ERA UMA VEZ
para Anelisa
No quintal de minha infância
entre cascas de frutas
dum mero desjejum,
memorizo a manhã
como se fora única
inesquecível o bastante
à guisa de projeto.
O brandir da esperança,
espada altiva e luzidia
zune-me ao ouvido
sem que me dê conta
dessa imagem diurna
inefável tempo teimoso,
permanência.
À esquerda fincava-se
caesalpinia, pau-brasil
de alta e bela copa
donde escavei primeva
melodia, cançoneta sutil
andante, moderato, sei lá
só sei que iluminada.
É quando/onde me faço
este adulto, rigoroso
mensageiro de uma era
congelada na retina
contígua à sala escura
de parede de hera
infectada de tempo.
Velha rua empoeirada
suburbana harmonia
desenhada no espaço
pronde voava célere
nossa bola de pano
se desmanchando no chão
de quase nada.
WALTER DA SILVA
Camaragibe, setembro, 2007.
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