Usina de Letras
Usina de Letras
182 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140785)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6176)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Discursos-->LULA - MARCAS E LEMBRANÇAS -- 29/10/2002 - 08:57 (OLYMPIA SALETE RODRIGUES - 2 (visite a página ROSAPIA)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LULA - MARCAS E LEMBRANÇAS

Conheci Lula num jantar relativamente íntimo aqui em minha cidade, em 1982. Queria ouvi-lo. Ouvi pouco. Um Lula com jeito e pose de operário, olhar penetrante, às vezes distante, mas sempre profundo. Fiquei cativa de seu sorriso tímido, mas aberto e franco. Eu era PT, ainda entusiasmada e acreditando.

Quando ele retornou, então candidato, participei ativamente dos preparativos para sua chegada e das atividades programadas. Um fato, simples mas inesquecível, aconteceu. O partido, recém-formado aqui, não tinha fundos para fazer o que gostaria. Muitos dos militantes e candidatos à vereança tinham filhos. As crianças participavam de tudo e mostravam desejo de participar mais ativamente, ansiosas por conhecer o Lula. Então eu fiz, em papelão colorido e fita vermelha, uma espécie de colete, que era vestido pelo pescoço. Numa das faces se lia: “Meu pai vota PT. E o seu?” Na outra: “Minha mãe vota PT. E a sua?” A idéia foi aprovada e as crianças ficaram eufóricas, desfilando entre a pequena multidão que compareceu ao comício.

Era muito interessante essa forma de participação com a mão diretamente na massa, contornando as dificuldades financeiras com com humor e simplicidade. Era a própria cara do PT em seus primórdios.

Eu não tinha o menor propósito de entrar para a política. Mas aceitei a indicação de meu nome para cooperar para a estabilização do partido na cidade. De antemão avisei que não faria campanha, pois aquele não era meu objetivo. Trabalhei para um companheiro em quem acreditava. Ninguém conseguiu se eleger. Mesmo sem fazer campanha eu consegui 95 votos... rs... Mesmo assim, o partido progrediu.

Vinte anos se passaram, fui perdendo a esperança e a crença entre as diversas decepções. Com as feridas abertas na Ditadura ainda doendo, recentes que eram, ainda chorava a perda de amigos, ainda lamentava os que voltaram arrebentados moral e/ou fisicamente. Passei a viver um entusiasmo que era misto de esperança e vingança. Sentia que Lula podia, mas não tinha certeza. Via Lula mais como um tapa nos carrascos vitoriosos da direita. Passava pelas sucessivas perdas sem arriar as bandeiras. Até que me cansei, as decepções eram muitas, as conquistas bem poucas. Deixei o partido e me entreguei à minha vida egoísta e mesquinha. A descrença foi-se instalando, tomando conta, e venceu dentro de mim. Politicamente falando mantive algumas convicções, preservadas em meu eu calado e quase anulado.

E assim permaneci, inclusive neste tempo eleitoral que culminou ontem com a vitória gloriosa de Lula. Cheguei a me expressar: torço por Lula, quero ver Lula no poder, mas não por acreditar em alguma coisa ainda, e sim para ver o país ter a chance de uma mudança. O auge de minha revolta foi na eleição em que Lula e Collor foram para segundo turno. Collor descavou uma filha de Lula fora do casamento. Entregou o fato ao público. Acreditei que isso em nada influenciaria. Mas o povo foi implacável e deixou-se levar por um moralismo absurdo e vergonhoso. Poucos homens não têm aventuras fora do casamento e, como conseqüência, filhos cuja existência ignoram. Por que Lula (e entenda-se aqui o Brasil) tinha que pagar o preço? Tanto que, mal ganhou as eleições, o puríssimo Collor tinha um DNA a pedir contas... Minha revolta, à época, foi exclusivamente com o povo moralista e hipócrita. Nem dei o desconto à ignorância...

De lá para cá, não mexi em política a não ser quando de meus posicionamentos. Esses preservei e atualizei sempre. E o mesmo comportamento mantive nestas eleições de 2002. Apenas nos dois últimos dias me envolvi um pouco e percebi que torcia, ah como torcia!, para que Lula alcançasse o poder. Acredito em sua autenticidade. Muitos momentos de suas falas depois de eleito me impressionaram. Especialmente: “A esperança venceu o medo”. Medo não tenho. Esperança! - é tudo que eu gostaria de sentir e cultivar.

Ontem, vendo o sorriso de Lula, aberto, franco, feliz, me lembrei de quando o conheci: o sorriso era o mesmo que me cativou. E percebi, até satisfeita, que acredito em Lula mais que acreditei em qualquer candidato antes. E sinto que, apesar de tudo, ainda tenho alguma esperança: não de milagres, mas de mudanças reais graças a esse homem simples e sincero. Ainda há algo bom dentro de mim: tive a capacidade de chorar vendo Lula sorrir!


Fale comigo



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui