposto a recebê-lo sempre que vier.

Minhas mãos estarão dispostas a ampará-lo

Nos primeiros passos e após, que corra.



Teu semblante é para mim poesia

Admirar-te a dormir me encanta

Teus sons me soam como música

Teu sorriso terno me ilumina a alma



Sou, como todas, mãe lambendo a sua cria

Com a força de Leoa a defendê-lo se preciso for

Confiante de um futuro nobre, valoroso e digno

Pois valores verdadeiros viverei a te mostrar.



























































Levar o Menino ao Templo



Oficiante





Leva-se o menino ao templo primeiro

Para apresentá-lo a toda irmandade.

Depois dá-se lhe um nome que de forma sutil

Aponta ou desvela algo de sua missão.



O templo de tijolo, madeira e pedra

É uma cópia tosca de um templo

Que podemos situar no espiritual

Ou no interno de nossos corações.



Os ritos só significam algo verdadeiro

Se nos despirmos da banalidade

E adentrarmos com plena intenção

E o realizarmos com a alma iluminada.



Que sejas recebido pelo plano espiritual

Da mesma forma benfazeja que agora

Te recebemos sorrindo no plano terreno

Recebas o vegetal e tenhas Luz, Paz e Amor.



























































Pequenos Milagres



Encerramento do Batizado





Para mim são pequenos milagres

As pequenas coisas cotidianas

Como o primeiro sorriso de um menino



Como me encantam, fascinam mesmo

Fatos tão simples, tão corriqueiros

Como o observar crescer uma criança



Não procuro os milagres retumbantes

Me satisfaz muito mais os pequeninos

Só entende do que estou falando, Quem já foi

ao céu, ao por primeiro se ver reconhecido pelo filho.



Que nem soem com estridor, trombetas.

Que sejam quase inaudíveis toques, como se de sinos

Mas que os pais, mesmo que tímidos, não se calem.

E compartilhem os pequenos milagres de seus filhos.









































































































Márcio Filgueiras Amorim



























Ventos do Olimpo





Um vento frio me arrepia a pele.

Um pensamento me transporta a Grécia.

Penso em campos com dourado trigo.

Ovelhas pastando, oliveiras.

Homens, deuses, monstros.

Uma mágica dimensão.

Rituais de agradecimento a Demeter.

Para que fecunde a terra.

Geia, que junto com o céu tudo criou.

Úranos, que a seus filhos devora.

Como a vida nos devora a todos.

Qual Perséfone por Hades iludida,

provando da romã, o fruto,

prende-se a morte e a inconsciência,

metade do tempo.

Festejando para alegria da mãe, na primavera, a outra metade sobre a terra.

Estamos conscientes ou inconscientes ?

Estamos vivos ou mortos ?

Em que pese ser a vida morte.

Hades nos aprisiona ou liberta ?

E os da natureza, Deuses ?

Dionísio, Baco, Pã

Centauros, Ninfas, Sílfides.

Em que sintonia estamos com seus ciclos ?

Com seus ritmos e tempos ?

Quanto desconectados ?

Vendo a natureza como algo fora.

Perdida a percepção do uno.

De dela fazermos parte.

De estarmos no mesmo culto.

Deusa Natura e seus adoradores.

Perdidos todos os mistérios,

Mitra, Elêusis, Delfos ...

Que procuravam arrancar do homem,

as vendas, o véu, a ilusão.

Mostrando que a chamada vida é morte.

Que a alma espiritual e livre,

aprisionada em tosco barro,

vive seu drama terreno

em escuro tempo de ilusão.

Libertada, segue seu real caminho.

Embora, toda moeda tendo dois lados,

precisa-se do escuro para se ver o claro.

Zeus deus supremo,

nos passa força, poder,

ordem que vence o caos.

Hera deusa dos matrimônios,

nos impele aos nossos,

com todas as sabidas conseqüências.

Hefeisto nos doa a arte e a técnica.

A técnica nos leva a um avanço

ou a um retrocesso.

Afrodite a beleza, ternura, encanto,

tão necessária, mas tão traiçoeira.

Marte a agressividade guerreira,

desejada, mas tão desastrado.

