Solidão
São ilusões o tempo e o espaço.
Como também é ilusão a solidão.
Te sintas envolvido em um abraço.
De amor energia primordial universal.
Adormeças e leves pleno o sentimento,
Que do céu viestes e para ele voltarás.
Viaje entre os astros respires lentamente.
Aproveites teu sono e a alma alimentes.
Na infância ensaies teus primeiros passos.
Acolhido na família que te ampara.
Conserves a sensação boa, afetuosa,
Da mão que te ergue após as quedas.
Na juventude te toca o certo e o errado.
Te surpreende a injustiça deste mundo.
Tudo aqui pálida sombra d’outro mundo,
Mantenhas, entretanto a tua busca de justiça.
Que a maturidade te traga a sabedoria.
Percebas então que a solidão é ilusão.
Teus irmãos são desde os astros às estrelas.
Tua casa é o sonho e o cosmo é o teu chão.
As Cinzas de Baldur
Ao mitológico mundo nórdico me transporto.
Meu Loki interno eternamente a enganar.
Um engodo, viscum inconsciente, sempre encontra.
Meu lado, homem cego, atira a flecha e mata.
Baldur meu lado inocente, belo e luminoso.
Memória da idéia original da perfeição.
Rompido o equilíbrio balança-se Igdrasil.
Perdido no mundo, o brilho, a beleza e o encanto.
Desço com Frigga e adentro o mundo de Hell.
Suplico arrependido pela volta de Baldur.
Mas dual e confuso meu lado Loki não chora.
Sou cúmplice, culpado confesso, da imperfeição.
Participo do funeral de Baldur, conduzo seu cadáver.
Seu navio, transformado em pira fúnebre, vaga no mar.
Por sorte nossa o vento amigo espalha suas cinzas.
Partículas delas permanecem em cada coisa e em ti
Poesia
O poema soprado em seu ouvido pela musa,
Adormece quando escrito, resta, no papel.
Renasce, volta à vida, somente se é dito.
Esperamos, ah esperamos, que bem dito.
O poema qual encontro amoroso inesquecível,
Só se completa no êxtase que produz no outro.
Se o sensual que une os corpos é tão belo
Como descrever a união, fugaz, do anímico?
Fazer poesia exige fecundar-se do tema.
Engravidar-se e gestar palavras e versos.
Parir literalmente com prazer e dor a obra.
Assumir ao final seu filho seja belo ou feio.
Essencial ao poema mostrar-se ao alheio.
O que é análogo a despir-se em público.
Se vence o pudor e censura o poeta interno,
Vence o banal e o ordinário, morre o belo.
Feliz Aniversário!
Que a vida te permita
Um tanto bom de gozo.
Pois o prazer aquece
O coração e a alma!
Que a vida te forneça
O suficiente de luta,
Para te fortalecer
Como a aço da espada.
Que a vida te brinde
Com a beleza de Vênus,
Marte na força e caráter,
E a sabedoria de Saturno.
Que Júpiter te direcione,
Mercúrio te permita fluir.
A Lua te de o acolhimento
E o Sol te lembre a Deus.
Branca de Neve
Uma branca de neve mais completa,
Integradas a bruxa e até a madrasta
Somos entretecidos de luz e sombra
Renegar um lado só nos torna cegos.
Branca de Neve penetra a floresta
Densa, tenebrosa e inconsciente,
Onde se acerca de anões/gnomos,
Forças primordiais que nos habitam.
Oscilar entre simpatia e antipatia.
Odiar a bruxa e a madrasta rainha,
Amar a bela e pura Branca de Neve
Dualidade que se há de ultrapassar.
Príncipe e princesa são somente um
Como madrasta, bruxa e a Branca.
Perde-se o homem em tantas facetas
Esquecido está de sua unicidade
Ai de Mim
Se a intenção da carícia é contida.
E o suspiro esboçado é abafado.
Se o afago não se admite.
Ai de mim!
Se os sonhos em comum, tantos
Terão que ser vividos em pedaços.
Se cada vida é solitária.
Ai de mim!
Se meu pranto não rega tua face.
Se meu riso não encontra eco.
Se não colhes flores para mim.
Ai de mim!
Mas aspiro o ar que respiras.
Sobre teus passos seguem também os meus.
Tu és livre e aprisionar-te não posso.
Ai de mim!
Remédio
Retornar a pureza primordial perdida,
Sanadora de todas as feridas d’alma,
Restaurando do corpo: matéria e energia.
Ter remédio é a esperança que nos resta.
Ouvir o vento sussurrando na floresta ou apaixonar-se,
Aquecer-se com a areia morna sob a pele nua de seus pés,
Contemplar estrelas ou embevecer-se com o nascer do sol.
Seu remédio é único, inexplicável e merecidamente seu.
Droga, medicamento, poção ou beberagem até pode ser.
Ou mesmo algo como um toque físico ou da palavra exata.
A emoção causada pelo ser amado, a arte ou a natureza.
Tens remédio quando tocada pelo espírito a alma canta.
Escuridão e plena luz, caos e ordem, doença e saúde.
Só visualizamos nuances por acordo entre a luz e a sombra.
Transcender amarras, caminhar mesmo quando quer parar.
Ser remédio, ao falar, cantar ou afagar, pode-se intencionar.
Surtar...
Surtar...
Todos deveríamos surtar!
Pelo menos uma vez por dia.
Louco...
Por certo o mundo seria mais louco!
Mas é saudável um certo tanto de loucura.
Coragem...
Tomar contato com suas pulsões,
Abandonar por instantes o esperado.
Possível...
Ir e voltar somente poucos afortunados,
Conservam as chaves dos portais.
Arte...
É uma dessas raras chaves,
Que permitem o mergulhar no inconsciente.
O artista...
Esse louco sagrado que adentra seus infernos,
Reparte seus tesouros, mantendo os outros sãos.
Alimento da Alma
Qual o alimento da alma?
Néctar e ambrosia, do Olimpo?
Em que fonte buscar a vitalidade?
Onde jorra a imaginação vital?
A alma se alimenta de imagens e emoções.
De sentimentos, arte e beleza se nutre.
Desânimo é literalmente morte da alma.
Árida, quando o onírico não é alimentado.
Risco corre-se sempre, vivem-se dilemas.
Sem o artístico e criativo fenece a alma.
Deixada sem controle é a pura histeria
A meta é alimentar e conduzir ao caminho.
Pedagogia da alma, algo impensado?
Para além da religião sem negar o mistério.
Neófitos a adentrarem escolas de mistério,
De volta ao caminho, o eterno caminho.
Viajante
Sementes brilhantes e vermelhas de Pau Brasil.
Perdidas na areia da praia sob um pinheiro.
Como é louca esta vida e cheia de surpresas.
De caos e pouca ordem é feito o universo.
Rodando como um pião sobre um planetinho.
Orbitando ao redor de um entre vários sóis.
Iludidos de estarmos parados e ainda mais
No controle, da vida que é puro movimento.
Fluir é o conceito mágico, deixar-se alegre ir.
Pelo turbilhão do destino da vida e da energia.
Como o pintor que inspirado segue a intuição.
Ou da folha que se deixa carregar pelo rio.
O sábio é não resistir, seguir o destino e curso.
Apreciar a viagem, percebendo o fel e o mel.
Mergulhar fundo do prazer até a melancolia.
Sem perder a visão do todo e do feliz viajante.
Liberdade
Liberdade. A última quimera?
A vida inteira ansiar por esta ilusão?
Caminhar, sem tributos e sem destino,
Sem sapatos em desconhecidos caminhos.
Liberdade. A falsa liberdade.
Lutar por ela é somente engano.
Descobrir-se cada vez mais prisioneiro.
De rede de engano criada a cada instante.
Liberdade verdadeira? Somente ao dela abdicar!
Render-se por inteiro ao turbilhão da vida.
Abandonar-se à sucessão de caos e ordem.
Entrar semiconsciente no fluxo do universo.
Paradoxo, inimaginável, paradoxo.
Só se atingir vislumbre de liberdade
Ao se compreender a meta, liberdade, impossível.
Aceito o que, limitar-se-ia, o não termos limites.
O Espelho
Refletir, sem querer, toldar a imagem.
Abdicar mesmo, da própria imagem.
Viver plenamente o fenômeno da luz.
Sem procurar, para si, reter qualquer luz.
Tornar-se, ao outro, essencial.
Ajudar a forjar o ego alheio.
Abster-se de ser para que o outro seja.
Não ser e ser de forma ambivalente.
Quanto de essência e quanto de reflexo.
Conservamos cada qual no âmago?
O que seríamos se outra a influência?
Se espelhadas outras vidas e valores?
Possível a decisão do que espelhar?
Como espelho da Rainha no conto?
Poderíamos escolher o onde e o como?
Fadados estamos a refletir o que nos coube?
o Universo de Meus Sonhos
Fecho meus olhos como portais que se cerrem.
Adentro meu interno, universo de meus sonhos.
Você só entra se voluntariamente lhe dou as senhas.
Ou escava fragmentos perdidos em minhas poesias.
Aqui, toda loucura, bravata ou sonho é possível e real.
Não existe censura, esta é a única e maior regra.
Podem-se escalar montanhas ou mergulhar em rios
Terra das possibilidades convidando a explorá-la.
Fonte de vitalidade e criatividade como Iggdrasil.
Busco e acho aqui magia, acolhimento e sabedoria.
Mas o maior tesouro que encontro é a imaginação,
Mágico tapete, lâmpada de gênio e varinha de condão.
Aprender a entrar e sair, dizer as palavras mágicas,
Decifrar a esfinge, resistir a aqui sempre permanecer,
Aprender que o segredo do herói é descer ao inferno,
Enfrentar perigos, compreender e retornar para dizer.
Ir à Índia
Para Sandra
Ir à Índia,
Entoar mantras,
Dançar.
Fugir do banal,
Adentrar o extraordinário
Surreal.
Todos têm um sonho,
De rara beleza,
Ou maluco.
Guardado no embornal,
De quimeras,
De talvez.
Dar-se a chance de realizar,
Sair da dimensão do “se”,
Ir a Índia.
Tornar real,
O somente possível
E dançar.
O Brinde
Escolher a garrafa certa,
Servir o vinho...
Rodando a taça entre os dedos.
Perceber a cor de sangue, ideal.
Deliciar-se com o divino “bouquet”.
Inebriar-se com o perfeito sabor.
Faltava envolver a audição,
Assim surgiu o brindar -Tim, Tim.
Neófito
A chuva fina, o tempo frio e cinza,
Choro no interno e contemplo a praia.
O mar avança, doce, me lambe os pés.
Solitário, cismo, com meus fantasmas.
Claro e escuro, luz e sombra.
Repasso a minha luz e escuridão.
Afasto cabelos molhados frios e úmidos.
Aqueço-me, internamente, ao pensar em ti.
A aventura e o risco enorme de ser homem!
Andar como malabarista em um fio de arame.
Operário da existência, triste poeta do cotidiano.
Sobreviver na dureza do dia sem perder a poesia.
Chuva, que com a água conduz vida a terra.
Purifique-me! Acorde-me! E traga-me a vida!
Ritual solitário em templo simbólico e invisível.
Neófito, que sou e me apresento todo dia à vida.
Um Grão de Areia
Um grão de areia esconde um universo.
Como nosso universo para outros olhos.
Tanta empáfia acabaria se soubéssemos.
Todo o tempo a dimensão que temos.
Por outro lado a dimensão que ganha
Um gesto amigo, terno ou solidário.
O admirar o belo, a arte ou a natureza.
O êxtase do místico diante do divino.
Ambivalente, ambíguo o homem digladia-se.
Diante de dilemas e polariza-se: horror e glória
Com o Potencial de alcançar o céu, na terra.
Corre o enorme risco de só vivenciar o inferno.
Evoluir, crescer, perceber, ganhar consciência,
Caminhos possíveis, meta e destino humano,
Quantas vezes reluta: teimoso, obstinado e renitente,
Ter livre arbítrio é ao mesmo tempo glória e danação
Permanecendo, por tanto, nos mesmos velhos erros.
Possibilidade de quedas ou de longa e bela caminhada.
Mas lembrar que a espiral que galáxias e caracóis molda;
Nos move, ao voltarmos, para sempre um ponto acima.
Fazer Poesia
Faço poesia no esforço de me situar no mundo.
Procurando entender o absurdo da existência.
Refletindo, digerindo, expelindo o que resta.
Escatológico, portanto, mesmo assim poesia.
Fazer parte de uma certa espécie
Que produz a mais divina arte,
Mas mata na passagem do ano novo,
Pelo prazer de matar o semelhante.
Encanto-me com a praia, a água e o mar.
Adolescentes e crianças jogando peteca.
Cachorros que na praia não deviam estar.
O sol, a areia, conchas, a água e a maresia.
Ser homem, receber qual presente, ao nascer;
Terrível “carma”, sina ou inevitável herança:
Horror e glória inexoráveis e simultâneos,
Para o bem e para o mau, longo caminho.
O Mar
Preciso do mar de quando em quando,
Para nadar, mergulhar ou só contemplar.
Como o retorno do filho pródigo, a casa.
Sinto mesmo como um eterno regressar.
Mar que me aquieta e apascenta a alma,
Remete-me a reflexão e ao inconsciente,
Enquanto contemplo ondas que se quebram
Abro as portas de um mar secreto e interno.
Dias há em que colho chuva e tempestades;
Noutros bonança com sol e amena brisa.
Existem dias piores, da mais pura calmaria;
Até que o bom vento me dê velocidade.
Estar montanhês é ser sólido e recolhido;
Viver pleno o lado melancólico e fleumático.
Estar praiano é banhar-se de sol e cor,
Vivenciar o melhor do colérico e do sanguíneo.
O Guerreiro, o Visionário, o Curador e o Mestre
Lembre-se de semear!
A verdadeira luta do guerreiro é para plantar
Sementes que vão germinar em fértil solo.
O guerreiro não quer destruir, mas lutar,
Por tudo que acredita e intenciona.
Lembre-se de plantar!
O visionário planta mesmo que não vá colher.
Sabe que outros colherão e isto lhe basta.
Plantar é confiar no futuro é ter visão.
Acreditar na visão e nela se projetar.
Lembre-se de cuidar!
O curador cuida de quem dele se aproxima.
Neste processo se reabastece e cresce.
Atento que até a palavra pode ser remédio.
E que um remédio busca retornar a perfeição.
Lembre-se de cultivar!
O mestre cultiva o de melhor no interno.
Busca a sabedoria e o senso do justo tanto.
O indicar o caminho e o deixar trilhar.
Todo caminho busca para casa retornar.
As Quaresmeiras
Quero que meus amigos plantem
Quaresmeiras em suas calçadas
Que se extasiem com suas floradas
De rosadas flores símbolos do amor
Ou roxas que a tudo transmutem.
Que estes amigos delas cuidem,
Regando, abraçando as árvores.
Conversem com elas como amigos,
Palavras não se acabam entre estes,
Retribuam com flores, Quaresmeiras.
Quando estiverem tristes, meus amigos,
Abram as janelas para a beleza entrar.
Depressivos não há então como ficar
Diante de flores que pintam um quadro
Sua forma de comunicar, uma vez mudas.
Queridos amigos existe tesouro maior?
Que ter a frente ornada com flores?
E mesmo quando tombarem, fenecerem,
O trabalho de varrê-las será prazeroso,
Sentir-se como um deus a varrer estrelas.
Liberdade
Liberdade, a que palavra enganadora,
Que nos tenta com intrincados dilemas.
Quanto mais a buscamos e lutamos por ela,
Mais enredados e aprisionados nós estamos.
Só se atinge, de fato, a liberdade verdadeira,
Quando se aceita o fardo de todas as amarras
Mantido o sorriso pleno iluminando a face
E o coração transbordando de serena alegria.
Rir de si mesmo e da vida tragicômica
Rompe elos das cadeias que nos prendem.
Soltos estamos se assim nos sentimos,
O que importa é o que no interno impera.
Pode o homem passar na prisão a vida inteira
Sem que grade alguma importante o impeça.
Pois privado de andar pode agora ainda voar
Com as asas do pensamento, da emoção e da alma.
O Poema
Meu desejo é que cada e todo poema sejam,
Belos como a espelhar o divino ou a natureza.
Conciso como só a profunda reflexão enseja.
Preciso, com palavras encaixadas como jóias.
Mas que toda a perfeição não esconda
A emoção que subterrânea à estrutura.
Pois palavras vazias ainda que sonoras
Enganam os ouvidos, mas nunca à alma.
Poemas verdadeiros são como Ambrósia,
Ou o néctar, alimentos dignos dos deuses.
Nutrindo aquilo que de mais sutil nós temos.
Alimentada à alma, ainda que faminto o corpo.
Rico está o homem, mesmo que maltrapilho.
Livre para alçar vôo, mesmo que prisioneiro.
O Samurai
Ser guerreiro é lutar antes de tudo consigo próprio
Buscar vencer verdadeiramente a própria sombra.
Almejar a perfeição, meta sabidamente impossível,
Mas diante da luz do sol não se há de acender vela.
Aprender com os animais, vegetais e a vida.
Estar atento diante desta bela e enorme escola,
Cujo ano escolar inicia-se com o nascimento
E só de fato se gradua ao exalar o último suspiro.
Ter a força de estar plácido e sereno
Ter a coragem de desejar e buscar a paz.
Pois a maior batalha que se enfrenta
É o vencer a si mesmo, seu maior inimigo.
Afiar a espada, objetiva é se tornar preciso.
O golpe muitas vezes repetido disciplina o ego.
Estar pronto para a luta torna esta supérflua.
Permitindo a contemplação do belo e a poesia.
O que me Move?
Quando faço algo,
O que me move?
Busco o aplauso?
Quando amo alguém,
De fato a vejo?
Ou só projeto?
Realidade ou fantasia?
Em que dimensão vivemos?
Vivemos a vida?
Ou a sonhamos no cotidiano?
O ser amado,
É amado pelo que me suscita?
Por ele mesmo? Ou
Pela fantasia que me desperta?
O Poeta e o Louco
Passar sobre um arco de hera
Entrar em um bosque encantado
Mergulhar na dimensão poética
Mítica, arquetípica e simbólica.
Romper com a realidade dura
Experiência esquizofrênica do surto
Jornada do herói que desce ao inferno
E retorna com novo paradigma.
Ousar a ruptura e a ida
Amparado pelas asas da arte
Exige coragem e entrega
Mas dá significado a vida.
O segredo desta rica aventura
O que diferencia o poeta e o louco
É manter intacto o portal e a ponte
Que permite ir e retornar desta fonte.
A Criança e Maya
Olho-te a face sorridente, bela criança,
Vontade tenho de revelar-te certas verdades.
Falar de Maya, a ilusão, que a nós tudo vela,
Quanto essência mais verdadeira e mais “real”.
Bela criança, tu não entendes, mas quem entende?
Maya que transforma o transcendental em manifesto.
Que do verdadeiro mundo: o divino, o espiritual,
Nos faz esquecer para nos reter neste plano mundano.
Gentil criança enquanto sorris de forma encantadora.
Penso em dizer-te de Maya a nos emaranhar em uma teia
Onde projetamos fantasiosos desejos e aversões.
Tecendo vamos, dia a dia, nossa sutil prisão, a ilusão.
Feliz criança despreocupada, só ocupada em diversão.
Maya é desvelada pela Arte, pela poesia que acorda
A alma, com a linguagem da beleza a decifrar charadas.
Pelo Rito dotado de significado ou pela profunda meditação.
Querida criança, me vejo em ti, assim como a todos.
Cegos que estamos, iludidos de nossa boa visão.
Enredados por Maya, que cria esse mundo ilusório,
Que nos torna a todos atores, repletos de paixão.
Com o Peito Aberto
Almejo ser um nobre Florentino,
Me sinto Sancho Pança da Calábria.
Que distância entre intenção e prática.
Quão duro é olhar-se no espelho
E ver todos os defeitos d’alma.
Falhas, sombras, imperfeições tamanhas.
Almejar a perfeição e a glória,
Viver aos tropeções e tombos.
Triste e dolorosa sina humana.
Mas fechar os olhos e renegar a sombra,
Idealizando a perfeição e a luz,
Correr o risco de não viver o próprio drama.
Só resta ao homem o árduo caminho
Da longa e dura viagem ao interno,
Com o peito aberto para o que encontrar.
Senhor das Próprias Trevas
Quero ser o senhor de minhas próprias trevas.
Conhecer as sombras abissais que existem em mim.
Mergulhar nos mais recônditos segredos de minha alma.
Harmonizar, como em uma têmpera, o claro e o escuro
Procurar percorrer a estrada que leva a plena luz,
Com a sabedoria de perceber o tanto que suporto.
Tê-la por guia a indicar a estrada e o rumo certo,
Sem negar a sombra que mostra detalhes e nuances.
Fazer a própria e interna fusão de luz e escuridão,
Admitida a sombra incorporado seus arquétipos.
Missão sábia e difícil, jornada de nossa vida,
Olhar o mau nos olhos, sem medo, com respeito.
Pela consciência tornar-se de criatura em criador.
Iluminar-se pelo bom, pelo belo e pelo verdadeiro.
