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Textos_Religiosos-->Igreja Católica reafirma o primado de Pedro -- 11/07/2007 - 11:50 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esclarecimento doutrinal aprovado pelo Papa, fundamental para diálogo ecumênico

www.zenit.org

Contido em um documento da Congregação para a Doutrina da Fé

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 10 de julho de 2007

Para um diálogo ecumênico verdadeiramente construtivo, é essencial a fidelidade à identidade da fé católica, um aspecto cujas tergiversações se encarrega de esclarecer um novo documento da Congregação vaticana para a Doutrina da Fé.

Trata-se das «Respostas a algumas perguntas acerca de certos aspectos da doutrina sobre a Igreja» -- texto aprovado por Bento XVI e assinado pelo presidente e pelo secretário do citado dicastério, o cardeal William Levada e o arcebispo Angelo Amato, respectivamente.

Tal documento está acompanha por um «artigo de comentário», igualmente difundido nesta terça-feira pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

O dicastério, em suas «Respostas», retoma em essência o ensinamento conciliar e o Magistério pós-conciliar, afirmando qual é a doutrina católica sobre a natureza da Igreja; descarta «visões inaceitáveis» e dá importantes indicações «para a continuação do diálogo ecumênico».

Parte recordando a afirmação segundo a qual «a Igreja de Cristo subsiste na Igreja católica» [«subsistit in», segundo sua expressão latina].

Na Constituição dogmática Lumen gentium, «a subsistência é esta perene continuidade histórica e a permanência de todos os elementos instituídos por Cristo na Igreja Católica» -- «governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele» --, «na qual, concretamente, se encontra a Igreja de Cristo nesta terra».

Igrejas e comunidades separadas

Usar a expressão «subsiste nela» «indica a plena identidade entre a Igreja de Cristo e a Igreja Católica», recolhe o documento; declara que «existe uma só ‘subsistência’ da verdadeira Igreja».

Fora de sua estrutura visível «existem só ‘elementa Ecclesiae’, os quais -- sendo elementos da mesma Igreja -- tendem e conduzem à Igreja Católica». Os padres conciliares tentaram assim reconhecer a presença de elementos eclesiais próprios da Igreja de Cristo nas Comunidades cristãs não-católicas enquanto tais.

«Em conseqüência -- aponta o Comentário --, a identificação da Igreja de Cristo com a Igreja Católica não pode ser entendida como se fora da Igreja Católica houvesse um ‘vazio eclesial’.»

A expressão «subsistit in» «não significa que a Igreja Católica renuncie à sua convicção de ser a única verdadeira Igreja de Cristo»; «indica porém -- declara o Comentário -- uma maior abertura às exigências do ecumenismo».

Neste contexto, no caso das Igrejas Orientais que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica, o Concílio aceitou o nome de «Igrejas particulares» porque «permanecem unidas à Igreja Católica através da Sucessão Apostólica e da Eucaristia validamente consagrada».

Mas «dado que a comunhão com a Igreja universal, cuja cabeça visível é o bispo de Roma e Sucessor de Pedro, não é um simples complemento externo da igreja particular, mas um de seus princípios constitutivos internos, aquelas veneráveis Comunidades cristãs sofrem na realidade uma carência objetiva em sua própria condição de Igreja particular».

Quanto às comunidades cristãs nascidas da Reforma do século XVI, «a ferida é ainda mais profunda»: «não conservaram a sucessão apostólica nem a Eucaristia válida»; «não são Igreja em sentido próprio», mas ‘comunidades eclesiais’, como diz o ensinamento conciliar e pós-conciliar, recolhido no documento.

«Apesar de que estas claras afirmações tenham criado mal-estar nas comunidades interessadas e inclusive no campo católico -- afirma o Comentário --, não se vê, por outro lado, como se pode atribuir-lhes o título de ‘Igreja’», «já que não aceitam o conceito teológico de Igreja em sentido católico e carecem de elementos que a Igreja Católica considera essenciais.»

De qualquer forma, «enquanto tais, as comunidades possuem realmente muitos elementos de santificação e verdade, pelo que, sem dúvida, têm um caráter eclesial e um conseguinte valor salvífico», reitera.

Mais passos no diálogo ecumênico

Daqui se desprende a indicação que o documento representa para a continuação do diálogo ecumênico, uma das prioridades da Igreja Católica, como Bento XVI sublinhou em várias ocasiões.

«Para que o diálogo possa ser verdadeiramente construtivo, além da abertura aos interlocutores, é necessária a fidelidade à identidade da fé católica» -- alerta o Comentário.

«Só assim se poderá chegar à unidade de todos os cristãos em ‘um só rebanho e um só pastor’ (Jo 10, 16), e sanear desta forma a ferida que ainda impede a Igreja Católica de realizar plenamente sua universalidade na história», conclui.


***

Comentário sobre documento da Congregação para a Doutrina da Fé

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 10 de julho de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o Comentário que acompanha, esta terça-feira, o Documento da Congregação para a Doutrina da Fé sobre «Respostas a perguntas relativas a alguns aspectos da Doutrina da Igreja». O texto em língua portuguesa foi divulgado esta terça-feira pela Sala de Imprensa da Santa Sé.


COMENTÁRIO

às

Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja


As diversas questões, a que a Congregação para a Doutrina da Fé procura dar resposta, incidem sobre a visão geral da Igreja come emerge dos documentos de carácter dogmático e ecuménico do Concílio Vaticano II, o Concílio "da Igreja sobre a Igreja", que, para usar as palavras de Paulo VI, marcou uma "nova época para a Igreja", pelo mérito que teve de "ter traçado e mostrado melhor o vulto genuíno da Esposa de Cristo". Não faltam, por outro lado, referências aos principais documentos dos Papas Paulo VI e João Paulo II e às intervenções da Congregação para a Doutrina da Fé, todos inspirados numa visão cada vez mais profunda da própria Igreja e, muitas vezes, com o objectivo de ajudar a esclarecer a notável produção teológica post-conciliar, não sempre isenta de desvios e inexactidões.

A mesma finalidade reflecte-se no presente documento, com que a Congregação entende recordar o significado autêntico de algumas intervenções do Magistério em matéria de eclesiologia, para que a sã investigação teológica não venha a ser vítima de erros ou de ambiguidades. A esse respeito, tenha-se presente o género literário das "Responsa ad quaestiones", que, por sua natureza, não contêm argumentações destinadas a comprovar a doutrina exposta, mas apenas recordam o precedente Magistério e, portanto, entendem dizer uma palavra certa e segura em matéria.


A primeira questão é se o Vaticano II modificou a precedente doutrina sobre a Igreja.

A pergunta tem a ver com o significado do "novo vulto" da Igreja que, segundo as citadas palavras de Paulo VI, o Vaticano II ofereceu.

A resposta, baseada no ensinamento de João XXIII e Paulo VI, é muito explícita: o Vaticano II não entendeu modificar, e de facto não modificou, a precedente doutrina sobre a Igreja; o que fez foi aprofundá-la e expô-la de forma mais orgânica. Nesse sentido devem tomar-se as palavras de Paulo VI na sua alocução de promulgação da Constituição Dogmática conciliar Lumen gentium, onde afirma que a doutrina tradicional não foi minimamente modificada, mas simplesmente "o que antes era perceptível apenas a nível de vida, agora também se exprime claramente a nível de doutrina; o que até agora era objecto de reflexão, de debate e, em parte, até de controvérsia, agora tem uma formulação doutrinal segura".

Da mesma maneira, há continuidade entre a doutrina exposta pelo Concílio e a recordada nas sucessivas intervenções do Magistério, que retomaram e aprofundaram a mesma doutrina, contribuindo ao mesmo tempo para o seu progresso. Neste sentido e por exemplo, a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé Dominus Iesus mais não fez que retomar os textos conciliares e os documentos post-conciliares, sem nada lhes acrescentar ou tirar.

Não obstantes estas claras afirmações, no período post-conciliar a doutrina do Vaticano II foi objecto, e continua a sê-lo, de interpretações desviantes e em descontinuidade com a doutrina católica tradicional sobre a natureza da Igreja: se, por um lado, ela era vista como "mudança coperniciana", por outro, deu-se uma concentração sobre alguns aspectos considerados quase contrapostos a outros. Na realidade, a clara e profunda intenção do Concílio Vaticano II era de inserir e subordinar o tema da Igreja ao tema de Deus, propondo uma eclesiologia no sentido propriamente teo-lógico, mas o acolhimento do Concílio muitas vezes esqueceu esta característica qualificante em favor de afirmações eclesiológicas isoladas e concentrou-se sobre palavras isoladas de fácil compreensão, favorecendo leituras unilaterais e parciais da própria doutrina conciliar.

Por quanto diz respeito à eclesiologia da Lumen gentium, mantiveram-se na consciência eclesial algumas palavras-chave: a ideia de povo de Deus, a colegialidade dos Bispos como reavaliação do ministério dos bispos juntamente com o primado do Papa, a reavaliação das Igrejas particulares dentro da Igreja universal, a abertura ecuménica do conceito de Igreja e a abertura às outras religiões; enfim, a questão do estatuto específico da Igreja Católica, que se exprime na fórmula, segundo a qual, a Igreja una, santa, católica e apostólica, de que fala o Credo, subsistit in Ecclesia catholica.

Algumas destas afirmações, especialmente a do estatuto específico da Igreja católica com os seus reflexos no campo ecuménico, constituem as principais temáticas enfrentadas pelo documento nas questões sucessivas.


A segunda questão é como se deve entender que a Igreja de Cristo subsiste na Igreja católica.

Quando G. Philips escreveu que a expressão "subsistit in" faria "correr rios de tinta", provavelmente não previa que a discussão haveria de continuar por tanto tempo e com tal intensidade, a ponto de levar a Congregação para a Doutrina da Fé a publicar o presente documento.

Uma tamanha insistência, aliás fundada em textos conciliares e do Magistério successivo citados, reflecte a preocupação de salvaguardar a unidade e unicidade da Igreja, que viriam a faltar, se se admitisse que possam existir mais subsistências da Igreja fundada por Cristo. De facto, como se diz na Declaração Mysterium Ecclesiae, se assim fosse, chegar-se-ia a imaginar "a Igreja de Cristo como a soma – diferenciada e, de algum modo, unitária ao mesmo tempo – das Igrejas e Comunidades eclesiais" ou a "pensar que a Igreja de Cristo hoje já não existe em parte alguma e que, portanto, deva ser só objecto de procura da parte de todas as Igrejas e comunidades". A única Igreja de Cristo já não existiria como una na história ou existiria apenas de forma ideal, ou seja in fieri, numa futura convergência ou reunificação das diversas Igrejas irmãs, desejada e promovida pelo diálogo.

Mais explícita ainda é a Notificação da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os escritos de Leonardo Boff, segundo o qual, a única Igreja de Cristo "pode também subsistir noutras Igrejas cristãs". Invés – observa a Notificação –, "o Concílio adoptou a palavra subsistit , precisamente para esclarecer que existe uma só subsistência da verdadeira Igreja, ao passo que, fora da sua composição visível, existem apenas "elementa Ecclesiae", que – por serem elementos da própria Igreja – tendem e conduzem para Igreja católica".


A terceira questão é porque se empregou a expressão "subsistit in" e não o verbo "est".

Foi precisamente esta mudança de terminologia, na descrião da relação entre a Igreja de Cristo e a Igreja católica, que deu ocasião às mais diversas ilações, sobretudo no campo ecuménico. Na realidade, os Padres conciliares simplesmente entenderam reconhecer a presença, nas Comunidades cristãs não católicas enquanto tais, de elementos eclesiais próprios da Igreja de Cristo. Daí resulta que a identificação da Igreja de Cristo com a Igreja católica não se deve entender come se, fora da Igreja católica, exista um "vazio eclesial". Ao mesmo tempo, significa que, se se considera o contexto em que se situa a expressão subsistit in, ou seja, a referência à única Igreja de Cristo "neste mundo constituída e organizada como uma sociedade… governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele", a passagem do est ao subsistit in não assume especial significado teológico de descontinuidade com a doutrina católica precedente.

Ora, porque a Igreja assim querida por Cristo continua de facto a existir (subsistit in) na Igreja Católica, a continuidade de subsistência comporta uma substancial identidade de essência entre Igreja de Cristo e Igreja católica. O Concílio quis ensinar que a Igreja de Jesus Cristo, como sujeito concreto neste mundo, pode ser encontrada na Igreja católica. Isso só se pode realizar uma vez, pelo que a concepção, segundo a qual o "subsistit" deveria multiplicar-se, não traduz propriamente o que se entendia dizer. Com a palavra "subsistit", o Concílio queria exprimir a singularidade e a não multiplicabilidade da Igreja de Cristo: a Igreja existe como único sujeito na realidade histórica.

Portanto, a substituição de "est" com "subsistit in", contrariamente a tantas interpretações sem fundamento, não significa que a Igreja católica abandone a convicção de ser a única verdadeira Igreja de Cristo, mas simplesmente significa uma sua maior abertura à particular exigência do ecumenismo de reconhecer o carácter e dimensão realmente eclesiais das Comunidades cristãs não em plena comunhão com a Igreja católica, graças aos "plura elementa sanctificationis et veritatis" nelas presentes. Por conseguinte, embora a Igreja seja só uma e "subsista" num único sujeito histórico, também fora deste sujeito visível existem verdadeiras realidades eclesiais.


A quarta questão é porque o Concílio Vaticano II atribuiu o termo "Igrejas" às Igrejas orientais não em plena comunhão com a Igreja católica.

Não obstante a explícita afirmação de que a Igreja de Cristo "subsiste" na Igreja católica, o reconhecer que também fora do seu organismo vital se encontram "vários elementos de santificação e de verdade", comporta um carácter eclesial, embora diversificado, das Igrejas ou Comunidades eclesiais não católicas. Elas, com efeito, "não são absolutamente vazias de peso e de significado", no sentido que "o Espírito de Cristo não se recusa a servir-se delas como de instrumentos de salvação" .

O texto toma em consideração, antes de mais, a realidade das Igrejas Orientais não em plena comunhão com a Igreja Católica, e, recorrendo a diversos textos conciliares, reconhece-lhes o título de "Igrejas particulares ou locais" e chama-as Igrejas irmãs das Igrejas particulares católicas, porque mantêm-se unidas à Igreja católica por meio da sucessão apostólica e da válida Eucaristia, "pelo que nelas a Igreja de Deus é edificada e cresce" (UR 15.1). Antes, a Declaração Dominus Iesus chama-as expressamente "verdadeiras Igrejas particulares".

