Meu irmão LUÍS, dois anos mais moço do que eu,
era muito alegre, criativo e inteligente. Ele
me fazia muito feliz. Era um menino louro de
olhos azuis cativantes.Além de tudo era
desinibido e simpático.As pessoas o adoravam e
isto prolongou-se até o final de sua breve vida.
Aventureiro e corajoso, ao contrário de mim que
era tímida e reservada, me colocava em grandes
aventuras pelas matas, defendendo ninhos de
pássaros de cobras campeiras e inofensivas, que
ele chamava de "cruéis dragões". Eu era a pobre
princesa ou a rainha Pão de Mel encarcerada em
uma alta torre (na verdade,eu estava empoleirada
em alguma árvore).Éramos, também um médico e sua
fiel secretária ou a enfermeira-chefe( que não
precisava ver sangue) e só mandava nas outras.
Viemos morar na cidade,ele com 7 anos e eu com
quase 9. A princípio detestávamos, mas depois,
descobrimos o Rio do Sinos, o Museu da Imigração,
a Biblioteca Pública e os cinemas: Brasil e
Independência, então a dupla "inventou" para
valer.Saímos das sombras.Pois, a cidade ganhara
o nome do "Grande Templo das Sombras," devido a
poluição das descargas dos carros e das chaminés
das fábricas. Mas, depois de nos acostumarmos
e aprendermos a amar a cidade,onde havíamos
nascido, no Hospital Centenário, nos tornamos
dois dedicados capilés. A cidade foi rebatizada
como: O Grande Templo Abençoado da Luz e nós dois
é lógico, seus dois valorosos cientistas
guardiões. Ah! Tempo de felicidade, de encanto,
tão doce infância inesquecível!
Meu grande sonho é que este também seja o título,
de meu livro de poesias a ser publicado.
SAINDO DAS SOMBRAS...
Por Vera Linden
O céu se fez acinzentado.
O mundo ficou turvo e embaralhado.
Não podia mais comer frutas no pé.
Esvaziou-se a minha fé.
O ronco dos motores.
A poeira toda nas flores.
As verduras se compram no armazém.
Ninguém diz bom dia, para ninguém.
O meu campo tão verde, ficou distante.
Na cidade o calor é sufocante.
Não há perfume de flores,
Mas, gasolina queimada e pútrefos odores.
Moramos perto de um fétido valão.
Ou seria a barriga aberta de um dragão?
Onde existe um animal morto.
E, eu tão distante do meu porto.
Tantas belezas, do trigo a farinha
Em uma saca bem branquinha.
Fazíamos um saboroso pão,
Bonequinhos, com olhinhos de feijão.
Eu e meu LUI, meu irmãozinho.
Para brincar, tínhamos um verde capãozinho.
Donos da vala, do rio e da lagoa.
Gostosa visão, de uma vida boa.
Choramos abraçados. Não gostávamos da cidade.
Mas, criança não tem vez, voz ou vontade.
O terrível e incômodo ultimato.
Fim do pé no chão e ter que usar sapato!
Morar na cidade, aprender, estudar.
Fim da aventura, sem mata para explorar.
Como criar nossas histórias ?
Nós, dois heróis de tantas glórias.
Safáris, tantas brincadeiras inventadas.
Subir em árvores, que eram torres encantadas.
Um dia, eu era a rainha Doce de Mel
E ele meu defensor, meu escudeiro fiel.
No outro dia, ele era o médico salvador.
E eu a valente enfermeira a seu dispor.
Salvávamos da peste, o mundo todo dia.
Vencíamos a mais terrível epidemia.
Foram-se as décadas, seguiu a vida.
Nossa amizade cresceu, mas houve a despedida.
Ele viajou há 27 anos, lá para o céu.
Mas, vejo sempre seus olhos no azulado véu.
Lembrar de LUI,é reviver a felicidade.
Seu otimismo, sua fé, sua bondade.
Saindo das sombras,vou reencontrando a luz.
Sei que ele está lá, bem ao lado de Jesus.
São Leopoldo, 15 de setembro de 2007.
Em 05 de setembro, LUI fez 56 anos.Ele teve dois filhos,LISAMARA
e MAURÍCIO. Casados com filhos, gente linda e boa, meus orgulhos.
MAURINHA, a nossa MAURA EVÂNIA, excelente professora e mulher forte
barbaridade(como falamos no sul) criou-os sozinha. Ela merece toda
a ventura do mundo, fez LUI muito feliz. Beijo amadas e amados.
Tia Vera.
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