Ártemis a inteligência,

que nos salva e nos perde.

Mercúrio movimenta, transporta,

comunica, transmuta.

Quanto de mercurial temos em nós?

Apolo eleva Dionísio,

igualmente faces de um idealizado sol,

que Hélios um sol mais físico.

Nosso interno sol é Apolo ou Dionísio ?

Qual humano escapa a maldição de Quiron

o curador e sua ferida incurável ?

Deuses e heróis maiores ou menores,

como, o que está em cima

igual ao que está embaixo é,

expressam pedacinhos de nós.

Desvendam de forma poética ou trágica,

nosso Eros e nossa Psiquê.

Nosso trajeto, aparentemente, a esmo.

Nosso destino cerrado.

Nossa missão encoberta,

Pelos véus do esquecimento.





























Medusa – O Mito



Decidiu Zeus, supremo deus do Olimpo,

A cada cidade um divino patrono ofertar.

Por Atenas se encantaram Poseidon e Atená.

Terrível disputa, entre deuses, se seguiu.



Os atenienses chamados a decidir,

Tomaram, de Atená, o partido.

Enfurecido Poseidon sobre a cidade

Lançou enfurecido o encapelado mar.



Descobre Atená à Poseidon em uma praia.

Enamorado da bela e gentil Medusa.

Lança-lhe raios na vingativa intenção.

Protegendo o amado, medusa, é atingida.



Cabeleira hirta de serpentes.

Quem a fita em pedra se torna,

Enfurna-se em profunda caverna.

Desterra-se do mundo a infeliz.



Louco de desespero, Poseidon.

Apela para Hecate, a deusa,

Que sem poderes sobre Atená,

Lhe profetiza uma alegria ainda.



Vencida um dia pelo heróico Perseu.

Que lhe apresenta espelhado escudo.

Transformada em pedra, cortada a cabeça.

Do sangue brota Pégasus, o cavalo alado.



Encantado com Pégasus, Poseidon,

Vê confirmado o que lhe disse Hecate.

E Em honra de Medusa outrora bela amada

Cria no mar, seu reino, o cavalo marinho.



























A Medusa Minha e Sua



Gregos, sábios gregos

Mais que ouro e jóias

Nos legaram tesouros

Chaves para a alma.



Cada fragmento de Mito desvendado

Me enriquece, fascina e completa

Visualizo parte da jornada humana

Em busca do mais pleno entendimento.



Medusa, cuja visão, petrifica.

Cabeleira hirta de serpentes.

Simboliza a culpa que nos paralisa

Horror de nos reconhecermos deformados.



A percepção da falta e erro

De forma sadia esclarece.

Quando minimizada cega.

Exagerada amedronta e petrifica.



Quanto de horror esconde, em seu âmago,

Toda e cada singular alma humana?

Se ousássemos ver nossos pecados,

Da Medusa, que escudo nos protegeria?



Penetrar na gruta escura do inconsciente

Poder contemplar a glória e o horror

Que cada alma encerra, sem estarrecer

Sair como novo Perseu, vitorioso.



Mais que lhe cortar a horrenda cara,

Cabe-nos, ao seu olhar, suportar.

É essencial, ao mau, olhar nos olhos.

Perceber que o temos para o abandonar.









O Jardim de Adonis





Filho da bela Afrodite,

Adonis,

Linda criança,

Encaracolados cabelos louros,

Face angelical,

Harmonia de gestos sem par.



Desenvolvia velozmente,

Como só aos filhos dos deuses

Cabia.

Criança e logo jovem,

Folguedos da juventude,

Buscava.



Um dia brincava,

Com um pesado javali,

Seu corpo ágil provocava,

fugia aos ataques da besta,

mas retornava,

com a esperada alegria dos novos.



A parte dali,

Oh ! horror ! ,

Um drama se desenhava,

Em um concurso na terra

Ganhou Afrodite de Atená

O título de “a mais Bela”.



Ferida em sua estima.

Qual humanos são os Deuses,

Terríveis e violentos.

Atená furiosa

Procurava se vingar

Da Afrodite inocente.