Embora com este explícito reconhecimento do seu "ser Igreja particular" e do incluído valor salvífico, o documento não podia deixar de sublinhar a carência (defectus), de que as mesmas se ressentem, precisamente no seu ser Igreja particular. De facto, pela sua visão eucarística da Igreja, que põe o acento na realidade da Igreja particular reunida em nome de Cristo na celebração da Eucaristia e sob a guia do bispo, elas consideram as Igrejas particulares completas na sua particularidade. Daí que, salva a fundamental igualdade entre todas as Igrejas particulares e entre todos os bispos que as presidem, cada uma delas tem uma própria autonomia interna, com evidentes reflexos na doutrina do primado, que segundo a fé católica é um "elemento constitutivo interno" para a própria existência de uma Igreja particular. Naturalmente será sempre necessário sublinhar que o primado do Sucessor de Pedro, Bispo de Roma, não deve ser entendido de forma estranha ou concorrente em relação aos Bispos das Igrejas particulares. Deve ser exercido como serviço à unidade da fé e da comunhão, dentro dos limites que procedem da lei divina e da inviolável constituição divina da Igreja contida na Revelação.


A quinta questão é porque não se reconhece o título de Igrejas às Comunidades eclesiais nascidas da Reforma.

A tal respeito, deve dizer-se que "a ferida é ainda mais profunda nas comunidades eclesiais que não conservaram a sucessão apostólica e a Eucaristia válida"; portanto, elas "não são Igrejas em sentido próprio", mas "Comunidades eclesiais", como atesta o ensinamento conciliar e post-conciliar .

Embora estas claras afirmações tenham criado mal-estar nas Comunidades interessadas e também no campo católico, não se vê, por outro lado, como se possa atribuir a essas Comunidades o título de "Igreja", uma vez que não aceitam o conceito teológico de Igreja no sentido católico e faltam-lhes elementos considerados essenciais pela Igreja católica.

Há que ter presente, em todo o caso, que ditas Comunidades, como tais, pelos diversos elementos de santificação e de verdade nelas realmente presentes, têm indubitavelmente um carácter eclesial e um consequente valor salvífico.


Retomando substancialmente o ensinamento conciliar e o Magistério post-conciliar, o novo documento promulgado pela Congregação para a Doutrina da Fé constitui uma clara chamada de atenção para a doutrina católica sobre a Igreja. Para além de arredar visões inaceitáveis, ainda presentes no próprio âmbito católico, o documento oferece preciosas indicações até para se prosseguir no diálogo ecuménico, que continua a ser uma das prioridades da Igreja católica, como confirmou também Bento XVI, já na sua mensagem à Igreja (20 de Abril de 2005) e em tantas outras ocasiões, nomeadamente na sua viagem apostólica à Turquia (28 de Novembro – 1 de Dezembro de 2006). Mas para que o diálogo possa ser verdadeiramente construtivo, além da abertura aos interlocutores, é necessária a fidelidade à identidade da fé católica. Só assim se poderá chegar à unidade de todos os cristãos em "um só rebanho e um só pastor" (Jo 10, 16) e, assim, sarar a ferida que ainda impede a Igreja católica de realizar plenamente a sua universalidade na história.

O ecumenismo católico pode parecer à primeira vista paradoxal. Com a expressão "subsistit in", o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, apesar das divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja católica, e, por outro, a existência de numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição, ou seja, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não estão em plena comunhão com a Igreja católica. A tal propósito, o próprio Decreto do Concílio Vaticano II sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio tinha introduzido o termo plenitudo (unitatis/catholicitatis), precisamente para ajudar a compreender melhor essa situação de certo modo paradoxal. Embora a Igreja católica tenha a plenitude dos meios de salvação, "contudo, as divisões dos cristãos impedem que a própria Igreja actue a plenitude da catolicidade que lhe é própria naqueles filhos, que embora lhe estejam unidos com o Baptismo, estão separados da plena comunhão com ela". Trata-se, portanto, da plenitude da Igreja católica, que é já actual e que deve crescer nos fiéis não em plena comunhão com ela, ma também nos próprios filhos que são pecadores, "até que o povo de Deus, na alegria, alcance toda a plenitude da glória eterna, na Jerusalém celeste". O progresso na plenitude radica-se no dinamismo da união com Cristo: "A união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros aos quais Ele Se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; posso pertencer-Lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram ou tornarão Seus. A comunhão tira-me fora de mim mesmo projectando-me para Ele e, deste modo, também para a união com todos os cristãos".


***


Respostas a algumas perguntas relativas à doutrina sobre a Igreja

Documento da Congregação vaticana para a Doutrina da Fé

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 10 de julho de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o documento da Congregação vaticana para a Doutrina da Fé: «Respostas a perguntas relativas a alguns aspectos da Doutrina sobre a Igreja». O texto original em latim –traduzido a diferentes idiomas, entre eles o português–, foi divulgado esta terça-feira pela Sala de Imprensa da Santa Sé. O Papa Bento XVI, na audiência concedida ao prefeito do citado dicastério –o cardeal William Levada, firmante do documento–, aprovou e confirmou estas «Respostas» e ordenou sua publicação.


CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
RESPOSTAS A QUESTÕES RELATIVAS A ALGUNS ASPECTOS DA DOUTRINA SOBRE A IGREJA


Introdução

É de todos conhecida a importância que teve o Concílio Vaticano II para um conhecimento mais profundo da eclesiologia católica, quer com a Constituição dogmáticaLumen gentium quer com os Decretos sobre o Ecumenismo (Unitatis redintegratio) e sobre as Igrejas Orientais (Orientalium Ecclesiarum). Muito oportunamente, também os Sumos Pontífices acharam por bem aprofundar a questão, atendendo sobretudo à sua aplicação concreta: assim, Paulo VI com a Carta encíclica Ecclesiam suam (1964) e João Paulo II com a Carta encíclica Ut unum sint (1995).


O sucessivo trabalho dos teólogos, tendente a ilustrar com maior profundidade os múltiplos aspectos da eclesiosologia, levou à produção de uma vasta literatura na matéria. Mas, se o tema se revelou deveras fecundo, foi também necessário proceder a algumas chamadas de atenção e esclarecimentos, como aconteceu com a DeclaraçãoMysterium Ecclesiae (1973), a Carta aos Bispos da Igreja Católica Communionis notio (1992) e a Declaração Dominus Iesus (2000), todas elas promulgadas pela Congregação para a Doutrina da Fé.


A complexidade estrutural do tema, bem como a novidade de muitas afirmações, continuam a alimentar a reflexão teológica, nem sempre imune de desvios geradores de dúvidas, a que esta Congregação tem prestado solícita atenção. Daí que, tendo presente a doutrina íntegra e global sobre a Igreja, entendeu ela dar com clareza a genuína interpretação de algumas afirmações eclesiológicas do Magistério, por forma a que o correcto debate teológico não seja induzido em erro, por motivos de ambiguidade.


RESPOSTAS ÀS QUESTÕES


Primeira questão: Terá o Concílio Ecuménico Vaticano II modificado a precedente doutrina sobre a Igreja?


Resposta: O Concílio Ecuménico Vaticano II não quis modificar essa doutrina nem se deve afirmar que a tenha mudado; apenas quis desenvolvê-la, aprofundá-la e expô-la com maior fecundidade.


Foi quanto João XXIII claramente afirmou no início do Concílio[1]. Paulo VI repetiu-o[2] e assim se exprimiu no acto de promulgação da ConstituiçãoLumen gentium: "Não pode haver melhor comentário para esta promulgação do que afirmar que, com ela, a doutrina transmitida não se modifica minimamente. O que Cristo quer, também nós o queremos. O que era, manteve-se. O que a Igreja ensinou durante séculos, também nós o ensinamos. Só que o que antes era perceptível apenas a nível de vida, agora também se exprime claramente a nível de doutrina; o que até agora era objecto de reflexão, de debate e, em parte, até de controvérsia, agora tem uma formulação doutrinal segura"[3]. Também os Bispos repetidamente manifestaram e seguiram essa mesma intenção[4].


Segunda questão: Como deve entender-se a afirmação de que a Igreja de Cristo subsiste na Igreja católica?


Resposta: Cristo "constituiu sobre a terra" uma única Igreja e instituiu-a como "grupo visível e comunidade espiritual"[5], que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá, e na qual só permaneceram e permanecerão todos os elementos por Ele instituídos[6]. "Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos como sendo una, santa, católica e apostólica […]. Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele"[7].


Na Constituição dogmáticaLumen gentium [8], subsistência é esta perene continuidade histórica e a permanência de todos os elementos instituídos por Cristo na Igreja católica[8], na qual concretamente se encontra a Igreja de Cristo sobre esta terra.


Enquanto, segundo a doutrina católica, é correcto afirmar que, nas Igrejas e nas comunidades eclesiais ainda não em plena comunhão com a Igreja católica, a Igreja de Cristo é presente e operante através dos elementos de santificação e de verdade nelas existentes[9], já a palavra "subsiste" só pode ser atribuída exclusivamente à única Igreja católica, uma vez que precisamente se refere à nota da unidade professada nos símbolos da fé (Creio… na Igreja "una"), subsistindo esta Igreja "una" na Igreja católica[10].


Terceira questão: Porque se usa a expressão "subsiste na", e não simplesmente a forma verbal "é"?


Resposta: O uso desta expressão, que indica a plena identidade da Igreja de Cristo com a Igreja católica, não altera a doutrina sobre Igreja; encontra, todavia, a sua razão de verdade no facto de exprimir mais claramente como, fora do seu corpo, se encontram "diversos elementos de santificação e de verdade", "que, sendo dons próprios da Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica"[11].


"Por isso, as próprias Igrejas e Comunidades separadas, embora pensemos que têm faltas, não se pode dizer que não tenham peso ou sejam vazias de significado no mistério da salvação, já que o Espírito se não recusa a servir-se delas como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja católica"[12].


Quarta questão: Porque é que o Concílio Ecuménico Vaticano II dá o nome de "Igrejas" às Igrejas orientais separadas da plena comunhão com a Igreja católica?


