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Cronicas-->De papagaios, tartarugas et al. -- 01/08/2004 - 11:05 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Passei uma linda tarde em casa de uma velha conhecida (não velha). Ela me tinha dito que tinha inquilinos: dois papagaios, uma tartaruga e um canário.

Tomávamos chá -- regra paulistana no inverno -- esquecidas da vida, comentando mil coisas, quando ouvi um grito lancinante vindo da cozinha. Tive um sobressalto tão grande que saltei na cadeira (estilo Bierdemeyer legítimo,imagine-se)e nela derrubei algumas gotas do precioso líquido verde.

-- O que foi isto? - perguntei.

-- Foi o papagaio Jorge. Gritou pra chamar atenção, já percebeu que tem visita em casa. Não liga, não. Depois te apresento a ele.

Continuamos o chá e o papo. Mais uns minutos e um ruído de panelas ou pratos se derrubando pro chão da cozinha.

-- E agora? - perguntei. Vc tem empregada?

-- Não liga, menina. Foi a tartaruga, também querendo chamar a atenção. Percebeu que temos visitas. Depois te apresento a ela.

Já meio incomodada com estas interrupções e com as fontes das mesmas, comecei a acelerar a tarde, imaginando uma desculpa pra me despedir logo e me mandar dali - apesar da hospitalidade.

Mais uns minutos foram passando, eu já prevenida quanto a outros ruídos - ainda faltavam o canário e o segundo papagaio se manifestarem. O que eles fariam pra chamar a atenção da visita?

Comentei que talvez estivesse na hora de conhecer os animais da amiga, visto que eles estavam tão incomodados com a visita (eu) e que talvez eles se acalmasse se me vissem.

-- Ah não, ainda não - ela respondeu. Você nem sabe como eles são. Eu só os apresento na hora de vc sair. Porque ao me virem com outra pessoa, eles ficam possessos. Os papagaios acabam voando em sua direção (mas agora estão na gaiola), o canário se põe a gritar e a tartaruga se encolhe por horas. Quando me vêem sozinha de novo, volta tudo ao normal. Tiro os papagaios das gaiolas, o canário volta a cantar e a tartaruga se estica pra fora do casco.

Estupefacta com tanta sofisticação animal, dei como terminada a tarde e comecei a me despedir, aos protestos da amiga - ah, não seja por isto, fique mais um pouco, estamos num papo tão bom, faz tempo que não converso assim, etc. - mas eu resolvi mesmo me retirar. Só que tinha de ser da maneira mais delicada possível. Inventei qualquer coisa, uma das mentiras brancas tão úteis para terminar situações desagradáveis e me despedi dela.

E não é que ela se "esqueceu" de me apresentar os bichos? Ainda bem. Saí de lá com a sensação de que a minha velha conhecida transformou-se numa conhecida nova - ou seja, perfeitamente desconhecida por mim. Eu sequer sabia que ela gostava de bichos, vejam só. Fui embora contente por ter revisto uma colega da qual me afastei geograficamente, mas... agora estávamos mais afastadas ainda. Porque de bichos que se mostram ciumentos já bastam os humanos.
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Érica Eye
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