Colorir a vida com alegria, matizando sombra e luz.
Crescer cada qual no seu próprio e individual caminho.
O Tempo
Cronos, o tempo, monstro voraz que nos devora a todos.
Engolistes tantos dos meus seres queridos, pela vida a fora.
Vivos na memória, como se no presente, ficaram para trás
Perdidos, sabe Deus, em que remota esquina do passado.
Metis, onde estás? Esquecida hoje, deusa da prudência.
Com sua poção emética que permitiu outrora a Zeus
Fazer com que o pai Cronos lhe devolvesse os irmãos.
Não almejo do Olimpo o trono mas somente amigos.
Amigos queridos, que o tempo se encarregou de afastar.
Conservados na memória e no peito com muito afeto.
Estando mesmo pronto a abrir os braços para envolve-los.
Se puder fazer, Cronos cruel, me devolvê-los quiçá um dia.
Vive o homem entre as dimensões do espaço e do tempo.
Com a ilusão ressecante e enganadora de um finito tempo.
Esquecido de que sua morada é a mais plena eternidade.
Morador do divino, passageiro da luz, buscando a si mesmo.
A Solidão
Houve um tempo em que me sentia inserido no universo.
Fazia parte da floresta, do rio, do barranco e até do céu.
Irmão de cada um, filho e neto de cada pai, mãe e avô.
Sentia-me aquecido pelo sol e protegido à noite pela lua.
Cresci e me distanciei, criei meu espaço interno, fiquei só.
Perdi a comunhão primeva, a unicidade inequívoca, o um.
Sou múltiplo! Sou confuso! Sou ambíguo! Sou complexo!
Percebo o mundo com distância, filtro, raciocino, analiso.
Perdido estou longe de casa, entre estranhos, sem família.
Desprotegido, sem abrigo, nu e faminto de afeto e amor.
Que dor intensa sofre todo homem, que cresce e se aparta
da fonte, da essência, do princípio e não sabe mais voltar.
A nostalgia do paraíso perdido, a certeza de também ser parte.
Voltar a ser a nascente, a cascata, o rio, o mar e a chuva.
Uno com a terra, a água, o ar e o fogo. Transitar pelos
sete planetas. Brincar com o zodíaco e ir além até Deus.
A Foto
Belo gesto congelado,
Retirado da linha do tempo.
Breve captura do efêmero,
Aprisionamento da ação.
Sorriso fixado, a emoção.
Jogo de luz e de sombras.
Prisão no papel da essência.
D´alma perceber a intenção.
Lembranças, memória sutil.
Frágil esforço de reter a alegria.
A guarda do instante, do outro.
Mesmo que se vá, o outro.
Fugir ao destino humano,
Ao final fenecer fatalmente.
Resta permanecer pelos genes,
Ou com a arte como instrumento.
O Ter e O Ser
Dentre todos os dilemas humanos,
Entidade ambígua por excelência,
A difícil escolha entre o ter ou ser,
Talvez seja o mais antigo dilema.
O ter é estar plenamente encarnado,
Tornar–se o senhor deste mundo,
Na pedra construir seu castelo,
O caminho do externo trilhar.
O ser é voltar-se para a essência,
Esquecer do invólucro e superfície,
Trabalhar o conteúdo e a intenção,
O Santo Graal buscar no coração.
O perigo dos falsos dilemas,
É o brilho da ilusão ofuscar,
Perder a noção do justo tanto,
Cabe ao homem no dia de hoje
Sem o mundo negar buscar o sutil.
A Tristeza e O Poeta
Seria a melancolia necessária para a boa poesia?
A tristeza teria o pendor de primeiro a alma tocar?
O que dizer da alegria, do medo, desespero ou o que for?
Teria a poesia o poder de tirar do banal do comum?
Fazer poesia é como dar a luz, “partejar” um filho.
Do sentimento que brota trabalhar a forma final.
Dar o ritmo, a métrica ideal, a concisão precisa.
Podar, desbastar, refletir, sentir, são os instrumentos.
Só sentimento toca sentimento e a alma.
Um mundo cotidiano duro amargo e frio,
Necessita de encanto, beleza e enlevo.
Contraponto obrigatório para não virar pedra.
Vive o poeta com os pés firmes na terra,
O coração oscila entre as estrelas, o sol e a lua,
A mente está imersa nas nuvens, no cosmo.
Senhor de dois mundos, redime o homem.
Um Êxtase Místico
Transportado pelo universo,
Percebendo o único verso.
Montado no pensamento,
Qual Pégasus sem forma.
Encontrar o absoluto mau,
E somente olhar nos olhos.
Encontrar o absoluto bem,
E intencionar fundir-se a ele.
Capturar o início do início,
Ser testemunha do tempo.
Percorrer num átimo o espaço
Viajante privilegiado do tempo.
Percorrer o íntimo, a essência
O caminho mais árduo que há.
O verdadeiro universo que importa,
Que me cabe, com bravura criar.
Do Encontro entre O Céu e O Mar
O mar abissal, profundo,
Que qual monstro tudo engole,
Escuro, denso, incognoscível,
Inconsciente, escondido, ameaçador.
O céu diáfano e iluminado,
Cede nos a luz espiritual,
Claro, suave e transparente,
Consciente, espiritual a atingir.
Oscila o homem entre extremo e outro.
Como viajando em um barco no mar bravio.
Jogado ao céu logo parece submergir no mar.
Somente com o corajoso mergulhar no inconsciente.
Trazendo os tesouros submersos à luz.
Ascende-se aos céus sentindo-se completo.
O Barco na Praia
Um barco encalhado na praia
Um pescador queimado de sol
Retira do casco mariscos agarrados
Libertando a estrutura dos excessos.
Navegar tem grandes riscos
Não ir ao mar, riscos maiores.
Mais que a fome, o não ousar.
Mata a sede de aventura no homem.
O que é a vida do homem além de uma viagem.
Do porto onde nasce a outro onde lhe espera a morte.
Mais que seu carrasco, grande libertador.
Nesta viagem retira-se o excesso.
Reforça-se à vontade e o caráter.
E se aprende a beleza de viver ou navegar.
A Alma e o Mar
Tenho dias de alma mansa
Como um mar feito p’ra criança.
Com água morna, ondas serenas.
Com céu azul e brisa plena.
Tenho dias de tempestade n’alma.
Como só vi nos filmes de cinema.
Raios, relâmpagos e trovões.
Muito escuro, chuva e clarões.
Que Deus me livre de dês-ânimo.
Prefiro encarar erros e acertos.
Perder e retornar ao rumo.
Desejo estar sempre com a alma inteira.
Em tudo, em cada ato ou gesto.
Tanto na tempestade quanto na bonança.
Solidariedade
Certas mãos semeiam,
Outras vão colher.
Iniciar o sonho,
Que outros vão viver.
Abençoar o ar,
Para outros respirar.
Cuidar bem da água,
Que outros vão beber.
Fertilizar a terra,
Que outros vão plantar.
Sovar bem a massa,
Distribuir bom pão.
Ressoar o bronze,
Para outros acordar,
Amar pequenas coisas
E ensinar a amar.
A Vida
Longa ou breve a vida.
Como uma peça de teatro em um ato.
Drama ou comédia escolha do destino.
Pobres ou poderosos nos encontramos
Vivendo papeis, envolvidos por enredos.
Perdida a noção imanente do palco.
Ilusão ou realidade, o que é uma ou outra?
Quando fala a essência, quando o personagem?
Enreda-se! Enovela-se! Ata-se!
Libertar-se deste drama evitamos.
Choramos mesmo se alguém se liberta.
Atores, olhos vedados, representamos.
A Música das Esferas...
Praia salpicada de estrelas do mar.
Areia lambida por ondas sucessivas.
Refletido o céu coalhado de estrelas
Cenário banhado pelo prateado luar.
O ruído das ondas que se quebram
Contra o silêncio do estrelado céu
Serão surdos meus pobres ouvidos
Para a sublime música das esferas?
Só percebo o que já conheço,
Triste sina ignorante que sou,
Consolo-me com a música do mar?
“Só sei que nada sei”
Mais que abandonar a vaidade vã
A consciência de maiores horizontes.
A Meta
Ambicionar o píncaro,
A marcha encetar.
Jovem caminhada,
Tanto a aprender.
Avista-se a meta,
Afã de encontrar.
Sem perceber ficou-se adulto
Durante o caminhar.
Atingida a meta
Ficou o vazio.
A maturidade incita,
Os valores trocar.
Inicia nova marcha,
Silenciosa e calma.
Perseguir nova meta
Encerrada no interno.
O Afeto
O afago
Da mão que se sente amiga.
O pranto recolhido
Pelo ombro que se percebe terno.
A escuta
Por ouvidos interessados no enredo.
O olhar
Que plena admiração irradia.
O abraço
Que irrestritamente acolhe.
Totalmente indescritível
Posto sentimento.
Essencial a vida
Como o ar e o alimento.
Sentimento de mão dupla
Que a alma nutre.
Mais que do afeto falar
Cabe trocar.
Restaurando a unicidade
Da comunhão fraterna.
Encanta-me...
Encanta-me...
O vermelho dourado de um Por do Sol.
Momento mágico de cósmica inserção.
Encanta-me...
Fechar os olhos e mergulhar na música.
Êxtase interno, alimento da alma.
Encanta-me...
Sentar-me a observar montanhas.
Estar uno, rompida a ilusão de separação.
Encanta-me...
Observar o solitário vôo de uma ave.
Tornar-me ave, perceber a vista, a altura e o vento.
Encanta-me...
Fugir por instantes à rotina que aprisiona.
Transcender ao banal e alimentar a essência.
A Natureza
Deus derramado no mundo.
Beleza, esparramada em tudo.
São as cores, a água e as plantas.
Borboletas qual flores despertas.
Um planeta que vive e respira.
Nossa casa, aldeia e mundo.
Nos abriga, alimenta e vivifica.
Nos fornece o sustento e a harmonia.
Só nos cabe cuidar, conservar.
Utilizar só o que precisar.
Dividir, compartir e doar.
Sem egoísmo nada há de faltar.
Decifrar o que a natureza nos diz.
“Hieróglifos de Deus” ela fala.
Só precisa abrir os sentidos.
Permitir ao coração escutar.
Sermos uno com ela e com o todo.
Com as pedras e com as plantas,
Com os bichos e até com os humanos.
Nem maior, nem menor, só conscientes.
O Rio e Eu
Basta ao rio correr para o mar.
Murmurando desculpas ao bater nas pedras.
Rindo baixinho por cócegas que lhe faz o mato.
Arejando-se nas quedas d’água.
Por que razão não me basta viver?
Que insensatez a minha de almejar mais que existir?
O não saber para que mar eu vou.
Não ter consciência de meu curso até lá.
Quero atingir a sabedoria de um rio manso.
Destes que por séculos esculpem a pedra.
Escavando o seu leito lentamente.
Com a serena confiança da natureza.
Sabedores que sua missão é fluir.
Divertindo-se em vivificar a tudo que tocar.
Apadrinhar...
Pater et mater
Pai e mãe
Padrinho e Madrinha
Para que, tal personagem, servirá?
Fazer cafuné, cosquinhas até,
Dar colo, canto e acalanto.
Rir das artes, incentivar a arte,
Puxar as orelhas quando precisar,
Mas muito mais abraçar e beijar.
Indicar o caminho, incentivar,
Acolher no choro oferecer o ombro,
Provocar o riso, rir junto um tanto.
Pater et mater
Pai e mãe
Padrinho e Madrinha
Batizar
Eu te batizo em nome da terra!
Que traz os mistérios do corpo.
Cujos caminhos passas a percorrer.
Onde sobre a grama podes deitar e descansar.
Sobre ela edificarás tua casa e serás feliz.
Eu te batizo em nome da água!
Que traz os mistérios sagrados da vida.
Neles deves mergulhar, basta viver e aprender.
Que ela sacie tua sede do belo, bom e verdadeiro.
Que ela te regenere e cure quando precisar.
Eu te batizo em nome do ar!
Que traz os mistérios da alma.
Abre as possibilidades da emoção.
O que tempera e dá sabor à vida.
Permite o movimento e o amar.
Eu te batizo em nome do fogo!
Que traz os mistérios do Eu.
Que no comando precisa estar.
Que lentamente possa o impuro queimar.
Que no fogo espiritual possa te forjar.
Batizado nos quatro elementos.
Um nome é preciso te dar.
Que seja um nome de anjo e de mestre.
Que o nome te inspire a vida.
Gabriel passas agora a te chamar.
Que Virtudes Te Desejar?
Jovem como te presentear?
Invocando o simbólico e arquetípico?
Como numa reunião do Olimpo.
Que valores e forças desejo chamar?
Desejo te imaginação!
Que ela tua vida possa iluminar.
Trazer a arte, alcançar a ciência.
Asas ela pode te dar.
Desejo-te carisma!
Encantar as mulheres,
Fazer amigos, aos outros chegar.
Mas no devido tempo para dentro se voltar.
Desejo-te persistência!
O segredo das metas alcançar.
O justo tanto de dureza
Sem esquecer de flexibilizar.
Desejo-te um bom coração!
Alegre, feliz e bondoso.
Qualidades que para fora se achar
Dentro primeiro precisam se alojar.
Riqueza, fortuna e brilho.
Nem preciso te desejar
Pois se o interior for rico
O externo conquistarás.
A Nostalgia do Mar...
O inconsciente, nosso mar interno,
Turvo, profundo, repleto de segredos,
Com ocultos tesouros a serem revelados,
Com monstros marinhos a nos devorar.
Ah! A nostalgia do mar.
Lembro me de um mar de lágrimas
Banhando, como praia, à face querida.
Estranho mar manso sem ondas,
Com paradoxais cascatas a cair.
Ah! A nostalgia do mar.
Recordo-me de um mar de emoções,
Pressentido por gestos e um olhar,
Contido como que por diques,
Quase a ponto de romper e jorrar.
Ah! A nostalgia do mar.
O deserto seco, concentrado e árido,
Fase de se fazer, construir e moldar,
Necessita um dia de se subtilizar,
Unir-se ao todo, como em um mar.
Ah! A nostalgia do mar.
O eterno sonho da montanha
É de um dia perder sua dureza
Solta e com leveza fluir
Até se dissolver no mar.
Cobrir de Flores os Caminhos...
Escolhestes
cobrir de flores os caminhos dos que amas.
Cansastes tanto
despendendo neste mister tanto esforço.
Esquecestes
que o rio flui ao mar serenamente.
Desabrochar
podem as flores sem ruído algum.
Descanses
does apenas sorrisos aos que lhe são caro.
Ser
é tudo que precisas para encantar.
Encantar
é tua sina nesta vida inteira.
Aceites
aspergir amor e harmonia ao teu redor.
Aspirar
Ao bom, ao belo e ao justo.
Respirar
arte, filosofia e poesia.
Dançar
sagrando e sacramentando o diário.
Escapar
do banal e atingir o extraordinário.
Agradecer
A ti é o que me cabe agora.
Iluminar
Aos que te cercam, gostas.
Viver
Na terra como que no céu.
Iluminar
Qual celeste anjo que aqui caiu.
Filho
Retiraria de bom grado o sofrimento.
Faria reto e macio teu caminho.
Te protegeria do mau tempo.
Te pouparia de dissabores e dores.
Mas uma boa espada se forja
No calor do fogo em brasa
Com fortes e ritmadas batidas.
Espero de ti a melhor têmpera.
Exposto de peito aberto estás a vida.
Sem medo, com garra, aberto e pleno.
Correndo o risco de toda a beleza dela.
E a alguns respingos de mau tempo.
Mantenha a coragem não te escondas.
“Navegar é preciso, viver não é preciso”.
Mesmo sem ser preciso, viva,
Pois por certo a vida é bela.
Ritmo e Compasso
O que me passa a música?
A harmonia de todos estes sons.
O ritmo perpassado pela emoção do músico.
Me transporto para um mundo ideal.
O meu e o teu ritmo combinam?
Se danço tango por que danças samba?
Que descompasso, meu Deus que confusão.
Não desafines agora pois já não é ensaio.
Odeio esta música mecânica.
Compassada onde deveria ter ritmo.
Onde colocar toda a emoção?
Sem emoção para que música?
Baile comigo outra e outra vez.
Deslizemos sobre o gramado
À luz prateada desta lua
No ritmo imaginário do coração.
Tocar Tambor
Um homem sério constrói tambor?
Largar a rotina para construir um tambor.
Esticar o couro e com o tento costurá-lo.
Colocar ao sol com cuidado para secar.
Um tambor modifica um homem sério?
O ritmo contagia, inebria e entusiasma.
O ritmo do coração assume o controle.
O ritmo faz flexível o que endureceu.
Construir a baqueta, qual a intenção?
Buscar no mato o galho para a baqueta.
Envolver com fumo e sálvia e pano.
Amarrar, enfeitar, dar a intenção.
Tudo flui e tem ritmo no universo.
Busco reencontrar o ritmo que perdi.
Nos caminhos e descaminhos da vida
Fiquei sério, fiquei triste, envelheci.
No Mar...
Preciso, urgentemente, encontrar o mar.
Mergulhar abraçado pela água e o sal.
Limpar toda mágoa, tristeza e desencanto.
Renovar a tessitura de minha alma.
Como lavadeiras que o pano alvejam
Engomam, passam e o deixam tal qual novo.
Preciso, urgentemente, caminhar para o mar.
Deitar na branca e infinda areia de uma praia
Com o corpo semi nu entregue e exposto ao sol.
Como queima ritualística de emoções menores
Relembrando a sacerdotal queima de incenso
Elevando do altar de sacrifício só a fragrância.
Preciso, urgentemente, descansar no mar...
Despir a roupa e aceitar de ócio me vestir.
Simplesmente me livrar do excesso.
De compromissos, deveres e obrigações,
Retornar a ser leve, solto e disponível,
Pleno e permeado pela vida como é o mar.
Preciso, urgentemente, aprender com o mar...
Me deixar de novo impregnar pelo encanto.
Como meninos que livres correm pela praia.
Com gritos e risos no jogo com uma bola.
Voltar a bela e simples alegria da infância.
Reaprender o fluir da vida que o mar ensina.
O Vazio
Um vaso pleno só recebe se...
Aceitar perder de si um pouco.
Acolhe na verdade, o justo tanto,
Que perde, abdica, doa ou cede.
Sentir-se por dentro esvaziado...
Profundo e doloroso sentimento.
Sobrevivendo porém a tal tormento
Possível encontrar-se, súbito, saciado.
Na eterna fuga humana do sofrer...
Esquecido da perpétua alternância
Sentir-se pleno ou esvaziar-se
São meras etapas de um drama.
A sofrida e inevitável etapa melancólica
Dolorido aprofundar-se na existência
Alterna-se com felicidade momentânea
Doce e breve interlúdio de prazer.
Aprendo mais, afinal, com qual etapa?
Com a dor intensa do vazio da alma?
Com os curtos lampejos de intenso gozo?
Cego pela proximidade, extrema, do palco
Abdico de julgar e me entrego ao drama.
A Meta
Ambicionar o píncaro,
A marcha encetar.
Jovem caminhada,
Tanto a aprender.
Avista-se a meta,
Afã de encontrar.
Sem perceber ficou-se adulto
Durante o caminhar.
Atingida a meta
Ficou o vazio.
A maturidade incita,
Os valores trocar.
Inicia nova marcha,
Silenciosa e calma.
Perseguir nova meta
Encerrada no interno.
Entre Dois Mundos
Vislumbrar o mundo,
Degustar a vida,
Inebriar-se com fragrâncias,
Ouvir toda a música.
Viver tem a ver com sentir.
Tatear o mundo,
Prazer, desprazer.
Perceber o mundo exterior,
Etapa primeira para
Só após o interno descobrir.
Adolescência
Brinca de "gente grande"
Parte do tempo.
Reincide em ser criança
Logo adiante.
Um corpo que se estica
Meio gigante.
Uma alma que se expande
e não se cabe.
Uma pulsão para amar
Sem saber como.
Um sentir-se estranho
Sem saber porque.
Questionar a tudo
meio para conferir.
Um revoltar-se contra
meio por princípios.
Um romper com os heróis
com enorme dor.
Mas na verdade buscando
algum modelo.
Um grande projeto
a meio do caminho.
Olhos semi-cerrados
começando a abrir.
Milagres Singelos e Cotidianos
Ando a procura de milagres singelos,
Não os quero ou peço grandiosos.
Desejo ver sorrisos de uma criança
face um brinquedo, ainda que tosco.
O milagre da vida, de uma sementinha
Seca, tocada pela água, súbito renascer.
Flores multicolores, confundirem-se
Com borboletas, flores da terra libertas?
Milagres experimento diuturnamente
Ao vivenciar um simples pôr-do-sol.
O canto dos pássaros, a beleza da relva,
O infinito azul do céu, e o negror da noite.
Milagre para mim é a simples alternância
Das estações do ano, ou do dia e da noite.
O amor da amada, o abraço do amigo,
E o lar para regressar no final da labuta.
Agradeço a Deus, a natureza, a vida
E não me canso nunca de agradecer
Pelos milagres que temperam e colorem
O cotidiano, basta da alma abrir os olhos.
Buscando Deus ...
Buscando Deus entrou o homem na igreja.
Ajoelhado, suplicou sua divina presença.
Um raio de sol, súbito, lhe atingiu o olhar.
Magoado saiu por Deus não lhe enxergar.
Buscando Deus pôs-se o homem a orar.
Em altos brados e com choro convulso.
Não escutou o sutil canto de um sabiá.
Desesperançado ficou do divino escutar.
Buscando Deus com cada vez menos fé.
Não tinha tempo para o perfume das flores.
Sua única ambição era ao espiritual aspirar.
Buscando Deus sem se apascentar.
O divino derramado na natureza,
Não se permitia com enlevo tocar.
Buscar Deus é a maior ou a única missão.
Mas com humildade e coração sossegado,
Para fora ou no interno o divino saborear.
A Tua Espera ...
O milagre da vida,
Sutil toque do espírito
Animando a matéria.
Eis que te esperamos.
Quem está vindo?
Como tu serás?
Queremos conhecê-lo.
Eis que já te amamos.
Pequeno e lindo ser,
Velha e bela alma,
Presente de Deus.
Na espera de tua presença,
Preparamos teu berço, mas
No coração, já te recebemos.
Adeus Amiga
Acenando,
Sussurro um adeus,
Em sua partida.
Que boa morte,
Serena e lúcida,
Dever cumprido.
Viva, permanece,
Em minha memória,
Querida amiga.
Tantas lutas,
Energia serena,
Quanta bravura.
Em outros planos,
Vele por todas
As suas verdades.
Olhe em frente,
Siga com fé,
Mergulhe na luz.
Que sua vida plena
Corajosa e integra,
Nos inspire sempre.
Estradas Internas
Na eterna busca da essência,
Uma encruzilhada de estradas,
A difícil escolha faz parte
Do começar a trilhar.
Entrar no labirinto da mente,
Desenrolar o novelo dos dramas,
Caminho ao encontro de psique
Buscando apaziguar-te por inteiro.
O pleno encontro com a amada,
Possibilidade de restauração,
Na confiança absoluta e plena
de que a última missão é o amor.
Desenvolver a difícil maestria
Dedicar-se a ensinar o caminho
Estender a mão, incentivar,
Nele podes a sabedoria alcançar.
Das feridas dos outros cuidar,
Ajudar a lidar com teus dramas,
Diziam os deuses: Cura-te a ti mesmo,
Forma serena de os apreender.
Não te afobes demasiado,
apascentes o teu coração,
Teu drama haverás de viver,
Escolhido qualquer seja o caminho.
Cuides apenas de não te perder,
Nas armadilhas da mente, labirinto,
O intelecto é no início instrumento
Mas tão facilmente te aprisiona.
Pedra bruta que somos,
Lapidada tantas faces revela,
Permitindo mostrar nossos dramas
Como página do divino plano.
Velhice e Consciência
Vida e consciência são na verdade antípodas.
Paga-se tributo a vida para que a consciência cresça.
Nada mais consciente que a velhice lúcida.
Nada mais vital que o nascituro quase inconsciente.
A Astrologia antiga fala da força de Saturno.
A morte, figura, capuz e foice da carta de Taro.
Corrente que do plano espiritual traz até o corpóreo.
Mas no final, do corpo, liberta com a morte.
Bela imagem do envelhecer como instrumento.
Que do excesso de vida, a cada um, liberta.
Permitindo a abertura do homem ao espiritual.
Que tolo aquele que permanece na ilusão,
Lutando para se manter em eterna juventude.
Sábio é seguir do rio o curso vivenciando o passeio.
Intuio o Perfil
Olho as estrelas,
Tento entendê-las.
Não vejo a mim,
Faltam-me espelhos.
Busco encontrar-me,
Onde estou?
Sou este corpo?
Cogito ergo sum?
Cada passante,
É um reflexo,
Sou mais o outro,
Do que eu mesmo.
Cada defeito,
Que eu desprezo,
Cada beleza,
Que ambiciono.
Vazios,Carências,
Lacunas percebidas.
Não vejo a face,
Intuio o perfil.
A Vaidosa Terra
A Terra, vaidosa, amanheceu um dia.
Sentindo-se, imaginem, muito suja.
Lixo, pasmem, na praia e nos rios.
O ar, que horror, a fazia tossir.
Nem um maremoto limpou suas praias.
Ciclones e furacões não lhe limparam o ar.
Suas lágrimas criaram inundações.
A falta delas em outros lugares, desertos.
Esteve, saibam, para desistir.
O verde, percebam, começou a sumir.
Mas deu-lhe sono, e adormeceu ...
Acordou com crianças cantando.
Pássaros amando, peixes felizes, como só eles são.
Ganhamos mais uma chance acreditem, uma mais.
Absurdamente Solitário
Vago perdido,
Nesta multidão,
Absurdamente solitário
Dentro e fora de mim.
Me acho no mundo,
Cruel dilema,
Perder-me ao interno?
Encontrar-me no externo?
A quem procuro?
Vagando assim?
Opto? Escolho?
Abro ou fecho o olhar?
Olhos Abertos no Escuro
Abro os olhos,
Me percebo aqui,
Um distante planeta,
Uma galáxia qualquer.
Quem sou?
Porque aqui?
Qual a razão?
Uma missão?
Olhos abertos no escuro!
Razão ou intuição?
Qual a chave
Para a compreensão?
Só nos resta no escuro viver!
Intuindo razões no coração.
Alçar os olhos para a luz do sol.
Caminhar como se, razões, tivesse.
Os Sentidos
Quantos serão os sentidos?
Serão 12, serão cinco?
Visão, audição, olfação,
Gustação e palpação?
E o sexto sentido, a intuição?
Para que desenvolvemos os sentidos?
Para o prazer ou o se relacionar?
Até onde trazem o prazer?
Onde, exatamente, começa a dor?
E para que serve o se relacionar?
A perfeição estática do cristal,
Ganha a vida, misteriosamente, no vegetal,
Movimento e emoção no animal,
Aperfeiçoamento de alma no homem.
Sentidos são as janelas da alma!
Extasiado com um pôr-do-sol
Fascinado por uma melodia
Ou embriagado por carícias.
A emoção me projeta no mundo
Através das janelas de minh`alma.
Abandono ou não o banal
Percebo com a alma ...
Ou deixo passar...
A chave para tudo
É a simples emoção!
A visão maravilhoso portal
Permite o êxtase ou a decepção
O olho expansão do cérebro
Direcionado ao externo
Fonte do extraordinário ou do banal!
A audição chance gloriosa
De captar a essência do vento,
Da Música, da natureza,
Selecionamos o melhor para ouvir?
Ou o que penetra é uma cacofonia?
O olfato, o aspirar a fragrância.
Aspirar a essência do externo.
Captar de tudo o que exala!
Definir, do que exala, a qualidade.
Separar o que é bom do ruim!
Gustação, perceber o sabor
Discernir o salgado e o doce
Amargo, azedo e picante na vida
Mesma raiz tem sabor e saber
Como saber sem saborear?
Palpação, tatear, tocar, estender
Fazer da pele, mais que barreira,
Instrumento de romper a distância
Supremo sentido de percepção
Do mundo e do outro também!
Temperamentos tem a ver
Com tempero e com tempera
O que da o colorido a cada um!
Não se deve ser insípido!
Vós sois o sal da terra!
Sentidos e sutis sensações
Passo primeiro da percepção,
Portais físicos para transcender.
Corpo no caminho da alma.
Alma acessando ao espiritual.
A Gratidão
Agradeço, especialmente, pela vida.
Oportunidade impar de evoluir.
Aos meus pais e antepassados,
Longa cadeia de transmissão genética,
E ao sublime plano divino,
Doadores a mim de corpo e espírito.
Agradeço, profundamente, por andar
Me colocar ereto diante da vida.
Possibilidade, ainda que trôpega,
De locomover, de conhecer o mundo,
Subir montanhas e descer aos vales,
Caminhar ao interior ou até o mar.
Agradeço, do coração, por falar,
Me colocar, comunicar, trocar,
Participar, me relacionar
A fala para mim é fundamental,
Transforma criatura em criador.
Oportunidade e responsabilidade.
Agradeço, penhorado, por enxergar.
Me encantar com uma borboleta,
Um pássaro, um peixe ou uma flor.
Ao observar o nascer e o por do sol.
Diferenciar na natureza os matizes
De verde, de um Arco Íris ou Girassol.
Agradeço, emocionado, por ouvir.
A música do vento e da água,
Dos grilos, dos pássaro e do mar
O canto dos homens felizes
Os seus instrumentos a tocar
E até pelo silêncio após.
Agradeço encantado pelo paladar
A percepção do que tudo tempera.
Do doce, salgado e do amargo,
Do azedo e picante na vida.
Mesma raiz tem saber e sabor.
Me traz tanto prazer e percepção.
Agradeço comovido pelo olfato,
Perfumes, cheiros, nuances,
O mundo mais pobre seria
Sem a riqueza de fragrâncias
Das flores, pessoas e animais.
Ah! Minha memória de cheiros.
Agradeço, então, muito pelo tato.
De pele com pele e do mato,
Com o pelo do cão e do gato,
Do sentir a pena do pássaro,
Com o áspero da casca da árvore,
Do tato, com tato e o contato.
Agradeço ainda pelo amor.
Todas as oportunidades de amar.
Desculpo-me pelas que desperdicei.
O sublime e árduo aprendizado.
Acredito , no fundo, nossa missão,
De tudo transmutar pelo amor.
Agradeço por sentir gratidão,
Que enobrece e traz merecimento.
Restabelece o fluxo do universo.
Reflexão que implícito traz aceitação.
Aproxima de Deus e do interno.
E com a natureza comunhão.
As Virtudes
Criou Deus as virtudes,
Para a Terra as enviou,
Pediu que estivessem com os homens,
Mas não lhes revelou os nomes.
A primeira encontrou um pescador,
retornava para casa e dizia:
Pesquei o reflexo do sol no rio!
Descobriu que seu nome era verdade.
A segunda encontrou um caçador,
Que em um coelho desistiu de atirar,
Que bom, hoje uma vida salvei!
Descobriu que seu nome era piedade.
A terceira encontrou um vendedor,
Que surpreso disse ao comprador:
Não leve, não tem qualidade!
Descobriu que seu nome era honestidade.
A quarta encontrou um menino, que
Retirou da lancheira uma fruta,
Mas a um menino faminto a doou.
Descobriu que seu nome era bondade.
A quinta encontrou um pobre homem,
Com tão pouco para a ceia do natal,
Mesa enfeitada e completa partilha.
Descobriu que seu nome era esperança.
A última, pela terra, perdida andava
Finalmente mãe e filha encontrou,
Noite a dentro cantava e embalava.
Descobriu que seu nome era amor.
A Meu Pai
Teus cabelos brancos,
teu sorriso franco,
me revelam tanto,
o tanto, que vivestes.
Tua vida que me é cara,
testemunho vivo,
de tudo que fostes,
pai amado e amigo.
Herdarei de ti,
muito mais que posses,
tesouro infável,
teu exemplo honrado.
Tua vida simples,
um dia após o outro,
com coragem plena,
me sirva de exemplo.
Estejas sereno,
tua missão cumpristes,
aos que te cercaram
ensinastes o amor.
Abençoado Seja ...
Abençoado seja aquele que tem fome de alimentos.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
Os alimentos são, da terra, presentes ao corpo.
A possibilidade de se alimentar é direito universal.
A responsabilidade pelo alimento é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e o compartilhar impediriam a fome .
Abençoado seja aquele que tem sede de água pura.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
A água é a fonte universal da vida no planeta.
A possibilidade de saciar a sede é um direito universal
A responsabilidade pela água pura é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e o zelo com a água do planeta impediriam a sede.
Abençoado seja aquele que tem ânsia de ar puro para respirar.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
O ar é um presente do céu ao seu pulmão.
O respirar ar puro é um direito universal.
A responsabilidade pelo ar puro é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e o não poluir garantiriam a qualidade do ar.
Abençoado seja aquele que tem fome de amor.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
O amor é o fogo do coração.
Amar é um direito universal.
A responsabilidade pelo amor é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e a fraternidade impediriam a falta de amor.
A Morada do Ser
Submerso em um mar de banalidades,
Perdido na rotina ordinária,
Segue absolutamente cego o homem,
Iludido de tudo estar vendo.
Esquecido totalmente de sua essência,
Acreditando-se densa matéria
Esquecido ser espírito que toca a lama,
E que mais importa o espírito que a lama.
A morada do ser é o extraordinário,
Diz-nos Heráclito há quantos séculos,
Dormimos, sonhando acordados estarmos,
Desperdiçando nosso tempo com tolices.
Importa perceber que a vida é pequeno ato,
De um teatro maior, universal e eterno,
Que somos figurantes no grande drama humano,
Com missão individual de procurar a síntese.
Vivenciar nossos dramas pessoais,
Aprender a colocar o coração na vida,
Abrir se a emoção, ao sensível a ao encantamento,
Utilizar-se do intelecto para integrar tudo.
Perceber a mensagem simbólica e secreta,
Que nos contam mitos, contos, fábulas e ritos,
Estar em sintonia com a arte e a poesia,
Sutilizar o que está pétreo, rígido e inflexível.
Amar, perdoar e não julgar,
Perceber a imensa grandeza de nossa pequeneza,
Um grão de areia importa ao universo,
Se ousarmos viver, na essência, com inteireza.
Um Elogio faz Milagres
Um elogio faz milagres.
Massageia o ego.
Eleva o astral.
Expande a alma.
A vida é sempre, de escolhas, feita
Preferir mostrar assim do outro
e o nosso próprio melhor lado.
É escolher revelar a face bela.
Temos no interno, em potência,
O herói, o criminoso e o banal.
Sabedoria é retirar depressa,
O de melhor que estiver a nossa espera.
Como o escultor que da bruta pedra,
Diz retirar somente as sobras
Revelando a estátua que já lá estava.
É a opção de ver o feio ou o belo.
O Ritual do Natal
Só tem sentido, o rito,
pelo simbólico, pela intenção.
A senda que se trilha no externo
Representa o interno caminho.
O caminho que importa,
Verdadeiramente trilhar,
Pretende do escuro
À plena luz nos levar.
O ser pai compreende
Amoroso indicar do caminho
Trilhar junto no início, Iluminar
E incentivar prosseguir.
A lição do Natal, retirar
De um singelo menino
pobremente nascendo
Relembrar de para Deus retornar
OBS: Poema escrito para início de um ritual de Natal. Uma vela acesa no centro de uma espiral labirinto feita com folhas. Cada pai percorria o caminho até o centro com seu filho. Acendia uma vela, na central, a mesma estava encaixada numa maçã, a guisa de castiçal. Ia colocando no trajeto, iluminando tudo. Bonito, não?
O Milagre de Gerar uma Vida
Nove maravilhosos meses se passaram
Acompanhados, cá de fora, com emoção.
Avós decoraram seu quarto
Presente amoroso na expectativa da chegada,
Ameaças de interrupção, sangramento,
Repouso materno, preocupação,
Sua energia e vitalidade venceram.
Gravidez a termo, acaba tudo bem.
Sua mãe imagina, louro, olhos azuis,
Premonição? Intuição?
Começam as contrações.
Caminhamos pelo bairro até a hora.
Pelas mãos do tio e da tia
Nasces chorando, mas sei que feliz.
Um bebê lindo, prêmio de Deus,
Nos apaixonamos por você.
Cresces e como cresces.
Com um ano tamanho de quatro.
Independente, carinhoso,
Carismático, alegre você é!
Falante, comunicativo,
Embora fale pouco de ti.
Muito grande se sente mais velho.
Tenho que enfrentá-lo, impor limites.
Se soubesse como sei hoje
Quão bom serias, relevaria.
Na ansiedade de te querer bom
Quantas vezes fui severo.
Não me arrependo muito
O resultado final foi excelente.
Acredito que mais por sua qualidade
Que pelo meu esforço.
Mas releves, filho, não tenhas mágoas.
Tudo que fiz ou não fiz foi com amor.
Aos oito anos conquistas competir no exterior.
E me comunica: eu vou viu!
Ser pai não se aprende em curso
Nem tem manual explicativo.
Tentei, corajosamente fazê-lo.
Errei, acertei, por certo ambos.
Meu grande consolo é ver-te hoje
Firme a caminhar na vida.
Fazes faculdade, serás médico.
Livre de vícios, saudável.
Todos gostam de ti.
Meu prêmio merecido ou não
É ver que estás vencendo.
Perdoe me filho, minhas falhas
Soube agora que te fiz falta no futebol.
Como todo pai tentei te dar o mundo.
Não sei se foi bom ou não
Agora é mais com você,
Do que comigo.
Preparei tuas bases, a fundação,
Erigir o castelo, agora, é tua missão.
Confessas Sofrer por Amor
Vejo teus olhos marejados,
De límpidas lagrimas cravejados.
Percebo um coração sangrando,
Ferido por tuas próprias lembranças.
Existe dor maior
Que a consciência
Plena e irrefutável
De não ter amado?
Nunca ter amado
Seria melhor ou pior
Que a terrível dor
De amar e perder?
Sentir tem o mesma
Raiz que sabor.
Como sentir sem
Nunca experimentar?
Há época de semear
E a de colher!
Colhe-se ora sorrisos
Ora imensa dor!
Mais triste no entanto
É quando por medo,
Para evitar sofrer
Se esquece de viver.
Portanto minha amiga
Seques as lágrimas
Ou chore sossegada
Mas plantes o amor.
Reflexões sobre o Céu e o Inferno
Platão, o filósofo, já nos dizia
Que no nosso plano, plano terreno
Todas as coisas são pálidas cópias
Do plano das idéias, plano espiritual.
Copiamos para nosso cotidiano
Até mesmo o inferno e o paraíso
Que recriamos aqui para nossas vidas
E pior, alguns, vivem no limbo.
Esquecemos de termos livre arbítrio
Do direito e do dever de ser feliz
Que sofrer, correção de rota, indica.
Perdemos a noção de nossa missão.
Expressar nosso potencial integralmente
Individualizar-se nossa maior meta.
Microcosmo no Macrocosmo
Toda busca maior visa
contactar a própria essência.
Caminhada diuturna e tentativa
de encontro com a identidade.
Vencer traumas, bloqueio
de um mais pleno desenvolver.
Morte e vida, Tanatos e Eros,
são processos e não um momento.
A morta nos liberta, gradualmente,
do tanto necessário, de vida
para cristalizar consciência.
A grande luta não deve ser
vencer as rugas, mas garantir
que sua companheira
seja a sabedoria.
Onde encontrar as respostas?
No passado, presente ou no futuro?
Dentro ou fora de mim?
Enganadores divisões conceituais,
não existe interno e externo,
passado, presente e futuro,
tudo que de fato existe é a viagem,
longa viagem de todos os seres,
em busca de aprender a ver a luz,
todo o mais é ilusão passageira.
Microcosmo no macrocosmo,
o todo está em cada um,
como este está, no todo, contido.
Somos um todo indivisível,
não se separa Psique do Soma,
sob pena de se extinguir a vida.
Colocar em harmonia, apascentar
o visceral e metabólico querer,
temperado com um rítmico sentir,
em sintonia com um pensar cristalino.
Privilegiar uma das instâncias
é abdicar da integralidade.
Afastar a ansiedade, pois
uma vez iniciada a caminhada,
o autoconhecimento é conseqüência
inevitável no decorrer do processo.
Podendo ter parte da viagem
trilhada meditando no interno,
parte no mundo, bastando
colocar-se como pequeno lume
iluminando ainda que pouquinho
no seu trabalho, no lazer,
onde moras e junto da amada.
Que paradigma devo usar,
para decifrar meus mistérios?
Decifra-me ou te devoro,
diz-me a esfinge interna.
Buscar referências simbólicas nas
tragédias gregas ou nos mitos?
Devorar a filosofia, o legado de
pensamentos que o passado deixou?
Utilizar-me da psicologia,
da psicanálise ou da poesia?
Trabalhar com os instrumentos
da arte, da técnica ou da ciência?
Usar a inteligência, a intuição,
a sensibilidade ou o querer?
A melhor forma é não ter forma
vivenciar e aprender no viver.
Estar inteiro, feliz e pleno.
Interagir com o universo,
de forma prazerosa e produtiva.
Evoluir, crescer, melhorar.
Acrescentar minha própria gota,
pequena gota de consciência,
ao mar de consciência cósmica.
A última missão de cada homem
É o mais plenamente se individualizar.
Lembrar-se da simbólica
e antiga imagem do cocheiro
controlando cavalos e carruagem.
Fortalecer e colocar seu Eu
no inteiro comando de sua vida.
A descoberta deste Eu pode ser
Numa viagem interna ao passado,
atuando com consciência no mundo,
ou projetando seus sonhos no futuro.
Há que se sair dos impasses.
Não se há de temer a vida.
Utilizar-se dos embates
como chance de se fortalecer.
Lembrar que modelar o Eu
É tarefa de toda uma vida.
A Vida nos Ensina
A vida nos ensina
inexoravelmente.
Mestra severa
e exigente.
Alguns aprendem
felizes.
Outros choram
repletos de dor.