Resposta: O Concílio quis aceitar o uso tradicional do nome. "Como estas Igrejas, embora separadas, têm verdadeiros sacramentos e sobretudo, em virtude da sucessão apostólica, o Sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais continuam ainda unidas a nós por estreitíssimos vínculos"[13], merecem o título de "Igrejas particulares ou locais"[14] , e são chamadas Igrejas irmãs das Igrejas particulares católicas[15].


"Por isso, pela celebração da Eucaristia do Senhor em cada uma destas Igrejas, a Igreja de Deus é edificada e cresce"[16]. Como porém a comunhão com a Igreja católica, cuja Cabeça visível é o Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, não é um complemento extrínseco qualquer da Igreja particular, mas um dos seus princípios constitutivos internos, a condição de Igreja particular, de que gozam essas venerandas Comunidades cristãs, é de certo modo lacunosa[17].


Por outro lado, a plenitude da catolicidade própria da Igreja, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, encontra na divisão dos cristãos um obstáculo à sua realização plena na história[18].


Quinta questão: Por que razão os textos do Concílio e do subsequente Magistério não atribuem o título de "Igreja" às comunidades cristãs nascidas da Reforma do século XVI?


Resposta: Porque, segundo a doutrina católica, tais comunidades não têm a sucessão apostólica no sacramento da Ordem e, por isso, estão privadas de um elemento essencial constitutivo da Igreja. Ditas comunidades eclesiais que, sobretudo pela falta do sacerdócio sacramental, não conservam a genuína e íntegra substância do Mistério eucarístico[19], não podem, segundo a doutrina católica, ser chamadas "Igrejas" em sentido próprio[20].


O Santo Padre Bento XVI, na Audiência concedida ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ratificou e confirmou estas Respostas, decididas na Sessão ordinária desta Congregação, mandando que sejam publicadas.


Roma, Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 29 de Junho de 2007, Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.


William Cardeal Levada
Prefeito+


Angelo Amato, SDB,
Arcebispo tit. de Sila
Secretário


[1] JOÃO XXIII,Alocução de 11 de Outubro de 1962: "… o Concílio … quer transmitir uma doutrina católica íntegra e imutável, não distorcida…Impõe-se todavia que, nos dias de hoje, a doutrina cristã, na sua inteireza e sem mutilações, seja por todos acolhida com novo entusiasmo e com serena e pacífica adesão …É necessário que, como todos os sinceros promotores da realidade cristã, católica e apostólica veementemente desejam, a mesma doutrina seja conhecida de forma cada vez mais ampla e profunda… É necessário que essa doutrina, certa e imutável, a que é devido fiel obséquio, seja estudada e exposta em sintonia com as exigências do nosso tempo. Uma coisa é o próprio depositum fidei, ou seja, as verdades contidas na nossa veneranda tradição, e uma outra é o modo como são enunciadas, sempre porém com os mesmos significado e sentido": AAS 54 [1962] 791.792.


[2] Cf. PAULO VI,Alocução de 29 de Setembro de 1963: AAS 55 [1963] 847-852.


[3] PAULO VI,Alocução de 21 de Novembro de 1964: AAS 55 [1964] 1009-1010.
[4] O Concílio quis exprimir a identidade da Igreja de Cristo com a Igreja Católica. É o que se encontra nos debates sobre o DecretoUnitatis redintegratio. O Esquema do Decreto foi apresentado em Aula a 23 de Setembro de 1964 com uma Relatio (Act Syn III/II 296-344). O Secretariado para a Unidade dos Cristãos respondia a 10 de Novembro de 1964 aos modosque os Bispos entretanto haviam enviado (Act Syn III/VII 11-49). Desta Expensio modorum reproduzem-se quatro textos relativos à primeira resposta.


A) [In Nr. 1 (Prooemium) SchemaDecreti: Act Syn III/II 296, 3-6]


"Pag. 5, lin. 3-6: Videtur etiam Ecclesiam catholicam inter illas Communiones comprehendi, quod falsum esset.


R(espondetur): Hic tantum factum, prout ab omnibus conspicitur, describendum est. Postea clare affirmatur solam Ecclesiam catholicam esse veram Ecclesiam Christi" (Act Syn III/VII 12).


B) [In Caput I in genere: Act Syn III/II 297-301]


"4 – Expressius dicatur unam solam esse veram Ecclesiam Christi; hanc esse Catholicam Apostolicam Romanam; omnes debere inquirere, ut eam cognoscant et ingrediantur ad salutem obtinendam…


R(espondetur): In toto textu sufficienter effertur, quod postulatur. Ex altera parte non est tacendum etiam in aliis communitatibus christianis inveniri veritates revelatas et elementa ecclesialia" (Act Syn III/VII 15). Cf. também ibidem n. 5.


C) [In Caput I in genere: Act Syn III/II 296s]


"5 – Clarius dicendum esset veram Ecclesiam esse solam Ecclesiam catholicam romanam…


R(espondetur): Textus supponit doctrinam in constitutione De Ecclesia expositam, ut pag. 5, lin. 24-25 affirmatur (Act Syn III/VII 15). Portanto, a comissão que deveria pronunciar-se sobre as emendas ao Decreto Unitatis redintegratio exprime claramente a identidade da Igreja de Cristo e da Igreja católica e a sua unicidade, considerando ter essa doutrina fundamento na Constituição dogmática Lumen gentium.


