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Cronicas-->Fusca amarelo -- 31/07/2004 - 09:32 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Numa época da minha vida, mudei de cidade para continuar meus estudos. A área era das mais interessantes, com montanhas ao norte, um deserto ao sul, a leste e a oeste também com paisagens diversas e interessantes.

E eu ali, sem conhecer quase ninguém, esperando as aulas começarem para poder entabular algum papo, fazer alguma amizade. Como trazia pouca coisa de ordem pessoal, logo tudo estava nas gavetas e armários, com muitos espaços vazios. Mas não é estas coisas caseiras que estou lembrando agora. O que me vem à mente, por alguma razão desconhecida, é o Fusca amarelo que aluguei.

Estava morrendo de vontade de conhecer a cidade e seus arredores. Não tinha carro (só vim a ter um muitos anos depois, quando já com um salário), portanto as coisas estavam difíceis. Mas nada é impossível para um sonho. Contei minhas economias e vi que dariam para alugar um carro no fim de semana. E fui pra agência. Não havia nenhum disponível, com exceção de um Volkswagen tipo "beetle", o nosso Fusca. E o aluguel era caro, porque era carro de moda e, ainda por cima, era conversível, um dos poucos conversíveis fusquinha no mundo. Resolvida a alugar um carro, fui conversar com o patrão do lugar - contei minha história, que era estudante, que recém chegava, que queria conhecer as belezas do lugar, etc e tal. E que me fizesse um preço compatível com minha situação, tadinha de mim...

Ele acedeu e ainda me deu um mapa de toda a região, que tinha uma lista de lugares interessantes etc e tal. -

Emoção extraordinária - entrar num fusca amarelo, capota arriada... eu, humilde ex-moradora de São Miguel Paulista, no arraial paulistano, entrando num fusca amarelo cor-de-gema ("yolk yellow"), conversível... pelo preço de um mero carro duas-portas! Voltei pra casa (um alojamento meio reles), encostei o carro perto da minha porta, entrei para fazer um lanche, recolher algumas frutas, enfim iria passar o dia rodando. - Ao voltar, vi uns rapazes idolatrando o carro. Pareciam mesmerizados. Olhavam pra dentro, por baixo, tocavam a capota arriada, passavam a mão pela lataria... Olharam para mim pingando de inveja - cumprimentei-os com um aceno de cabeça, mais um movimento já se sentiriam convidados a pular pra dentro do meu fusca... Dei a partida. Néca. - Tentei mais uma vez. Néca de piritiba. - Essa era a gíria do meu tempo. - Decerto eu já estava ficando vermelha como um pimentão, pois a situação era mesmo bem embaraçosa. Se fosse em carro fechado, tudo bem, ninguém vê - mas neste yellow yolk beetle, e conversível...

A rapaziada (uns seis ou sete) fez um círculo ao redor do carro. Alguns de braços cruzados, outros a quem alcancei olhar pelo retrovisor, com as mãos nos bolsos. Olhando, todos, para mim.

Tentei uma terceira vez. Nécas. Examinei a gasolina. Tanque cheio. Resolvi apelar. Dei uma girada de cabeça e perguntei, ao ar: - O que vcs acham que está acontecendo? -- Um engraçadinho respondeu: - Seu carro não está pegando! - E aí todos riram. E eu também, claro, sempre a primeira a rir de mim mesma.

Desisti. Desci do carro e apelei. - Alguém pode dar um jeito nisto?

Parecia que eu tinha dado uma ordem para um pequeno batalhão no exército. Um levantou o tampo do motor, outro se instalou ao volante, os demais se juntaram ao redor de um e de outro e começaram a dar palpites. Pra encurtar a história, o problema era uma tal de correia. Entendo tanto de correia quanto de submarinos, portanto, nem me importei. O que eu queria era sair. - Um dos rapazes se ofereceu para ir comprar uma correia nova, mas outro achou que náo era preciso, pois ela estava apenas deslocada, ao que um terceiro disse que, estando fora do lugar era sinal que estava bamba e era necessário substituí-la, etc. - Vai daí, optei por colocar a correia no lugar devido e voltar à locadora de carros, para trocá-la. E com as bênçãos dos rapazes, dei a partida e parti.

Chegando na locadora, chamei pelo supervisor, mas ele estava ocupado com um carro que estava retornando. Esperei um pouco, ele apareceu, ouviu a história, abriu o motor, verificou a correia, retirou-a e disse que iria buscar uma outra. Voltou dali a pouco com um ar muito consternado, dizendo que não havia como repor a correia, não tinham aquela que serviria para o meu carro. --Mas, acrescentou, acaba de voltar um carro agora mesmo, está sendo examinado e limpo. Se esperar um pouquinho, vai poder ficar com o outro (o preço era o mesmo, lembram que ele me tinha feito uma camaradagem no aluguel do fusca).

E foi o que fiz. Fiquei com o outro carro, um automóvel boboca como outro qualquer, nada dos fricotes do fusca amarelo-gema de capota arriada.

Visitei tudo que era lugar visitável naquele fim-de-semana inaugural naquela cidade tão legal.

Esqueci de dizer: com tanta confusão, tinha esquecido meu lanche, com frutas e tudo, no banco de trás do meu ex-fusca amarelo-gema... Não passei fome nem sede, mas vi que o dia que tinha começado tão bem (com um aluguel razoável para um carro de padrão mais alto), etc, acabou indo para a categoria de regular, nada de novo a contar.


Nunca mais entrei num fusca conversível, embora o meu primeiro carro viesse a ser um fusca - azul-marinho, bonitinho, de segunda mão.


Fim de um "causo" que eu não adivinharia que um dia se tornaria tema para uma crónica ...

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Érica Eye
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