Todo o mundo está sabendo: foi na "calada da noite", se a cidade de S.Paulo se calasse para ouvir os gemidos dos mendigos, que quatro deles foram mortos a pancadas por desconhecidos (deles, não se sabe; da polícia, com certeza). Assassinos são, por definição, seres covardes: fazem de uma arma de fogo seu melhor argumento. O único que não tem réplica. - Assassinos de pessoas que dormem, então, são até mais do que covardes - acho que a linguagem humana não criou ainda um termo para esses.
Covardes e assassinos - mataram a pancadas no rosto e na cabeça uns homens que dormiam estirados em calçadas paulistanas, na tal "calada da noite". Foram embora. Satisfeitos, talvez. Não deixaram vestígios.
Os nobres representantes do povo, na Càmara Municipal ou outra càmara qualquer, fizeram um minuto de silêncio em homenagem aos mortos. Que ironia! Deveriam fazer uma hora, um dia, um ano de silêncio - e durante este bendito tempo de respeito aos mortos, fazer um ato de contrição. Pensar que uma sociedade, através de seus representantes, deve, tem a obrigação de evitar que existam moradores de rua . Rua não é lugar para morar - se o foi, na Idade Média, pelo êxodo do campo em favor das cidadelas, agora já não se justifica isto. - Rua é lugar para comércio, passeio, vida - e não dormitório para carentes, não arena para gente infensa e não para mortes.
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Érica Eye |
