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Cronicas-->TERTÚLIA DOS RESISTENTES -- 03/08/2004 - 05:21 (FRASSINO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Crónica de Assis Machado

Tarde quente do último dia de Julho de dois mil e quatro. Acabo de sair do Metro da Linha Azul. As carruagens de Amadora Leste terminam o seu longo percurso na estação da hospitaleira Baixa Chiado. Seguem-se as não menos longas escadas rolantes que, após quatro altos e trepidantes patamares, culminam com mais uma pequena escada pedestre de trinta degraus. Tudo isto faz estarrecer de espanto os mais incautos transeuntes destas paragens. Dei de caras com o nosso estático poeta Fernando Pessoa que, não tendo nos tempos que correm mais nada para fazer, virou em mono fotogénico de quem passa para inglês ver. Mas não era este mono que, decididamente, me preocupava. A tarde abafadiça que assentou arraiais naquela Baixa estival convidava à tomada de um refresco na histórica Brasileira que, indolente e despovoada, mostrava o seu parco mas acolhedor ambiente logo ali ao meu lado.
Só então, depois de entrar no forum poetarum olissiponense, é que reparei que eu próprio me encontrava carregado com pasta académica, de estante metálica familiarmente dobrável e ainda engalanado com viola clássica a tiracolo. Estava relativamente cansado. Todavia confesso que era cedo para a hora estipulada da Tertúlia. Optei então, confirmando cuidadosamente as horas no meu companheiro de andança, por descansar um pouco. Faltava ainda uma hora mais quinhentos metros para o início da Tertúlia. Pousei descontraidamente os meus apetrechos artístico-culturais no primeiro canto disponível da grande sala da Brasileira. Ao lado, no quiosque da entrada, comprei o Público do dia para me inteirar com mais propriedade das últimas ocorrências... enquanto que, a uma simpática e elegante serviçal ( presumo que brasileira, como é óbvio e costumeiro por estas bandas ) deixei encomendado um cearense café de companha com uma refrescante água acastelada. Enquanto tomava o meu tropical líquido ia refrescando o espírito por dentro e por fora com algumas páginas do ocasional periódico. Eis quando, depois de um sobressalto inevitável, reparei serem horas de me remeter ao mister da tarefa que para hoje estava destinada.
São já catorze e cinquenta da tarde quando, finalmente, cheguei à Sociedade Portuguesa de Naturalogia. Dei logo de caras com uma tertuliana afoita. Juntei-me e, daí a pouco mais de cinco minutos chegou a nossa Presidente e mais dois ou três tertulianos. Subimos os quatro patamares de escadas, desta vez de madeira neo-clássica encerada e por fim pudemos repousar a nossa ofegància justificativa na ampla sala de reuniões e convívios desta egrégia Sociedade. Deve esta a sua existência à boa vontade dos seus sócios e simpatizantes que "acreditam na possibilidade do ser humano desenvolver a sua consciência e potencial e dar o seu contributo para a criação dum mundo mais saudável".
Dos sócios da Tertúlia Bocagiana... apenas cinquenta por cento dos seus membros disseram presente. Sinais de fim de Verão e início de férias. Da Sociedade benemérita, representada pelo incansável Sr. Moreira Rijo que -demonstrando a sua pertinácia pela sempre louvável campanha em prol do espírito e das artes - por isso mesmo, foi a melhor amostra de que, afinal uma Tertúlia Poética pode e deve ser acarinhada. Por este facto, o nosso sincero e amigável reconhecimento.
O que se passou a seguir foi, na verdade, delicioso. Cantou-se o hino de "Bocage Sonhador" - não fóramos nós também incorrigíveis sonhadores - e a nossa Presidente América Miranda presenteou-nos, logo de entrada, com uma dissertação que, não sendo demasiado extensa, conseguiu mais uma vez enriquecer-nos com úteis ensinamentos sobre a saga do nosso Vate Sadino. É que esta Sessão estava dedicada, na origem, à personalidade do poeta Bocage. A autora destacou os passos mais significativos e representativos da vida de Bocage, bem assim alguns traços marcantes da história da sua Época.
Após a brilhante exposição da nossa Presidente, ouvida por todos com suma atenção, trocaram-se algumas palavras de esclarecimento sobre a temática exposta e, enfim, deu-se início a uma Ciranda de declamação pelos poetas presentes e convidados. Houve três rondas poemáticas pelos presentes, cada uma delas entremeada com mais uma actuação à viola de mim próprio. As duas canções mais destacadas tinham música de minha autoria e os textos são, respectivamente, de América Miranda « A força das Palavras» e de Humberto de Castro « Quisera » . Até alguns dos presentes foram trauteando com entusiasmo certas partes das referidas canções.
Quanto aos poemas declamados, sendo que na primeira ronda teria que ser um da autoria do homenageado - facto que praticamente todos cumpriram, a partir da segunda ronda cada um póde declamar de sua autoria ou então de autoria de qualquer outro poeta, consagrado ou não. Passaram então por esta Tertúlia, entre outros, poemas de Fernando Pessoa, José Régio, Júlio Dantas, Pablo Neruda, Garcia Llorca, Florbela Espanca, Alda Lara, etc.
O ambiente foi sempre agradável até ao fim. Trocaram-se impressões, ideias, opiniões e até se conseguiu que dois dos assistentes a esta Tertúlia, quiçá bastante inibidos de início, declamassem eles mesmos os seus textos por força da acção inteligente e oportuna de América Miranda.
Terminou a Sessão cerca das dezoito horas pelo que, satisfeitos com as actuações uns dos outros, houve lugar às despedidas para as reconfortantes férias estivais.
A próxima Tertúlia ficou aprazada para o dia onze de Setembro - no Auditório Carlos Paredes, de Benfica - Tertúlia essa que constituirá o ponto alto de todas as Tertúlias anuais, já que é dedicada integralmente ao grandioso ídolo da nossa mais genuína poesia, Bocage de seu nome.


Assis Machado / Frassino Machado
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