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Poesias-->Cântico Sem Cor -- 24/10/2007 - 00:20 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CÂNTICO SEM COR



Ao lê-lo, caro Régio,

o que é um privilégio,

sinto-me assustado e maravilhado

como se então estivesse

no mesmo sentimento encarnado,

preso de revolta eloquente

a exprimir-me: não, não vou por aí...



Imagino o peso da canga,

a extensão da corda-bamba,

o balanço sempre mais intenso

que ora ameaça, ora alivia

o esforço do equilíbrio

sobre o abismo de olhos e braços

que obriga a gritar: não, não vou por aí...



Um poeta não tem diploma

para dizer ou escrever palavras,

aprende tudo sozinho,

bocadinho a bocadinho,

descobre o prazer e a dor que se movem,

experimenta a delícia e o tormento

e diz ou escreve: não, não vou por aí...



Quando assisto a funerais

e me posto junto dos covais

todo eu me rebusco intimamente

perante a contrição daquela gente

defronte ao pálido finado

a ajoelhar-se, a benzer-se

enquanto me ouço: não, não vou por aí...
Eu venho de todos os lados,

convivi com deuses e diabos,

submeti-me, servi-os lealmente,

neguei-me à intima vontade,

traí a minha própria liberdade

até escutar o meu silêncio

balbuciar: não, não vou por aí...



Sabe, mestre, fui na cantiga,

casei com uma linda rapariga,

fui pai de duas lindas filhas

e também escrevi um livro,

acreditando na subtil léria

que hoje estrangula em cada artéria

a ânsia de dizer: não, não vou por aí...



Agora, que sinto o meu cântico sem cor,

inspirado paradigma do seu, mestre,

é tarde, muitíssimo tarde

para almejar os rumos que não há

além do sol-pôr e da manhã

que me cansaram de sonhar

a proclamar: não, não vou por aí...



Já não tenho desejo de amar

e sequer as ganas de odiar

me perpassam o raciocínio,

suspenso da ternura que lobrigo

nas crianças e no seu fiel amigo

que volteia feliz de rabo a acenar

enquanto simplesmente estou aqui!...





António Torre da Guia

Som = Ernesto Cortázar em «Reflexions»
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