Mas a vida nos ensina
seja como for.
Mais sábio seria
procurar entender as lições.
Compreender as mensagens
dessa sábia senhora.
Que com leis,
imutáveis,
Embora nos pareçam
indecifráveis,
Segue seu curso
sem se desviar,
Só pretendendo
nos fazer crescer.
A vida nos ensina
em duras ou suaves lições.
Mas queiramos ou não
iremos aprender.
O Terapeuta
Despir o corpo e enxergar a alma.
Buscar as causas para cada evento.
Entender as últimas razões .
Ler nas linhas e nas entre-linhas.
Encontrar esperança para quem as perdeu.
Dar acolhimento para quem não o tem.
Abrir os caminhos para quem precisa caminhar.
Alternar o uso da inteligência e da intuição.
Usar a sensibilidade sem se enganar.
Ter a doçura firme quando precisar.
Ser verdadeiro mesmo sem chocar.
Ter um coração amoroso sem estar piegas.
Estar integral, visceral, no processo.
Vibrar na freqüência sem se contaminar.
Ser fraterno, mas ficar em seu lugar.
Servir de lanterna se está escuro.
Sem muito pretensioso ficar.
Estar ciente dos limites sem se acovardar.
Buscar a luz para ter o que dar.
Desta vida levarei ...
Desta vida levarei ...
A lembrança de todo o amor,
Que tive, que dei,
Será que amei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
A lembrança das vivências,
Viagens, passeios, onde mergulhei,
Será que mergulhei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
Toda a emoção que pude ter,
Quadros, música, dança.
Será que me emocionei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
Meu amor ao planeta, a ecologia,
As árvores que plantei, o que semeei.
Será que semeei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
A consciência que desenvolvi,
O valorizar na justa medida cada coisa.
Será que me conscientizei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
A poesia, o enlevo a harmonia que conquistei,
Sempre que consegui frear a correria para lugar nenhum
Será que tive toda a poesia que podia ter?
A Essência da Vida
Seria esta a nossa verdadeira busca?
Da qual andamos esquecidos?
A que nos prende na eternidade?
Aprender a depurar do joio, o trigo?
Abandonar o supérfluo e o vazio?
E entender a essência desta vida?
Onde encontraríamos a essência?
Na guarda transitória de bens materiais?
Iludidos da posse momentânea
do que verdadeiramente nunca nos pertenceu?
Ou indo, ambiciosos, um pouco mais além,
Buscando sutis tesouros intangíveis?
Nos orgulhamos de nossas mentes,
Instrumentos enganadores e imperfeitos.
O importante seria o que concluímos
Ou o processo que nos levou ao resultado.
Estaria a essência no que acreditamos?
Ou seriam verdades passageiras?
Estaria a essência escondida,
Nas experiências vividas pelo coração?
No amor sentido pelo amante? Pelo filho?
Ou que cresce e extravasa por todo o planeta?
O mais nobre é o que vivemos? Pensamos?
Ou o que percebemos pelos sentimentos?
Cada um tem, rica, sua história de vida.
Cada qual tem seu drama pessoal.
O perigo é pouca ou demasiada paixão pela vida,
Nublar todo nosso entendimento.
Ideal seria, como se em um teatro pudéssemos
Afastarmos-nos, observar e do drama reter a essência.
Seriam filosofia e ciência somente
Instrumentos para afinar nossa percepção,
Sendo a sensibilidade adquirida com a arte
Ou pelo encantamento com a natureza,
Aliadas a devoção ao de mais sacro,
Da viagem de volta, pré-requisitos?
Jogados à vida com os olhos vendados,
Fascinados com o jogo e esquecidos,
Que nos cabe resgatar, cotidianamente,
Grandes as pequenas missões neste planeta.
Devemos assumir o livre arbítrio e decidir
O que largar e o que é imprescindível levar.
A Busca do Bom, do Belo e Verdadeiro
Explica-se a busca do belo pelo homem,
Seja na arte, na natureza ou na companheira?
Que mistérios encontram-se por detraz?
Programados por quem estamos todos?
Na companheira procura-se juventude e beleza.
Garantia dos melhores gens diz a ciência.
Alma gêmea dizem os românticos.
Por que não existem almas gêmeas feias?
Seria a procura do belo,
Reflexo nostálgico da lembrança,
De um vago e remoto paraíso?
Implantado nos corações por mão divina,
como última esperança de retorno ao pai,
A busca do bom, do belo e verdadeiro.
A Bailarina, entre o Peso e o Enlevo
Graça, leveza e encanto,
Bolhas nas pontas dos pés.
Plie, jete, pas-de-deux,
Dores até não poder.
Gestos delicados, precisos,
Ensaiar, repetir, ensaiar.
Harmonia e um belo conjunto,
Fruto de se superar.
Ter na arte a meta a alcançar,
Condição humana transcender.
Ter nos cisnes e sílfides o olhar,
Para todo o peso sublimar.
Quanto mais delicada se mostrar,
Mais determinação e força há de ter.
Emocionar com a força do gesto,
Amparado por toda uma técnica.
Com o corpo tão pouco vestido,
Ou trajado somente de sonhos.
Belo exemplo para todos nós,
Tanta arte e enlevo em um ser.
........................................................
Esta é minha homenagem
Para Cristina, 12 anos,
Que treinou meses
Para dançar do "Quebra Nozes":
"A Valsa das Flores"
"A Dança das Espanholas"
"Flocos de Neve".
Além de nos encantar,
Por certo muito aprendeu
Sobre a arte e a técnica,
A força de vontade e a persistência,
O vencer os limites do corpo,
O material e o espiritual e
sobre a essência da vida.
Soneto ao Palhaço Involuntário
Guardamos todos no íntimo
O desespero do ridículo um dia
Envergonhados palhaços involuntários
Surpresos pela imperiosa vida.
Sentimento de cara inchada,
Rotundo nariz vermelho,
De ser alvo da chacota,
Uma completa exposição.
O que nos salva, verdadeiramente,
É a consciência do ridículo desta vida,
Rir-se dela deve ser a meta.
Pompa, pose e circunstância
Endurecem, aprisionam, fossilizam,
Contra tudo a única arma é o riso.
Tributo à Música
Guardamos todos no íntimo
O desespero do ridículo um dia
Envergonhados palhaços involuntários
Surpresos pela imperiosa vida.
Sentimento de cara inchada,
Rotundo nariz vermelho,
De ser alvo da chacota,
Uma completa exposição.
O que nos salva, verdadeiramente,
É a consciência do ridículo desta vida,
Rir-se dela deve ser a meta.
Pompa, pose e circunstância
Endurecem, aprisionam, fossilizam,
Contra tudo a única arma é o riso.
Pequena Chama
Somos sobre a Terra
Pequena porção
De consciência individualizada.
Em potência,
Podendo abarcar a essência
Do pensamento da época.
Somos pequenas chamas,
Irradiando calor e luz.
Calor que aquece ou queima.
Luz que ilumina ou cega.
Livre arbítrio,
Sempre o livre arbítrio
A intenção,
Que faz toda a diferença.
Consciência ou inconsciência.
Ação ou omissão.
O que tenho entrego?
O que sei compartilho?
Sou força de luz ou treva?
Caminho só?
Mas pelo menos caminho?
Paradigmas
Conceitos nos movem.
Conceitos levam a guerra.
Quais são nossos referenciais?
Que paradigmas temos
Na Irlanda
e aqui
Irmãos se matam em nome
do mesmo Deus.
Divisão por diferentes
enfoques sobre religião?
Quanta pretensão,
sentir-se dono da verdade.
Que saudável é
o exercício da dúvida.
Escutar a verdade alheia
no mínimo com respeito.
A absoluta certeza
Num mundo mutante
Verdade ou
Prepotência?
O Lado Escuro
Perscrutei às trevas,
Tangenciei o mau,
Vivenciei que é real.
Força arquetípica,
Densa e primordial
No cosmos universal.
Ponto cristalizado
Rebeldia primeva
Um não pleno fluir
No divino amor.
Não a escuridão,
Contraponto da luz,
Pequena treva terrena
Que um raio ilumina.
Mas algo abissal
Profundo e total,
Silencioso, a espreita,
Uma porta para o caos.
Em doce engodo
Vivemos, esquecidos
Do cosmos primordial.
Um véu nos tolda a visão
De uma realidade
De luz e treva total.
Pequeno microcosmo
inserido no macro,
Me vi perguntando
Se me contaminara.
Percebi que temos
Com o bem e o mau
Sintonia interna
Possibilidade total.
Um certo mal estar
O vivenciar que o homem
Comunga visceralmente
com o bem e o mau.
Consolo tardio,
Uma voz me dizia,
Se tivesses entrado
Em trevas tão densas
Perdido estarias
Neste buraco negro
A vida é magia,
Alimentar, amar,
Com a fala criar
Tanto encanto.
Um sorriso é magia,
O cantar pleno encanto,
Uma história abre dimensões!
Fantásticas? Reais?
Senhor de dois mundos,
Pode o homem alcançar,
Denso, pesado, e físico,
No espiritual pairar?
Que se permita lembrar,
Que uma chispa de luz,
Doação de divino amor,
Está pronta no interno
Para as trevas afastar,
E ao pai nos fazer retornar.
No eterno combate
Entre o bem e o mau
Não dá para ficar alheio
Nele somos guerreiros.
Vislumbrar luz e trevas,
Relembrar, é uma arma
Que nos mostra, qual lado,
Desde o início escolhemos.
Por piegas, que possa parecer,
Nossa única missão é amor irradiar,
E de frente, até o mau,
Poder firme nos olhos fitar.
A Essência
Se só levamos daqui a essência,
Por que acumulamos terrenos tesouros ?
Se só levamos daqui a essência,
Por que Fazemos inimigos ?
Se só levamos daqui a essência,
Por que desperdiçamos tanto tempo ?
Nossa única missão é aprender,
vivenciando, experimentando,
Errando e acertando,
Caindo e levantando.
Se pudéssemos lembrar da essência,
Nossa única porção persistente,
Andaríamos, correríamos na senda,
Velozmente a caminho da luz.
Aprender com a arte e a beleza,
O amor, a amizade, a esperança,
A perseverança, a paz, a confiança,
Ver na natureza o reflexo de Deus,
Nesta terrena escola, em suma,
a missão é aprender sobre a essência.
A Batalha entre O Caos e A Ordem
Somos imagem espelhar
De um universo em caos
A procura da divina ordem.
Todas as nossas forças,
Potencialidade,
Emergem do caos inicial.
Somente ao iluminar
As caóticas trevas
Começamos a jornada.
Nos sentimos sós,
Desconectados da fonte,
Esquecidos do berço.
Nosso caminho interno
Na essência é somente,
A batalha entre o caos e a ordem.
O que esquecemos
É que espiritualmente filhos da luz
A ela inexoravelmente voltaremos.
Que nossas trevas
Físicas, Terrenas,
São somente um estágio.
Que nossa única missão
É não negando as trevas
Acender nossa luz interna.
O Universo Conspira a seu Favor
Todas as suas aspirações,
Se são lícitas e justas,
Se ao outro não agridem,
Se você as merece receber,
São suas por direito
Bastando ao universo pedir.
Lembre-se de pedir,
Somente formulando seu pedido,
Sem ferir seu livre-arbítrio,
Pode a ajuda vir.
Peça ajuda aos anjos,
Peça ajuda ao cósmico,
Peça ajuda aos iluminados,
Peça ajuda sempre que precisar.
Qual universo primevo,
Somos pequeno caos,
A procura de ordenar.
No divino caminho,
Cada pequena luz interna,
É uma vela a iluminar a senda.
“E o universo
conspira
a seu favor”.
Pequeno Poema Triste para uma Princesa Hindu
Nas brumas do tempo eu vi,
uma princesa hindu,
em seu sari vermelho,
tendo na testa um rubi.
Pequena, negros cabelos,
tez morena acobreada,
gestos delicados,
levemente sensuais.
Em relance, sua vida, pressenti,
educada para agradar,
ao consorte seduzir,
missão de vida.
Brilho no olhar,
expressão viva,
caminha a flutuar,
leve como a brisa.
Sua mente arguta
domina as artes,
filosofia, astrologia,
e o aos outros compreender.
Dança delicada,
cada dedo tem seu movimento,
com intenção,
e com sentido expresso.
Seu drama primeiro,
por transcender seu limite,
todos se consternaram,
com o brilho de sua mente.
Encontrado seu destinado príncipe,
surpreendentemente o amou,
correspondida foi
ardentemente amada.
Coube ao destino cruel,
em breve ceifar,
de seu amado,
a vida querida.
Inflamada do príncipe
a nobre pira
pretendendo segui-lo
nela a princesa se atira.
Levada por Maia,
a ilusão infinda,
de que pelo amor dois seres possam
compartilhar um só destino.
Pecado cometido,
se encontram pelo tempo,
sempre um pouco antes
ou após o momento certo.
Seios da terra
Uma bela colina
arredondada.
Coberta da suave penugem
da grama.
Volume que ressalta
contra azul celeste.
Denso confronto
com o diáfano.
Me recorda Salomão
real sabedoria
que compara colinas
aos seios da amada.
De repente percebo
feridas rasgando
os seios / colinas
de alto a baixo.
Divina perfeição
lesada
pela humana
insensatez.
Comunhão perdida
com Natura Deusa
explora-se a terra
à exaustão.
Cumpre resgatar
mistérios esquecidos.
Abrir da alma os olhos
captar a essência.
Perceber em colinas
a beleza de seios.
Pressentir na mãe terra
o toque do divino.
A Poética do Lixo
Há estética
na discussão
do lixo?
Terreno baldio
invadido
por lixo.
Margem de rio
depósito
de lixo.
Que dramas
encerra
o lixo?
Águas correm
de dejetos cobertas,
lixo.
Ondas espocam na praia,
de suja espuma cobertas,
que lixo !
É lícito,
demorar o olhar poético,
sobre o lixo?
Planeta Lixo II
Ecos de remoto passado,
segredos revelados,
pelo que se encontra, soterrado,
Restos de um viver,
de um se organizar.
Do lixo.
Restos de uma fogueira,
familiar acampamento,
abrigo da caverna.
Desvenda uma época.
Mistérios revelados.
Pelo lixo.
Pontas de lança,
facas de pedra,
fragmento de carvão,
facas cinzeladas,
jóias raras.
Seu lixo.
Da Grécia clássica,
uma Vênus de Milo,
cânone da beleza.
Mármore belíssimo,
perdida cabeça e braços.
Seu lixo.
Cada civilização
tem o lixo que merece !
Vênus de Milo?
Latas de cerveja?
Raras jóias?
Ah ! O lixo.
Qual nosso legado?
O que deixaremos?
Será belo?
Será útil?
Encanta ou repugna?
Nosso lixo
Formigas não poluem,
mantém seu mundo limpo,
há milênios.
Existem em equilíbrio.
Permanecem,
até pelo seu lixo.
Humanos ...
Que desperdício !
Que descartável !
Que consumismo!
Coberto o planeta,
por lixo.
Planeta Lixo
Lixo...
É o que me sobra ?
É o meu detrito ?
É reciclável ?
Para alguém tem serventia ?
O que é lixo ?
Soterra-se o planeta,
em camadas intermináveis e irresponsáveis.
Do meu, do teu
não o do outro
mas o nosso lixo.
Lixo tóxico,
atômico,
doméstico,
hospitalar,
urbano,
lixo ...
O Planeta
é nossa casa.
Sem ele
onde estamos,
O que somos ?
E o lixo ?
Ratos,
Animais para nós “repugnantes”
fazem um trabalho
de limpeza
mantendo limpos
nossos esgotos.
O homem em sua soberba
produz montanhas
de lixo.
Sem se sensibilizar,
educar,
repensar.
Que nobre ser !
Que ápice da criação!
Sobreviveremos a nosso
egoísmo?
Descaso?
E a nosso lixo?
Reciclar é preciso!
Repensar, urge !
Vivenciar nosso velho planeta,
sentindo-o nossa casa !
Com certeza
“Geia” agradece!
Águas limpas,
nas fontes, cascatas,
rios e o mar.
Sem lata, papéis,
espuma de sabão,
Barris de lixo radioativo.
A terra pronta
para cumprir seu papel
de grande útero da vida.
Sem que montanhas
de irresponsáveis detrito
cobrindo-a a impeça.
Mais consciência
de que o meu lixo,
costuma ser o alimento,
a vestimenta,
o mobiliário
ou a morte de um irmão.
Lixo...
É o que me sobra?
É o meu detrito?
É reciclável?
Para alguém tem serventia?
O que é lixo?
Planeta Água
A água
desperta
na semente,
qual pequena
pedra adormecida,
a vida !
Do planeta
suas artérias, veias,
capilares,
são seus rios,
riachos, ribeirões,
rasgados na terra.
Também no interno
fonte essencial
de saúde e de vida.
Nosso corpo
quase todo de água
formado.
A água purificada
em seu eterno
ciclo,
no que toca
dissolve, desperta,
vivifica.
Circula,
evapora, condensa-se,
forma nuvens, chuva,
infiltra-se, lençóis,
Exterioriza-se, cascatas,
córregos e lagos.
A Água tudo doa,
refresca,
limpa,
aplaca a sede,
fornece alimento,
transporta.
E hoje ?
margens nuas,
leitos assoreados,
água
de dejetos industriais,
contaminada.
Morre o planeta?
De leucemia?
Se suas águas
são seu sangue ...
Até quando
agüentará?
O homem e o planeta
são cúmplices,
irmãos e amantes.
Doente o planeta,
uno com ele,
doente estamos.
Algo distante
de mim, de ti?
Por certo não!
Responsáveis,
pelo planeta,
somos todos!
O sabão
que nos limpa
a pele e a roupa
cobre de espuma
rios, cachoeiras, e chega ao mar,
matando peixes e demais vida.
Perdida a inocência,
da vida natural,
paradisíaca,
de forma premente, só nos resta
a partir da consciência,
restabelecer o equilíbrio perdido.
Num tempo circular
Se estivéssemos num tempo circular ...
Se só o que existisse fosse de fato
Um eterno construir do presente.
Se passado e futuro não fossem realidade
Mas se tornassem dele conseqüência.
Se isto ousássemos descortinar.
Potencialidade quase absoluta.
Se pudéssemos escrever nossa história.
Se seguir plácidos pela direita
Ou virar afoitos pela esquerda,
Fizesse toda a diferença.
Se pudéssemos mudar inteiramente
O curso do fio de nossa história.
Se nos puséssemos a guerrilhar
Nos tornaríamos guerreiros?
Se nos puséssemos a fazer versos,
Nos tornaríamos poetas?
Se nos puséssemos a amar,
Nos tornaríamos amantes?
Se nada fizéssemos, seria o mais terrível,
Nos tornaríamos inertes?
Se pelo menos aprendêssemos,
Que já que temos que viver,
Que possamos viver plenamente.
Se estivéssemos num tempo circular ...
A Vida
A vida é movimento,
da água que corre,
do vento que tudo balança,
da planta que cresce,
do menino que brinca.
A vida é luz e calor,
do solar raio,
que beija a folha,
e num milagre
cria o orgânico,
na fotossíntese.
A vida é ação,
desde a menor célula,
até o maior animal.
Processos complexos,
um devora o outro.
Vida na ação.
A vida é pura emoção.
Do sorriso da criança,
passando pelo feio lixo,
do corpo estirado no chão,
à visão de um beija-flor.
O que nos salva é a emoção.
A vida é amor.
Força mágica,
misteriosa e secreta,
Que atrai e une,
fertiliza e cria.
Provoca sofrimento e êxtase.
A vida é espiritual.
Sua beleza intrínseca,
seu milagre oculto,
no mais corpóreo,
se vislumbra o divino.
O Processo
Livre arbítrio,
Escolhas,
Dilemas.
Sigo a direita?
A esquerda?
Em frente?
Recuo?
Paro?
Tantas possibilidades.
Indecisão.
Sofrimento.
Me digladio.
Penso ...
Aos poucos sereno.
Ausculto o coração.
Sinto...
Decido.
Quero ...
Ajo.
Percebo,
Que mais importa,
O processo,
Que a decisão.
O Olhar
A diferença que faz,
lançar sobre o mesmo fato,
um diferente olhar.
A chuva que olho irritado
encanta amantes
que correm de mãos dadas.
A diferença que faz,
lançar sobre o mesmo fato,
um diferente olhar.
O alimento que desprezo à mesa,
saciaria a fome,
dos que nada tem.
A diferença que faz,
lançar sobre o mesmo fato,
um diferente olhar.
O sol que tão quente me aborrece,
bronzeia na praia,
felizes corpos, semi nus.
A diferença que faz,
lançar sobre o mesmo fato,
um diferente olhar.
Os que querem se separar,
desconhecem a solidão tamanha,
dos que não tem a quem amar.
A diferença que faz,
lançar sobre o mesmo fato,
um diferente olhar.
Quem cansado reclama do trabalho,
esquece-se dos que lutam,
para ter onde trabalhar.
A diferença que faz,
lançar sobre o mesmo fato,
um diferente olhar.
O anoitecer que da luz me priva,
é o encantado momento,
esperado pelos enamorados.
