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Contos-->Celebridades Belíssimas (Pitutucapiupiu) -- 02/11/2006 - 05:34 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:130951918573593000
Celebridades Belíssimas (Pitutucapiupiu)


Coração: cada olho verte uma lágrima na pulsação. Estar aqui, ao mesmo tempo há um tempoluz de racionalidade e compreensão. Vejo gente a movimentar-se nos engenhos interurbanos. Eu, signo, sigo ao encontro de estrelas longínquas. A pé.

Aquela estrela ali, de repente próxima, pede que alguém saiba divertir-se um tanto com suas pulsões. Um quantum de batidas de limão cabeça feita pelo coração. O sorriso juvenil pode ter o efeito agradavelmente surrealista de um “yellow sunshine”, se direcionado ao ponto “sky”, como diria Huxley: as portas do inferno abrem-se do outro lado do fio de cabelo, assim como as do céu.

Vejo a adolescente. Coletivamente, verte o primeiro sangue menstrual, sangue novo para abastecer os rios de máquinas a movimentarem-se nos vasos sangüíneos dos motores a combustão. Há quem pense que a principal mercadoria dos postos, é a gasolina e o álcool. É a secreção vermelha.

A ainda menina traz consigo a nostalgia indefinida de uma arquitetura remota, de um futuro porvindouro acaso inexistente. Ainda. Digo-me: Toda hora é hora de te querer/toda hora é hora de te amar/toda hora é hora de te saber/toda hora é hora de te sonhar/de dizer/toda hora é hora de contar contigo. Todo tempo de contigo estar.

A angústia desdobra-se, atinge o limite do insuportável. Quantos desastres, quantas dores, quantas infecções, quanto choro. Quantos olhos nos olhares, quantos pares flutuando entre repetições de semtimentos. Desconhecem o quanto terão de defasar, sem ti, a tua mente. Para rimar com toda essa marola, agrada aglutinar-me em habitações próximas às ondas.

Gostas de me ver excitar, gosto de viver por ti. Cada passo teu vejo como uma onda do mar, caminhando. O mar de teu corpo, consciente, inconsciente, marolando em meu olhar, move-se como uma canção das ondas.

Vendo-te vejo que, em breve, nada do que foi será. Quanto ao hoje, ao amanhã, ao futuro, passará. Passam: pensamentos, percepções, as ondas do teu caminhar. Teus passos, como um pássaro, frágil e necessário, nesse estado de embriaguez consciente, muta em milenar insuperação do que foi, do que é, do que será. E tu? Nem atinas que tens, pelo menos, uns 45 mil anos. Mais antiga que as quedas do Niágara.

A canção está errada, pelo menos até agora? Precisa-se mudar seu sentido histórico. Em verdade, infelizmente, tudo o que foi será, igual a tudo que fora antigamente. Nada passa, tudo sempre impassará. A vida vem em ondas igual às ondas do mar, num indo e vindo finito e in.

Quantas mutações sapiens sapiens, milenares, serão necessárias para superar essa lei do eterno retorno mesmérico da mesmice? Quando será o amanhã, mais que manhã, mas realmente o futuro, um outro e novo dia? Virá? A memória de ontem tão insuficiente para definir-se hoje. Como criar-se, como criá-la? O tempo perdido só pode ser encontrado no amanhã.

Tudo que preciso dizer-te parece intraduzível em palavras. A lembrança do vocabulário precário, tão precária. A sensação de estar nesse chuviscar vulgar de palavrinhas irrisórias da turma da esquina, na praça da alimentação no shopping center dos corações solitários.

Essa terra do transe em trânsito. Precisas ser mais que uma simples bijuteria de ourives. Necessidade de algo mais que adorno. Tens espírito, mente, és capaz de produzir fenomenologias. Tua via de viver maior que um alfinete, um brinco, um berloque, uma frase de efeito numa sepultura esquecida. Mereces viver menos em estado de choque. Precisas ser menos simulacro, pânica.