Ao ver o desvelo materno,

O amor desmensurado,

O só ter olhos para o belo,

Fruto do seu ventre e amado,

Passou por Atená, triste idéia,

De em Adonis ter a Vingança consumada.



Incitado, o Javali,

Feriu o jovem mortalmente,

caído, sujo de sangue,

encontra-o Afrodite.

A dor da mãe é tamanha,

Deuses sofrem como os homens.



As gotas de sangue que caem

do corpo morto de Adonis

tingem de rubro

as alvas rosas do campo.

As lagrimas da Deusa e mãe

ao tombar criam as anêmonas.



Resolve Afrodite

Em honra do excelso filho

Criar com as flores

Regadas com água morna

Um belo jardim, que no mesmo dia

semeado, floresce e morre.



Cultuavam os gregos,

Encenando este belo drama,

A cada primavera,

Os ciclos, as passagens, a sabedoria,

Que como no “Jardim de Adonis”

Nesta vida nada é eterno.











































Entre Apolo e Dionísio



Gregos, sábios gregos,

Ensinavam à alma.

Representando cada rito e mito

Uma das pulsões humanas.



Dionísio, orgia criativa,

Representação divina do instinto.

Plena percepção do sensível,

Sua metabolização interna.



Apolo apreensão cerebral

Representação do divino controle

Plena percepção mental

Sua racionalização interna.



Ambos representações solares.

Não Hélios, sol físico

Mas sol enquanto gerador

de luz e calor criativo.



Qual maior? Qual menor ?

Dionísio mais sensual ?

Apolo mais cerebral ?

Qual abolir ? Qual venerar ?



Como o dilema do Homem

Um cerne espiritual

Aprisionado inexoravelmente

Em seu corpo físico, terreno.



Dois deuses, duas instâncias.

Inseparável dilema.

Sem a vivência dionísica.

Não se elabora a apolínea.





































O Mito do Herói e os Doze Trabalhos de Hércules





O Caminho Interior de Evolução do Homem



I - Introdução



O simbólico do Mito,

une o conteúdo arquetípico,

dando significância,

aos gestos vazios do homem.



II - Tarefa do Signo de Leão

Dominar o Leão de Neméia



Nosso orgulho, como o Leão de Neméia,

Impenetrável a flechas, ou conselhos,

Precisa ser vencido em missão hercúlea,

Ou nos domina e nos devora.



III - Tarefa do Signo de Virgem

Vencer a Hidra de Lerna



Qual Hidra do Pântano de Lerna,

Que cortada uma cabeça nasce duas.

Nossos vícios menores,

Renascem sobre a mesma ou outra forma.



IV - Tarefa do Signo de Libra

Trazer o Cinto da Rainha das Amazonas



Lutando pelo Cinto de Hipólita,

Mitologicamente pretende o Homem,

Conquistar o Dom do Equilíbrio,

Interno, externo e no fazer justiça.



V - Tarefa do Signo de Escorpião

Vencer as Aves Venenosas do Lago Estínfale



Combater as Aves Venenosas do Lago Estínfale

Com matracas de bronze, arco e flecha, indica,

Que o Homem de Escorpião se transmute em Águia,

E que seu veneno dissolva suas algemas.



VI - Tarefa do Signo de Sagitário

Dominar as Éguas Canibais do Rei Diomedes



Dominar as Éguas Canibais de Diomedes,

Nos remete ao Trabalho do Homem,

Onde sua porção homem, imagem divina,

Precisa elevar-se de sua porção animal.



VII - Tarefa do Signo de Capricórnio

Capturar a Corça Cerínea



Trazendo viva a sagrada Corça Cerínea,

Busca com coragem o Homem,

Confrontando seu pensamento com o mundo,

Sair de suas trevas para a Luz sagrada.



VIII - Tarefa do Signo de Aquário

Limpar as Estrebarias do Rei Augias



Lavar as estrebarias do Rei Augias,

Lembra ao Homem de se purificar.

Removendo o que ficou para trás,

Em seu caminho Crístico.



IX - Tarefa do Signo de Peixes

Captura de Cérbero



A captura de Cérbero,

Vencendo o invencível,

É a luta em que através do amor,

Atinge e transcende o Homem sua essência.



