Seu nome era Zílio, e juntamente de uma marchinha de carnaval, nunca mais será esquecido.
Era década de 50. Viajávamos de Erechim para Porto Alegre de carona na cabina de um caminhão modelo FNM, lerdo e o motor aquecia demasiado. Subíamos vagarosamente a serra das Antas, um trajeto íngreme, para suportar o ofegante calor ambas as portas do caminhão permaneciam abertas, mesmo assim, a fumaça e o cheiro do óleo queimado penetravam nas narinas. O motorista estava sem camisa e vestia um calção escuro, praticamente encoberto pela protuberância da sua barriga. Todos suávamos intensamente. O veículo locomovia-se como se acompanhasse uma procissão.
Zílio, descendente de italianos, adotava uma pronúncia carregada e deturpada da língua brasileira. Decidiu cantar uma marchinha em moda naquele carnaval. “Você pensa que cachaça é água”. Havia um refrão no qual repetia-se a estrofe da canção na seguinte frase:
“Cachaça vem do alambique e água vem do ribeirão”.
Acontece que, ele cantarolava além de fora do tom, pronunciando “riberon” Repetia-se incessante enquanto o motorista batucava sobre o volante acompanhando-o. Pois bem, levamos quase uma hora para atingir o platô da subida, deixamos o motor esfriar e daí em diante andaríamos mais depressa. Foi a maior tortura auditiva que tive em minha vida. Decorei a canção que recordo após décadas...
“Você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não, cachaça vem do alambique e água vem do ribeirão”.