Ouvi o ruído da porta
No momento em que se veio
Ela entrou todinha torta
Parecia quebrada ao meio
Sentou-se em minha poltrona
Num acesso de ricona
Baixou ordens sem receio.
Ninguém ali quis abrir a boca
Não escutei qualquer protesto
Sim! Ou ninguém dormia de touca
Ou entenderam todo o resto
Nem foram me avisar: corre!
Nem que ela estava de porre!
Praticando esse seu gesto.
Depois de ganhar café
E mais água com bolinha
A todos fitou de pé
E passeou pela cozinha
Numa atitude de afronta
Como quem diz: - Aparece e monta!
Não fui ver a menininha.
Até hoje me arrependo
Eu me saí bastante mal
Se ela aparecia sofrendo
E era dor deveras real
Deveria ter socorrido
Pois era humano sofrido
E há tanto caso igual.
Sem exigir nada mais
A mulher se foi embora
Pra mim isso foi demais
E não aparece... E demora!
E o esquecimento encobre
Era somente gente pobre
Sem rumo, nem dia, nem hora.