X - Trabalho do Signo de Áries

Capturar os bois Ruços de Gerião



Na captura dos bois ruços de Gerião,

Héracles intimida o Sol com suas flechas.

Mostrando que direcionando suas forças,

Abre-se caminho para a Luz.



XI - Trabalho do Signo de Touro

Vencer o Minotauro de Creta



Ao lutar com o Minotauro de Creta,

Pretende o Homem vencer,

Suas próprias forças Taurinas,

Transcendendo seu olhar preso a Terra.



XII - Trabalho do Signo de Gêmeos

Colher os Pomos de Ouro do Jardim das Hespérides



Colhendo os Pomos de Ouro da eterna juventude,

Pretende o Homem amadurecer,

Ganhando Perseverança e Fidelidade,

Sem abandonar o ser uma eterna criança.



XIII - Trabalho do Signo de Câncer

Capturar o Javali de Erimanto



Buscar o Sagrado Javali de Erimanto,

Remete-nos a tarefa humana,

De vencendo nosso materialismo profano,

Desenvolver nosso lado espiritual.



XIV - Epílogo



Como no Mito do Herói,

Enfrentando nossos Dragões,

Perdendo, Pecados nos dominam,

Vencendo, incorporamos Virtudes.

Mitologia Contemporânea de História em Quadrinhos



Estamos todos presos a nossas referências,

Cultura e entendimento paralelos,

Vemos o mundo que apreendemos,

Inteiramente cegos a outros paradigmas.



Se minha cultura é história em quadrinhos,

Por esta ótica compreendo o mundo,

Super heróis são minha mitologia,

O Olimpo deve ficar nos Estados Unidos.



Toda a dualidade do mundo

Representada por Super-Homem e Batmam.

Duas faces da polis,

Gotham City e Metrópoles.



Metrópoles, diurna e ensolarada,

Com seu herói que não assume a sombra.

Gotham City, noturna e soturna,

E o homem morcego perdido em sua sombra.



Mitologia contemporânea e estrangeira,

Que nos invade a alma por nos faltar símbolos,

Preservam a dualidade dos mitos,

Uma face clara outra, na escura caverna, escondida. .



Na irresolução dos modernos mitos,

Ambíguos e indecisos na aparente bravura,

Impõe-se integrar a face clara com a escura,

Mais que negar ou recalcar figuras.











































A Hybris



O descomesuramento

Era a Hybris, a audácia, o tolo orgulho

Para os gregos o grande pecado,

De os desígnios dos deuses ignorar.



A nemesis dos deuses,

Conseqüência inevitável,

Explosão das forças represadas,

Sem canal para fluir.



Quantas de nossas questões

Não se deve a Hybris

Descomesura, falta de bom senso.



Desafiar os deuses, ou o senso comum,

Procurar o sensato caminho,

Ou lutar contra o inevitável.









































































O Mito de Ícaro





Fugir ao que aprisiona, anseio humano,

Inflama Dédalo e Ícaro no Labirinto.

Moldadas com cera e penas, asas tão frágeis,

Alçado o vôo, a eterna busca de liberdade.



Maravilhado ensaia Ícaro ousar, enquanto,

Escuta de Dédalo um apelo ao justo meio:

Que não voe, baixo demais, que o alcancem,

Nem alto demais, que o possa fascinar o sol.



Que abandonado o denso não o iluda a luz.

Não cabe ao homem, desmesura tamanha!

De com suas forças ir do terreno ao espírito.

Esquecido tomba e finda, Ícaro, no mar.



Estaremos qual Dédalo aprisionados,

Nos Labirintos que nos cria o intelecto?

Com as toscas asas de nosso pensamento,

Que nos eleva, mas logo nos atira ao mar?



Aspirar a ascensão, do escuro à plena luz,

Caminho primeiro e último do homem,

Mas se falsas as escolhas, seguido da queda,

No mar da vida, nas inconscientes profundezas.