A volúpia do desejo é suficiente? Sentir-se domesticada na flutuação das ondas de natureza eletromagnética da sala de jantar? Não diga que lá não esteve ou não está. Em todos os lugares infelizmente há, uma e outra salas de jantar.

Abre a janela da tvvisão para não se ver na vida. Que supremacia é essa, domesticada como uma cadelinha, com o QI brega da mulher do louro, entre o fogão e o forno, o quarto e a cozinha, o sanitário e a máquina de lavar.

O sangue quente, paleolítico circula. A ancestral matriarcal mais remota, ferve nos vasos. Vasos, traquéia, vagina: És a mais nova e ao mesmo tempo a mais antiga das fêmeas. Senta-se majestade no trono. Vê-se já com os olhos no regaço, implorando proteção em qualquer lastro, a fim de parir a outra parte, os laços também remotos de uma companhia comprada em nove meses. A juros módicos.

A criança verga-se sobre si dentro, fora dela. Mais uma garota, ou garoto, para a chácara supostamente pós-moderna. Se trocasse a data de hoje de sua vida com a vida de sua avó, ou com a vida da filha que vai nascer, a única coisa certa que mudaria, exceto a idade, seria a paisagem exterior. A alma, o interno, a normose, a coisa normal de sua neurose, flutua na cristalização das gerações que se repetem sucessivamente há milênios.

A mente avoenga não cessa de agradar àquelas que sempre gostam de ouvir e repetir histórias velhas. É a raça descendente da mãe mitocondrial. Falando em ritmo de surto em volta da fogueira, matriarcas balbuciam cantigas de roda. Inventam-nas desde a idade do fogo. Há tão poucos séculos conseguem cantarolá-las.

Todas as fábulas fantasiosas são parte da vida real, de sua utopia. Lave suas mãos pias na pia da sala, do banheiro. Lave as dívidas surgidas no inventário do amanhã. Lave as mãos para as mães Marias, as que venderam antecipadamente tudo o que foi, o que é o que será. São apenas uma onda no mar do consumo. Passos a caminho do supermercado do shopping.

Para consolar-se, não sentir um gosto de amargo em tudo quanto gosta, alheia-se a tudo o mais como se não existisse. Vai pensar nisso depois, quando chegar a idade, e o mais superficialmente possível, no dia de São Nunca de tarde. A identificação globalizada com as outras vidas xerox.

Mesmo se existissem fora dela, e existem, hão de se tirar, como ela, o máximo proveito possível apenas e suficientemente do aqui e agora. Talvez até haja reencarnação. Reencarnar uma nação. Renascer tudo igual. Terá, quem sabe, uma chance de vir outra vez, ser algo melhor. A esperança da argumentação pertinente: busca justificar-se. Confessionar.

Um monte de pequenos ideais, tipo casar, ser dona de casa, ter filhos para festejar aniversários, não sentir-se sozinha nos casamentos, batizados, festas juninas, natal, Páscoa: tudo outra vez. E o medo faz com que se aproximem e dependam uns dos outros. Num festival de incestuosidade. Vicariante.

Precisas arranjar outras idéias nessas idéias um tanto quanto confusamente, desordenando-se. Precisa ler, mas essa cultura tv-sádica, em nada incentiva a leitura. Na tv é mais fácil, não tem de treinar a massa cinzenta. Ter de fazer um monte de sacanagens para conseguir um namorado, ser uma celebridade: tá na novela.

É assim mesmo: todo esse espaço pago, caro, para fazer a propaganda da célebre mediocridade. Não há tempo para instruir-se. Noutra dimensão, quem sabe ao certo? Nesta, viver é preciso ganhar dinheiro. Viver é estar aprendiz. A celebridade da velhice motiva o narciso juvenil em confronto com os pés de galinha?

Na pior das hipóteses, o sonho dos mortos-vivos não pode parar, mesmo que tenha morrido na década de setenta. Não há outro jeito senão o jeitinho. O maldito jeitinho sociológico, brasileiro. A grande serpente da vida arde desde uma infinita distância na cadeia genética das gerações sempriguais.

