(Paródia ao célebre poema “A Catedral”, de Alphonsus de Guimaraens).
INTRÓITO
De vez em quando, nada como ser criança
E, em vez de, das portas bater as aldravas,
Muito melhor é brincar com as palavras,
Mantendo sempre vivo na lembrança
Que, até ao se fazer uma paródia,
Há que estar atento à prosódia.
A PADARIA
Afinal, ao longe, surge a aurora.
Tenho que levantar-me agora,
Livro-me do lençol.
A padaria abre-se no meu sonho
E eu, rápido, de pé me ponho,
Num belo dia de sol.
E na rua ouço os vadios cães:
Pobre Guimarães, pobre Guimarães.
Do pão saboroso sai a primeira fornada.
E uma fila se forma, de gente apressada,
Já à primeira luz.
A padaria aberta do meu sonho
Está cheia de um povo tão risonho
E tem um cheiro que seduz.
E a balconista diz, ao entregar-me os pães:
Pobre Guimarães, pobre Guimarães.
À tarde, novamente me aparece,
Para o lanche, de que cada um carece,
O ter que o pão comprar.
A padaria aberta do meu sonho
Está menos cheia, com um ar tristonho,
E o dono a reclamar.
Ouço as mesmas palavras das manhãs:
Pobre Guimarães, pobre Guimarães.
Mais tarde, enfim, nasceu a lua.
Não me adianta mais sair à rua,
A noite já desceu.
E a mesma padaria do meu sonho
Está fechada e a pensar me ponho.
O dia já morreu.
E assim, não posso mais comprar os pães:
Pobre Guimarães, pobre Guimarães.
EPÍLOGO
A paródia está pronta e, certamente,
O poeta, com o que fez, ficou contente,
Tem o dever cumprido.
E se hoje fora vivo, o mestre Alphonsus
Haveria de enviar-me os seus responsos,
Decerto comovido.
E encerraria com um recado aos meus fãs:
Grande Guimarães, Grande Guimarães. |