A diferença que faz,
lançar sobre o mesmo fato,
um diferente olhar.
Viver
A vida corre rápido,
como um filme.
Deixando saudades
do gosto que fica na boca
da pipoca ou jujuba.
A vida nos desvia a atenção.
Alguém importante
fica esquecido
numa esquina qualquer
da memória.
A vida nos absorve,
com coisas tolas.
Como se nos tentasse
para ver se sabemos
o que é essencial.
A vida nos prega peças.
Vivemos, vivemos,
nos sentimos os mesmos
mas não é o que nos dizem
os outros e o espelho.
A vida nos endurece.
Perdemos sem sentir,
o jeito moleque,
a irreverência e o humor,
ficamos aos poucos, respeitáveis.
A vida é tão simples.
Despidos da casca,
brincando nos campos,
banhando nos rios.
Viver é estar com você.
A Esfinge
Decifra-me ou te devoro!
Escuta o caminhante atônito,
no deserto da vida,
com a esfinge deparando.
Decifra-me ou te devoro!
Repete olhando,
corpo de touro, peito de leão,
asas de águia, rosto humano.
Decifra-me ou te devoro!
Touro, terra, metabólico,
fonte de vida,
alimento da vontade, do querer.
Decifra-me ou te devoro!
Leão, água, coração,
fonte da alma,
alimento do sentir.
Decifra-me ou te devoro!
Águia, ar, percepção,
fonte do racional.
Alimento do pensar.
Decifra-me ou te devoro!
Humano, fogo, consciência.
Fonte do divino.
Alimento do espiritual.
Decifra-me ou te devoro !
Entrevê o caminhante
sua missão terrena
por fugaz momento.
Decifra-me ou te devoro!
A visão do homem
pleno,
nos quatro elementos.
Decifra-me ou te devoro !
Fazer a fusão alquímica,
suprema missão,
da interna transmutação
Decifra-me ou te devoro!
Direcionar para a luz,
regido pelo eu espiritual,
o sentir, o pensar e o querer.
Matrix
Como expressar,
em versos livres,
o sentimento,
que me evoca,
a palavra família.
Útero,
“matrix”,
mãe,
início.
Começo do caminho!
“Pater”.
Pai.
Abraço que embala,
acolhe.
Lambe feridas.
Aponta o caminho!
Um sempre voltar.
Um realimentar.
Reiniciar.
Lugar de aprender,
começar a conjugar
difíceis verbos:
conviver,
confiar,
trocar,
acreditar,
ousar,
viver
e amar.
Sentir-se aceito.
Protegido.
Ser encorajado
aos primeiros passos
e a cada dia
a novos passos.
“Frater”.
Irmão.
Espaço
para experimentar,
do carinho
ao brigar,
como forma
de treinar,
ao que a vida
um dia
mostrará!
Viver
um nunca chegar,
um eterno
caminhar.
Família I
Pai, mãe, irmão e tia,
com casa, cachorro,
peixe, periquito,
esta é a minha família.
Só pai? Só mãe?
Padastro? Madastra?
Meio irmão?
Nem assim, menos família.
O tempo passa.
Modelos mudam.
Nada é mais rígido.
Sobrevive a família.
Importa
é ter um porto seguro,
no final
do dia.
Colo,
carinho,
em momentos de dor,
isto é família.
Posso. Não posso.
Detesto esta parte.
Mas ainda assim ...
Ah! Família!
Irmão,
sujeito de amor
e ódio.
Ah! Família!
Ter amor, apoio,
limites, deveres
e regalias,
Ah! Família!
Nem tudo
são flores,
nem tudo é azul,
na família.
Mais terrível
é não ter para
reclamar.
Ah! Família!
A Cegueira Situacional
Que de cada ponto de vista
Se reconheça uma cegueira implícita!
Pois lançado o olhar em certa direção
Fatalmente para traz deixou se de olhar!
Que enorme diferença faria
Se a tudo pudéssemos alcançar.
O interno e o externo vislumbrar.
Perceber o denso e o sutil.
Mas a única esperança que nos resta
Sabedores de nossa cegueira inata
Iluminar nossa alma com a poesia
Com inspiração e arte suprir toda lacuna
Meu Universo
Areias movediças
Que tragam todo o peso
Tudo engolem
Buraco negro
No deserto da vida.
Vejo o mundo
Com os olhos
De meu momento interno
Ora um paraíso tropical,
Ora um árido deserto.
Floresta tropical,
Pressentindo feras
Externas ou internas.
Exuberância de vida,
Prestes a ser engolida,
Gerando nova vida.
Criatura ou criador?
Interfere o que penso
No meu universo,
Interno ou externo?
Dele sou vítima,
Ator ou diretor?
Pântano de vida,
Úmido ventre da terra,
Meio água, meio terra.
Afundo no inconsciente
Ambiente incomodo
Que diuturno me gera.
Sonho o universo?
Ou de seu sonho faço parte?
Entendo-o como sagrado
Ou um universo laico
Como o da ciência?
Muda se o entendo diferente?
Se puderes ser...
Se puderes vegetais plantar ...
Adubando a terra,
Preparando canteiros,
Lançando sementes,
Sobre covas que abriu
E cuidando de molhar.
Se puderes vegetais colher ...
Pela manhã
Logo que o sol nascer.
Deles obter, teu alimento,
Teu remédio,
Tua fonte de vida.
Se puderes vegetais perceber ...
Verás toda a força que encerram,
Vivendo entre dois mundos,
Combinando o denso mineral,
Que da terra extraem,
Com a luz mais sutil.
Se puderes vegetais amar ...
Com eles comungar
Da intenção de o bruto sutilizar,
Do denso espiritualizar.
Das trevas iluminar.
De vivificar.
Se puderes vegetais utilizar ...
Colhendo, secando,
Produzindo ungüentos,
tinturas e chás.
Todas as mazelas
Poderás tratar.
Se puderes vegetais sentir ...
Qual mágico pé de feijão,
Que crescendo da terra,
O céu quer atingir.
Verás que qual escada
Também para ti será.
Se puderes com os vegetais aprender ...
Como é simples,
harmonioso e belo
O divino plano.
E que só nos cabe
Plena e integralmente ser.
Quando na Vida se Instala o Caos
O melhor momento para se conhecer alguém,
Incluído aí o se auto-conhecer,
É no meio da mais forte tormenta.
Valorizamos o que é fundamental
Quando tudo que está frágil quebra
Jogamos o ouro e seguramos o essencial.
Tudo de ponta cabeça.
Nada onde deveria estar.
Como o estar no meio de um tufão.
O interno e o externo revirados.
Perdidas a paz e a ordem.
Será que algum dia existiram?
Salve a tormenta que me testa a nau!
Salve o caos que a tudo abala!
Salve os que tem coragem para recomeçar!
Salve o eterno recomeço!
Quem não teve seu íntimo revirado
Pelas vagas revoltas do mar da vida
Pode se sentir seguro, mas falsa segurança
Motivada pela cegueira e pela insensatez.
Parece ser mais forte e verdadeiro
O que se constrói com os destroços.
Por mais simples que seja a construção
É fruto legítimo da esperança.
Que se conserve a fé e a confiança!
Que se acredite no rumo a tomar!
Que se salve o amor e a alegria!
Que o resto pode naufragar!
Temperamentos
Temperamentos ...
Vem de tempero.
O que da gosto, sabor,
condimenta.
Vem de tempera.
O que colore, tinge,
particular combinação de cores.
Os sábios gregos, antigos,
interrogando a humanidade,
encontravam em cada ser
uma particular combinação,
mas sempre predominando,
um de quatro temperamentos:
melancólico, fleugmático,
sangüíneo ou colérico.
Melancólicos ...
Remoendo o próprio fel.
Perdem-se em seu sofrimento.
Densos, profundos, amargos.
Muito do elemento terra.
Eternamente insatisfeitos.
Seu processo de evolução
é desenvolvendo a compaixão,
abdicando do próprio drama,
dedicando-se ao do outro,
alcançarem uma dimensão maior.
Seu caminho do equilíbrio
é apreender do sangüíneo
algo de leve , solto, diáfano.
Fleugmáticos ...
Voltados para o próprio umbigo.
Tanto lhes faz se o rio corre,
se para cima o para baixo.
Muito do elemento água.
Eternamente satisfeitos.
Seu processo de evolução,
uma vez que pouco drama encerram,
é vivenciando o drama alheio,
ampliar sua visão:
do mundo, da vida e da evolução.
Seu caminho do equilíbrio
é imitando o colérico
se colocar em ação.
Sangüíneos ...
Leves, livres, soltos,
carismáticos e sedutores.
Não há quem não os ame.
Muito do elemento ar.
Seu risco é não se aprofundar.
Saindo da superfície,
aprender a mergulhar.
Seu caminho do equilíbrio
é do melancólico absorver
algo de denso e profundo.
Coléricos ...
Permanentemente em ação.
Demasiada reação.
Bateu, levou.
Muito do elemento fogo.
Seu processo de evolução,
envolve o ígneo acalmar.
Apascentar a alma.
Dos cavalos o controle retomar,
para com sabedoria agir.
Seu caminho do equilíbrio
passa por aprender com o fleugmático
a calma, a espera, a paz.
Temperamentos ...
Fornecem as pitadas de tempero,
que da o sabor de cada um.
Fornece a tempera,
que nos colore a personalidade.
Mais fácil conviver
com os temperamentos próximos.
Difícil permanecer
com o oposto complementar.
Monótono ficar somente
com seu próprio temperamento.
Algo mais a aprender,
na longa aventura do homem.
Que saindo da divina casa
perambula pelo universo.
Vivendo, errando,
acertando, aprendendo.
Até o retorno, pleno,
à sua verdadeira morada.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Lhe diria que precisa, a leveza, praticar.
Cantar na janela, nadar no rio, caminhar descalça.
Escutar o canto dos pássaros, o barulho da chuva,
O silêncio das manhãs de domingo.
Dançar sozinha ou acompanhada,
No nascer ou por do sol.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Eu lhe lembraria viver a vida.
Da forma mais plena e integral.
Experimentar cada pequeno gosto.
Guardar da vida tudo que teve sabor.
Pois a essência do que se viveu
é, tudo, tudo o que se tem para levar.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Insistiria em que se dedicasse ao que
verdadeiramente importa.
Voltar-se para cultivar o interno
crendo que lá existe um mui belo jardim.
Lá brincaria, como uma criança
correndo, entre as flores, atrás de borboletas.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Lhe falaria de abrir os olhos,
E ver a beleza de um pardal.
Vital e inteiro no sobreviver,
preservando a alegria no seu saltitar.
De achar belo tudo que é vivo
e de até na pedra, vida, encontrar.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Lhe diria para não esquecer a alegria.
Diferencial fantástico de uma vida e outra.
Quem a possui tem um dom,
Que não se pode furtar.
Mas que por sorte contagia
E quanto mais se doa mais tem.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Lhe mostraria todas as flores perfumadas
para que aspirasse todos os perfumes.
Mas pediria que paciência tivesse
com aquelas que não tem fragrância,
mas ainda assim são tão belas.
E refletisse sobre as que não achasse belas.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Lhe levaria a mergulhar em alto mar,
Observar os peixes, lagostas, tudo o que há.
Admirar-lhes o movimento, o fluir.
Procurar deles imitar o espontâneo
no viver, no se mover, no amar,
Em completa entrega ao mar.
Se conselhos eu pudesse lhe dar ...
Pediria que junto aos pássaros voasse,
sentisse a brisa fresca em seu rosto,
Visse do alto a beleza dos campos,
Cobertos de grama e flores.
Aprender a liberdade interna
Única verdadeira e possível de ter.
Se conselhos pudesse eu lhe dar ...
Sussurraria para dar sempre graças.
Em voz alta e plenos pulmões.
Graças pelo que teve e pelo que não teve,
Pelas possibilidades, pelas intenções,
Por todo o belo, o bom e verdadeiro,
E até pelo que ainda não é assim
Se conselhos pudesse eu lhe dar ...
Seria lhe contar que dentro há de achar,
Todos as qualidades que só nos outros vê,
Todos os dons, virtudes e perfeições,
Pois `a imagem do Pai foste formado,
Se ao espelho só cabe refletir ...
A perfeição impõe-se descobrir.
Se conselhos pudesse eu lhe dar ...
Lhe contaria de planos espirituais,
de infinita graça, luz e beleza,
Não para que se apresse lá chegar,
Pois na casa do Pai existe sempre
um lugar preparado `a sua espera.
Mas para que tenha paciência até lá.
Entretanto, conselhos, preciso eu próprio ...
Necessito profundamente parar e refletir
Sobre todos estes e mais, decerto, alguns.
Mais que prescrever receitas
as preciso receber e segui-las.
O esforço de ao outro querer curar, bem sei
É reflexo de como Quiron, a ferida perceber.
A Alquimia Interna
Da ganga bruta extrair,
O endurecido mineral.
Purificar, cristalizar,
Condensar, materializar.
Individualizar a substância.
No denso, penetrar.
No processo interno,
Auto-conhecimento.
Descobrir onde é denso,
cristalizado, mineral.
O que se tornou pedra?
Quanto na matéria, se penetrou?
Persistir no trabalho alquímico.
Quebrar, moer, triturar.
No almofariz o pistilo a girar,
Processar, processar.
Fragmentar, aumentando a superfície.
O inerte superficializar.
No plano interno,
de forma espelhar.
Trabalhar dificuldades,
imperfeições, amarras.
A tudo quebrar,
e até do defeito a essência alcançar.
Levando ao fogo o cadinho,
O chumbo derreter.
Fazendo com o fogo a fusão.
Mantendo em vista a meta,
de transmutar.
Todo o denso subtilizar.
No fogo do coração,
Fundir toda a dureza,
Labutar, fazer, refazer,
Buscar alcançar.
Elevar o chumbo interno
Ao radioso estágio solar.
Ao combinar substâncias,
As diferenças unir,
Outras formar,
Coagular, solver, volatizar,
Sal, Mercúrio, Enxofre,
Um no outro transformar.
Dentro de nós mesmos,
O mais rico trabalho,
Todo o cristalizado, fluidificar.
Todo o líquido, sublimar.
Todo o volátil, condensar.
Mudar, transformar, transcender.
O que é líquido destilar,
a essência extrair, devagar.
Com extremo cuidado,
avançar, tendo a iluminar
o estreito caminho,
o intuir, e nele acreditar.
Penetrar em seu âmago,
Refinar sentimentos,
Purificar pensamentos,
Fortalecer o correto querer.
Estabelecer metas e com coragem
na interna oficina, labutar.
Ter como última intenção,
Espiritualizar a matéria,
Partindo da terra,
com as forças da água,
do fogo e do ar,
Ao céu almejar.
Fazer o casamento
de Apolo e Dionísio.
Sizygium alquímico.
Sem os sentidos negar,
Em pleno equilíbrio,
O espiritual alcançar.
A Matinha Que Não Queria Queimar
Na vertente sul,
da pequena colina,
aquela matinha
sossegada existia.
Convivia com o vento
que soprava manso
lhe trazendo carícias
daquele amor antigo.
Agradecia a chuva
Que lavava as árvores
infiltrava na terra
trazendo tanta vida.
Tinha uma relação
harmônica e cúmplice
com o solo a seus pés,
seguiam bem, juntos.
Abrigando vida:
Pássaros nos galhos,
insetos nas folhas,
fungos no tronco.
Num outro ritmo,
tempo de eternidade,
vivia a matinha
querendo ser floresta.
Tudo era sereno,
pacífico, e verde
naquele mundinho
repleto de vida.
Em volta o homem
fazia queimadas
sem sequer perguntar
se medo sentia.
Fogo, labaredas,
o solo queimado,
a vida fugindo,
quando podia.
O incêndio se alastra,
o fogo pega a mata,
a madeira crepita,
fumaça, fumaça...
Morre tanta vida,
nenhum pesar sentiram,
pelo fungo que havia,
pelo ninho num galho.
Formigas, lagartas,
pequenos roedores.
Que importância tinha
se acabaram com as flores?
A Sacerdotisa
Sacerdotisa, vestal,
mulher sagrada, proibida.
Designada a ser canal
entre divino e terreno.
Realiza a dança sagrada,
cuida do templo,
um permanente ritual.
Primeira entre outras
tocada somente pelo Inca.
Mediadora do divino,
mas ser terreno igual.
A paixão lhe toca o peito,
lhe inflama um amor carnal,
proibido eternamente
por regras impostas , brutais.
Definha, pelo impossível.
Dedica-se ao celeste.
Torna-se puma,
transforma-se em águia,
sem poder ser a serpente.
Perde-se ao total.
A Sombra
Presença subterrânea
sempre a espreita.
Para cada escolha feita
outra possibilidade existe.
Reverso da medalha
nunca assumido.
Este lado escuro
que nos amedronta.
Cruel dilema
vive a humanidade.
Eterno oscilar
entre luz e trevas.
Permanecer em plena luz
ideal espiritual.
Implica negar
corpo e terra.
Mergulhar nas trevas
satisfação terrena.
Implica abdicar
do espiritual.
Vejo o escuro no outro
não percebo que é espelho.
Procuro meu escuro
de mim mesmo ocultar.
Culpa, percepção
de minha própria escuridão.
Que tolda no interno
A luz que quer brilhar.
Supressão da sombra
caminho do sofrimento.
Redenção do asceta
permissão de luz.
Repressão da sombra
para o mundo subterrâneo.
Ressurreição um dia
com forças redobradas.
Tolo, o homem atado ao racional,
perdeu seu universo
mítico, simbólico, sagrado,
Que seu sofrer aplacava.
Possuído por Hybris
empáfia tamanha
Quanto mais absoluto se acha
mais frágil se encontra.
Diuturna batalha
Entre luz e trevas.
Microcosmo no macro
O campo de batalha é o homem.
Visceral
O teu lado bicho
te fornece a força
e a expressão.
Te conecta,
de forma visceral,
com o universo
e a natureza.
Busques do peixe o mergulhar.
Busques do anfíbio o se adaptar.
Busques do réptil o ser e o estar.
Busques da ave o se projetar.
Busques do mamífero o se tornar.
Esqueças o que teu ego
condicionou,
Transcendas tua condição
estática.
Mantenha somente
um respeitoso amor.
Projeta-te, pois que tudo
é vida igual.
Sejas uno com o todo
e com o individual.
Tributo à Gaia
Gaia vive,
é orgânica,
pulsa
e sente.
Gaia é una,
respira
com as florestas
e com as algas do mar.
Gaia interage.
Um local degradado
se torna um deserto,
em defesa.
Gaia percebe,
com consciência primeva,
se lhe cuidam,
ou agridem.
Gaia circula,
sua lava interna,
suas águas externas,
seu sangue.
Gaia ama,
o universo,
e seu micro universo,
nela
Gaia convida,
toda vida,
a florescer
e exultar.
O Fluxo
Desnudar-se do ego.
Atitude serena.
Deixar o interno fluir.
É preciso mergulhar,
se projetar,
e a tudo com a alma tocar.
Com amoroso respeito,
em silêncio e paz.
Cabe aos olhos fechar,
outros olhos abrir,
do coração transbordar,
todo o amor.
E ao dar receber,
sem pedir.
Para mim
só existe de fato,
o presente.
Minha missão é estar
disponível e pleno
no agora e aqui
Para sentir
do vento o frescor,
do sol o calor,
da terra o peso,
do rio o acolhimento,
da árvore o tronco.
Uno com o universo.
Pronto para servir,
quando precisar.
De tudo o mais se desligar,
se devolver ao todo,
disponível a todos.
O Melhor Instrumento
No início dos tempos,
Quando o universo começava,
Cada sentimento recebeu,
Uma nobre missão.
Coube à alegria
A importante missão
De descobrir a formula
Para as crianças fazer sorrir.
Coube a curiosidade
A essencial função
De, para o mundo,
As crianças despertar.
Coube a verdade
Missão dificílima
De nos corações
infantis, se alojar.
Coube a virtude
A sublime missão
De, as pequenas almas,
Com a ética temperar.
Alegria, curiosidade,
Verdade e ética,
Puseram-se a trabalhar,
Experimentar, tentar.
Descobriram afinal
O maravilhoso segredo
Para crianças desenvolver
O melhor instrumento é o brincar.
O Solzinho que Virou Pequi
No começo da criação havia
um germezinho de estrela
destinado a criar um belo sol
numa galáxia distante.
Um dia na sua infância, viajando
para, curioso, conhecer o universo
aproximou-se da terra,
e, súbito, apaixonou-se.
Viu terra, areia e pedra.
Viu mato, arbusto e árvore.
Viu peixes, lagartos e pássaros.
Viu criança, homem e mulher.
Rebelou-se, fez pirraça.
Sabem como são na infância.
São todos iguais ...
Sóis e crianças.
Queria! Porque queria!
Queria aqui ficar.
Muito solitário seria
se tornar um sol distante.
Pediu, suplicou,
E a Deus tornou a pedir.
Que transformasse seu destino,
Na terra queria morar.
Rápido, vendo que sol já tinha
Ofereceu-se para em uma árvore
Pequeninos sóis criar...
Assim surgiu o pequi.
Nosso Abraço
Leve contigo a energia do abraço,
que trocamos ao nos despedirmos.