Fonte de pesquisa: DÉDALO



... mesmo convidando seu filho a servir-se da precária invenção , Dédalo lhe dá um conselho dos mais sensatos quanto aos dois perigos a serem evitados. Conjura Ícaro a não permanecer muito próximo da terra, mas também, e sobretudo, evitar uma ascensão muito audaciosa; a aproximação imprudente do sol. Não se trata de um conselho intelectualmente sensato, é muito mais que isso: uma primeira indicação do ideal grego, o ideal do justo meio.

....torna-se evidente que Dédalo previne seu filho contra o perigo ao qual estaria exposto se alimentasse o desejo desmesurado de escapar das regiões perversas (Labirinto) na vã esperança de poder atingir a região sublime através unicamente de um meio absolutamente insuficiente que é o intelecto( as asa de cera).

As asas verdadeiras simbolizam a imaginação sublime, tal como as asas dos espíritos puros, dos anjos, do pégaso, cavalo das musas, símbolo claro da inspiração sublime e da imaginação criadora. A imaginação perversa, por outro lado, é frequentemente simbolizada pelas asas de animais noturnos. Assim, por exemplo, o diabo, o anjo decaído, personificação cristã da imaginação perversa, é dotado em algumas representações de asas de morcegos.

A asas artificiais simbolizam o vôo muito próximo da terra, a sedução diabólica própria dos desejos exaltados que se transformam em devaneio.

O vôo em direção ao sol simboliza a espiritualização; porém, o vôo com a ajuda de asas de cera só pode significar a forma insensata da espiritualização: a exaltação vaidosa. Fiando-se vaidosamente em suas asas, que não passam de um artifício, o intelecto, tornado imaginação perversa, não mais escuta qualquer conselho prudente, não conhece mais limite: quer ser o espírito, propõe-se atingir o sol.

Este mito condensa a história da elevação e da queda do falso herói em uma única tentativa.

O sentido velado de todos os mitos não é outro senão a inesgotável amplificação de um tema único, o qual, expresso no mito de Ícaro pelo simbolismo “elevação-queda”, a despeito da diversidade das imagens variáveis, permanece como tema mais impressionante da vida: o conflito essencial da alma humana, o combate entre espiritualização e perversão.



Paul Diel























































Márcio Filgueiras de Amorim

































TEATRO: DRAMA

O Ritual dos 7

Grupo Sensus faz espetáculo interativo baseado nos 7 pecados capitais













Editorial



Estréia 07 de julho, na Casa das Rosas, a peça O Ritual dos 7, do Grupo Sensus. Por meio de poesias de Clarice Lispector, Álvaro de Campos, Cintia Barreto e Márcio Filgueiras de Amorim, o espetáculo aborda os sete pecados capitais.

Os espectadores são divididos em grupos e acompanham a peça em sete cômodos diferentes. A direção é de Thereza Piffer e o elenco conta com Arnaldo Barone, Conrado Carmen, Dan Rosseto, Dênete Reis, Fernanda Sophia, Flávio Cáceres, Gisele Porto, Marjorie Belanno, Ricardo Peres e Vanessa Morelli.





Informações



Local: Casa das Rosas (INFORMAÇÕES)

Preço(s): R$ 14,00.

Data(s): 07 de julho a 28 de outubro.

Horário(s): sexta e sábado, 23h49.

























julho 7, 2006

Em cima da hora...Estréia hoje: O Ritual dos 7

Estréia hoje na Casa das Rosas a peça O Ritual dos 7, que inspirada nos sete pecados capitais faz uso de poesias de Clarice, Álvaro de Campos, Cintia Barreto, Márcio Filgueiras de Amorim, Paulo MontAlverne, Daizy Serena e Andre Soares, e outros, para que o público possa ser envolvido nas considerações da trama.

Para abordar um tema tão contraditório o horário não poderia ser melhor, 23h49, um quase outro dia. Os 42 espectadores são divididos em grupos e seguem por cômodos diferentes nesse:

"universo de poesias, exageros, conflitos, vida e morte."

O Sampaist quer conferir, quando isso acontecer vocês saberão!

