Se Deus fez o mundo, certamente Maluf foi o mestre de obras. Conheço o Maluf desde que me entendo por gente. Um ano depois de eu ter nascido ele já era dado à s suas peripécias, presenteando os jogadores da Seleção Tricampeã com um carro zero. Tá certo que era Fusca, vamos dar um desconto. Podia ser pior: já pensou se fosse um Galaxy ou um Opala, os carrões da época? Pois bem. De lá pra cá vão-se acumulando acusações e mais acusações sobre os desmandos do Maluf quando está no poder. Mas seu eleitorado é cativo e pouco aberto a discussões. Meu avó era um que, mesmo depois de ficar desobrigado de exercer sua cidadania através do sufrágio universal (sufrágio é uma palavra realmente imbecil), fazia questão de comparecer à s urnas só para votar no Dr. Paulo - como costumava se referir ao candidato à prefeitura. Tenho amigos que, até hoje, torcem pelo Dr. Paulo como se estivessem na arquibancada do Pacaembú numa final do derbi paulista. Então, antes que eu receba uma enxurrada de mensagens com ameaças de morte, vou confessar que admiro o Maluf, especialmente pela sua capacidade de inovar a cada pleito. Mas é só.
Já o vi com postura austera, quando seus marketeiros assim o aconselhavam. Já o vi criar e implantar programas sociais, habitacionais, hospitalares etc. Prometer? Maluf não promete, faz! Faz o pobre sucessor arcar com as dívidas que ele deixa para o próximo mandato. Mas isso não é nada. Brasileiro vive mesmo endividado, por que São Paulo também não pode viver assim? - acusam-me os malufistas. Porque quem vive endividado, na hora do aperto, se precisar de um hospital, se precisar comprar material escolar para os filhos, se precisar enterrar o velho pai, não tem a quem recorrer. Só isso. Mas o que importa neste meu desabafo é mesmo comentar a nova face do Dr. Paulo. Fiz São Paulo! - vive afirmando. As marginais, o minhocão, o túnel disso, o túnel daquilo etc. Não tenho nada contra as obras públicas - por sinal necessárias nessa metrópole maluca. Mas a custa do quê? Vinte, trinta por cento de superfaturamento destinados ao pagamento de comissões para políticos significam menos hospitais, menos pavimentação, menos desenvolvimento, menos escolas. Menos infra-estrutura e justiça social só favorecem o crescimento da violência (que ele insiste em afirmar ser o único que conseguirá combater), da queda da qualidade de vida, do bem-estar social, enfim. Insisto, é só um desabafo.
Minha mulher vive me dizendo que eu não faço nada. Sequer troco o carro. Poderíamos ter duas linhas telefónicas, um celular para cada membro da família e um aparelho de tv em cada cómodo da casa. Se eu fosse seguir o lema malufista talvez já tivesse comprado tudo isso e muito mais. Mas certamente também correria o risco de estar atrás das grades.
P.s.: não sou petista. Esta crónica foi feita a pedido e em homenagem ao amigo Ricardo Okagawa, em 19/10/2000.
