VOU VOLTAR PRO SERTÃO
Vou voltar lá pro sertão, lá do sítio donde eu vim, você sente o cheiro da farinha torrada, queimada no tacho, tempo de farinhada é uma festa, tem cachaça da boa e a rapadura dá água na boca, o caldo de cana é tão docinho que o nego só falta estourar o bucho e ninguém paga imposto por isso não.
Lá no sertão mesmo, no sítio do sertão toda alma vivente se conhece e todo mundo se respeita. O melhor do sítio é que a gente só vem na cidade uma vez no mês, fica lá escondido dessa corja de ladrão que quer nos roubar tudo.
Só lá, trabalhando cedo que é pra quando o sol tiver alto nós voltar pra casa tomar banho, comer, deitar na rede com o violão em cima dos peitos e ficar ouvindo o som suave da viola.
E namorar no sítio? Namorar no sítio não é como na cidade não, no sítio a mulher cheira de um perfume que não existe em qualquer região do planeta, ela tem um cheiro de mato verde e fresco, um cheiro de terra molhada de chuva. A cabóca se transforma numa visage de noite de lua cheia, vem toda sorridente, deixando os nervos do homem em frangalhos, a mulher do sítio não é como a da cidade não, ela quando vem amar, vem amar amando e se entrega ao homem dela como quem se perde de si...
Não quero mais viver em nenhuma cidade, pois se saio na rua e dou -bom dia! Ninguém responde. Passo, olho bato no cabra ele bate em mim, peço desculpa e ele não responde, o pior de tudo são os impostos, porque se estou morando tenho que pagar IPTU, se tenho um carro tenho que pagar IPVA, Seguro obrigatório, emplacamento, gasolina, e ...
Se ligo a luz tenho que pagar, se ligo a torneira tenho que pagar por uma água pior que a água da cacimba do quintal da minha casa, se compro uma roupa tenho que pagar imposto, se vou comer, e tenho porque ninguém vive sem tal, tenho que pagar imposto.
Vou voltar pro sertão, não vou dar a minha energia vitá pra enricar ladrão que cobra imposto em tudo, e quando a gente pensa que não ta pagando imposto, ele vem imbutido no produto. Ó cambada de ladrão, tudo protegido pela lei e por um bando de macacos armados, doidos pra meter o cacete em nós.
Vou voltar pro sertão e quem quiser venha comigo, por que lá tem lugar pra todo mundo de bem. E quem gosta do modernismo, pague o pão que o diabo amassou por ele, porque eu vou me antecipar ao demo e vou comer o pão bem fresquinho da fornalha lá de casa, mas antes vou me limpar da sujeira da cidade, na lagoa bem fresquinha de lado da minha casa.
P.S.: E EU NEM FALEI DO IMPOSTO DE RENDA, PENSEM BEM!
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