D) [In Nr 2 SchemaDecreti: Act Syn III/II 297s]


"Pag 6, lin. I-24: Clarius exprimatur unicitas Ecclesiae. Non sufficit inculcare, ut in textu fit, unitatem Ecclesiae.


R(espondetur): a) Ex toto textu clare apparet identificatio Ecclesiae Christi cum Ecclesia Catholica, quamvis, ut opportet, efferantur elementa ecclesialia aliarum communitatum".


"Pag. 7, lin. 5: Ecclesia a successoribus Apostolorum cum Petri successore capite gubernata (cf. novum textum ad pag. 6, lin. 33-34) explicite dicitur unicus Dei grex et lin. 13 una et unica Dei Ecclesia " (Act Syn III/VII).


Estas duas expressões encontram-se naUnitatis redintegratio 2.5 e 3.1.


[5] Cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Const. dogm.Lumen gentium, 8.1.


[6] Cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decr.Unitatis redintegratio, 3.2, 3.4, 3.5, 4.6.


[7] CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Const. dogm.Lumen gentium, 8.2.


[8] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Decl.Mysterium Ecclesiae, 1.1: AAS 65 [1973] 397; Decl. Dominus Iesus, 16.3: AAS 92 [2000-II] 757-758; Notificação sobre o livro do P. Leonardo Boff, OFM, "Igreja: carisma e poder": AAS 77 [1985] 758-759.


[9] Cf. JOÃO PAULO II, Carta enc.Ut unum sint, 11.3: AAS 87 [1995-II] 928.


[10] Cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Const. dogm.Lumen gentium, 8.2.


[11] CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Const. dogm.Lumen gentium, 8.2.


[12] CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decr.Unitatis redintegratio, 3.4.


[13] Cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decr.Unitatis redintegratio, 15.3; cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Carta Communionis notio, 17.2: AAS 85 [1993-II] 848.


[14] Cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decr.Unitatis redintegratio, 14.1.
[15] Cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decr.Unitatis redintegratio, 14.1; JOÃO PAULO II, Carta enc. Ut unum sint, 56s: AAS 87 [1995-II] 954s.
[16] CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decr.Unitatis redintegratio, 15.1.


[17] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, CartaCommunionis notio, 17.3: AAS 85 [1993-II] 849.


[18] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, CartaCommunionis notio, 17.3: AAS 85 [1993-II] 849.


[19] Cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decr.Unitatis redintegratio, 22.3.


[20] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Decl.Dominus Iesus, 17.2: AAS 92 [2000-II] 758.


***

«Igreja não está retrocedendo em seu empenho ecumênico»

Sublinha o subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé

www.zenit.org

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 11 de julho de 2007

«A Igreja não está retrocedendo em seu empenho ecumênico», mas «é fundamental para qualquer tipo de diálogo que os participantes sejam claros sobre sua própria identidade», recorda o subsecretário da Congregação vaticana para a Doutrina da Fé.

O dicastério acaba de recordar a fidelidade a um ensinamento conciliar «essencial» com a publicação, na terça-feira, do documento titulado «Respostas a algumas perguntas acerca de certos aspectos da doutrina sobre a Igreja», acompanhado de um Comentário oficial.

O breve texto declara o que o Concílio Vaticano II quer dizer quando afirma que a Igreja fundada por Cristo «subsiste na Igreja Católica».

Nesta entrevista concedida em inglês à «Rádio Vaticano», o sacerdote dominicano americano Joseph Augustine Di Noia fala sobre aspectos-chave das «Respostas» do dicastério do qual é subsecretário.

--Pode sublinhar os pontos principais que o documento aborda?

--Padre Di Noia: Realmente há dois pontos principais, e depois alguns menores.

O ponto principal é tratar da questão de se o Concílio Vaticano II mudou a doutrina da Igreja sobre a natureza da própria Igreja, e este documento busca esclarecer este tema para dizer não; houve um desenvolvimento, um aprofundamento, mas definitivamente não o tipo de mudança no sentido de alterar a forma como concebemos a Igreja.

A questão -- fundamental -- é como interpretar a expressão do Concílio Vaticano II («Lumen gentium», parágrafo 8): «A Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica». É este «subsiste» que causou uma enorme quantidade de interrogantes, e estamos tentando tratar disso.

Brevemente, o tema é que ao invés de dizer que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica, o «subsiste» se utiliza para dizer o mesmo [...], a fim de deixar claro que através de toda a história, e no presente, não estamos na situação de ter uma Igreja imperfeita que ainda não chegou a ser a Igreja de Cristo, mas que a plenitude do que Cristo queria que a Igreja fosse, foi estabelecida na Igreja Católica.

Depois, certamente, os outros pontos são para explicar como outras Igrejas e comunidades eclesiais se relacionam com isso; o Concílio Vaticano II não quis excluir a possibilidade de que havia, de fato, elementos de vida eclesial -- sacramentos válidos ou meios de graça. Quero dizer que a Igreja/comunidades eclesiais que lêem as Escrituras, com fé, têm um certo elemento do que Cristo queria que a Igreja fosse.

