CLÁUDIO
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Além de chato, Cláudio abusava de seu porte: físico privilegiado, alto, musculoso, ágil. Valente, desafiador, não enjeitava briga. Cidade pequena, era impossível evitá-lo nas festas, nos bailes, no futebol, nas pescarias... Por onde quer que se andasse, aparecia o Cláudio com suas estórias, fanfarronice e agressividade.
-Fui criado com leite de onça: coragem é comigo, mesmo! Lamber mel é pra mulher. Eu como é com abelha e tudo! Meu pai me acorda com tiro de 12.
Certa pescaria no Rio Grande, pelos lados de Igarapava (divisa de São Paulo e Minas Gerais), marcou em nossa lembrança o tamanho de sua coragem, no entanto. Turma grande, lá pela volta do segundo dia, ocorreu uma queimada num campo vizinho. Aí, deu de aparecer cobra de todo tipo no acampamento. Apreensivos, aumentamos os cuidados, com exceção de Cláudio, que se dizia amansador dos bichos.
À noite, madrugadão, alguns na pescaria e outros dormindo, Roberto e Elizeu, semi-embriagados, resolvem “aprontar”. Apanham meia dúzia de lambaris e os colocam, vivos, dentro das calças do Cláudio, que dormia profundamente. E gritam em seus ouvidos:
-COBRA, COBRA!...
Cláudio acorda assustado e, sentindo o movimento dos lambaris, sai em desabalada carreira, trombando em tudo e gritando desesperado. Elizeu, divertindo-se com a aflição do companheiro:
-Acho que o Cláudio foi criado é com leite de magnésia...
|