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cronicas-->Documentário -- 01/09/2004 - 07:31 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Outro dia resolvi fazer um documentário sobre S.Paulo. Levei minha càmera - pequena, manêra - dentro de uma bolsa transparente e a deixei ligada sobre a mesinha de um café.

Para quem gosta de registros, posso dizer que foi um fim de tarde de sexta-feira, num bairro meio-romàntico, meio-boêmio e meio-metido-a-besta, lá em Sampa: Vila Madalena.

Pedi um chá de menta e um pedaço de bolo, pra alugar a mesinha da calçada. E liguei a máquina, com o focinho liberto da bolsa (a transparência do plástico poderia interferir nas imagens). E começou a filmagem.

Fiquei ali umas duas horas e meia. Pouco mexi na càmara, o bastante para mudar de àngulo e, assim, variar um pouco. E me pus a ler o livro que levara. Missão cumprida, fechei a càmara, paguei a conta, voltei pra casa. E esqueci do documentário. Até que ontem a noite, por qualquer razão, abri o filme. E essas foram duas das cenas filmadas, em ordem de aparecimento:

Cena 1. Moça caminhando pela calçada. Teria 19 ou 20 anos. No frio paulistano, ela vestia uma camiseta que vinha até o estómago e uma calça com a cintura abaixo do umbigo. Faixa de pele meio amarelada e meio arroxeada pelo frio. Um malote pendurado num dos ombros. Parecia vazio, tristemente pendurado naquele ombro magro. A menina não parece muito alegre tampouco. A poucos passos da càmara enfiou a mão naquela bolsa e dela retirou um sanduíche já mordido - que estava ali dentro sem papel, sem guardanapo, para proteção de lanches, etc. - Deu umas mordidas, ali parada em frente a càmara escondida, jogou o sanduíche (parecia que era) pra dentro do malote. Olhou para um copo de bebida numa das mesinhas. E continuou parada. A moça que estava naquela mesinha, grudada a um celular, girava na sua cadeira a medida que conversava com a caixinha que vinha do ouvido a boca. Distraída, não percebeu quando a moça do malote agarrou no seu copo (seria chá, não sei), deu um gole enorme, enguliu em duas ou mais vezes, depositou o copo e saiu apressada. A càmara não captou, mas eu vi: Um garção percebeu a manobra da garota, levou um susto, mas não teve tempo para agarrá-la (parecia esta sua intenção). A dona da bebida continuava ao celular - nem percebeu o que acontecera. O garção não trocou de copo. Ficou ali parado. Movi devagarinho a càmara na sua direção. Retomou seu ar desamparado e boiador que muitos garções fazem ao não terem nada para fazer. -

Cena número dois - Um casal de "meia-idade" vinha atravessando a rua. Saíram de um carro, que ficara estacionado em frente ao café. Ué, por que estacionaram o carro lá, se o café tem um estacionamento aqui ao lado... Intrigante situação. Minha càmara levantou suas antenas. Vamos seguir o casal. - Entraram no café. Sentaram-se numa das mesinhas, do lado de dentro. A voz dele veio retumbante: Um capuccino. E que seja dos grandes! - A voz dela, meio adormecida: Outro pra mim.
Ele pegou na mão dela: - É isto. Não vou demorar. Uma viagem de 12 dias. Ou até menos, porque não aguento muitas férias e menos ainda ficar longe de você.
Ela olhou para ele, a mão inerte: - Eu sei. Mas você vai com sua mulher. E vou ter eu de tolerar o meu marido. Ele também quer tirar férias, mas não vou aguentar nem um minuto com ele. Só vou pensar em você.
Chegou o capuccino para ele. - O dela veio nas mãos de outro garção. Esse olhou para a mulher e exclamou:
- D. Márcia! A senhora por aqui!
Susto geral. Ela ficou da cor que se fica quando se é apanhada em flagrante situação. Sorriu o sorriso mais amarelado que já vi ... e se saiu com esta: - Ói Geraldo! Quem é vizinho sempre se encontra, né. Deixe eu te apresentar o advogado da nossa firma, o Dr. ... Pereira da Silva.
O homem seguiu o diapasão: - Muito prazer! Sou o advogado da firma da D. Márcia. Meu nome completo é Arnaldo Conrado Pereira da Silva. Pena que não trouxe nenhum cartão (- ele chegou a apalpar os bolsos, procurando seu cartão fictício). - O garção do capuccino dela, garoto com cara de esperto, foi vivo: - Pena, mas guardei seu nome. A gente nunca sabe quando vai precisar de um advogado. Mas se precisar dos seus serviços, posso me comunicar com a D.Márcia. Somos vizinhos há anos. Mesmo prédio, andares diferentes. Os meninos dela - ah, hoje são homens, como eu - e eu, brincamos muito lá no quintal do prédio. Hoje já nem tem mais, não é, D. Márcia. Fizeram estacionamento daquele pomar.

A tal de D. Márcia concordava, olhando para ele, baixando o queixo várias vezes. Fez menção de começar a tomar seu capuccino, ao que o garção resolveu se afastar, seguindo o ritual das despedidas, muito prazer em ver a senhora aqui , prazer em conhecer , etc.

Ele se afastou. A mulher olha para o homem, lhe diz: - Esse rapaz foi amigo dos meus filhos. Faz direito num curso noturno. Vai querer te procurar, meu advogado ! E aí.
Ao que ele respondeu: - Aí, minha cara, vou estar de férias. Umas boas e prolongadas férias.

Ela fechou a cara. Tomaram o café em silêncio, ele pagou a conta, se levantaram, atravessaram a rua, ela entrou no carro, ao volante. Ele se despediu dela, um beijo no rosto e foi andando a pé. O que terão dito entre o café e o estacionamento resolveu a relação - parece, cada um pro seu lado. - Ele voltou para o café, sentou-se ao meu lado (não tive tempo de virar a càmara, portanto o que veio depois está off record ). Tirou um celular de um bolso, ligou pra alguém, que atendeu logo: - Queridinha, amor, morro de saudades de você. Acabo de despachar um cliente. Vou aí te ver. Já. Pego um táxi. Até. - Desligou. Voltou-se pro garção do cappucino da mulher que foi embora. - Oi colega, me traz outro cappucino!

Cena 3 - Fica para uma outra vez.
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Érica Eye
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