Um abraço que pretendeu ser terno,
mas cuja força revelou calor.
Guardo na memória,
o súbito e espontâneo abrir de braços.
Além do sorriso que te iluminou a face,
quebrando a tensão que ambos sentíamos.
Parta, filho, para teus primeiros vôos,
com teus olhos, qual águia, abertos ao todo.
Conserves a integridade que te é nata,
revelando tua força de leão e candura de cordeiro.
Não percas tua sensibilidade que revelas,
ao piano, trazendo para cá a música das esferas.
Continues tenaz, como até agora,
detentor do segredo de metas perseguir.
Mantenhas tuas braçadas firmes,
percebas que agora tua água é a vida.
Estou cônscio que partir precisas,
romper com o berço, crescer, florescer, frutificar.
Considero uma honra ter te recebido,
como pai e amigo em nossa casa.
Tua casa, agora, aos 15 anos,
é o mundo, o planeta, toda a terra.
Sou te eternamente grato,
por ter me escolhido como pai.
Tanto aprendi contigo,
mais que te ensinei.
Viestes tão pronto, tão nobre,
ao mesmo tempo singelo e altaneiro.
Sair de casa é teu rito de passagem,
siga e voltes quando sentir que é hora.
Não te esqueças deste abraço,
se porventura te sentires só no mundo.
Nossa única dádiva para ti, concluo,
foi te amar tanto e tão incondicionalmente.
A Caminho da Luz
Encerrado nas profundas trevas do homem,
existe uma faísca de luz,
doação divina,
que lhe inflama a busca do caminho.
Segundo todos os textos sagrados:
Taoístas, Vedas, Evangelhos, Corão ... ,
no homem se esconde, arquetipicamente,
a imagem de Deus.
Existe um mundo,
da unidade arquetípica não manifestada,
mundo espiritual,
mundo de Deus.
E, um mundo de multiplicidade manifesta
nos seus diferentes níveis de realidade,
mundo denso,
mundo dos homens.
A linguagem dos mitos,
herança de todos os povos,
permite através dos símbolos, syn-bolein,
unir o mundo arquetípico ao manifesto.
Ao contrário, o dia-bolein, separa os dois mundos,
deixando vagando os arquétipos,
privados de sua exata referência e significância,
lançando nas trevas, o homem.
Privado da consciência,
do seu pólo luz,
o homem caminha ,inexoravelmente,
para a morte.
Somente caminhando
para sua veste de luz,
o homem, que na verdade é luz,
atinge a verdadeira vida.
A Sombra do Véu
Vislumbrar a sombra do véu
que cobre, de Deus, a face.
Êxtase máximo
de uma proposta mística.
Me interrogo se o árduo
caminho para tanto
é projeção externa no cosmo
ou interna no microcosmo.
Missão difícil.
Possível? Impossível?
Talvez seja a única,
reflito ainda.
Voltar para o interno
prescrutar a alma,
decifrar mistérios,
rotas, incógnitas.
No micro universo
vislumbrar o infinito.
Será nossa alma
reflexo da sombra do véu?
Arco-Íris
Em todas as mitologias,
o Arco-Íris é caminho e mediação,
entre a terra e o céu.
É uma ponte,
de que se servem, deuses e heróis,
entre outro mundo e o nosso.
O Arco-Íris
nos lembra, na Grécia, a Íris
a mensageira dos deuses.
A Bíblia, faz do Arco-Íris,
o sinal da Aliança,
entre Deus e os homens.
Composto por 7 cores.
E toda cor surge do entrelaçamento,
entre luz e escuridão.
Cada Arco-Íris é único,
Fruto da interação,
da luz, umidade e o teu olhar.
Com a luz às tuas costas,
ele se forma sobre uma nuvem,
a 42 graus, da projeção de tua sombra.
Vermelho sua cor mais quente,
nos liga ao infinito da natureza,
com amor pelas criaturas.
O Laranja nutre,
nosso próprio calor interno,
suas qualidades e falhas.
O Amarelo, solar, nos fortifica interiormente,
com a possibilidade do estar enquanto humano,
inserido em paz no mundo.
Absorvendo o verde do Arco-Íris,
abre-se as portas da admiração,
e compreensão da natureza.
O frio azul,
pacífico estado de alma,
nos projeta ao céu e ao espiritual.
O índigo
nos permite a percepção pura
de desvendar os segredos da escuridão.
O violeta,
nos inspira a recolhimento
e oração.
Para Lutar um Bom Combate
Para lutar um bom combate .
Escolhas com cuidado teu dragão.
Percebas bem onde ele está,
Se interno ou externo a ti.
Para lutar um bom combate.
Prepares com esmero tuas armas.
Não esqueças de estar no comando.
Fortaleças teu Eu, primeiro.
Para lutar um bom combate.
Elejas a tua Dulcinéia.
Objeto de teu amor,
Razão de tua luta.
Para lutar um bom combate.
Reflitas o teu papel.
Queres ser Dom Quixote,
Sancho Pança ou a cavalgadura?
Para lutar um bom combate.
Podes encontrar dragões,
ou meros moinhos de vento.
Mais valor tem o lutar, do que com quem.
Para lutar um bom combate.
Não te esqueças que és um cavaleiro.
Sejas nobre, correto.
Mais vale perder a luta que o rumo.
Para lutar um bom combate.
Alimente a tua eterna criança.
Não percas a doçura e o encanto.
A vontade, de na trégua, com o dragão brincar.
Para lutar um bom combate.
Saibas que umas batalhas,
Se vence outras se perde.
O que importa é o que se aprende.
Para lutar um bom combate.
Cuidado com o escuro que te cobre.
Não deixes que a luz te ofusques.
Mais que a luz externa valorizes a interna.
Para lutar um bom combate.
Afies com precisão tua espada.
Captes mais do que a dureza do aço.
Dela o essencial é a agudeza.
Para lutar um bom combate.
Prepares tua lança com carinho.
Absorva de tua arma ,
A precisão de chegar ao justo ponto.
Para lutar um bom combate.
Vencer é absorver do dragão.
Às forças que não tens.
Tornar-te uno com o vencido.
Ao Parque Estadual do Rio Doce
Às portas do parque pare.
Solicite permissão.
Adentre em silêncio.
Quase em oração.
Sinta, não somente veja.
Contemple, não somente mire.
Aspire, não somente respire.
Quase em sagração.
Perceba a brisa mansa.
Agradeça pelo ar puro.
Sinta do ar o movimento.
Quase em comunhão.
Penetre as águas mansamente.
Extasiado com o belo.
Com ela toque o corpo.
Quase em unção.
Entre na trilha respeitoso.
Percorra a floresta atento.
Sinta a pujança da vida.
Quase em consagração.
Que seus olhos toquem a vida.
Perceba dos macacos os saltos.
Dos pássaros o longo vôo.
Quase em veneração.
Que o conjunto te transforme.
Que a divina obra perceba.
Por traz de cada paisagem.
Quase em divino êxtase.
Ode ao Parque Estadual do Rio Doce
Abra os olhos da alma
e sinta onde está,
santuário sagrado,
do verde, da água e do ar.
Com silêncio e respeito,
penetrar na floresta,
na verdade deixar-se
por ela penetrar.
Comungar com o todo,
ver no vento e nos pássaros,
em cada bicho
na terra, um irmão.
Caminhar pela trilha,
com a serena intenção
de tudo preservar,
nada deixar, nada levar.
Sendo o grande presente,
interno movimento,
de sendo humilde e pequeno,
em sintonia com o planeta, ficar.
Desnudar-se do ego,
e em paz com o universo,
deixar o interno fluir
e com ele uno ficar.
Do coração transbordar
todo o amor
e ao dar receber
sem pedir.
Nuances
Me disse a Sabedoria,
que todos os Prazeres,
eram somente, Maia, Ilusão,
devendo ser eliminados.
Ao fazê-lo,
me senti sem sintonia,
embora ainda aprisionado,
no mundo dos homens.
Retomei o caminho, buscando,
ver a luz que me ilumina os passos,
sem negar o escuro, que permeando,
me permite perceber, nuances e meios tons.
Ecos Internos
Lançada a pedra,
Sobre a face plácida do lago,
Surgem ondas concêntricas,
Eco do toque original.
Palavras,
Vãs ou não,
Desencadeiam,
Buscas internas.
Será responsabilidade minha?
Do meu interno?
De quem atira a pedra?
Ou da pedra?
As Palavras
O universo
pelo verbo foi formado
em todas as mitologias.
O homem,
qual deus inconsciente,
solta a esmo, palavras.
Esquecido
do poder e força que
uma só encerra.
Sê sábio,
pese cada palavra,
antes de lançá-la ao vento.
Ou ainda melhor
pondere ainda mais
e cale-se.
Ao Meu amor
Quero um céu, estrelado, iluminado por uma lua intensa.
Quero a música que o mar faz ao se quebrar na praia.
Quero a brisa que nos lambe a face como cachorro manso.
Quero o cenário completado por coqueiros.
Quero o sossego e a paz dos iluminados.
Quero a areia como cama macia e como travesseiro.
Quero teu corpo ao lado, simplesmente, abraçado ao meu.
Quero longos silêncios, que expressem muito.
Quero sentir o cheiro que teu corpo exala, e é tão bom.
Quero beijar teus cabelos, docemente, para que o momento seja eterno.
Quero que gentis vaga-lumes nos sejam companheiros.
Quero que anjos, em segredo, toquem harpa.
Quero que musas inspiradas nos inflamem.
Quero que sereias cantem, embora, sem que estejamos atentos.
Quero que fadas se ocupem de tudo tornar mágico.
Quero que peixinhos do mar nos espiem sorrateiros.
Quero que a noite, amiga, nos cubra com seu manto escuro.
Quero que o sereno nos refresque por inteiro.
Quero confessar meus segredos ao teu ouvido.
Quero embevecido ouvir os teus enredos.
Quero risadas bobas, meio sem sentido, mas acharemos tudo tão profundo.
Quero ter integral cumplicidade.
Quero dizer coisas banais e ser compreendido.
Quero que baste a intenção tamanha.
Quero te dar o universo inteiro.
Quero que sinta que ele não está fora.
Quero que o encontre no âmago de um mero olhar.
Quero abrir meu coração para que a poesia saia.
Quero que assim possamos em sintonia com o cosmos ficar.
Quero que acredite que isto é possível.
Quero abrir meu mundo de sonhos e te chamar para entrar.
Quero simplesmente minha metade cósmica partilhar.
Quero te namorar e te dizer que amo.
Quero ser teu e te fazer feliz.
Ao Intangível
Na imensa solidão
de saber-se um indivíduo
entre muitos,
a sintonia com um amigo
restaura por frações de tempo
uma antiga memória
de cósmica comunhão
paradisíaca.
Tocando em memórias
guardadas em minha alma,
como que em um baú de tesouros,
imateriais, intangíveis.
Mas verdadeiramente reais.
Onde estão os sentimentos
que ocasionaram:
Os amores
que por ventura tive;
Os lugares mágicos
que marcaram;
As minhas iniciações
conscientes, ou inconscientes,
nos quatro elementos.
Seja nos meus elementos:
a água e o ár.
Seja nos que me inicio agora:
a terra e o fogo.
- Ao me sentir uno com o mar,
rios, lagos, cachoeiras
e com amoroso respeito
neles me fundir
e me reabastecer.
Ao sentir meu amigo,
o vento,
Que tudo movimenta e muda
Fora e dentro de mim.
Ou nos mistérios
da densa terra,
onde com esforço
venço o peso e a inércia.
Em troca ela me desvenda
seus montes, vales, pradarias.
Ah ! nos domínios de Agni !
lembrarei eternamente
do fogo sagrado que acendi,
alimentei
e que me revelou
força, calor e luz.
Amigos são cúmplices
de sonhos, ideais,
espaços de tempo.
Passam a ter memórias,
identidades em comum.
Embora impossível
de dissecar ou explicar,
o que permite uma amizade.
Saiba,
Que tenho em ti,
independente do tempo,
da distância
e alem da própria vida,
um porto seguro,
um fraterno,
amigo.
O Equilíbrio
Não se permite ao homem
o perfeito equilíbrio
estático
de uma escultura
de Rodin ou Degas.
Jogados
sem controle
como uma garrafa
nas ondas
de um mar revolto.
O mais próximo
do equilíbrio viável,
ao homem, almejar
é o equilíbrio instável
do pêndulo de um relógio.
Como a natureza
que sabiamente
alterna
tempestade e bonança
ventos e calmaria
Cabe ao homem
alternar
alegria e tristeza,
trabalho e descanso,
êxtase e sofrimento.
O segredo
do equilíbrio humano
está no saber
manter do barco
o curso.
Desviando das rochas
e da calmaria
com as velas alegremente
abertas
sem perder o rumo.
Credo
Creio no renascer do homem
a cada manhã.
Na possibilidade de, eternamente,
recomeçar.
Creio no livre arbítrio,
que em potência temos.
Permitindo ao homem transcender
o denso, o pesado, suas amarras.
Creio na capacidade humana
de se extasiar diante do belo.
No iluminar da alma, deslumbrada,
pela arte ou pela natureza.
Creio na mudança de rumo
por uma nova percepção.
Ocasionada pelos ecos internos
de uma palavra, uma flor ou por do sol.
Creio que dentro do rude corpo
habita um ser de luz.
Do qual, o que vemos como verdadeiro,
é somente pálida sombra.
Creio que nossa meta
é a verdade, o belo, o luminoso.
Sendo as trevas somente
um, momentâneo, contraponto.
Creio, intrinsecamente,
no homem.
Que embora, disto, esquecido
em sua essência espelha divina luz.
As Trevas
Nesta existência
predomina em nossa percepção
a ilusão.
Corremos atrás do material,
do efêmero, do fugaz,
esquecidos da essência.
Vivemos dramas pessoais,
atados a uma teia,
de enganos, trevas e sombras.
Escolhas condicionadas,
muito encadeadas por eventos
passados ou futuros.
Vivenciamos muita treva,
muita sombra,
muito pouca luz.
Embora, de certo ponto de vista
as trevas e o mal
sejam reais.
E, na escuridão
possa, por muito tempo,
o homem se perder.
Olhando com mais distância
a jornada humana
seu destino é a divina luz.
Diante da força que encerra
um simples raio ilumina
as trevas.
Bastando ao homem
tornar-se consciente
do seu sol interno.
Para que a treva não mais represente o mal,
mas cumpra seu divino papel
de entretecida, com a luz, libertar a cor.
Elogio à Loucura
Ensandecido
Desmiolado
Destrambelhado
Desparafusado
Doido
Lelé
Louco
Maluco
Tantã
Tresloucado
O que é a loucura
além
de um olhar diferente
sobre o cotidiano?
Só por isto
Já é louco
o olhar
do poeta.
Um olhar de formiga
veria tanto desperdício
no aparar a grama
para se jogar no lixo.
Um olhar de beija-flor
não entenderia
tanto,
tanto, concreto.
A um olhar de cobra
repugnaria
tanta comida morta,
tanto cachorro-quente.
Um olhar do bicho-preguiça
interrogaria:
Correndo tanto
onde pensam que vão chegar?
A um olhar de peixe ...
Ter-se-ia indignação
com tanta poluição
em rios e mares.
A um olhar den bactéria ...
Tanta soberba!
Acharam que antibióticos
iam nos vencer ?
Um olhar de leão ...
Perplexo!
Caçam e matam,
sem estar com fome?
A um olhar
de homem:
Somos o ápice
da criação!
A um olhar de anjo ...
Mas que trabalho,
insano,
velar por eles.
A um olhar
do planeta Terra ...
Santo Cosmos!
Quando vão aprender?
Saúde
Da percepção,
Da visão de um fenômeno,
De sua compreensão,
Depende o enfrentamento,
A ação.
Saúde ...
O que seria saúde?
Então?
Corpo são,
Seria a definição,
Completa e total,
Do estado
Raro e vital?
Físico e psicológico
Em indissolúvel união,
Doendo,
Corpo ou alma,
Um sofrimento total.
Saúde ...
O que seria saúde?
Então?
A doença social,
Miséria,
Ausência de trabalho, habitação,
Paz social,
Menos grave seria?
Se lhe faltam os meios,
os instrumentos,
O mínimo arcabouço social,
Aprisionado pelo momento histórico,
Adoece, fenece, o homem, igual.
Saúde ...
O que seria saúde?
Então?
Multifacetado ...
Qual diamante bruto,
Em lapidação,
Urge ao homem fazer brilhar
cada uma e toda face.
A dimensão física, psicológica,
Mental, profissional, afetiva,
Sexual, social, econômica,
De qual delas abdicar?
E ser completo, realizado, integral?
Saúde ...
O que seria saúde?
Então?
Seria correto
Ver o corpo
Qual máquina
Esquecendo sua ânsia
Pelo espiritual?
O homem pleno vivência,
Com respeito, o meio ambiente,
Evoluindo em harmonia,
Alimentando-se da terra,
E aspirando o céu.
Saúde ...
O que seria saúde?
Então?
Pode
O homem comum,
O cidadão,
Discutir, opinar,
Decidir sua própria saúde?
Autonomia
Livre arbítrio, respeito,
Capacidade de intervir, voz.
Se faltam, perde-se o rumo
Individual e do sistema.
Saúde ...
O que seria saúde?
Então?
Da percepção,
Da visão de um fenômeno,
De sua compreensão,
Depende o enfrentamento,
A ação.
Enfim o Amor
Os Gregos,
em sua sabedoria,
Tinham não um,
mas três vocábulos,
para designar o amor:
Eros, Filia e Ágape.
Eros, o amor sensual,
sonhar com,
e o entregar-se a alguém,
talvez, a primeira lição,
no longo caminho,
do aprender a amar.
Filia o amor,
como cuidar,
o amor irrestrito da mãe,
Pelo fruto,
de seu ventre,
ou de seu coração.
Ágape,
o amor fraterno,
universal,
cujo maior exemplo
foi o de Cristo,
por todos nós.
O amor,
flor bela e rara,
de difícil cultivo,
que para ser alcançado,
em todo seu esplendor,
tem exigências.
O Amor verdadeiro,
respira liberdade.
Tal como um pássaro,
belo e selvagem,
definha e morre,
se aprisionado
O Amor é doação.
Alimenta a quem doa,
sem exigências.
Refletido em outro coração,
e correspondido,
Glória suprema.
A antítese de Amor
enganam-se as pessoas,
não é o ódio ...
Que as vezes antecede
o Amor.
Mas o não perdão!
O Amor não conhece barreiras,
como tempo ou espaço,
Embora por isto esquecermos,
nos doa, a ausência física,
do ser amado.
É um aprendizado,
longo e difícil,
talvez o maior,
que viemos fazer.
Dói, mas enfim,
é o Amor.
Meu Paraíso
Meu paraíso,
Pintado
Com as tintas de Monet,
Tem barulho
De rio correndo manso,
De cachoeira alegre,
De pássaros nas margens,
De Bem-te-vi.
Meu paraíso,
Tem borboletas,
Miríades ...
De todas as cores
E gestos.
Tem flores
De todas as formas,
Perfumes,
Emoções...
No meu paraíso,
escuta-se
Vivaldi,
As quatro estações,
Ou Bach,
O Johan Sebastian.
Tem gramados,
Para sentar no chão,
Encostado
A grossas árvores
E na sombra amena,
Se fartar
De preguiçosamente
Contemplar
O céu,
Estrelas,
A lua,
O sol,
A luz.
No meu paraíso
Cabem todos
Os meus amigos
Os que amo,
Meus mestres,
Meus poucos ídolos,
Meus cachorros,
Peixes,
Periquitos,
Além de todos
Os outros bichos
Que não ouso
Chamar de meus.
Meu paraíso
É repleto
De pedras,
Cascalhos,
Areias,
Terras,
Cristais.
No meu paraíso
Todas as plantas
Vicejam
Tão belas
Com todas as nuances
De marrons e verdes,
E surpreendentes
Explosões de cores
Floridas.
Ao meu paraíso
Se chega
Por uma senda
Estreita
Serpenteando
Por vales,
Planícies,
E montes.
É tão longe,
Tão perto.
Passando por
Um grande portal
Cujas chaves
Lhe dou.
Meu paraíso
Está disponível
Se preciso for
No meu,
No seu,
Interior
A Infância
Que a infância seja bela.
Que se ensine a amar.
Que se enriqueça a alma.
Que se conte histórias.
Que se leve a passear.
Que cada floresta esconda um tesouro.
Que cada árvore seja um mundo inteiro.
Que cada cascata provoque êxtase.
Que em um riacho passe um dia inteiro.
Que o brincar seja o aprender.
Que uma bola possa valer a pena.
Que o jogar ensine a se relacionar.
Que se aprenda a ganhar ou perder.
Que a ênfase seja no conviver.
Que se forme adultos que tenham prazer.
Que as crianças possam ser tocadas.
Que o cumprimento seja abraçar, beijar.
Que o colo seja um direito.
Que rir seja cotidiano.
Que não haja dúvidas do gostar.
Que o impor limites seja por amor.
Que os limites sejam claros.
Que de suas razões não se precise duvidar.
Que a autoridade seja branda.