Foto de divulgação

Direção: Thereza Piffer// Co-Direção: Dan Rosseto// Elenco: Arnaldo Barone, Conrado Carmen, Dan Rosseto, Dênete Reis, Fernanda Sophia, Flávio Cáceres, Gisele Porto, Marjorie Belanno, Ricardo Peres e Vanessa Morelli// Produção: Camila Sartorelli

O Ritual dos 7// Casa das Rosas: Av Paulista, 37// Tel.: 11 3285.6986// sextas e sábados, às 23h49// R$ 14,00 (inteira) e R$ 7,00 (meia)









Anjo Negro



Anjo Negro

O meu?

O teu?

Quem não o tem?

O não dito.

O mal dito.

O que quando se imagina,

Fecha-se as cortinas.

Ou não ...

O que é necessário exorcizar,

E, ou liberar.











































































A Gula



Pecado com algo

de simpático.

Que remete a delícias,

guloseimas e iguarias.

Sendo bem humano,

desejar ir

além dos limites.

Controlar a gula,

entretanto,

é ter domínio

sobre a vontade

e o corpo.

Como se o cocheiro

voltasse a controlar

a carruagem.

Mas ...

Sejamos francos ...

Quem não se viu

pecando um dia?



































































O Orgulho



Sentir-se o Sol.

Sentir-se o Rei.

Sentir-se o Deus.

O Orgulho: ausência

de humildade e modéstia.

Pior que ele só a falsa modéstia.

Pecado difícil de expurgar.

Em geral esconde

insegurança,

muito bem camuflada

em auto-suficiência.

Mas como em tudo,

na vida correta,

a busca é do

justo equilíbrio.

A ausência completa

do orgulho,

também não é bom.



































































A Vaidade



Pecado

da soberba humana.

No sentir-se maior

do que na verdade se é.

Ou mesmo sendo grande,

belo ou forte,

menosprezar o outro.

O esquecer que:

Vindos da mesma

fonte original.

Esculpidos do

mesmo barro.

Somos todos:

Pobres ou ricos,

feios ou belos,

desgraçados ou abençoados,

essencialmente iguais.

Estamos somente

em diferentes

etapas do caminho.

































































A Avareza



Não comungar

da abundância universal.

Sentir-se afastado

do fluxo cósmico.

Estar apartado

da generosidade

de Deus.

Não poder contar

senão com o que

puder reservar.

A certeza que algo

lhe vai faltar um dia.

Agarrado ao material,

por estar incerto

do espiritual.

São os sofrimentos

e peças

que nos causam

os nossos desvios

no perceber e sentir

a vida e o mundo.































































O Medo



Em geral brota,

visceralmente,

sem controle,

vindo do inconsciente.

Não se volta contra o outro,

mas contra si mesmo.

Costuma vir mais

de situações imaginadas

que reais.

O medo paralisa !

Congela, causa danos,

na alma,

se perdura.

Livrar-se dele

é missão do homem

que se encontra.



















































A Luxúria



Cegar os olhos?

Arrancar as mãos?

Queimar a pele?

Emudecer a boca?

Lesar os ouvidos?

Calar a paixão?



Onde está o limite?

Onde começa a luxúria

e termina o amor permitido?

Quem deve julgar sobre

o que é adequado

e o que é demais?

Luxúria.

Existe de fato?

É um conceito?

Ou um mito?

Pecado do excesso,

como aliás todos os outros.

Pecado da percepção.

Em geral,

sempre se atribui luxúria,

ao outro.



“Atire a primeira pedra ...”

















































A Ira



A Ira.

Pecado compreensível.

Labareda de fogo,

que sobe.

Vulcão em erupção.

Quando se solta,

fere aos outros.

Quando se prende,

nos consome.

Verdadeiro dragão,

que cospe fogo.

Difícil de dominar.

Sempre uma ruptura,

do amor

e do perdão.

Infelizmente ...

Ou tens!

Ou tivestes!

Ou terás!



































































A Preguiça



A Preguiça.

Um dos três únicos,

pecados,

vedados aos Incas.

Expurgado,

como pecado,

pela igreja.

Por que será?

Sempre senti,

me salva,

as vezes,

da compulsão,

irrefreável,

de fazer, fazer.

Em grandes doses ...

imobiliza.

Em pequenas doses ...

Ah! É tão bom!







































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