Como vencer a força desse sangue primata? Ela que tem de se gostar, de não se esquecer. Por que cultuar o intelecto se ninguém valoriza isso? Sabe que corre o risco de ser outra energúmena sem nenhum desenvolvimento intelectual, dessas que fazem o país inteiro envergonhar-se diante do apresentador do programa show do milhão.

Se conseguir ser um desses universitários que aparecem nele, e mostram que são quase tão ignorantes como a turma das placas dos brothers, já estará satisfeita. É infame a educação nesse país. Basta olhar aqueles professores que não sabem responder as mais primárias perguntas. Nem ganham para saber.

No entanto são professores. Pergunta-se que tipo de autoridade detém o crescimento de uma nação. Que tipo de covardes estavam, estão, por trás das celebridades belíssimas dessa pátria do Turquistão.

Hoje, a garota da tv está muito intelectual para o próprio gosto dos “Big Brothers”. Se tivesse de trocar umas idéias que não fossem tatibitates, não teria com quem falar. Precisa se tocar de que é parte da maioria astuciosa. Coletiva. Completamente morta, sorrindo como se estivesse alegre e viva. Simulando o simulacro. Nem Baudrillard explica.

Lembra que o medo rege as relações. É de uma geração cega, surda e muda. Que nasceu para fazer a história repetida muitas vezes no passado. Uma garota aparentemente linda vivendo de sonhos do passado. Remoto. Fazendo o país sonhar com ela. E viajar regredindo no tempo perdido. Para mais longe ainda. E a tv paga para que a ilusão perpasse a todos. E contamine as pessoas da sala de jantar, como nem um vírus. Contaminando milhões de corações solitários com seu sorriso. Venal.

Aqui mesmo, nesta pequena cidade, muitos morreram por denunciar a corrupção do colarinho branco. Outro dia leu um livro sobre um autor alemão, não lembra ao certo, o nome, Brecht? Ele dizia ser maldito o Estado, o país, que precisa de heróis. Ora, ela que pensava se mais uma heroína da política de sobrevivência, como as garotas da novela Celebridades. Belíssimas.

Quer saber é das novidades que interessam: se vai haver uma feijoada ou um churrasco no fim de semana. Um baile, uma festa, outra vez o shopping. Quem sabe possa azarar melhor aquele fulaninho. Medo de vir a ser tão somente uma aquarela desbotada no quarto de dormir da filha, num álbum de retratos.

A filha terá talvez o mesmo temor: ser lembrada pela pose puída, na fotografia colorida das lembranças no fundo do baú.

O casamento da neta, será um rolo, um microfilme na filmoteca da família. Mas a mulher sempre foi e será um ser mitológico. Ainda que, como Ícaro, vai adiantar fugir do larbirinto de Creta, com asas de cera? O sol as derreterá. Cairá no mar. Já caiu.

O mar, sina da imensidão mesmérica, vasto e pai sonoro dos ventos. A filha não deseja cristalizar. Não quer repetir o modelo padrão da mãe mais primitiva. Aquela a cantar incansável em volta da fogueira na idade do fogo. E a dançar o balé primevo que lançava longe, nas voltas ondulantes vendo as enormes sombras perpassarem as rochas como se fossem sombrios vagalumes. Perdidos no tempo. Proustiano. E dizem de Proust ser ele moderno.

Não quer ser a garota do dia, de hoje, da hora, apenas na falsa atualidade da aparência. Vai ter que dá um jeito. Quer ser algo mais que uma configuração programada pela tv. Como conseguir isso? Então tudo que desejas é ser celebrizada pelo BigBrother? E ainda choras comovida por achar uma companheira perdida nos afazeres da Globo?

Afinal, és ou não a última palavra em tecnologia de ponta?: manifestação sensual das tendências de venda, dos eventos condicionantes do mercado. Uma onda no mar não é tão pouca coisa. Ou é? O mar anda tão poluído! Inconforma-se.
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