--Por que se decidiu publicar este documento agora?
--Padre Di Noia: Trata-se de uma pergunta importante.

Suponho que tem a ver com a reação a um documento anterior, a famosa declaração «Dominus Iesus», publicada em 2000.

Recordo que quando estava trabalhando para a Conferência Episcopal dos Estados Unidos, e recebemos antes cópias deste documento, foi-me pedido que preparasse os bispos para a «Dominus Iesus»; então eu disse: bem, não há absolutamente nada novo aqui, de maneira que os bispos não terão problemas com ela. Mas como você sabe, a reação à «Dominus Iesus» foi extremamente, digamos, contestatória. Quero dizer que foi um documento muito difícil.

O que vimos foi que as pessoas [...] não compreendiam que não simplesmente tínhamos de falar de Cristo como o salvador universal, mas de que a Igreja era o meio principal pelo qual a graça de Cristo podia ser comunicada ao mundo, e isso, se você se lembra, criou a maior parte da controversa, certamente ecumenicamente.

De maneira que isso foi de algum modo um despertador. Disse que a «Dominus Iesus» era um despertador, que 30 anos depois do Vaticano II, as pessoas pareciam ter esquecido algo essencial que o Concílio ensinou. E a partir desse momento, os cardeais membros da Congregação, e também outras pessoas, bispos, etc, suscitavam questões sobre isso; a Congregação decidiu proceder a um esclarecimento.

O documento se chama «Respostas a algumas perguntas acerca de certos aspectos da doutrina sobre a Igreja». É um ponto muito concreto, é um documento relativamente curto, como sabe, e o comentário anexo; portanto é um preciso conjunto de respostas às questões que se suscitaram.

--Como se relaciona este novo documento com documentos anteriores sobre a natureza da Igreja e o ecumenismo?

--Padre Di Noia: A resposta, as respostas realmente, porque há duas, não acrescentam nada ao anterior ensinamento do Magistério, mas realmente quer recordar e tornar mais preciso o autêntico significado das diversas expressões doutrinais usadas para falar sobre a Igreja no passado magistério.

É um ponto muito importante, essencialmente é o que reafirma o documento, o que -- experiencialmente --, quando você vai a uma Igreja Católica e participa lá de uma comunidade, com a Missa, o sacramento da penitência, batismo e confirmação, e todo o demais que se realiza nela, você encontrará tudo o que Cristo queria que a Igreja fosse.

E inclusive ainda que haja divisões na Cristandade, isso não significa que a Igreja não exista perfeitamente. Não é que não tenhamos de reparar ou sanar as divisões, temos de buscar a unidade que Cristo desejou entre todas as diferentes comunidades cristãs, mas o fato de que nem todas as Igrejas estejam em comunhão com a Sede de Pedro não significa que a Igreja esteja ferida no sentido de que não existe já em sua integridade.

--Como este documento pode ajudar o diálogo ecumênico?

--Padre Di Noia: O empenho da Igreja Católica no diálogo ecumênico é, como o próprio Bento XVI disse, e certamente o Papa João Paulo II disse também freqüentemente, «irrenunciável».

Ou seja, a Igreja não está retrocedendo em seu empenho ecumênico. Como você sabe, é fundamental para qualquer tipo de diálogo que os participantes sejam claros sobre sua própria identidade, ou seja, o diálogo não pode ser uma ocasião para acomodar ou suavizar o que você atualmente compreende sobre o que você é, para conseguir uma espécie de falso sentido de consenso.

É uma condição fundamental do diálogo que os participantes realmente sejam claros sobre o que é sua própria identidade, de maneira que, em certo sentido estão sendo sinceros; vem à mesa com uma expressão clara do que compreendem que eles mesmos são.

De maneira que, neste sentido, nunca é um retrocesso do diálogo ser claro sobre o que você é, mas é condição essencial para ele; do contrário, os resultados que você consegue serão facilmente socavados pela verdade.


***

Comentário:

O primado de Pedro

Félix Maier

Eu não vejo nenhum tipo de "fundamentalismo exacerbado" por parte de Bento XVI, nem de contradição doutrinal-apostólica, de a Igreja Católica reafirmar a primazia de Pedro sobre as outras igrejas cristãs ("Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja").

Se a própria Igreja tiver esse tipo de dúvida, de a Igreja Católica ser a única Igreja de Cristo, o que os pais católicos irão ensinar a seus filhos? Que todas as religiões cristãs são iguais entre si?

Imagine, p. ex., se um líder religioso islâmico afirmasse que todas as religiões são "verdadeiras". Seria morto imediatamente, por renegar sua fé.

Certo está Bento XVI em combater o "relativismo" de nosso tempo, seja ele moral, econômico, social ou religioso. Cada religião tem o direito e o dever de pregar a seus seguidores que ela é única, a verdadeira. Fazer um estudo comparado das religiões é trabalho para sociólogo, não para teólogo - no caso, teólogo católico.

Chega de botar minhoca na cabeça de nossas crianças!



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