Que o impor seja só o que necessitar.
Que a infância seja harmônica.
Que a paz interna e externa possa acontecer.
Que sendo amado possa os outros amar.
Que se sinta a casa um verdadeiro lar.
Que amando a casa possa o planeta amar.
Nossas Raízes
Raízes são, dos vegetais, cabelos.
Abandonam a luz, entranham-se na terra.
Buscam o denso, que subtilizam.
Permitindo o milagre da vida.
Nossas raízes, por um lado nos prendem.
Nos amarram a, um como que, delineado destino.
Por outro nos alimentam, nutrem.
Permitindo o extrapolar, risco e possibilidade.
Enraizando-se o vegetal ,
as vezes, na tosca face da pedra.
Outras na mais rica terra.
Que intenção o movimenta?
Na vivência humana menos predeterminação?
A possibilidade de escolha, quanto sofrimento!
Glória e pecado, vício e redenção.
Que intenção nos movimenta?
Perpassa á raiz o propósito,
da missão vegetal,
de vivificar o bruto mineral?
Disto ela tem consciência ?
Nossas sutis raízes herdadas ou vivenciadas,
dentro de um aparente jogo do acaso,
nos permitem a perdição ou a salvação.
Disto temos consciência?
A pequena semente desvenda-se em raiz e folhas.
Milagrosamente apoiando-se em algo tão frágil,
ergue-se na tão frondosa árvore.
Consciência concentrada do grande no pequeno.
Com nossos cabelos / raízes ao vento, soltos, livres,
mas de tão libertos, sem ponto de apoio e eixo.
Luz e escuridão, nosso eterno dilema.
Se escuridão é morte, excesso de luz queima.
Qualidade de Vida
Preciso de cultura e arte
como preciso do ar para respirar.
A música me alimenta
como o arroz e feijão cotidiano.
Não me basta sobreviver
preciso pensar.
Quero ser, cada vez mais,
ator no meu viver,
menos marionete.
Quero ter paz interna e ao meu redor.
Criar meus filhos livres e felizes,
ver meus netos crescerem,
poder com sabedoria envelhecer.
Preciso de democracia, de opinar.
Que as idéias sejam respeitadas
e o direito a expressá-las questão de fé.
Ter o direito de cultuar meu Deus,
mas defender com unhas e dentes
o direito de quem não quiser crer.
Quero viver em um mundo
em que respeito a natureza seja coisa séria.
Mergulhar em rios de água cristalina
e ao sair ter ar puro para respirar.
Que o verde possa conviver com o urbano
só assim provaremos sermos viáveis.
Que o homem respeite a vida de forma universal
e seja igualmente respeitado.
Que tenha flores e pássaros na minha janela
e que ela possa ficar aberta
para te ver passar.
O Coração
Espelha o coração
mistérios que os Deuses
não ousam revelar.
Lagrimas furtivas,
dores silenciadas,
males de amor.
Sorrisos amplos,
suspiros velados,
pleno amor.
Idas e vindas,
altos e baixos,
mares que oscilam.
Sentir e sabor,
mesma raiz,
como sentir sem experimentar?
Calar o coração
para não sofrer
esvazia o olhar.
Universos Paralelos
Dois seres são
universos paralelos,
que no máximo se tocam,
se tangenciam.
Entender do outro
o interno, a essência.
Exercício possível?
Sonho? Fantasia?
Perceber a mim mesmo
exercício insano,
missão necessária,
jornada de uma vida.
Fitar o outro
que como espelho
desvenda mais que a ele,
a mim mesmo.
Cidades Solares ou Noturnas
Cidades solares,
vibrantes de cores,
turbilhão de vozes
passantes, amores.
Cidades noturnas,
Soturnas e sujas,
Tão Lúgubres, que ânsia.
Miséria e violência.
Seria tão bom
Poder separar
A cidade perfeita
Da não tão bem feita.
Poder escolher
Em qual vou morar.
Quimeras, quem dera.
Ambas vivem ao meu lado.
Solares, noturnas,
Amores, violência.
Cidadão, prisioneiro.
De meu lugar primeiro.
Márcio Filgueiras Amorim
A Arte
A percepção da Arte
incendeia nossos sentidos,
nos ilumina a alma.
A música nos toca
no mais profundo
do ser.
Nos eleva
a dimensões e mundos
inimagináveis.
Pode nos remeter
a um estado idílico
ou a mais pura sensualidade.
Pinturas
com a forma ou a cor
nos aquecem o espírito.
A pintura rupestre
evocação mágica
da caça.
A Arte egípcia
ainda serva
dos deuses.
A Arte grega
momento único
da evolução humana.
A pintura moderna
rompendo com a forma
e libertando a cor.
Leva luz
às nossas
trevas internas.
Ou nos provoca
e instiga a ver
nossa treva e nossa luz.
Esculturas
em que o homem
de criatura passa a criador.
Admirando-as
nos sentimos
maiores.
A dança
onde o corpo
é instrumento.
Transmite noções
de harmonia, leveza
e beleza.
A Arte busca o belo?
A Arte busca a expressão?
A Arte busca a Arte?
A Arte transcende o belo!
A Arte transcende o inteligível!
A Arte transcende o artista!
Forma e cor.
Harmonia e movimento.
Volumes e vazios.
Percepções e intuições.
Impressões e sensações
Êxtases e gozos.
A Arte
essencial a vida,
alimenta o espírito.
“Nem só de pão vive o homem”.
A Arte - I
Se o Trigo e a água ao corpo bastam,
Que oferta, à alma, devemos fazer?
Se o esporte e a luta treinam a força,
Como adestrar o sensível e o anímico?
A alma necessita de embevecer-se,
Como uma cascata ou um por de sol!
A natureza, obra divina, leva ao êxtase!
Do homem, a arte, produz efeito igual!
Esquecido anda o homem de dançar,
Como Davi fez para adorar seu Deus.
A pequena dose necessária de poesia,
Sem a qual a vida perde o brilho e a cor.
Combinar as cores e as formas e encantar
Imitação terrena do ato divino de criar.
Usar o corpo como instrumento e cantar,
O universo, no palco da vida, representar.
A Arte Rupestre - II
Mágica cerimônia de invocação da caça
De um homem cujo abrigo é a caverna.
Se tosco parece na distância do tempo,
Sua arte preservada nos desmente.
Carvão e ferrugem que decoram a rocha,
Astros, animais e homens retratados.
Artistas que habitando a rude terra,
Sentem-se espiritualmente rodeados.
Árvores frondosas abrigam espíritos,
Assim como a terra, água, ar e o fogo.
Ter por mãe a terra e por pai o céu,
O mundo invisível nos acolhe e ampara.
A arte que refinando o homem rude
Permite a percepção de si e do universo,
Cumpriu seu papel outrora como agora
Mostra-me a mãe terra e meu pai o céu.
A Arte Egípcia - III
Perceba o calor escaldante sobre a pele.
A imagem das pirâmides no horizonte.
A arte eternamente a retratar o belo.
Ambicionando retratar na terra o céu.
O artista que se dedica ao templo
Ou para quem representa Deus na terra.
Importa a grande viagem após a morte
O espiritual evocado em cada instante.
O homem é representado muito rígido
Pouco à vontade ainda está na terra.
A lembrança do divino tudo ofusca
Uma civilização mais santa ou profana?
A queda do plano celeste tão recente
Comunhão com os deuses ainda possível
Lutar contra o caos, desordem e a sombra.
Lembrança da divina luz e da harmonia.
A Arte Grega - IV
Templo aos deuses ornado e colorido.
O mármore esculpido tudo cobre
O Olimpo e os mitos retratados
Cada história um belo ensinamento.
A pedra dura ganha da seda a leveza.
O atleta com cada músculo retesado.
Prestes a saltar e a correr está a gazela.
A sacerdotisa tem seu gesto eternizado
O artista retrata toda a beleza do corpo
A lembrança do celeste está mais tênue
Descem os deuses em direção ao Olimpo.
Heróis, homens a ascender ao divino.
O homem que assume ser da terra
Abandonando a orientação divina, pensa
Pensar passa a ser a grande arte
O pensamento é a herança que legaram
A Arte Moderna - V
Romper os cânones, as regras, humano é.
Cabe sempre as barreiras buscar romper.
A arte se libertou da perfeição da forma.
Até da escravidão do belo se afastou.
Cores mesmo sem a forma tocam a alma.
Pontilhados que ainda impressionam.
Instalação, objetos a esmo, que chocam.
Arte tocando as cordas d’alma.
Vamos dar ao homem o quinhão de pão.
E o que lhe cabe de comédia e drama.
Sem negar, no entanto a arte que redime.
Do tosco a alma com o fogo inflama.
A vida dói ainda mais se consciente.
Reconhecer o sublime êxtase alheio e
A profunda tragédia inerente ao humano.
Só a arte permite transcender o drama.
A Arte Pós-Moderna - VI
Rompidos da arte os paradigmas.
Quais os rumos daquela pós-moderna?
Se não mais se retratam os deuses?
Se não mais interessa a natureza?
Se a harmonia e o belo rejeitados
Se a arte agora degradável e repulsiva
Se todos os experimentos foram feitos
Morre a arte por falta de caminhos?
Só resta de comum em toda a arte
O expectador para quem é dirigida
O objetivo da arte é sempre a alma
Tocar o anímico é o êxtase do artista.
Admitindo a paixão entre arte e alma
Restabelecida a possibilidade da arte bela.
Retorna a busca do equilibro e harmonia.
Na arte, como no amor, almas se beijam.
A Arte Moderna – VII
Entendo! Não entendo! Que importa?
Sinto! Afeta-me! Bem ou mal!
Liberta a arte de todos os cânones.
Beleza! Harmonia! Natureza! Babel!
Vejo agora o nariz em plena órbita.
Ou o quadro salpicado de pontinhos.
Rabiscos ou arte, eu me confundo.
A cor reinando liberta até da forma.
O homem ousa e pensa e cria.
Aos dogmas busca transcender.
Toda arte reflete a sua época.
O caos humano visto de forma bela.
Inevitável o mergulho no caos criativo.
Antes de construir é necessário destruir.
A arte antecede e vislumbra o futuro.
No meio do caos preserva a essência
Guernica - VII
Cada bomba lançada sobre um pueblo.
Bofetada que ressoa na humana face.
Não fique despercebida entre tragédias,
A dor da mãe amparando o filho morto.
Bendita a arte que re-visita a vida
Encanta com o sublime beijo dos amantes
Ou nos condena, estupidez do homem,
Podendo atirar flores ainda atira balas.
A arte imortaliza o amor, ou a dor
Ao conhecê-la obra de arte e digeri-la
Elemento de minha alma ela se torna.
Como o pão se torna parte do meu corpo.
Guernica retrata minha indignação e dor.
Minha alma se recusa a banalizar o terror.
Mesmo distante, até após a morte física.
Agradeço ao artista que minha alma tece.
Márcio Filgueiras Amorim
Quando Chega o Circo
Banda de música que toca à frente
Daquela esdrúxula e longa procissão
Tem anão, mulher barbada, leão,
Engolidor de fogo, palhaço e cão.
Armando a tenda no pasto aberto,
Forma-se logo curiosa, a multidão.
Nada como o exótico para afastar
O tédio, o banal e até o sem tesão.
Agita-se a criançada e os velhos,
Mulher vindo com filhos pela mão,
Fazendeiro, barbeiro, açougueiro,
Encantamento não faz distinção.
Quando começa a tarde o espetáculo
Ninguém respira na hora do trapézio
Gargalham ou choram junto ao palhaço
Alimentam a alma, coitada, desnutrida.
O Palhaço
Sinto a tristeza de todo palhaço,
Sem sequer me obrigar a fazer rir.
Palhaço que esqueceu a maquiagem,
Desprotegido, expondo a própria face.
Seguindo tosco, desajeitado e torto.
Tropeçando, meio a esmo, pela vida.
A única salvação é me travestir de arte,
Adentrar esta bela e mágica dimensão.
Pintar a cara, avermelhar o nariz.
Vestir roupas largas e disformes.
Atravessar o portal que separa o banal
Do essencial, extraordinário e único.
Rir de mim mesmo, síntese do humano.
Percebido o imperfeito, que o riso purga.
O que deve importar é a transcendência.
Possibilidade da arte ainda que circense.
O Bailarino
Tocando o solo, como se o rejeitasse,
Com a ponta dos pés somente e logo
Lançando-se aos ares. Como se as bodas.
Do telúrico com o celeste, do peso livrasse.
Trabalha em torno e sobre a verticalidade,
Como se unido fosse, por sutil fio, ao céu.
A procura de um sol além do teto do teatro
Vislumbre d’alma, ao corpo inconsciente.
Seu mister é um contrair e expandir sem fim
Repetindo a cósmica respiração do universo
Sustentado pelo ritmo, do coração divino.
Busca da beleza, da harmonia e da graça.
Ainda que bailarino de um tosco circo
Armando sua tenda em qualquer aldeia
Tocar a alma de crianças, velhos e comuns
É um sopro divino de esperança e alento.
O Engolidor de Fogo
Existem lógicas, umas tão comezinhas
Outras paralelas e tão mais complexas,
Se um trabalho é ínfimo ou grandioso,
Questão de olhar, o engolidor de fogo.
Deitar o hálito flamejante ao espaço
Provoca espanto, riso e esquecimento
Mas cabe ao fogo o papel mais nobre
alquimia antiga dos quatro elementos
Representa o fogo sempre o sagrado,
A chama Crística ou a chispa divina,
O que inflama a alma ou o fogo da vida,
A essência do Eu ou a individualidade.
Quem pode gabar-se, que embora
Da mais absoluta humildade seja,
Instrumento de trabalho de maior
Nobreza, que outra profissão enseja?
Gratidão
Grato sou ao “Le Circ de Soleil”.
Grato sou se eles me encantam.
Grato sou a perfeição da arte.
Grato sou a sua transcendência.
Grato sou de existir e ter uma alma.
Grato sou pelo palhaço e pelo riso.
Grato sou à bailarina e a leveza.
Grato sou ao trapezista que me faz voar.
Grato sou pelos que revivem o sonho.
Grato sou pelos que amam e não matam.
Grato sou por existir a arte e o artista.
Grato sou por acreditar na humanidade.
Grato sou pela poesia estar viva.
Grato sou pelo culto a beleza,
Grato sou ao divino que se manifesta.
Grato sou à esperança e a Pandora.
A Importância da Pipoca no Circo
Inimaginável circo sem pipoca.
Doação da pré-história americana.
Engorduradas nossas mãos nervosas.
Um fragmento provocando tosse.
Qual é a importância do inútil?
Ou pelo menos do que não é essencial?
Refinamento da sobrevivência superada.
Que cria a possibilidade para a arte.
O circo inteiro com a pipoca inclusa
Faz parte deste inútil que é essencial.
Desta sutileza abrindo mão, retornamos
Ao mais tosco lutar pelo fogo e o pão.
Escrever poemas, prosa ou música.
Teatralizar o drama e a comédia da vida
Pintar e libertar as formas e as cores
Delícias conquistadas dão sabor a vida.
Márcio Filgueiras Amorim
Nosso Conto de Fadas...
Poema de Entrada
Nos contos o herói é sempre príncipe
Certamente seus pais são: Rei e Rainha
Do reino familiar, onde por certo escolheu
Adentrar nesse universo de tão rico enredo.
Outros contos há em que fadas convidadas
Abençoam, enquanto que a má pragueja.
Evitemos logo esse risco convidando todos
Integrados: a fada e a bruxa nossas e internas.
A jornada do herói tem sempre um desafio
Sua missão como a nossa é a de enfrentá-lo
Mergulhar no escuro, rico e inconsciente
E regressar com as respostas sábias e certas.
Sabedores que a busca essencial do homem
É pelo belo, pelo bom e pelo verdadeiro
E que do rito o que importa é a intenção
Convido-os a doarem dons em forma de poemas.
Criança Eu Te Desejo
Poema do Padrinho
Ah! Criança eu te desejo...
Uma vida venturosa, boa e suave
Temperada com o tanto de dificuldade
Necessário para te fortalecer.
Ah! Criança eu te desejo...
A alegria infinita, só possível ao infante.
Que possa perdurar ainda na velhice
Brincando o jogo da vida e achando graça.
Ah! Criança eu te desejo...
Mantenha a paz que vejo em teu rosto agora
Torne-a tua conselheira e amiga.
Mesmo se o mar estiver forte e bravio.
Ah! Criança eu te desejo...
Que Jamais percas a curiosidade!
Pergunte o como, o quando e o por quê?
Leve ao coração para saber se é verdade.
Ah! Criança eu te desejo ainda...
O amor em todas as suas belas formas
Dando, recebendo e compartilhando, Dos pais,
Parentes, amigos, de Deus e da natureza.
As Graças
Poema da Madrinha
Que os seres mitológicos acordem
Sonolentos por os termos esquecidos.
Que lancem sobre ti as suas benções
Num plano idílico, belo e imaginário.
Que Hércules te dê a plena força
Mas que optes por jamais usá-la.
Recebas a inteligência de Atenas
Mas não te aprisiones como Dédalo.
Que sejas guerreiro como Áries
Com a flexibilidade de um Hermes.
Que tenhas a fronte erguida de Zeus
Teus assuntos elevados como Apolo
Que apesar de todos os possíveis dons
Ainda te possam oferecer as Graças
O florescer, o brilhar e a alegria d’alma.
Que as musas te inspirem e iluminem.
Compartilhando a Aventura
Poema do Pai
Queremos educar-te gentil criança
Com uma postura de aprender contigo.
Faremos juntos, lado a lado, essa caminhada
Ensinando um ao outro o que for possível.
Prometemos procurar ser brandos e compassivos
Sem perda da firmeza, no estrito, justo tanto.
Teremos embates, por certo, algo de choro
Mas creias terás sempre disponível um ombro amigo.
Queremos que cresças forte e rijo qual guerreiro
Sem que percas a sensibilidade do poeta.
Que tuas virtudes sejam muitas e firmes
Temperadas com a fé no maior plano.
Somos gratos por nos ter escolhido como pais
Honrados por compartilhar tua aventura.
Terás em teu lar, sempre acolhimento e afeto
Mas não te prenderemos pois tua casa é o mundo.
Lambendo a Cria
Poema da Mãe
Quero que lembres filho amado
Que fostes fruto de pais enamorados
Gestado envolto em amor apaixonado
Desejado, bem vindo e esperado.
Saibas que meus braços estarão abertos
Disposto a recebê-lo sempre que vier.
Minhas mãos estarão dispostas a ampará-lo
Nos primeiros passos e após, que corra.
Teu semblante é para mim poesia
Admirar-te a dormir me encanta
Teus sons me soam como música
Teu sorriso terno me ilumina a alma
Sou, como todas, mãe lambendo a sua cria
Com a força de Leoa a defendê-lo se preciso for
Confiante de um futuro nobre, valoroso e digno
Pois valores verdadeiros viverei a te mostrar.
Levar o Menino ao Templo
Oficiante
Leva-se o menino ao templo primeiro
Para apresentá-lo a toda irmandade.
Depois dá-se lhe um nome que de forma sutil
Aponta ou desvela algo de sua missão.
O templo de tijolo, madeira e pedra
É uma cópia tosca de um templo
Que podemos situar no espiritual
Ou no interno de nossos corações.
Os ritos só significam algo verdadeiro
Se nos despirmos da banalidade
E adentrarmos com plena intenção
E o realizarmos com a alma iluminada.
Que sejas recebido pelo plano espiritual
Da mesma forma benfazeja que agora
Te recebemos sorrindo no plano terreno
Recebas o vegetal e tenhas Luz, Paz e Amor.
Pequenos Milagres
Encerramento do Batizado
Para mim são pequenos milagres
As pequenas coisas cotidianas
Como o primeiro sorriso de um menino
Como me encantam, fascinam mesmo
Fatos tão simples, tão corriqueiros
Como o observar crescer uma criança
Não procuro os milagres retumbantes
Me satisfaz muito mais os pequeninos
Só entende do que estou falando, Quem já foi
ao céu, ao por primeiro se ver reconhecido pelo filho.
Que nem soem com estridor, trombetas.
Que sejam quase inaudíveis toques, como se de sinos
Mas que os pais, mesmo que tímidos, não se calem.
E compartilhem os pequenos milagres de seus filhos.
Márcio Filgueiras Amorim
Ventos do Olimpo
Um vento frio me arrepia a pele.
Um pensamento me transporta a Grécia.
Penso em campos com dourado trigo.
Ovelhas pastando, oliveiras.
Homens, deuses, monstros.
Uma mágica dimensão.
Rituais de agradecimento a Demeter.
Para que fecunde a terra.
Geia, que junto com o céu tudo criou.
Úranos, que a seus filhos devora.
Como a vida nos devora a todos.
Qual Perséfone por Hades iludida,
provando da romã, o fruto,
prende-se a morte e a inconsciência,
metade do tempo.
Festejando para alegria da mãe, na primavera, a outra metade sobre a terra.
Estamos conscientes ou inconscientes ?
Estamos vivos ou mortos ?
Em que pese ser a vida morte.
Hades nos aprisiona ou liberta ?
E os da natureza, Deuses ?
