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Contos-->O Guarda Chuva -- 14/02/2001 - 19:00 (Emidia Ferreira Felipe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Choveu o dia todo, até tive que usar uma jaqueta, que estava fedendo a mofo por tanto tempo escondida no armário (sem esquecer de pedir o guarda-chuva à vovó, é claro). Forte e fraca, a chuva reinou durante horas, provocando estragos... Ora, não é ela que provoca os estragos, só está fazendo seu trabalho de regar a terra; quem deveria cuidar da cidade eram os prefeitos, que há anos não resolvem o problema dos alagamentos, aliás, verdadeiras lagoas urbanas, que invadem as casas até de pessoas da média.
A tarde no trabalho foi tranqüila, nenhum movimento maior, nada que não pudesse ser deixado para o dia seguinte... Ninguém cobrou nada e meus colegas foram todos cordiais; um deles está doente devido à chuva da semana passada, ele é como eu, mole pra esses choques térmicos típicos de cidades quentes no inverno, mas acho que os medicamentos de prevenção que venho tomando estão fazendo efeito.
Sem ninguém pra conversar e nada mais interessante pra fazer no fim do expediente, resolvi ir para casa e neste momento chamei uma colega, a Karla, pra pegar uma carona a pé até o ponto que ela pega o ônibus; não que a parada que meu transporte passa seja mais longe que a dela, é que gosto mesmo de conversar quando vou caminhando ao sair do trabalho, além do mais, tem outro ponto que também dá certo pra mim logo depois do dela. Pegamos nossos guarda-chuvas pretos e saímos juntas em direção à avenida principal, fomos conversando besteiras e sem ligar para nada, enquanto pessoas corriam ao nosso lado tentando desviar da chuva (nunca me senti tão bem de guarda-chuva, quando era criança detestava-o, e até pouco tempo me recusava a usá-lo).
Quando Karla atravessou (“- Tchau, Kaka!”) a avenida para ir ao seu ponto, notei, um pouco à minha frente, um rapaz de mochila que havia passado correndo por nós a poucos instantes, andar um pouco e parar na outra margem da rua que eu atravessava. Enquanto eu caminhava para próximo a ele (era a única passagem que havia e eu já estava a caminho dela) e ele tomava banho de chuva pensei: “Ai, meu Deus! Só pode ser um ladrão! Ai, ai, ai....”, para piorar o meu pensamento sobre o moço, quando passei por ele, começou a me acompanhar.
- Nem oferece carona no guarda-chuva!
Deu um friozinho na barriga... “Ai, ai, ai...”, e ele continuou na chuva. Como vi que ele não desistiria, resolvi responder.
- Não vou dar carona pra um cara que eu nem conheço.
- Vai me deixar aqui tomando banho? Estamos indo na mesma direção!
- Corre, ué! Faz bem pra saúde!
- Correr? Você quer que eu corra até o ponto?
E ele continuava na chuva e nós andando.
- Assim não dá, você tá fazendo chantagem, fica aí falando na chuva só pra eu dar carona!
Dizendo isso, afastei o guarda-chuva para que coubéssemos, mais ou menos, nós dois. Não acreditava que estava fazendo aquilo! Correndo risco de ser roubada, tão perto de uma pessoa que nunca tinha visto na vida.
- Você é daqui?
- Sou, graças a Deus.
- É? Não parece ser daqui, você fala diferente.
- Mas sou sim.
- Onde você mora? Ah, dá aqui o guarda-chuva, eu levo.
“Ai, ai, ai, ele vai levar o guarda-chuva embora! O que vou dizer pra vovó?”
- Longe daqui, no outro lado da cidade.
- E o que faz por aqui a esta hora?
- Trabalho aqui.
- Onde?
- No... Ei! Não te conheço! Não devia estar respondendo tantas perguntas! – “Melhor tentar descontrair pra ver se ele pára de perguntar tanto.” – Minha mãe disse pra não falar com estranhos!
(Risos)
Não consegui conter o meu sorriso diante do dele. “ Que maluca sou eu, dando confiança para um estranho”.
- Ora, eu não sou estranho.
- É sim, não te conheço!
- Qual seu nome?
- Meu nome? Rá! Qual o seu?
- Carlos. E o seu?
- Não vou te dizer meu nome! Não acredito que estou te dizendo tanta coisa! Não te conheço!
Chegamos perto do ponto e tudo estava alagado, tivemos que contornar a “lagoa” por um pequeno desvio.
- Por que tantas perguntas?
- Por que te achei uma gracinha, muito simpática. Cuidado com o carro! Não quero ser responsável pela sua morte!
“ Menos mal!”.
Nessa hora, vinha minha condução.
- Meu ônibus!
- Ah, você não vai nesse! – Ele falou segurando o guarda-chuva.
Gelei de novo. “ Pronto, agora ele vai me deixar sem nada, nem o dinheiro da passagem!”. Olhei pra ele e sorri. Ele sorriu, disse tchau e soltou o guarda-chuva. Eu corri pro ponto, entrei no ônibus. Na hora de pagar a passagem, abri a bolsa e pensei: “Que alívio! Nossa! Como julguei mal! Perdão, Carlos. Que bobagem! Só foi a carona. Sabe que ele era simpático? Foi até gentil...”, mas não é culpa minha, é do mundo que está assim, não dá pra confiar em ninguém; desde criança aprendi com todo o mundo a desconfiar de todos e de tudo que não conheço, que nunca vi na vida. Segui pra casa. Acho que amanhã passo batom de novo, mas nunca mais faço isso.
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