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Cronicas-->Nunca mexa com a mulher do guarda -- 20/10/2000 - 12:35 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando era jovem, eu e meus amigos mais chegados tínhamos duas preocupações básicas: transar e subverter. Se pudéssemos fazer as duas coisas ao mesmo tempo, tanto melhor. No dia em que o Isaac conseguiu me colocar dentro do Clube da PM, no Tatuapé, com a carteirinha do seu irmão, foi a glória! Enganar a polícia é magistral. E já repararam como as filhas de policiais são... Bem, o fato é que mergulhávamos na piscina e ficávamos apreciando as pernas, bundas e peitos das moçoilas por horas e horas. Mas sempre com o cuidado de não parecer maníacos sexuais. Ou então soltar alguma cantada mais atrevida. Afinal as beldades não tinham a identificação estampada no maió de lycra. E havia uma delas, muito sensual, que tinha cara de filha de coronel... Dessa eu ficava longe. Só olhava de revés.

E hoje, depois de mais de vinte anos, estou eu aqui, por uma dessas circunstàncias da vida, dentro de um hospital militar. Se ao menos eu tivesse recorrido à memória do Clube da PM, talvez não passasse pelo apuro que passei. Vim visitar um grande amigo, Sargento da Aeronáutica, que sofrera um derrame. Logo na entrada, o recepcionista disse que eu estava adiantado em uma hora. Maldito horário de verão! - reclamei pra mim mesmo. Ter de suportar uma hora de espera, sob um calor infernal, num ambiente cheio de macho? Deu vontade de me mandar e só voltar outro dia. Mas o Jonas é daqueles amigos do peito, de infància, de adolescência... E estava mal! Minha consciência não deixaria eu ir embora. A merda é que eu não tinha sequer um jornal para ajudar a passar o tempo. A propósito, quando se quer um jornal apenas para tentar fazer o tempo correr, só se lê classificados e o caderno de esportes. Ou então o horóscopo. E, na falta de jornal, a gente lê qualquer cartaz, qualquer panfleto, rótulo de remédio, o que aparecer pela frente. Agora mesmo estou vendo um daqueles cartazes tradicionais, que são uma espécie de radiografia de um órgão humano. Muito estimulante o nome de todos os ossos da coluna vertebral... Sentei num banco próximo à entrada do hospital, num lugar um pouco mais ventilado. Surgiu, então, uma mulher magnífica, toda de branco, com uma calça provocante, grudada ao corpo escultural. Olhei para seus peitos (lindos, envoltos num sutiã rendado, cavado). O único problema é que tinha a insígnia de tenente. Bobo eu não sou. Tratei de fingir que não percebi sua chegada. Quando passou por mim, senti um perfume suave, inédito, saboroso. Controlei-me. Pelo menos a coisa está melhorando. Fui ao banheiro. Ao voltar, esbarrei num outro monumento, só que desta vez civil. Seguia-a. Sentou próxima ao consultório de dermatologia, tirou uma revista da bolsa e começou a folheá-la. Sentei no banco da frente, como quem não quer nada. Reparei que ela me olhava disfarçadamente por cima da revista. Pouco depois, colocou o exemplar do lado e tirou uns apetrechos da bolsa. Retocou o batom vermelho, forte e provocante. Mexeu nos longos cabelos pretos com aquele charme de mulher que está percebendo um babaca se deslumbrar. Olhava constantemente para o relógio e para a porta do consultório. Meu celular tocou. Era Adriana, minha ex-mulher. Dispensei-a. O doutor chamou o monumento com um gesto. Antes de levantar, porém, ela me lançou aquele olhar assim "de eu te quero. Me espere". Àquela altura já tremia como vara verde. Esqueci do Jonas, do derrame e do horário de verão.

- Se eu fosse você não tentava nada com ela - surpreendeu-me um jovem soldado, que tinha me visto trocando olhares.

- Por que? Vai me dizer que ela mulher de um oficial?

- Filha.

- Então não importa.

Levantei e fui ao banheiro. Entrei num dos boxes, pois a ansiedade me embrulhou o intestino. Fiquei pensando em como abordá-la. Aquela tarde tinha tudo para ser fenomenal. A morena, aquele corpinho, os cabelos... Saí, depois de uns dez minutos. Abaixei o rosto na cuba da pia para lavá-lo. A aflição era tamanha.

- E aí, bonitão?! Já terminou minha consulta. Vamos tomar alguma coisa?

Vai dizer que você nunca se enganou?

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