Dionísio, Baco, Pã
Centauros, Ninfas, Sílfides.
Em que sintonia estamos com seus ciclos ?
Com seus ritmos e tempos ?
Quanto desconectados ?
Vendo a natureza como algo fora.
Perdida a percepção do uno.
De dela fazermos parte.
De estarmos no mesmo culto.
Deusa Natura e seus adoradores.
Perdidos todos os mistérios,
Mitra, Elêusis, Delfos ...
Que procuravam arrancar do homem,
as vendas, o véu, a ilusão.
Mostrando que a chamada vida é morte.
Que a alma espiritual e livre,
aprisionada em tosco barro,
vive seu drama terreno
em escuro tempo de ilusão.
Libertada, segue seu real caminho.
Embora, toda moeda tendo dois lados,
precisa-se do escuro para se ver o claro.
Zeus deus supremo,
nos passa força, poder,
ordem que vence o caos.
Hera deusa dos matrimônios,
nos impele aos nossos,
com todas as sabidas conseqüências.
Hefeisto nos doa a arte e a técnica.
A técnica nos leva a um avanço
ou a um retrocesso.
Afrodite a beleza, ternura, encanto,
tão necessária, mas tão traiçoeira.
Marte a agressividade guerreira,
desejada, mas tão desastrado.
Ártemis a inteligência,
que nos salva e nos perde.
Mercúrio movimenta, transporta,
comunica, transmuta.
Quanto de mercurial temos em nós?
Apolo eleva Dionísio,
igualmente faces de um idealizado sol,
que Hélios um sol mais físico.
Nosso interno sol é Apolo ou Dionísio ?
Qual humano escapa a maldição de Quiron
o curador e sua ferida incurável ?
Deuses e heróis maiores ou menores,
como, o que está em cima
igual ao que está embaixo é,
expressam pedacinhos de nós.
Desvendam de forma poética ou trágica,
nosso Eros e nossa Psiquê.
Nosso trajeto, aparentemente, a esmo.
Nosso destino cerrado.
Nossa missão encoberta,
Pelos véus do esquecimento.
Medusa – O Mito
Decidiu Zeus, supremo deus do Olimpo,
A cada cidade um divino patrono ofertar.
Por Atenas se encantaram Poseidon e Atená.
Terrível disputa, entre deuses, se seguiu.
Os atenienses chamados a decidir,
Tomaram, de Atená, o partido.
Enfurecido Poseidon sobre a cidade
Lançou enfurecido o encapelado mar.
Descobre Atená à Poseidon em uma praia.
Enamorado da bela e gentil Medusa.
Lança-lhe raios na vingativa intenção.
Protegendo o amado, medusa, é atingida.
Cabeleira hirta de serpentes.
Quem a fita em pedra se torna,
Enfurna-se em profunda caverna.
Desterra-se do mundo a infeliz.
Louco de desespero, Poseidon.
Apela para Hecate, a deusa,
Que sem poderes sobre Atená,
Lhe profetiza uma alegria ainda.
Vencida um dia pelo heróico Perseu.
Que lhe apresenta espelhado escudo.
Transformada em pedra, cortada a cabeça.
Do sangue brota Pégasus, o cavalo alado.
Encantado com Pégasus, Poseidon,
Vê confirmado o que lhe disse Hecate.
E Em honra de Medusa outrora bela amada
Cria no mar, seu reino, o cavalo marinho.
A Medusa Minha e Sua
Gregos, sábios gregos
Mais que ouro e jóias
Nos legaram tesouros
Chaves para a alma.
Cada fragmento de Mito desvendado
Me enriquece, fascina e completa
Visualizo parte da jornada humana
Em busca do mais pleno entendimento.
Medusa, cuja visão, petrifica.
Cabeleira hirta de serpentes.
Simboliza a culpa que nos paralisa
Horror de nos reconhecermos deformados.
A percepção da falta e erro
De forma sadia esclarece.
Quando minimizada cega.
Exagerada amedronta e petrifica.
Quanto de horror esconde, em seu âmago,
Toda e cada singular alma humana?
Se ousássemos ver nossos pecados,
Da Medusa, que escudo nos protegeria?
Penetrar na gruta escura do inconsciente
Poder contemplar a glória e o horror
Que cada alma encerra, sem estarrecer
Sair como novo Perseu, vitorioso.
Mais que lhe cortar a horrenda cara,
Cabe-nos, ao seu olhar, suportar.
É essencial, ao mau, olhar nos olhos.
Perceber que o temos para o abandonar.
O Jardim de Adonis
Filho da bela Afrodite,
Adonis,
Linda criança,
Encaracolados cabelos louros,
Face angelical,
Harmonia de gestos sem par.
Desenvolvia velozmente,
Como só aos filhos dos deuses
Cabia.
Criança e logo jovem,
Folguedos da juventude,
Buscava.
Um dia brincava,
Com um pesado javali,
Seu corpo ágil provocava,
fugia aos ataques da besta,
mas retornava,
com a esperada alegria dos novos.
A parte dali,
Oh ! horror ! ,
Um drama se desenhava,
Em um concurso na terra
Ganhou Afrodite de Atená
O título de “a mais Bela”.
Ferida em sua estima.
Qual humanos são os Deuses,
Terríveis e violentos.
Atená furiosa
Procurava se vingar
Da Afrodite inocente.
Ao ver o desvelo materno,
O amor desmensurado,
O só ter olhos para o belo,
Fruto do seu ventre e amado,
Passou por Atená, triste idéia,
De em Adonis ter a Vingança consumada.
Incitado, o Javali,
Feriu o jovem mortalmente,
caído, sujo de sangue,
encontra-o Afrodite.
A dor da mãe é tamanha,
Deuses sofrem como os homens.
As gotas de sangue que caem
do corpo morto de Adonis
tingem de rubro
as alvas rosas do campo.
As lagrimas da Deusa e mãe
ao tombar criam as anêmonas.
Resolve Afrodite
Em honra do excelso filho
Criar com as flores
Regadas com água morna
Um belo jardim, que no mesmo dia
semeado, floresce e morre.
Cultuavam os gregos,
Encenando este belo drama,
A cada primavera,
Os ciclos, as passagens, a sabedoria,
Que como no “Jardim de Adonis”
Nesta vida nada é eterno.
Entre Apolo e Dionísio
Gregos, sábios gregos,
Ensinavam à alma.
Representando cada rito e mito
Uma das pulsões humanas.
Dionísio, orgia criativa,
Representação divina do instinto.
Plena percepção do sensível,
Sua metabolização interna.
Apolo apreensão cerebral
Representação do divino controle
Plena percepção mental
Sua racionalização interna.
Ambos representações solares.
Não Hélios, sol físico
Mas sol enquanto gerador
de luz e calor criativo.
Qual maior? Qual menor ?
Dionísio mais sensual ?
Apolo mais cerebral ?
Qual abolir ? Qual venerar ?
Como o dilema do Homem
Um cerne espiritual
Aprisionado inexoravelmente
Em seu corpo físico, terreno.
Dois deuses, duas instâncias.
Inseparável dilema.
Sem a vivência dionísica.
Não se elabora a apolínea.
O Mito do Herói e os Doze Trabalhos de Hércules
O Caminho Interior de Evolução do Homem
I - Introdução
O simbólico do Mito,
une o conteúdo arquetípico,
dando significância,
aos gestos vazios do homem.
II - Tarefa do Signo de Leão
Dominar o Leão de Neméia
Nosso orgulho, como o Leão de Neméia,
Impenetrável a flechas, ou conselhos,
Precisa ser vencido em missão hercúlea,
Ou nos domina e nos devora.
III - Tarefa do Signo de Virgem
Vencer a Hidra de Lerna
Qual Hidra do Pântano de Lerna,
Que cortada uma cabeça nasce duas.
Nossos vícios menores,
Renascem sobre a mesma ou outra forma.
IV - Tarefa do Signo de Libra
Trazer o Cinto da Rainha das Amazonas
Lutando pelo Cinto de Hipólita,
Mitologicamente pretende o Homem,
Conquistar o Dom do Equilíbrio,
Interno, externo e no fazer justiça.
V - Tarefa do Signo de Escorpião
Vencer as Aves Venenosas do Lago Estínfale
Combater as Aves Venenosas do Lago Estínfale
Com matracas de bronze, arco e flecha, indica,
Que o Homem de Escorpião se transmute em Águia,
E que seu veneno dissolva suas algemas.
VI - Tarefa do Signo de Sagitário
Dominar as Éguas Canibais do Rei Diomedes
Dominar as Éguas Canibais de Diomedes,
Nos remete ao Trabalho do Homem,
Onde sua porção homem, imagem divina,
Precisa elevar-se de sua porção animal.
VII - Tarefa do Signo de Capricórnio
Capturar a Corça Cerínea
Trazendo viva a sagrada Corça Cerínea,
Busca com coragem o Homem,
Confrontando seu pensamento com o mundo,
Sair de suas trevas para a Luz sagrada.
VIII - Tarefa do Signo de Aquário
Limpar as Estrebarias do Rei Augias
Lavar as estrebarias do Rei Augias,
Lembra ao Homem de se purificar.
Removendo o que ficou para trás,
Em seu caminho Crístico.
IX - Tarefa do Signo de Peixes
Captura de Cérbero
A captura de Cérbero,
Vencendo o invencível,
É a luta em que através do amor,
Atinge e transcende o Homem sua essência.
X - Trabalho do Signo de Áries
Capturar os bois Ruços de Gerião
Na captura dos bois ruços de Gerião,
Héracles intimida o Sol com suas flechas.
Mostrando que direcionando suas forças,
Abre-se caminho para a Luz.
XI - Trabalho do Signo de Touro
Vencer o Minotauro de Creta
Ao lutar com o Minotauro de Creta,
Pretende o Homem vencer,
Suas próprias forças Taurinas,
Transcendendo seu olhar preso a Terra.
XII - Trabalho do Signo de Gêmeos
Colher os Pomos de Ouro do Jardim das Hespérides
Colhendo os Pomos de Ouro da eterna juventude,
Pretende o Homem amadurecer,
Ganhando Perseverança e Fidelidade,
Sem abandonar o ser uma eterna criança.
XIII - Trabalho do Signo de Câncer
Capturar o Javali de Erimanto
Buscar o Sagrado Javali de Erimanto,
Remete-nos a tarefa humana,
De vencendo nosso materialismo profano,
Desenvolver nosso lado espiritual.
XIV - Epílogo
Como no Mito do Herói,
Enfrentando nossos Dragões,
Perdendo, Pecados nos dominam,
Vencendo, incorporamos Virtudes.
Mitologia Contemporânea de História em Quadrinhos
Estamos todos presos a nossas referências,
Cultura e entendimento paralelos,
Vemos o mundo que apreendemos,
Inteiramente cegos a outros paradigmas.
Se minha cultura é história em quadrinhos,
Por esta ótica compreendo o mundo,
Super heróis são minha mitologia,
O Olimpo deve ficar nos Estados Unidos.
Toda a dualidade do mundo
Representada por Super-Homem e Batmam.
Duas faces da polis,
Gotham City e Metrópoles.
Metrópoles, diurna e ensolarada,
Com seu herói que não assume a sombra.
Gotham City, noturna e soturna,
E o homem morcego perdido em sua sombra.
Mitologia contemporânea e estrangeira,
Que nos invade a alma por nos faltar símbolos,
Preservam a dualidade dos mitos,
Uma face clara outra, na escura caverna, escondida. .
Na irresolução dos modernos mitos,
Ambíguos e indecisos na aparente bravura,
Impõe-se integrar a face clara com a escura,
Mais que negar ou recalcar figuras.
A Hybris
O descomesuramento
Era a Hybris, a audácia, o tolo orgulho
Para os gregos o grande pecado,
De os desígnios dos deuses ignorar.
A nemesis dos deuses,
Conseqüência inevitável,
Explosão das forças represadas,
Sem canal para fluir.
Quantas de nossas questões
Não se deve a Hybris
Descomesura, falta de bom senso.
Desafiar os deuses, ou o senso comum,
Procurar o sensato caminho,
Ou lutar contra o inevitável.
O Mito de Ícaro
Fugir ao que aprisiona, anseio humano,
Inflama Dédalo e Ícaro no Labirinto.
Moldadas com cera e penas, asas tão frágeis,
Alçado o vôo, a eterna busca de liberdade.
Maravilhado ensaia Ícaro ousar, enquanto,
Escuta de Dédalo um apelo ao justo meio:
Que não voe, baixo demais, que o alcancem,
Nem alto demais, que o possa fascinar o sol.
Que abandonado o denso não o iluda a luz.
Não cabe ao homem, desmesura tamanha!
De com suas forças ir do terreno ao espírito.
Esquecido tomba e finda, Ícaro, no mar.
Estaremos qual Dédalo aprisionados,
Nos Labirintos que nos cria o intelecto?
Com as toscas asas de nosso pensamento,
Que nos eleva, mas logo nos atira ao mar?
Aspirar a ascensão, do escuro à plena luz,
Caminho primeiro e último do homem,
Mas se falsas as escolhas, seguido da queda,
No mar da vida, nas inconscientes profundezas.
Fonte de pesquisa: DÉDALO
... mesmo convidando seu filho a servir-se da precária invenção , Dédalo lhe dá um conselho dos mais sensatos quanto aos dois perigos a serem evitados. Conjura Ícaro a não permanecer muito próximo da terra, mas também, e sobretudo, evitar uma ascensão muito audaciosa; a aproximação imprudente do sol. Não se trata de um conselho intelectualmente sensato, é muito mais que isso: uma primeira indicação do ideal grego, o ideal do justo meio.
....torna-se evidente que Dédalo previne seu filho contra o perigo ao qual estaria exposto se alimentasse o desejo desmesurado de escapar das regiões perversas (Labirinto) na vã esperança de poder atingir a região sublime através unicamente de um meio absolutamente insuficiente que é o intelecto( as asa de cera).
As asas verdadeiras simbolizam a imaginação sublime, tal como as asas dos espíritos puros, dos anjos, do pégaso, cavalo das musas, símbolo claro da inspiração sublime e da imaginação criadora. A imaginação perversa, por outro lado, é frequentemente simbolizada pelas asas de animais noturnos. Assim, por exemplo, o diabo, o anjo decaído, personificação cristã da imaginação perversa, é dotado em algumas representações de asas de morcegos.
A asas artificiais simbolizam o vôo muito próximo da terra, a sedução diabólica própria dos desejos exaltados que se transformam em devaneio.
O vôo em direção ao sol simboliza a espiritualização; porém, o vôo com a ajuda de asas de cera só pode significar a forma insensata da espiritualização: a exaltação vaidosa. Fiando-se vaidosamente em suas asas, que não passam de um artifício, o intelecto, tornado imaginação perversa, não mais escuta qualquer conselho prudente, não conhece mais limite: quer ser o espírito, propõe-se atingir o sol.
Este mito condensa a história da elevação e da queda do falso herói em uma única tentativa.
O sentido velado de todos os mitos não é outro senão a inesgotável amplificação de um tema único, o qual, expresso no mito de Ícaro pelo simbolismo “elevação-queda”, a despeito da diversidade das imagens variáveis, permanece como tema mais impressionante da vida: o conflito essencial da alma humana, o combate entre espiritualização e perversão.
Paul Diel
Márcio Filgueiras de Amorim
TEATRO: DRAMA
O Ritual dos 7
Grupo Sensus faz espetáculo interativo baseado nos 7 pecados capitais
Editorial
Estréia 07 de julho, na Casa das Rosas, a peça O Ritual dos 7, do Grupo Sensus. Por meio de poesias de Clarice Lispector, Álvaro de Campos, Cintia Barreto e Márcio Filgueiras de Amorim, o espetáculo aborda os sete pecados capitais.
Os espectadores são divididos em grupos e acompanham a peça em sete cômodos diferentes. A direção é de Thereza Piffer e o elenco conta com Arnaldo Barone, Conrado Carmen, Dan Rosseto, Dênete Reis, Fernanda Sophia, Flávio Cáceres, Gisele Porto, Marjorie Belanno, Ricardo Peres e Vanessa Morelli.
Informações
Local: Casa das Rosas (INFORMAÇÕES)
Preço(s): R$ 14,00.
Data(s): 07 de julho a 28 de outubro.
Horário(s): sexta e sábado, 23h49.
julho 7, 2006
Em cima da hora...Estréia hoje: O Ritual dos 7
Estréia hoje na Casa das Rosas a peça O Ritual dos 7, que inspirada nos sete pecados capitais faz uso de poesias de Clarice, Álvaro de Campos, Cintia Barreto, Márcio Filgueiras de Amorim, Paulo MontAlverne, Daizy Serena e Andre Soares, e outros, para que o público possa ser envolvido nas considerações da trama.
Para abordar um tema tão contraditório o horário não poderia ser melhor, 23h49, um quase outro dia. Os 42 espectadores são divididos em grupos e seguem por cômodos diferentes nesse:
"universo de poesias, exageros, conflitos, vida e morte."
O Sampaist quer conferir, quando isso acontecer vocês saberão!
Foto de divulgação
Direção: Thereza Piffer// Co-Direção: Dan Rosseto// Elenco: Arnaldo Barone, Conrado Carmen, Dan Rosseto, Dênete Reis, Fernanda Sophia, Flávio Cáceres, Gisele Porto, Marjorie Belanno, Ricardo Peres e Vanessa Morelli// Produção: Camila Sartorelli
O Ritual dos 7// Casa das Rosas: Av Paulista, 37// Tel.: 11 3285.6986// sextas e sábados, às 23h49// R$ 14,00 (inteira) e R$ 7,00 (meia)
Anjo Negro
Anjo Negro
O meu?
O teu?
Quem não o tem?
O não dito.
O mal dito.
O que quando se imagina,
Fecha-se as cortinas.
Ou não ...
O que é necessário exorcizar,
E, ou liberar.
A Gula
Pecado com algo
de simpático.
Que remete a delícias,
guloseimas e iguarias.
Sendo bem humano,
desejar ir
além dos limites.
Controlar a gula,
entretanto,
é ter domínio
sobre a vontade
e o corpo.
Como se o cocheiro
voltasse a controlar
a carruagem.
Mas ...
Sejamos francos ...
Quem não se viu
pecando um dia?
O Orgulho
Sentir-se o Sol.
Sentir-se o Rei.
Sentir-se o Deus.
O Orgulho: ausência
de humildade e modéstia.
Pior que ele só a falsa modéstia.
Pecado difícil de expurgar.
Em geral esconde
insegurança,
muito bem camuflada
em auto-suficiência.
Mas como em tudo,
na vida correta,
a busca é do
justo equilíbrio.
A ausência completa
do orgulho,
também não é bom.
A Vaidade
Pecado
da soberba humana.
No sentir-se maior
do que na verdade se é.
Ou mesmo sendo grande,
belo ou forte,
menosprezar o outro.
O esquecer que:
Vindos da mesma
fonte original.
Esculpidos do
mesmo barro.
Somos todos:
Pobres ou ricos,
feios ou belos,
desgraçados ou abençoados,
essencialmente iguais.
Estamos somente
em diferentes
etapas do caminho.
A Avareza
Não comungar
da abundância universal.
Sentir-se afastado
do fluxo cósmico.
Estar apartado
da generosidade
de Deus.
Não poder contar
senão com o que
puder reservar.
A certeza que algo
lhe vai faltar um dia.
Agarrado ao material,
por estar incerto
do espiritual.
São os sofrimentos
e peças
que nos causam
os nossos desvios
no perceber e sentir
a vida e o mundo.
O Medo
Em geral brota,
visceralmente,
sem controle,
vindo do inconsciente.
Não se volta contra o outro,
mas contra si mesmo.
Costuma vir mais
de situações imaginadas
que reais.
O medo paralisa !
Congela, causa danos,
na alma,
se perdura.
Livrar-se dele
é missão do homem
que se encontra.
A Luxúria
Cegar os olhos?
Arrancar as mãos?
Queimar a pele?
Emudecer a boca?
Lesar os ouvidos?
Calar a paixão?
Onde está o limite?
Onde começa a luxúria
e termina o amor permitido?
Quem deve julgar sobre
o que é adequado
e o que é demais?
Luxúria.
Existe de fato?
É um conceito?
Ou um mito?
Pecado do excesso,
como aliás todos os outros.
Pecado da percepção.
Em geral,
sempre se atribui luxúria,
ao outro.
“Atire a primeira pedra ...”
A Ira
A Ira.
Pecado compreensível.
Labareda de fogo,
que sobe.
Vulcão em erupção.
Quando se solta,
fere aos outros.
Quando se prende,
nos consome.
Verdadeiro dragão,
que cospe fogo.
Difícil de dominar.
Sempre uma ruptura,
do amor
e do perdão.
Infelizmente ...
Ou tens!
Ou tivestes!
Ou terás!
A Preguiça
A Preguiça.
Um dos três únicos,
pecados,
vedados aos Incas.
Expurgado,
como pecado,
pela igreja.
Por que será?
Sempre senti,
me salva,
as vezes,
da compulsão,
irrefreável,
de fazer, fazer.
Em grandes doses ...
imobiliza.
Em pequenas doses ...
Ah! É tão bom!
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